terça-feira, junho 07, 2005

Atualização!

Demorou mas aconteceu! O Paulinho Carranca está conectado ao mundo novamente e me enviou as respostas da entrevista. Portanto, o post "Computadores Fazem Arte - Parte II: O Questionário está completo agora. E a terceira parte, que será realizada 'ao vivo', deverá rolar até a semana que vem. Valeu!

segunda-feira, junho 06, 2005

O Processo e as Contradições


Muita coisa gira nos sulcos deste vinil, além da música em si
Foto by Kalunga


Algumas questões bastante pertinentes foram postas em cheque nos comentários da primeira parte da série ‘Computadores Fazem Arte’, e resolvi abordar alguns tópicos interessantes a partir do que fora comentado e também do que vem martelando (bate-estaca?) na minha cabeça atualmente.

Funk You!

Odeio funk carioca! Considero-o mal produzido e de conteúdo lírico o mais banal possível. O hip-hop paulistano dá um banho de conteúdo nos cariocas em termos de ‘música de pretos, pobres e favelados’. A propósito, hoje em dia é proibido falar mal do funk carioca, pois os antropólogos-de-plantão dirão que você é racista e/ou burguês para criticar uma ‘manifestação genuína da pobreza nacional’”. Pois é... Eu pesquei estas frases não de algum texto da internet mas sim de um discurso pré-estabelecido de minha cabeça. O fato é que, mais do que nunca, o tema “Funk Carioca” vem sendo debatido, martelado e esfregado em nossa cara. Sou absurdamente crítico com esta súbita valorização deste gênero/cultura/manifestação social, justamente quando uma elite burguesa-pensante resolve olhar para um buraco onde quem não vive nele prefere que este nunca tenha existido. E este buraco realmente é bem profundo.

A minha antipatia, sempre existente no plano superficial (sim, pois nunca havia me aprofundado nesta discussão como agora), está sendo posta em cheque, porra! Tenho lido bastante sobre a suposta revolução promovida pelo pancadão. Enxergo em 99,9 % do que li um oportunismo barato, pseudo-engajado e de consistência tão profunda quanto o modo como o interesse pelo tema fora despertado: através da massificação. Mas se salvam sim um 0,01% que me tocou numa entranha que sempre procuro expor, que é o confronto gerado pela quebra de (pré)conceitos. Tal ínfima porcentagem de textos citada aborda o motivo real da repulsa provocada por esta invasão e cita como exemplo o surgimento do rock and roll e da música eletrônica face aos formatos mais conservadores das culturas estabelecidas. O funk carioca realmente vem provocando uma revolução neste sentido.

O pancadão dos morros cariocas é uma bomba suja, perigosa, escatológica, precária e de efeito (i)moral indesejavelmente sem volta. Tá tudo dominado! Cérebros tupiniquins privilegiados com o acesso ou à iniciativa de procura por culturas globalizadas (como o meu!) relutam em aceitar que o funk carioca também faz paralelo com os conceitos minimalistas perpetuados por gente de respeito como Stockhausen, Brian Eno, Jon Cage e Kraftwerk. O diferencial é que o pancadão parte de um universo que o Brasil prefere ignorar. É feio, sujo e malvado, e por isso mesmo também é minimalista ao extremo, ingênuo em sua forma musical e desafiador a tudo o que vemos/ouvimos hoje. Além da música em si, o confronto social e seus resultados práticos estão sendo exportados para fora. Dói no coração dos puristas que preferiam que apenas a MPB e a bossa-nova/drum’n’bass servissem de vitrine para a gringaiada – é um cutucão fortíssimo em nossa ferida mais profunda, é a maquiagem nacional sendo desmanchada em grande escala! Tive que encarar minhas contradições para poder dar o devido respeito a este tipo de manifestação. Ainda não gosto da música, mas o seu caráter de ruptura e de confronto ganharam, tardiamente, a minha admiração incondicional.

