sexta-feira, junho 30, 2006

Novidades, velharias, náuseas...

Enfim alguma banda nova atraiu minha atenção! Bom, na verdade, eu caí a armadilha de ser seduzido pelo velho embalado no novo. O duo californiano She Wants Revenge adora Joy Division. Mas o Interpol também adora a banda do finado Ian Curtis, e nos dias atuais de informação à velocidade da conexão de internet que o seu bolso pode bancar, o quarteto de NY já é veterano, pois conquistou a incrível marca de dois álbuns lançados! Pois bem, a proposta do She Wants Revenge é mais divertida, vertendo o som do Joy Division paras as batidas digitais das pistas de dança, sem se esquecer de baixo-guitarra bem marcadinhos e uns cacoetes oitentistas (Human League e Depeche Mode, basicamente) aqui e acolá. Tudo bem, mais um coelho surge desta cartola exigindo seus direitos, pois o próprio New Order seguiu sua carreira após o fim do JD justamente apostando na eletrônica. Olha, está difícil falar de alguém que tenha uma idéia original nestes dias atuais... Bom, o que importa é que esta bandinha de nome bacaninha aí é bem divertida e fará a cabeça tanto de góticos cheirando a naftalina quanto de neófitos fãs da nova-salvação-do-rock-que-baixei-hoje-à-tarde. E a tal da “I Don’t Want to Fall In Love” é o meu hit atual que fará minha glória no comando de uma pista de dança, ha-ha!

Rudy Ratzinger não é parente do Papa Bento XVI, e se tivesse vivido na época da Inquisição, iria pra fogueira sem dó. A verdade é que a mente deste alemão vive povoada dos mais sinistros sentimentos humanos, revestidos na forma de uma espécie de EBM (electronic body music) com peso e intensidade jamais vistos. Ao contrário de muitos de seus pares nesta vertente do som industrial, o dono do Wumpscut não apela para guitarras distorcidas nem para os ritmos ultra rápidos e apelativos do gabba. Em “Cannibal Athem”, seu mais recente lançamento (2006), os sintetizadores e as drum machines continuam com o peso de uma bigorna, mantendo a tradição dos vocais distorcidos e (a partir de “Wreath of Barbs”, 2001) belas intervenções femininas. As letras são delicados tratados sobre toda a sorte de assassinatos, mutilações e exorcismos. Ouvir Wumpscut é uma experiência marcante – para o bem ou para o mal, dependendo de sua visão de vida.
*Esta espécie de “EBM do Mal” tem como percussor o duo belga Vomito Negro, e como seguidores – além do próprio Wumpscut – grupos como Allied Vision e Velvet Acid Christ.

A palavra “Tributo” no meio musical adqüire sinônimos como “Assassinato”, “Insulto”, “Indulgência” e “Heresia”, tal qual a enorme quantidade das terríveis coleções em homenagem que assolam nossos ouvidos constantemente. É um verdadeiro desfile de gente sem talento em busca de um lugar ao sol às custas de parasitismo falcatrua que nem vale mais à pena ouvir estes monstrengos, nem mesmo por curiosidade. E o pior de tudo é que a vertente industrial é pródiga neste tipo de lançamento. O primeiro que ouvi foi o do Metallica, cujas melhores versões (a saber: Hellsau, Apoptygma Berzerk, Die Krupps e In Strict Confidence) são aquelas que não têm absolutamente nada a ver com o original, nem mesmo riffs ou melodias – totalmente desnecessárias, então. Depois me aparece um tributo ao Tool, que até conta com bandas promissoras (Haujobb, Electric Hellfire Club e Razed in Black), mas que mesmo estas conseguem provocar náuseas, fazendo valer à pena somente pela correta versão de “Stinkfist” cometida por Maya Hiena, com vocal feminino e pouca (nenhuma?) mudança em relação ao original. Pior mesmo é o tributo ao Skinny Puppy, que conta com praticamente a mesma escalação de perdedores e promissores que queimam o filme igualmente, sendo que não há para onde correr, pois bandas de industrial fazendo cover de outra banda de industrial soa sem sentido. Tem também uns dois discos em homenagem ao Ministry, sendo que muitas das faixas escolhidas são justamente da fase technopop da qual Al Jourgensen (o suposto homenageado) renega até a morte. Pelo menos tem uma versão folk e com vocal feminino de “Scarecrow” que é bem engraçada. No final das contas, “disco-tributo” define uma máxima: a de que todas as bandas participantes não chegam aos pés do homenageado. E se o homenageado tiver sua importância questionada ao ponto de realmente merecer um tributo, é porque os envolvidos em tal empreitada não possuem futuro algum na música!
*Tributo por tributo, eu só ouvi um até hoje que me passou algo positivo: o primeiro volume dedicado ao Black Sabbath. Homenagem com reverência, respeito e (na maioria dos casos) inovação.

sexta-feira, junho 16, 2006

Sons!

