sexta-feira, maio 19, 2006

Easy Fuckin’ Rider!



Era o clichê dos clichês! Para ir a Matilde (espécie de "São Tomé das Letras capixaba", á época) pela primeira vez, tinha que passar pelo ritual de iniciação para ser aceito pela galera quando chegasse lá. E tome Led Zeppelin, Raul Seixas, Janis Joplin (não virei fã de nenhum deles, por sinal), e exibições de "Hair" (deste eu consegui fugir na época!), "Woodstock", "The Doors" e "Easy Rider". Não! Não vou forjar aqui neste texto uma história envolvendo a minha pessoa como que se eu fosse mais velho do que sou, que tivesse vivido os anos 70 e curtido um barato legal. Este episódio se passou em 1995! Eu tinha apenas 19 anos, e vivia aquela fase típica de pós-adolescente, quando você tem idade pra dirigir, pra aprontar todas e ainda assim de viver na aba dos pais. É a época de fazer muita merda, de bancar o rebelde e também de correr para baixo da cama da mamãe quando o bicho pegava de verdade. Enfim, lá estava eu, aquele cara que gostava/gosta mesmo era de technopop, de Cure, de Front 242, de sons modernos, que odiava o chiado do vinil, que não suportava hippies e adjascentes... e que também queria se auto-afirmar a qualquer custo, mesmo que fosse preciso vestir uma máscara que não se encaixava na minha face.

Fomos eu, o Qualhada, o Lemmy, o Ganso e o Macaco assistirmos "Easy Rider - Sem Destino" na casa deste último. O ritual estava todo preparado: baseado apertado, vinho vagabundo em mãos, e toda aquela euforia de estarmos prestes a sermos apresentados a um dos ícones da contra-cultura - e também de uma época de acabara bem antes de nascermos, por sinal. Mente entorpecida, apertamos o play para darmos início a algo que, ao final, fugiria completamente de nossas expectativas iniciais. O começo da película já nos deu um impacto meio pesado. Afinal, Dennis Hopper e Peter Fonda de cara já mandaram pra dentro do nariz aquele pó branco vindo da Colômbia, negociado com umas figuras chicanas pra lá de esquema! Ué, a filosofia da parada não era a tal da lisergia, como imaginávamos antes? Cocaína não se encaixava nas nossas pobres e ingênuas mentes metidas a psicodélicas. Enfim, logo depois veio a clássica - e a mais clichê - cena do filme, com os caras pegando a estrada ao som de "Born To Be Wild". Agora sim! E o filme foi se desenvolvendo em suas partes. Do que nós esperávamos, haviam: maconheragem a rodo, assim como doses maciças de LSD e alguma putaria; trilha sonora fantástica (ainda que só rolassem, na maioria, faixas menos óbvias de artistas famosos); comunidades hippies; paisagens magníficas desbravadas pelo ronco das Harley Davidsons; um Jack Nicholson impagável; confrontos diversos com sociedades conservadoras - yeah! Teve tudo isso sim! Mas o filme nos jogou na cara também uma série de informações bem pesadas, enterrando vários chavões que achávamos que poderíamos viver iguais naqueles dias também. Ao final, todos saíram calados, ninguém se arriscou a dizer um pio. Estarrecidos como ficamos, deixamos para trás qualquer tipo de conclusão sobre o filme. Era mais cômodo picar a mula para Matilde e esquecer de "Easy Rider".