O Minimalismo da Culpa

Eu parei para encarar de frente o funk carioca ao dar conta de que meu exercício de compreensão de algo novo estava direcionado a um gênero musical da gringa. Tenho martelado minha mente com o tal do minimal techno, estilo (inicialmente) quase que incompreensível para as pistas de dança – o que dirá para as mentes viciadas em formatos tradicionais da música popular? Para bombar um dancefloor há elementos fáceis e apelativos (BPMs rápidos, melodias óbvias, estruturas já conhecidas e banalizadas), mas o tal do minimal techno é difícil justamente por ser bem mais lento e básico que o próprio techno em si. Como ouvir este troço??? Simples: abrindo sua cabeça e seu coração!

Sinceramente, eu não consigo imaginar um gênero da dance music mais inacessível do que o minimal techno (PS: há o tal do hardcore/gabba, ultra rápido e pesado, mas aí já é música para seres espasmódicos) à primeira vista, pois a técnica do microssampling (colagens de ritmos e fragmentos de melodias em milissegundos, só possíveis de serem realizadas com a tecnologia digital atual) reduziu o que já era diminuto e pegou o ouvinte pelas freqüências desconhecidas de seu cérebro. Aí vem a questão básica: é música??? É sim! Mas carece de uma forma de percepção diferenciada. Não espere sair cantando junto um hit de minimal techno, por favor. É preciso apreciar de outra forma. Para gostar de minimal techno, você tem que passar por diversos estágios iniciais que não possuem qualquer vínculo com o formato pop/rock, por exemplo. Tal processo pode ser doloroso (‘terei que deixar de ouvir meus clássicos do Led Zeppelin???’, perguntariam os incautos), mas todo confronto é assim mesmo. A culpa pode vir junto, mas o discernimento será o seu melhor amigo nestas horas, pois nada precisa ser necessariamente deixado para trás para assimilar novidades tão drásticas.

quarta-feira, junho 01, 2005

Computadores Fazem Arte – Parte II: O Questionário


A minha história começou quando este disco foi lançado. E a história de outras três pessoas segue logo abaixo.
*Imagem by CDnow.com


O confronto de idéias e de gerações que a música eletrônica provocou há mais de dez anos atrás, quando de sua invasão definitiva, já faz parte de um passado cada vez mais distante. É absolutamente enfadonho afirmar atualmente baboseiras do tipo “o rock morreu” ou que “o moderno hoje é fazer música eletrônica”. Trata-se de uma realidade presente, sempre atualizada e de mãos dadas com a evolução da tecnologia e do pensamento de Inteligência Coletiva (Pierre Lévy) - é uma agregação de valores e não de uma separação de pensamentos. E um dos pilares mais fortes desta “nova realidade” (nos padrões evolutivos atuais, esta realidade já é antiga) é a híper-informção promovida pela internet. Muita banalidade é despejada neste canal de comunicação mas, ao mesmo tempo, quem busca conteúdo produtivo enxerga um vasto e inesgotável oceano de possibilidades de democratização e de expansão da informação.

De alguma forma, os três indivíduos escolhidos para este trabalho que realizo se encaixam no perfil influenciado pelos fatos descritos acima, sempre revisando conceitos para se adaptarem e tirarem proveito de novos conhecimentos ou simplesmente tomando alguma iniciativa a partir justamente da citada via de informação. Todos estão envolvidos com a música eletrônica em um de seus meios mais profundos: produzindo! E da forma mais independente possível, sem grandes mídias e grandes gravadoras por trás, fuçando na net as informações, os meios, a divulgação, a evolução. São três cabeças diferentes unidas pelo prazer de darem vazão aos seus pensamentos criativos de acordo com meios de produção cada vez mais democráticos.

