sexta-feira, março 31, 2006

Aparecendo para o mundo

Enfim, tanta batalha pelo que gosto e acredito rendeu resultados sólidos. Por conta de um contato que os ilustres e queridos Jana e Marcel, foi que eu tive a oportunidade de participar do primeiro, maior e mais conceituado web site de música eletrônica do Brasil, o Rraurl. Já foi postada a primeira matéria, onde contei um histórico da "cena eletrônica capixaba", apontando erros e acertos. Logicamente o texto está lá para ser discutido e em hipótese alguma assumo a postura de "dono da verdade" ou coisa parecida. O texto pode ser acessado aqui.

No mais, vou produzir material com a galera daqui que produz música, festas,e que faz algo acontecer por aqui efetivamente. Acredito no que faço, estou aberto a críticas e discussões, e clamo apenas por respeito por meu trabalho. No mais, vou levando a vida, um tanto mais realizado nas minhas convicções. Abraço a todos!

quarta-feira, março 29, 2006

Uma tonelada de maracatu atômico


Inexplicavelmente o disco novo da banda não está à venda no Estado. No show, o mesmo estava disponível por R$ 15,00. Material de primeira a preço barato! Quem não comprou lá, só na internet

Cara, esperei dez anos por este show! Chegaram a anunciar na programação do verão da Prefeitura de Vitória em plena Praia de Camburi, com o Chico Science ainda vivo. Pois é, rolou uma patuscada (in)digna de nossa panela de barro provinciana e acabou que não teve é nada. Desde então, só foram boatos e mais shows adiados (um deles foi aquele em que prenderam o cara da organização do show do Planet Hemp, e que desencadeou uma inquisição nacional em cima da banda de D2). Pois é, chega de ressentimentos, pois moramos numa cidade maravilhosa, com tudo perto, acessível e barato. R$ 20 paus para ver Nação Zumbi e Cachorro Grande (dia 24/03/2006) numa casa noturna espaçosa e arejada, na beira do mar e com um sistema de som de primeira?!? Quem reclamou de preço, do local ou da cerveja Schincariol (se bem que dessa a reclamção procede, mas nem tudo pode ser perfeito...), é porque não merecia estar lá.

A Nação Zumbi pós-Chico Science é outra banda. Mais psicodélica, mais introspectiva, menos acessível. Mas ainda genial, inclusive ao vivo. A produção da Birne (que trouxe ao ES gente do porte de Scorpions, Millencolin e Motorhead) provou ser a melhor do Estado para eventos deste tipo, e garantiu uma sonoridade impecável, pesada e nítida para pincelar o psicodelismo “preto no granco” atual da banda pernambucana. Os (sub) graves dos tambores, bateria e do contra-baixo batiam forte no peito e balançavam os órgãos internos. O vocal de Jorge Du Peixe parecia estar imerso em delays lisérgicos, ressonando por todos os canais auditivos dos presentes e mandando sua mensagem de forma clara, grave e flutuante. E a guitarra de Lúcio Maia sobressaía-se na melodia, destilando suíngue a todo momento, pesando quando preciso, alucinando quando lhe dava na cabeça. A platéia, pelo menos a que se postava mais próxima do palco, parecia estar em transe hipnótico. Bêbado igual uma porca, este que vos escreve pulou até não aguentar mais. Mas tive a capcidade de tecer outras considerações menos passionais.