Olha, é difícil achar alguém que diga: Eu odeio Ramones!. A não ser que o indivíduo ligue a música do quarteto de Nova York com algum acontecimento ruim em sua vida, ainda não topei com tal sujeito na minha frente até hoje! Mesmo mergulhado em techno-pop e afins em meados dos anos 80, eu tinha minha fitinha K-7 (dupla!) com o “Ramonesmania” e ouvia direto. Naquela época o pau comia entre punks e metaleiros, mas os Ramones tinham o dom de fazer todo mundo gostar deles – inclusive quem não era muito afeito ao rock and roll em si. Pois é, o tempo foi passando, o quarteto da jaqueta de couro e do jeans rasgado foi ficando guardado no coração de seus fãs e na memória afetiva dos não-tão-fãs-assim, e sua música já não era nem de longe a referência para os hypes de então quando da morte de seu vocalista. A revista Bizz, por exemplo, dedicou apenas uma página em “homenagem” ao falecido, ainda assim pondo em questão a sua real importância para a história da música popular mundial. Em plenos anos 2000, na Era do Download, Nova York voltou a ser a bola da vez e os Ramones, como que num passe de mágica, voltaram a povoar a mídia, com homenagens e quetais. A verdade é que ficou inevitável demais não homenageá-los, tendo em vista o triste fato de que três dos quatro membros originais estarem se encontrando six feet under. Podem dizer que eles se repetiam, que exaltavam a rebeldia jovem tendo idade para serem pais – avós, até! – do seu público-alvo, ou que só povoavam os corações de fãs do Terceiro Mundo. Beleza! Mas, ao ouvir um discão como “Too Tought To Die” em pleno ano de 1984, no auge do exagero plastificado dos anos oitenta, é uma tarefa gratificante. Numa era de teclados baratos, baterias eletrônicas quadradas e cabelos de mullets, os quatro Ramones mantiveram seu visual (aliás, carregando ainda mais no preto e no couro) e gravaram um disco pesadão, cru e na cara. Além de seu velho e irresistível som punk/bubblegum, haviam ecos de psychobilly e hardcore dos bons (com Dee Dee nos vocais). Doces melodias embaladas por guitarras bem pesadas para o padrão da época. Não seguiam moda, seus planos de conquistar o mundo fracassaram (quem viu o documentário “End of Century” sabe da história), e só restava fazer o que gostavam, remando contra todas as marés possíveis. Um disco que não faria feio numa pista de festinha rock, e que daria um tapa na cara dessa galerinha nova aí que parece só conhecer “I Wanna Be Sedated”.
*É fácil eu cair no lugar-comum e sair por aí descendo o pau nas gerações mais novas que a minha. Porra, tô sentindo na pele esta tentação me cutucando! Quarta passada (14/06) botei pra rolar sons tipo Suede e Blur numa festa e ninguém conhecia. De 2000 pra trás, tudo deve ser muto velho, os Strokes já são veteraníssimos, e eu estou virando um dinossauro???
**Paulinho, eu ouço esta porra de disco maravilhoso o dia inteiro! Só faltam agora o “Animal Boy” e o “Halfway to Sanity” pra você me dar de presente e completar a trilogia metal dos Ramones, hehehehehehe...


Amantes dos sons das catacumbas têm o Cassandra Complex entre seus mimos preferidos. Eu tinha um exemplar em vinil do álbum “Cyberpunx” (1990), adqüirido junto da leva de bandas de industrial/ebm que fizeram a cabeça de toda uma geração tupiniquim. O bolachão me foi roubado junto de mais ums 50, e acabei por deixar a banda esquecida no espaço-tempo. Quanta injustiça! Resolvi clicar no Soulseek o seu nome e agora estou completando sua discografia. Uma definição bem objetiva do som destes ingleses: gorhic rock a lá Sisters of Mercy carregado com muita eletrônica e guitarras invariavelmente distorcidas. Amantes do maravilhoso som dos anos 80 (o que realmente de bom foi produzido) vão gostar do sabor synthpop + gothic rock de “Grenade” (1986) e “Feel The Width” (1988). Àqueles que gostam de EBM e industrial vão pirar no já citado “Cyberpunx” e, principalmente, em “Sex & Death” (1998 – que tem toques estilo NIN e de eletrônica bem pesada). E os fãs de última hora da banda de Andrew Eldtricth – patrono dos Sisters of Mercy e maior referência de som gótico de todos os tempos – vão gostar de “Wetware” (2000). A banda continua na ativa, seus álbuns só se encontram em versões européias (com exceção de “Wetware”), e não é tão fácil assim de baixar na internet. Resumindo: é som para iniciados – se as referências citadas aqui não lhe agradam, nem tente!