Todo aquele romantismo acerca de comunidades alternativas, de uso de drogas lisérgicas, de afrontas às sociedades conservadoras foi, ao meu ver, jogado água abaixo por "Easy Rider". Quando a dupla protagonista da história baixa numa comunidade hippie, se depara com problemas de saúde, de fome, e de individualismos que podem corroer qualquer ideal. Quando vai dar suas voltinhas e tirar uma onda com as gatinhas de uma cidadezinha qualquer, acaba pegando cana. Quando resolve finalmente tomar aquele ácido poderoso ao final do filme, já tendo alcançado o destino final previsto, rola uma bad trip absurdamente pesada, daquelas de desestimular qualquer empolgadinho imaturo (como éramos todos ali naquela sala, por sinal) a experimentar aquele tipo de coisa. Mas o pior mesmo ficou para o final. Tratava-se de um fim abrupto, seco, rápido e cruel. Era o término de um sonho, que mais parecia uma ilusão mesmo, e que acabara se tornando um pesadelo. E foi mesmo uma espécie de pesadelo que vivi, ao tentar me encaixar nos moldes de uma época que já foi há tempos. Era um martírio ter de participar de rodinhas de violão em volta da fogueira. Tinha vontade de vomitar quando sentia cheiro de insenso. E, ao mesmo tempo, me sentia pressionado a ter de encaixar naquele circo todo para não me sentir excluído. E sempre me voltavam à mente as cenas mais pesadas de "Easy Rider". E sabem porque? Porque simplesmente eu não aceitava viver algo que significou alguma coisa num passado do qual eu nem estava previsto a fazer parte deste mundo. Porque eu não suportava ter de ouvir conceitos tribalistas de gente que pregava a entrega a um ideal, mas que na prática só durava enquanto ia enrolando a formatura na faculdade - bancado pelos pais, é lógico! Hoje eu olho para aquela época com um certo alívio. Alívio este de hoje saber o que eu realmente quero para a minha vida, e também para descartar ideologias que não me servem e nunca me serviram. Vivi minha adolescência e início da fase adulta entre os anos 80 e 90. Se eu tivesse que tirar alguma conclusão sobre algo que veio antes de "minha época", que fosse verdadeira, e não imersa numa bolha nostálgica de outra era. Sendo assim, "Easy Rider – Sem Destino" é o filme mais anti-hippie que já assisti.

sexta-feira, maio 12, 2006

Novidades na Indústria – parte II

Dando continuidade sobre as tranqueiras que fazem a minha cabeça, agora vou escrever sobre lançamentos recentes dos gêneros synthpop, electro e future pop.

Apoptygma Berzerk, Covenant e Icon of Coil formam a tríade maxima do future pop, gênero musical que surgiu para revitalizar os estilos industrial, gothic e EBM na segunda metade da década de 90. Enquanto a EBM, que um dia já reinou nas pistas de dança mais underground – e influenciou toda uma geração da dance music - chafurdava em BPMs lentos e defasados, este trio acelerou a batida, incorporou os trejeitos do techno e do trance (principalmente) e limpou os excessos (leia-se: distorções) do som industrial, ao mesmo tempo em que adotou as melodias vocais e de arranjos das novas gerações de bandas góticas que invadiram o mainstream. Trata-se de um gênero musical novíssimo, onde o futuro (future) aponta para a fusão de gêneros underground em torno de um resultado bem acessível (pop). Dito isso, é com enorme prazer que me deparo com o mais recente trabalho dos holandeses do Covenant, lançado mês passado, e que reafirma sua liderança nesta nova ordem musical.

“Skyshaper” tem uma das capas mais horríveis que já vi, mas o seu conteúdo sonoro é de primeira. O Covenant conseguiu dar um passo adiante naquilo que ajudou a criar. Uma das minhas grandes queixas para com o future pop era justamente o apreço que as bandas deste gênero tinham com melodias bregas e melosas de sintetizador do eurotrance (tipo as faixas mais babas de Tiesto e Paul Van Dynk). Pois bem, o Covenant limou o excesso de sacarose e cometeu um discaço. “Ritual Noise” abre o álbum com o balanço típico do future pop - batida trance e clima gótico. Porém, percebe-se um apuro cuidadoso com as melodias e os arranjos (rola até um vocoder). A faixa seguinte, “Pulse”, surpreende: trata-se de um electro de primeira! A balada “Happy Man” é curta e com clima totalmente synthpop, ao melhor estilo de Gary Numan. “Brave New World” segue na fusão do estilo consagrado com timbres do electro atual, enquanto que “The Men” aposta novamente no pop de sintetizadores 80’s, agora de uma forma bem dançante. “Sweet & Sally”, “Greater Than Sun” e “20 hz” fundem EBM antiga com o future pop de forma magistral, com perfeitas soluções dançantes e melódicas. Os DJs vão gostar de “Spindrift”, com sua batida puramente techno servindo de base para uma melodia tensa. “The World Is Growing Loud” fecha o álbum na forma de uma balada bela e tocante. Ao procurar alternativas para enriquecer o som que os consagrou (e que vem sendo amplamente copiado e desgastado nos últimos anos), o Covenant assumiu a ponta de lança no future pop, aliando o passado com o presente e novamente apontando para o que vem por aí. Ouça sem contra-indicações.