Nitidamente o vocalista Jorge Du Peixe revela uma postura tímida, quase que inexprtessiva no palco. Também, pudera: imagine o tamanho do rojão que deve ter sido substituir a presença (de palco e de cérebro) gigantesca de Chico Science. Aliás, a própria Nação Zumbi teve peito e talento para ressurgir de um baque daqueles para se recriar, e assim tomar forma em sua sonoridade, transformando-a num baluarte de originalidade e personalidade que independe de paradas de sucesso da MTV e congêneres. E o vocal de Jorge Du Peixe tem, sim, grande peso nesta “nova banda” (que já é veterana,, diga-se), casando perfeitamente com sua proposta. Ainda tecendo considerações sobre “performance de palco”, Lúcio Maia provou ser o elo de ligação direta com o público. Agitando a massa e tocando como um demônio, aquela figura quietona das entrevistas solta os bichos no palco. Faz com que a Nação não aposte no apelo fácil de tocar seus hits de “Da Lama ao Caos” e “Afrociberdelia”, e sim acrescentando-os à sua usina sonora junto de faixas que, ora parecem trilha de thriller movie do sertão, ora chapam os ouvintes num dub dos infernos, além de destilar groove e peso thrash metal (o final do show, com “Da Lama ao Caos”, por exemplo) tão característicos de sua música. Ver a Nação Zumbi ao vivo requer entrega total. Entrando em sua viagem, sua satisfação é garantida e inesquecível.

+ Considerações:

• Tamanho apartheid cultural que nós, moradores do Espírito Santo, vivemos, somente valoriza ainda mais momentos tão bons como estes que descrevi acima. Não vou cair no velho papo de detonar o capixabismo e blá blá blá. Vou caçando alternativas, abosrvendo com prazer o que tem de bom por aqui, e apontando defeitos mas procurando por soluções. Dona Aparecida e sua Birne estão de parabéns, e que venham mais eventos do tipo sempre!
• Não resenhei o show do Cachorro Grande pelo simples fato de que, após tanto pular no show da Nação, vomitei tudo o que havia bebido, caí doente de gripe logo depois. Mas quem viu garante que foi muito bom. Também não tirei fotos porque simplesmente não quis levar minha câmera. Tava querendo simplesmente curtir e nada mais!
• Aliás, estou postando somente agora justamente por ter estado de cama até ontem.

quarta-feira, março 22, 2006

Eu acredito


Foto by: Kalunga

O prazer vem de graça. E o seu preço – por ser de graça – é caro! Dá o direito de alguém (muita gente!) reclamar, esculhambar, apontar o dedo polegar para baixo, exigir mais do mesmo, de (tentar) roubar até! Mendigos, bêbados, traficantes, malas-sem-alça, pilhados fluorescentes (são os piores...), putas, baratas, marimbondos (noite dessas um deles picou um de nós), polícia (sua presença ou a falta dela), cerveja quente, WO, WC (sujo, imundo, sem papel higiênico!), dor de barriga, nariz empinado, nariz fungando, névoas de Bob Marley, chuvas, pregos (que te furam, que te enchem o saco), caixas-cofre (decibéis altos = peso na moleira!), enfim... dá de tudo! E querem tudo! A maioria não quer te dar nada. Se cobrar, ofende! Cara, dá uma canseira!

Este prazer é de graça, e pisam no teu pé de graça. Mas tem suas compensações. Aliás, o que seria de nós se o que fizéssemos não tivesse um propósito, um benefício próprio? O prejuízo, às vezes, pode parecer maior que o benefício, eu sei. Mas, cacete, existem pequenos prazeres que nos fazem persistir em alguns, digamos, erros (para você, seu mané!). Muitos destes erros eu deixei pra trás, ficaram perdidos no espaço-tempo do aprendizado com a vida. O preço de alguns destes erros os tornaram ainda mais erráticos. Deixo estes para os que estão chegando. Praticar certos erros prazerosos dá - repito - uma canseira! Das brabas!

Só sei que, num quesito, ninguém que venha botar banca, cantar de galo no meu terreiro! Não ganho nada (para vocês, este nada significa tudo - $$$$ - entenderam?). Bom... se bem que rende um troquinho para curtir com a namorada, me divertir com os amigos, aproveitar os momentos com aqueles de boa alma. Ah, meu amigo! Estes erros a que me refiro me fizeram aprender a fazer muito com pouco, bem pouco, quase nada. Vou reclamar? Olha, eu reclamo pra caralho - eu sei! Mas continuo a me enfiar em buracos, bater boca com cérebros de minhoca, mas acreditando apenas em mim mesmo. Porra! Se não der crédito a mim mesmo, quem dará???