Renato Tanure, o DJ Tourco, é um amigo de longa data. Eu o conheci como músico (baterista) de bandas de baile e também como pandeirista de grupos de samba e confesso que na época não imaginaria alguém como ele, com formação musical, poderia se interessar por música eletrônica. O resultado foram as primeiras festinhas em que começamos a botar som juntos, isso lá por 1997, e o conseqüente abandono (parcial) dos instrumentos acústicos por parte dele em prol da aquisição de meios de produção digital. Paulo Bolzan, o DJ Carranca*, que conheci alguns anos depois, também possui história parecida, tendo largado o contra-baixo (e diversas bandas ao longo do caminho) para investir nos bits eletrônicos – atualmente faz a cama eletrônica em forma de Live PA para a banda NaPalma. E Sybel Calmom, o DJ Sybel, que eu conhecera mais recentemente (há uns quatro anos), surgiu como uma figura (e parceiro em diversas festas em comum) sempre aberta ao conhecimento e à troca de informações sem preconceitos. Todos demonstraram um extremo prazer de compartilharem suas experiências e as verem divulgadas por minha pessoa. Não preciso nem dizer que não ganho nada com isso, a não ser a satisfação pessoal de dar valor a quem está inserido num universo do qual vivo com paixão há muito tempo.

Entrevista (realizada individualmente por e-mail):

The Flame Job: Desde quando está envolvido com produção de música eletrônica? O que lhe motivou a buscar este caminho?

Tourco: Desde 1999. A minha principal influência de produção foi o Salla 11 (estúdio da banda Zémaria), onde vi as máquinas funcionando pela primeira vez. Senti que, pela minha base de engenheiro e baterista, que a música eletrônica seria um caminho muito mais fácil que a composição convencional, pela interação entre ritmo, seqüências e tecnologia.

Sybel: Estou envolvido desde muito novo quando comecei a estudar piano na Escuela Classica de Barcelona-Espanha (Sybel é de origem espanhola). Nesta época a musica eletrônica lá era tão comum lá quanto carnaval aqui e aquilo me despertou um grande interesse pois sempre me perguntava: ‘como fazem tudo isso?’. Assim fui me dedicando e aos 19 anos comecei a produzir sem parar porem ainda não profissional! Hoje, aos 25 anos, tudo mudou e acabei me tornando DJ também, pois queria tocar o que eu produzia junto com as produções de outros.

Carranca: Trabalhei por alguns anos na produção de spots publicitários, brincando de fazer música e comecei a levar a coisa mais a sério há uns dois anos, quando o “Professor Tourco” me aplicou em alguns dos softwares de produção musical - que ainda uso! Depois de ter largado várias bandas “convencionais”, a possibilidade de fazer música sozinho e não ter que conviver musicalmente com qualquer ego que não o meu – pelo menos durante o processo de composição – foi a principal motivação.

TFJ: Quais as ferramentas (softwares e hardwares) que você utiliza para produção?

T: Hardware Micro Desktop com placa de som Audiophile, Notebook com Controlador e Placa USB Hercules DJ Console, par de CDJ700S com mixer Behringer VMX200, synth JP8000, mesa Mackie 1202VLZpro, amplificador nashville NA2200, caixas de som Technics 3 vias. Software Cubase, Reason e um monte de plugins e samples.

S: Na parte de softwrwares utilizo atualmente Reason, Cubase SX e VST IntrumentsDe hardware tenho um synth yamaha psr 420 com MIDI .

C: PC Notebook HP Pavillion 7000, controlador midi e audio surface edirol UR 80, Live, Reason, alguns Vstis, Cubase SX. Descomplicado!

TFJ: Possui alguma formação musical? Se possui, como esta lhe ajuda na hora de produzir? O que tem a dizer para quem também não toca algum instrumento e mesmo assim quer produzir música (esta pergunta vale para os dois casos)?

T: Sim, sou percussionista e já fui baterista. Ajuda a seqüenciar batidas e fazer loops "on the fly", além de uma boa noção de sincronização. Se você não toca um instrumento, faça música com samples ou então chame algum amigo músico para gravar coisas para você, caso não ache o sample "perfeito". Lembrando que um sample "copiado" diminui originalidade de seu trabalho...

S: Bom, minha formação musical começou aos 11 na Espanha com piano! Daí parti para o teclado porque queria fazer algo mais interessante, pois todos eles (os professores de piano) só te ensinavam a tocar o que era dos outros e eu queria criar as minhas coisas!! A formação musical me ajudou muitíssimo e recomendo a todos sem exceção. Não acho que quem não a tenha não possa ser bom produtor, porém tudo é esforço e dedicação!! Recomendo!