Na primeira metade dos anos 90 houve uma discreta retomada do pop eletrônico que tanto marcou a década anterior – o technopop, ou synthpop para os íntimos – antes do revival avassalador promovido pelo pessoal do electroclash por volta de 2001. Gente como Beborn Beton, Second Decay, Mesh, Wolfsheim e De/Vision mexeram num passado ainda não tão distante e considerado totalmente de mal gosto pela (cri)crítica especializada da época. O mais interessante é que as bandas citadas foram evoluindo em suas investidas musicais, soando provavelmente como gente tipo Ultravox, Human League e Soft Cell estaria se comportando em dias atuais, sem apelar para nostalgias baratas e apontando suas trajetórias sempre em curso evolutivo, como o Depeche Mode sempre fez. O grupo alemão De/Vision lançou seu primeiro álbum na linha synthpop em 1993, remando contra todas as marés possíveis. Produziu um pequeno clássico deste gênero em 1996 (“Fairyland”), e agora está lançando o excelente “Subkutan”. Neste álbum de 2006, a banda investe em batidas modernas estilo breakbeat para soltar bases e linhas melódicas de sintetizadores, todas elas com tibres atuais, deixando a veia oitentista correr nas melodias vocais – acessíveis e um tanto quanto românticas. São baladas e petardos dançantes de uma banda que faz você pensar sobre como o synthpop soaria se tivesse sido criado nos anos 00 e não nos anos 80.

*Extras: Em termos de synthpop atual, nada melhor do que recorrer ao trabalho solo de John Fox, multi-instrumentista e ex-vocalista de um dos maiores ícones do gênero nos anos 80 – o Ultravox. Entre investidas bem cabeçudas na ambient/world music, o cara lançou um discaço para as pistas, de nome de “Crash & Burn” (2003). Ali ele produziu bases retas e de arranjos geniais, mesclando o retrô com o electro atual, tendo como o diferencial seu vocal estiloso e suas melodias perfeitas, que são o sonho de consumo do pessoal da Giogolo Records. A experiência faz a diferença.

Por falar na Gigolo Records, um dos artistas de seu cast, Terence Fixmer, sempre procurou se espelhar no lado mais anárquico e radical da música eletrônica produzida para as pistas de dança dos anos 80 – especialmente o duo britânico Nitzer Ebb. Eis que o tal acabou por chamar metade daquela emblemática banda para participar de seu último álbum, “Between The Devil” (2004). Douglas McArthy, vocalista do NE, registrou seus inconfundíveis vocais – entre o rock and roll/pós-punk e o gótico – nas bases eletrônicas beeem pesadas de Fixmer. O resultado é uma atualização da fase “That Total Age/Belief” (1987/88), do NE, que nada mais era do que uma fusão de electro, punk e EBM, tudo produzido com sintetizadores e drum machines. Em alguns momentos surge um hard techno radical, com sintetizadores rascantes e a voz de McArthy dando um molho rocker na coisa toda. Noutros, parece que o NE voltou à ativa, tamanha a semelhança – ou seria descaramento? - com o som de um dos ícones underground dos 80’s.
*Extras: Particularmente eu gosto mais da fase anos 90 do Nitzer Ebb, quando do lançamento de “Ebbhead” e “Big Hit”. Saíram as bases radicais eletrônicas e os vocais gritando slogans em tom de palavra-de-ordem dos anos 80 (que foi como conheci a banda) e entraram canções fortes e um cuidado extremo nos arranjos.
**Vale lembrar que o Nitzer Ebb voltou à ativa agora em 2006. Tanto revival em torno da banda por conta da geração electroclash atual (com remixes dos bambas de hoje, tributos, etc.) fez a dupla (Bon Harris e Douglas McArthy) esquecer suas diferenças e tomar o que lhes é $eu por direito.