Os juros que me cobram estão lá, no SPC, na minha saúde - física e mental. E, mesmo assim, não canso disso. Sou masoquista, então? Podem julgar, condenar, tacar pedra, detonar, roubar, esbarrar, desligar... Mas, se você curtir o que faço – ou, ao menos respeitar, vai tomar uma cerveja (às vezes quente, lembrem!) comigo! Não. Não estou pagando. Estão me pagando! Ora, alguma coisa tenho que ganhar! Ali, na beira da praia ou num sótão escuro e quente (não pensem besteira, por favor...), apertando botões, enchendo copos, movimentando corpos (muitas vezes consigo!!!), vendo tudo passar, aproveitando cada minuto bom de um lugar e de um momento que podem sim ser maravilhosos. Acredito, enfim, que não esteja errando como um todo. Eu acredito.

sexta-feira, março 17, 2006

Mais discos...

Muito trabalho, pouco tempo para desenvolver temas mais profundos. Portanto, mais alguns disquinhos que andam fazendo minha cabeça hoje:

David Gilmour - "On An Island" - Minha época foi outra, e o Pink Floyd para mim, nos anos oitenta (onde começou a “minha época” propriamente dita), era uma banda de velhuscos, e tudo o que fora produzido dos anos setenta para trás me soava chato anacrônico, mofado. O tempo, implacável, vem me ensinando a respeitar alguns senhores de idade. Como é o caso de David Gilmour, o homem das seis cordas mágicas do PF. Eu ainda vou ter todos os discos desta maravilha da civilização moderna em casa, e sei que o disco-solo mais recente de Gilmour não seria a maneira correta de fazê-lo. Será? A Julgar pela qualidade estupenda deste álbum, posso afirmar sem medo de que se trata de um pequeno clássico, muito melhor que os últimos discos do PF, pelo menos. Belíssimas canções, a indescritível classe nos solos e arranjos deste mestre, e participações mais do que especiais (nas fileiras, Rick Wright, tecladista original do PF) dão a sensação de que este senhor fez a melhor coisa do mundo para si mesmo: se livrou da responsabilidade de levar à frente um dinossauro jurássico e lançou mão de sons sem compromisso, que perfazem uma musicalidade absurdamente maravilhosa e inigualável.

Bigod 20 – “Steel Works” - Foi no incrível programa de rádio “Novas Tendências”, transmitido via satélite aqui no ES pela Rádio Cidade há uns dez ou mais anos atrás, que conheci muito som alternativo bom. Sob a batuta do pioneiro DJ José Roberto Mahr, o tal programa tocou uma vez a faixa “The Bog”, do grupo Bigod 20 (nome esquisitinho, hein?), que contava com os vocais de Richard 23, do Front 242 – influência explicita dos caras, aliás. Gravei a dita cuja numa fita K-7 e ouvi até a mesma literalmente gastar. O tempo passou e outro dia fui procurar no SoulSeek este som. “Steelworks” é EBM (electronic body music) clássica, com todos os elementos (ou clichês, se preferir) típicos deste gênero musical: maquinário electro-industrial pesado, rajadas de synths cortantes, vocais graves e, o melhor, uma boa dose de competência em melodias e arranjos – ainda que minimalistas ao extremo. A ironia é que “The Bog” acaba sendo a melhor faixa deste CD. Outro fator curioso é que o grupo participou da trilha do filme “Invasão de Privacidade”, aquele com a Sharon Stone.

