sexta-feira, novembro 18, 2005

A Indústria não pára – Parte IV: O Future Pop


Este é um dos ícones desta vertente musical conteporânea.
Imagem by: Icon of Coil Official Website


Future Pop? ‘Que merda é essa?’, me perguntei há alguns anos atrás, quando li sobre numa (excelente, diga-se) reportagem em O Globo, num período em que a internet ainda não fazia parte ativamente da minha vida. Eu já não podia mais comprar discos importados como antes (o dólar disparara novamente, além de minhas prioridades serem outras), o selo/loja Cri Du Chat (que fez história no Brasil lançando bandas brazucas e gringas neste segmento com uma regularidade impressionante) havia falido, e tudo acabou por fazer com que minhas fontes de informação no universo da música industrial simplesmente secassem. Tal reportagem retratou um novo estilo que havia tomado forma e cara próprias entre o final dos anos 90 e o início desta década. Já tinha ouvido falar de alguns nomes ali citados, mas nunca havia de fato entrado em contato com aquilo tudo. Deixei o tempo passar.

Quando caí nas graças dos downloads via internet, fui procurar pelos principais nomes do tal do future pop: Apoptygma Berzerk e Covenant. Disparadamente estes dois grupos são a melhor e a principal porta de entrada neste segmento. A tal reportagem atentava para uma drástica atualização da música industrial e da electronic body music por meio de batidas dançantes mais em dia com as tendências das pistas, e de vocais limpos, sem distorção e totalmente pop, com algumas quedas para as melodias de bandas góticas contemporâneas. E o future pop é isso mesmo, pois se trata da vertente do universo industrial/ebm com claras tendências populares, passível de ser ouvida em rádio e de ser tocada sem o menor pudor em festas de techno e trance. Mas é aí que o caldo pode entornar.

É notória a predileção dos europeus por melodias um tanto quanto bregas empregadas em trance e afins. São aquelas notas de sintetizador jogadas em cascatas melódicas em excesso, que podem tanto ser utilizadas em faixas techno radicais quanto em babas como aqueles dances de aeróbica. O future pop é um gênero europeu por natureza, e mesmo as bandas mais conceituadas insistem algumas vezes neste tipo de melodia. Pelo visto o público de lá gosta muito disso pois, em alguns casos, surgem até faixas grotescas onde melodias bregas de sintetizador são colocadas junto a vocais guturais estilo death metal - cruz-credo! É preciso separar o joio do trigo e é isto que tentarei fazer a seguir.

O Apoptygma Berzerk é o mais melódico de todos, mas sua música é muito bem trabalhada, e sua discografia é impecável, tendo começado praticando uma ebm rápida, gótica e apocalíptica, e que com o tempo acabou por definir o estilo primordial do future pop (também ficaram ainda mais famosos pelo cover de “Nothing Else Matters”, do Metallica). Pioneiro também é o Covenant (não confundir com o black metal Kovenant), que produz bases próximas às do psy trance, mas investindo também em beats mais quebrados estilo breakbeat/electro, além de investir em melodias mais melancólicas. Um nível ligeiramente abaixo vêm: Icon of Coil (perfeita fusão entre o Apoptygma Berzerk e o Covenant), Razed in Black (com beats mais quebrados e guitarras heavy metal) e Assemblage 23 (o mais gótico de todos, fazendo uso eventual de vocais femininos). Logicamente este é apenas um ponto de partida. Selos underground e prolíficos em produções a todo momento como Metropolis Records e Zoth Ommog são uma excelente fonte de pesquisa.