quarta-feira, maio 10, 2006

O Poder dos Downloads e dos Camisas-Pretas



A Revista Bizz tem influência fundamental na minha vida com esse negócio de música, desde que comecei a comprá-la mensalmente lá pelo final de 1989. Acompanhei-a desde então, passando pela “fase Forastieri” (a melhor), me decepcionando profundamente quando esta se transformou em “Showbizz” (popularesca ao extremo), e olhando com frieza seu triste fim após tentar voltar às boas eras em 2001. Pois bem, um dos meus maiores prezeres de ler a Bizz nesta sua fase “atual” é justamente poder presenciar uma troca de guarda radical nos dias, minutos, segundos e downloads que correm em velociade absurda hoje. Chega a ser engraçado ver seus editores e jornalistas sambando para agradar ao público das antigas ao mesmo tempo em que tentam seduzir os mais novos – aqueles que não nasceram com o costume de comprar CDs, de ler revistas/noticiários em papel, sacam? A redação atual da revista conta com as bases sólidas também de antigamente – a Editora Abril – e imagino o tamanho da lábia que eles tiveram que gastar para convencer um dos maiores grupos empresariais do Brasil a voltar a apoiá-los numa era tão desfavorável às “mídias não-virtuais” como hoje. O maior reflexo da citada “troca de guarda” é sua seção de cartas. Quem já nasceu baixando música não quer saber de esperar um mês para ler sobre algo que eles mesmos já puderam conferir horas - minutos até! – depois em trocentos web sites. Mas é justamente neste paradoxo que a Bizz tenta se sustentar, afirmando que a informação que eles produzem é diferenciada, que se trata de algo que você literalmente guarda numa estante como um livro. O difícil é convencer as novas gerações desta “importância”. Ao apontar sua linha editorial dividido-se entre semear o conhecimento sobre os “clássicos” e dar importância ao que de novíssimo está saindo agora, a Bizz parece se encontrar numa encruzilhada.

Não tenho acesso a dados sobre as contas da Abril em relação a Bizz para tirar qualquer conclusão mercadológica. Apenas concluo sobre o que venho lendo desde que a revista voltou, no ano passado. Disponibilizar todas suas edições num pacotão de primeira em CD-Rom foi uma jogada fantástica para trazer de volta seus antigos leitores, todos na faixa dos trinta anos pra cima, com poder aquisitivo e mentalidade maduros o suficiente para selecionar melhor o que vão gastar com seu dinheiro. Mas a atual geração não está nem aí para isso, e a Bizz tenta a todo custo agradá-los, dispondo seus textos como numa página da web, escrevendo pequenos editoriais sobre “as maravilhas de ouvir música num mp3 player”, ou de pegar mais leve com os hypes que, aposto, a maioria dos jornalistas ali não engole tão facilmente. Mas o fato mais perigoso, na minha opinião, a ser apontado é justamente a manutenção da postura antiga, de serem meio “alternativos numa grande corporação” – atualizando em termos: eles (a Bizz) ainda adoram espezinhar em cima de Figurões do Pop, Tubarões da Indústria Fonográfica e Promotores Vampirescos de Mega-eventos, mesmo dependendo drasticamente destes para sobreviver. Ou seja, a “caça às bruxas da Bizz” sempre existirá. Só que o mercado atual está mudando radicalmente. Gravadoras estão perdidas com essas “novas tecnologias”, e os tais “anunciantes corporativos” são os que botam (e sempre botaram) dinheiro nas suas páginas. Particularmente acho do caralho este conflito de “nobres ideais” vs. “preciso-pagar-minhas-contas-com-seu-dinheiro-sujo” que a Bizz faz desde sempre e que acaba produzindo o certo e o questionável lado a lado. Mas o mundo de hoje não é mais o mesmo de antes do surgimento da internet em massa. Tentar agradar à Geração Download, aos Antigos Leitores e também às Grandes Corporações me parece uma tarefa praticamente impossível. Essa garotada de hoje vai ler a Discoteca Básica e talvez se interessará em baixar (comprar, nunca!) tais sons, enquanto se fartam de adquirir informação nova sem ter muita (nenhuma...) paciência de olhar para o que veio antes. Enquanto isso, as tais Grandes Corporações se viram em travas contra cópias de CDs, mega-eventos com armações pop e por aí vai. O conflito de interesses de gente que não fala a mesma língua, ao meu ver, está tão grave como nunca antes. Meu medo é de que a Bizz, aquela que ainda me dá tanto prazer, possa sumir novamente, comendo a poeira dos arrastões que o Mundo Pop promove periodicamente.