Freq Nasty & Skillz - Eu sempre achei que breakbeat e hip-hop dariam um bom caldo juntos. Afinal, a origem de um parte do outro, e as poucas tentativas de se colocar raps em beats quebrados e suingados rederam bons frutos. Mas parece que, se algo está acontecendo nesta mistura, não é tão divulgado. É uma pena, pois sempre fico pensando sobre como seria bom ouvir batidões eletrônicos pesados com MCs cantando em cima – o disco do Freestylers resenhado no post anterior é bem assim, diga-se. Pois bem, o DJ britânico Freq Nasty sempre destacou nesta mistura, e por um acaso desses eu baixei um álbum dele gravado em parceria com o rapper Skillz. Não achei o dito cujo na net para averiguar maiores informações técnicas (tive pouco tempo p/ pesquisar), mas tenho-o em mãos e posso afirmar: é destruidor! Um puta groove, vocais muito bem sacados, e aquela eletrônica produzida da maneira mais certeira possível. Definitivamente não tem nada a ver com gangsta rap e afins!
*A capa aí em cima é de outro disco do cara.

segunda-feira, março 06, 2006

Discos da Semana

tNão saem do meu cd-player!

Revolting Cocks – “Cooked & Loaded”: Al Jourgensen (Ministry) revive seu mais célebre projeto paralelo, que reunia quem estivesse passando perto do estúdio na hora, fosse um roadie ou o cão vira-lata que mijara no pé de alguém na rua. Da mistura de industrialismos bate-estaca com baixo funky-disco e letras absurdas perpetradas deste o primeiro disco (“Big Sexy Land” – 1985), somente duas faixas do novo álbum lembram esta fase: “Fire Engine” (um rockabilly alucinado, com Billy Gibbons, do ZZ Top, arrasando no solo) e “Ten Millions Way To Die” (clima de cabaré, metais safados, zoeira no refrão). O resto do material soa como uma fusão de todos os outros projetos paralelos de Jourgensen (Pailhead, Lard, PTP, etc.). Jello Biafra (Dead Kennedys) e Phil Owen (Skatenigs), sumidos, dão as caras em faixas que lembram demais suas antigas bandas. Em alguns momentos, parece que foi reunida uma turma que não tem vez mais no cenário musical. Se isso resultou em música ruim? Nem pensar! O RevCo ficou mais pesado e perdeu aquele pique dançante-sacana de antes, mas existem algumas faixas matadoras(climas pós-punk e de rock de arena pipocam por todos os lados), fazendo deste disco uma salada musical mais original do que o Ministry atual.


Antix – “Twin Coast Discovery”: Enquanto o psytrance chafurda na auto-indulgência popularesca, com suas synth lines estilo chacota, o tal do progressive trance segue firme, forte e inovador, fundindo-se com outros gêneros (house, tribal, ambient, electro) e renovando o trance como um todo. O nível de qualidade do material do Antix é impressionante! Se “Lull” (2003) poderia ser considerada uma obra-prima, com seu som gélido, minimalista e original, este “Twin Coast Discovery” é um passo adiante na autofagia. Sim, porque sua música se tornou ainda mais intimista, com climas e batidas retas sugerindo um universo tão particular, que fica difícil incluir suas faixas num set “normal” de progressive trance. Seria melhor tocar o disco inteiro ou esperar que mais gente siga os passos do Antix e crie um novo sub-gênero no progressive trance!


The Freestylers – Raw As Fuck!: Este trio britânico surgiu na segunda metade da década de noventa revivendo o electro oitentista (Grandmaster Flash, Kraftwerk, etc.), com suas batidas gordas (que foram a matriz do funk carioca) e climas robóticos, atualizando-o com breakbeats modernos, ragga, dub e o que mais estivesse na crista da onda. Sem sacanagem, o clima da música destes caras faz neguinho abrir rodas de break no meio da pista, ao mesmo tempo em que alucina a mente no transe hipnótico. Com “Raw As Fuck”, eles assumem a linha de frente do breakbeat mundial, fazendo a alegria de b-boys e clubbers (tribos que, aparentemente não têm nada a ver entre si) que gostam de boa música.
*Eu já conhecia este som, mas estava por fora do que havia de novo. Quem me deu esta dica foi o Marcel, do Zémaria. Cara, discão, viu? Valeu!