C: Toco contra-baixo há uns dez anos, mas sei só o básico de teoria – não leio partitura nem sou versado nas complexidades da teoria musical mais aplicada. Tenho uma aproximação mais intuitiva. Se ajuda? Ajuda sim ter alguma noção de teoria musical, já que os softwares de produção utilizam alguma coisa dessa linguagem – mas isso de qualquer forma não é pré-requisito. Se você não toca um instrumento mas possui alguma sensibilidade musical, fuçando já se chega em algo.

TFJ: O que você acha da distribuição gratuita de música e softwares na internet? O que teria a dizer se alguma produção sua estivesse sendo compartilhada sem autorização?

T: Sou a favor, desde que mantenham a qualidade (Kbps) e os créditos, por mim tudo bem... Quanto aos softwares, caso gerem lucro significativo, devem ser comprados.

S: Com o prospecto atual da musica, a digitalização é algo inevitável. Isso já acontece em todos os gêneros musicais. Porém, a idéia da grandes gravadoras que controlam o que o povo ouve está com seus dias contados. A produção independente acontece não só na e-music mas como em outros estilos, exemplo disso é o site TRAMAVIRTUAL que distribui musicas de artistas independentes. Na minha opinião, não vejo mais a musica em si como objeto comercializável, afinal cultura não se comercializa. Porém, dessa forma, com a digitalização musical e internet, fica muito mais fácil de mostrar o trabalho e, na verdade, o artista começa a ganhar com seus shows. A idéia é valorizar ainda mais o artista e não as musicas em si!

C: Cada vez mais são os shows e não os discos que pagam as contas dos músicos. O compartilhamento de músicas na internet é só uma aceleração deste processo inevitável. Desde já autorizo qualquer um a compartilhar na internet. qualquer som que eu fiz, por favor (risos).

TFJ: Você enxerga possibilidades financeiras com suas produções?

T: Todo o meu hardware foi comprado com dinheiro gerado pela música... logo... dá dinheiro! É só saber aplicar e trabalhar MUITO!

S: Como disse na resposta anterior, música minha me dando dinheiro é bem pouco provável, apesar de já ter duas músicas lançadas na Inglaterra e mais outras duas a serem lançadas por outra gravadora. Nesse caso os ganhos financeiros seriam a discotecagem e Live PA em si! O SHOW em si!

C: Só produzindo acho difícil em um futuro muito próximo, pelo menos por aqui (no ES). Mas existe um porrilhão de novidades relacionadas com as habilidades necessárias para se produzir música e que rendem algum troco.

TFJ: Em que linha musical você situa suas produções?

T: Easy listening, chill house e breakbeat.

S: Undergorund House, Techno, Eletrotek e Deep House.

C: Esquizofrênico! Meu prazer em produzir ultrapassa em muito o amor por qualquer gênero específico. Com o NaPalma passeio por house, hip-hop, miamai bass, drum’n’bass, breakbeat e por aí vai. Os elementos de união são os orgânicos: vocal e percussão.

Nos meus trampos solo, gosto de achar que faço IDM (Intelligent Dance Music) e comecei agora uma contribuição à distância, um projeto de hip-hop a lá Roots Manoova e Beans. Na minha época quando atendia pelo nome de) Bonavides Função, brincava toscamente com o jungle. Alguém aí está afim de fazer uma banda de rock (risos)???

TFJ: Indique o nome do disco (e selo, país, etc.) e/ou o link na internet onde suas produções podem ser encontradas.

T: Disco “Soul Mais Bossa”, da cantora Tamy; selo Curve Music (UK); site www.tramavirtual.com.br/tourco.

S: Selos: Influential House Recordings (UK), Stripped Label Managment (UK) e Cold Tap Recordings (UK). No www.influentialhouse.co.uk
você pode comprar meus releases atuais - site do subselo da gravadora Stripped Label. www.tramavirtual.com - neste aqui você pode baixar demos de novas musicas minhas, procura por "dj sybel".

C: Procure NaPalma e Bonavides Função no site Trama Virtual. E tem um CD-Rom do NaPalma baratinho e que você pode comprar comigo mesmo!

Estes são os Entrevistados:
Fotos by: Kalunga


Tourco


Carranca


Sybel