Já disseram que “metaleiro é tudo burro”. Bem, este não é o caso dos headbangers que tocam a Ferro e Fogo a revista Rock Brigade desde o longínquo ano de 1983 – dois anos antes de a Bizz surgir. Adentrando nos Portões de Vahalla, decepando cabeças de dragões com Espadas Sagradas e combatendo os Traidores do Metal sem dó nem piedade, os Senhores de Aço que tocam pra frente este Bastião Sagrado do Heavy Metal há 23 anos são muito, mas muito mesmo inteligentes! Toda sua fidelidade para com a paixão pelo heavy metal - e contra as modinhas passageiras - gerou um mercado sólido, aparentemente muito lucrativo, ainda que bem setorizado. Ao ignorar as mudanças de mercado promovidas por fenômenos como o grunge, o techno e o novo rock pós-Strokes, os senhores da Brigada do Metal pavimentaram um terreno fértil de acordo com os interesses de seu selo/gravadora homônimo, lançando como febre (no underground, é claro) gêneros considerados até mesmo pela grande mídia metálica estrangeira (como a inglesa Kerrang, que eles execram) como demodés, tais quais o metal melódico, power metal e thrash metal 80’s. Só não conseguiram pôr a mão na fatia no bolo do black metal porque Nuclear Blast e Century Media - seus maiores concorrentes e ao mesmo tempo aliados! – eram donos dos passes dos maiores nomes daquele estilo musical. Para uma revista direcionada aos camisas-pretas, é impressionante o número e o nível alto dos anunciantes na Brigade – fenômenos pop (e com nada a ver com o metal) das grandes majors já constam em suas páginas. Mas o maior fato é justamente a conseqüência disso tudo. Enquanto que a Bizz samba para agradar leitores downloaders e balzaquianos/quarentões, a Rock Brigade criou verdadeiros exércitos de fãs radicais de heavy metal - radicais sim, mas também apaixonados. E os anúncios atuais da revista contam com discos em versões digipack luxuosas e preços até justos (entre R$ 25 e 30) se comparados com um Franz Ferdinand numa Laser da Vida (45 paus!). Os tais Barões da Indústria (Rock Brigade Records inclusa) encontraram ali um filão imutável, que ainda compra CDs, que cola pôster no quarto (a Brigade ainda os traz encartados no meio da revista até hoje!), e que vão em massa nos shows dos seus ídolos, trazidos pelos Produtores Vampirescos de Mega-Eventos. E o corpo editorial da Brigade – sabiamente – ignora por completo termos como “novas tecnologias”, “mp3”, “My Space” e tal, no máximo citando-os numa entrevista e nunca explicando-os. E ainda aproveitam esta omissão para enfatizar fortemente campanhas anti-pirataria. A busca pela “atualidade” dos leitores jovens de Bizz pode levá-la a uma nova falência. E o conservadorismo dos leitores da Rock Brigade garante uma sobrevida cega e inerte à revolução em plenos pulmões que ocorre atualmente na indústria fonográfica. Nesta briga de foice em meio ao tiroteio de donwloads e tentativas de travar o curso da história, os alternativos no comando de uma revista soam desnorteados face à liderança dos camisas-pretas da revista-do-metal em seu meio de combate.

segunda-feira, maio 08, 2006

Novidades na Indústria – parte I

Eis aqui algumas resenhas sobre lançamentos recentes de alguns dos ícones da música industrial/ebm/future pop que curto como um louco.


“The Greater Wrong of Right Live – DVD”, dos gods canadenses do Skinny Puppy, foi um presente de aniversário que tive que dar para mim mesmo! Sou fã desta banda única e maravilhosa há mais de 15 anos, e este lançamento (na verdade, é do final do ano passado) preenche absolutamente todas as expectativas que eu tinha. Trata-se do registro da fase atual da banda, que voltou oito anos depois da morte por overdose de heroína do tecladista/programador Dwayne Goethel, e que provocou seu fim em 1996. “The Greater Wrong of the Right” foi o álbum da volta, um disco à altura da carreira da banda, sem nostalgias baratas e mantendo seu curso evolutivo. Pois bem, vamos à vaca-fria! Este DVD (com luxuosa produção em digipack), como é de praxe nas produções atuais, conta com som e imagem de altíssimo padrão de qualidade, e fico só babando de ver/ouví-lo num home theater. Ao vivo, a dupla original Nivek Ogre (vocais) e Cevin Key (programador/multi-instrumentista) recebe a nobre ajuda de William Morrison (guitarra/baixo, além de ser o editor deste DVD) e Justin Bennet (bateria/percussão), o que acrescenta em muito ao som da banda. O show (gravado em Montreal e Toronto – Canadá) é em si um espetáculo de alta tecnologia sonora, pois Cevin Key se farta em seu vasto equipamento (synths, percussões, theremim digital, lap-tops, etc.), Justin Bennet utiliza-se de todo o poderio de sua bateria/percussão acústica e eletrônica (o cara é um monstro!), William Morrison simplesmente toca baixo e guitarra na mesma música, além de fazer linhas de synth nas quatro cordas e, por fim, Nivek Ogre destila seus vocais com efeitos de distorção e delay idênticos aos de estúdio. Visualmente, metade da banda (Key e Bennet) soa meio nu metal, com roupas modernas e dreadlocks na cabeça, enquanto que Morrison encarna o visual gótico sem a menor cerimônia. Já Ogre... bem, o cara não mudou nada, pois começa o show com um visual pra lá de estranho (com chifres e roupa toda rasgada) e vai se transformando no decorrer da apresentação, terminando totalmente imundo, parecendo ter saído do inferno. Seus vocais (únicos, diga-se) estão muito mais afinados e poderosos do que no registro em vídeo anterior (“Ain’t Dead Yet”), colocando mais melodia e preocupando-se bastante em “dar conta do recado”. O repertório do DVD privilegia o disco mais recente, com nada menos do que quatro faixas no começo, e também mais quatro de “Vivisect VI” (1988). Além de versões magistrais de seus hits underground (“Testure”, “Worlock”, “Deep Down Trauma Hounds”, “Smothered Hope”, etc.), eles supreendem ao tocar faixas pouco usuais ao vivo como “VX Gas Attack”, “Hexonexon” e “Cruscible”. O visual do palco, com iluminação futurista, telão e diversos monitores de TV despejando imagens, é um espetáculo aos olhos vistos. Aos fãs, a satisfação atinge os níveis máximos!
*Extras: Há um segundo disco só com extras, que são:
- “Information Warfare”: a grande mancada deste DVD, pois se os caras do SP são contra a política Bush pai/filho, tudo bem, é o direito deles. Porém, gastar o nobre espaço de mais de 30 minutos num DVD musical com um documentário sobre ex-combatentes da Guerra do Golfo (1991) e suas respectivas visões negativas sobre o episódio é demais! Não há nada neste segmento que haja qualquer referência musical, tornando-o totalmente dispensável!
- “Eurotrauma Tour”: são 35 minutos de filmagens caseiras produzidas pelos próprios membros da banda durante sua passagem pela Europa em 1988. Tem cenas de backstage, maconherismos explícitos (lá pelas tantas, eles visitam uma coffee shop em Amsterdã), trechos de shows e demais encheções de linguiça que só interessam aos fãs mais ardidos. Vale como registro histórico, ainda mais por mostrar a personalidade doce e tranquila de Dwayne Goethel, o que não nos faz acreditar que foi justamente este cara que se matou por overdose de heroína!
- “Too Dark Park” – Archive Footage”: o mel, o filé dos extras! Aqui eles puseram a faixa “Spasmolitic” como pano de fundo para uma colagem de imagens da tour de 1990. O visual do palco é simplesmente fantástico, conseguindo imprimir toda a intensidade sombria de sua música ao vivo. Key (na bateria e nos synths) e Goethel (muitos - uns cinco ou mais – synths) ficam em plataformas elevadas nos cantos do palco, com iluminação azul/verde bem sombria e com galhos de árvores mortas envolvendo-os, enquanto que Ogre sobe numa espécie de perna-de-pau mecânica, e também num troço meio ciborgue com monitores de TV e garras. É um negócio muito louco, esquisito, original!
- “Last Rights – Archive Footage”: no mesmo esquema anterior, desta vez com a faixa “Love in Vain” sonorizando as imagens da tour de 1992. O palco, ainda mais sombrio, parece um açougue futurista do inferno, com luzes deixando tudo na penumbra, um grande telão de fora a fora destilando imagens horríves, e várias carcaças e cabeças deformadas (de silicone, óbvio...) penduradas e dispostas de forma giratória ao bel prazer de Ogre, que veste várias ao longo da apresentação. Sem sacanagem, mas tem banda de black metal metida a satânica por aí que não consegue chegar nem a um décimo do espetáculo de horror que o Skinny Puppy produziu nesta turnê de 1992!

Al Jourgensen não parece dar sinais de cansaço! Num curto espaço de tempo, o pai da fusão de metal+industrial do Ministry lançou um disco (“Houses of The Molé” – excelente!), uma coletânea de 25 anos de carreira (“Ranthology”, com versões ao vivo e alternativas de hits seus), o disco do projeto paralelo Revolting Cocks (“Cooked & Loaded” – imperdível!), e agora mais um disco novo, “Rio Grand Blood” (um torcadilho com o ábum “Rio Grand Mud”, do ZZ Top, que por sinal participou de "Cooked & ..."). Eu já havia feito antes neste blogg a comparação entre Ministry e Motorhead, tanto por causa do ritmo frenético de lançamentos, quanto por conta do peso cada vez maior de sua música, apesar da idade mais avançada. Pois bem, reitero a comparação. “Rio...” é sem dúvida alguma o álbum mais pesado, brutal e heavy metal moderno do Ministry, que parecia ter perdido o entrosamento com as gerações atuais e só produzia música para seus fãs mais ardorosos. A grande novidade aqui fica por conta dos convidados especialíssimos como Tommy Victor (guitarra/vocal do Prong), Paul Raven (baixista do Killing Joke) e Nº 7 (baterista do Slipknot) que, além do velho colaborador Mike Saccia (guitarrista do Mindfunk), imprimem suas marcas pessoais neste monolito - praticamente um dinossaurodo do rock/metal industrial. A faixa-título abre o disco da forma tradicional, com batida veloz, riffs minimalistas e refrão palavra-de-ordem. Já na segunda faixa, “Señor Peligro”, a massa sonora lembra Slayer e Megadeth, com uma quebrada totalmente Sepultura (Chaos AD) e vocais monstro. O ritmo travado e quebrado de “Gangree” nos levam aos momentos mais pesados de “Filth Pig” (1995), tendo como convidado o velho chapa Jello Biafra (ex-Dead Kennedys tendo lançado dois álbuns e dois EPs c/ o Ministry no projeto hadrcore-industrial Lard) destilando sua ironia no começo. “Fear (Is Big Business)” tem riff fantasmagórico e termina totalmente speed metal. “Lies, Lies, Lies!” é a melhor faixa do disco, com uma troca de riffs impressionante, além de um refrão espetacular. A partir daí a porção melódica do Ministry começa a aparecer com mais intensidade e o álbum ganha força com isso. “The Great Satan” é Motorhead puro, com levada de dois bumbos o tempo inteiro e refrão totalmente punk rock. Tommy Victor faz das bases de “Yellow Cake” algo totalmente Prong, enquanto que Jourgensen produz um refrão psicodélico, lembrando até mesmo Jane’s Addiction. “Palestina” também segue na mesma linha Prong, com refrão totalmente melancólico. “Ass Clown” tem climas mântricos (a cargo da vocalista convidada Liz Constantine), bateria tribal e vocais sombrios ao estilo de “Scarecrow” (1991), dando um toque de pesadelo apocalíptico à faixa. O disco termina com uma música escondida, com Jello Biafra aprontando das suas. Ao final, o único porém é a respeito da temática das letras, pois Jourgensen destila pela enésima vez sua raiva e ironia contra George W. Bush, o que denota uma repetição já cansativa desta abordagem - lembrem-se que o disco anterior foi todo dedicado ao presidente norte-americano. Voltando ao som, se este é o álbum mais pesado do Ministry, não restam dúvidas. Tommy Victor mostra suas garras em riffs animalescos, enquanto que o batera do Slipknot imprime velocidade nos bumbos e modernidade nas viradas sem deixar de parecer industrial. E Paul Raven simplesmente co-assina metade das faixas (as melhores, por sinal). Al Jourgensen pode estar ficando velho, mas mostra que ainda sabe das coisas e se fez valer de ótimas parcerias. Um dos discos do ano, com certeza!
*Apesar de ser “o mais pesado” em termos de brutalidade na bateria e nas guitarras, “Rio Grand Blood” não consegue superar o ápice apocalíptico de “Psalm 69” (1991), o melhor ábum do Ministry na minha humilde opinião.