Escrever sobre o Tool é tarefas das mais complicadas. Trata-se de uma das bandas mais íntegras em sua proposta musical que apareceram nos últimos 15 anos. O que mais me impressiona em sua música é que seus (poucos) álbuns possuem uma clara ligação entre si, cada qual representando um passo maior em direção de seu próprio universo. Seus videos são simplesmente os mais fantásticos que se têm notícia, ao conseguir fazer com que imagens que não economizam em tecnologia sejam a visualização perfeita de sua experiência sonora única. É fato que não se trata de uma banda de fácil digestão, com faixas longas, mudanças de andamento constantes, álbuns que não possuem letras das músicas, e quatro caras que tocam pra caralho – e isso incomoda muita gente. Há uma ligação sim com o terrível rock progressivo, mais por conta da estrutura de sua música do que com a sonoridade final em si. O Tool é fruto da geração grunge, seus riffs e melodias vocais evocam àquela era, e não aos dinossauros progressivos dos anos 70 – e isso faz torcer o nariz também dos coroas fãs daquele período musical específico. Com tantos contras, porque que os caras possuem um séquito fiel e muito numeroso? Em 15 anos de banda, possuem apenas quatro álbuns oficiais (fora Eps e tal) e a vinda de um novo lançamento é aguardada com uma comoção inexplicável para uma banda tão, digamos, inacessível. Seu disco mais recente, “10.000 Days” (2006), apenas reforça o culto, pois a alma de sua música continua intacta. Se cabe uma crítica, posso afirmar que o Tool muda muito pouco a cada disco, ainda que este lançamento tenha uma pegada mais stoner e que seu som esteja ainda mais intrincado instrumentalmente. Quanto ao vocalista Maynard Keenan, posso afirmar que este já ocupa o posto de uma das principais vozes nos anais do rock and roll, pois seu estilo único e sua capacidade de criar melodias marcantes e originais encontram poucos paralelos hoje em dia. Entrar no universo do Tool não é fácil – ainda que este que vos escreve tenha pirado logo de cara. Se na primeira faixa – de qualquer álbum – você não sintonizar na dos caras, vou logo avisando: o que virá pela frente será bem pior!
*Supondo que os discos do projeto paralelo A Perfect Circle poderiam amenizar a agonia pela demora nos lançamentos da banda principal, eu assumo a postura daquele fã chato e pentelho. Vou logo escrevendo: A Perfect Circle é um Tool de muletas! Ótimos discos, mas a aura da banda titular está ali, esfregando na cara e avisando sobre quem realmente manda!

sexta-feira, junho 02, 2006

Pra pista!

Na falta de lugar, de ocasião pra tocar, às voltas com trairagens e marasmos afins, só posso mesmo – por enquanto – escrever sobre estas maravilhas que foram feitas para movimentar corpos em transe hipnótico sob luzes coloridas e sub-graves gordos.


Existem aqueles que produzem verdadeiras bombas atômicas para as pistas de dança, sempre sintonizados com o que há de mais atual e apontando o dedo para o futuro. Certo! Só que o Element citado aqui manda pras cucuias qualquer tipo de convenção para manter-se na vanguarda ao mesmo tempo em que praticam um tipo de som tão próprio e personalizado que só nos resta louvar esta nova maravilha que atende pelo nome de “Alteration”. Proveniente da Alemanha, eles chegam ao seu terceiro disco quase três anos após o fantástico “Blue Moon”, e apenas reforçam o estado de arte em que se encontra o seu trance de tons únicos. Os BPMs variam de 130 a 140, mas pouco importa a velocidade em si de cada faixa, e sim para onde esta pode levar o corpo e a mente. Aqui as melodias não são meras rajadas de synth prontas para alucinar mentes lesionadas – as viagens sempre vão para algum lugar, modificando-se ao longo dos minutos, construindo paisagens diferentes a todo momento, provocando êxtase mental e físico, pois tudo é muito dançante e nem um pouco óbvio. Vez ou outra aparece um vocal e/ou uma guitarra que remetem (pasme!) a um Pink Floyd remixado. Vejam bem: não há as guitarras e vocais heavy metal que tanto reforçam os clichês do psy trance, mas sim melodias de verdade – vocais graves e dedilhados de pura finesse. As batidas são minimalistas mas certeiras, sem maiores arroubos percussivo-nervosos. E o rótulo progressive trance até pode abraçar em parte o som do Element. Mas “Alteration” carrega em seu DNA a sabedoria de quem vivencia os ares do país de onde surgiu o trance (o psy só apareceu dez anos depois!) em meio à euforia da queda do Muro de Berlim. É Música Eletrônica com autoridade!


Bomba Atômica mesmo atende pelo nome de “Zero Six After”, mais recente lançamento do projeto sueco Ticon. O negócio aqui é um meio caminho entre o progressive trance e o psy trance, passando por tendências atuais infiltradas em meio a tais petardos dançantes. “Aero” (2003) já apontava, em duas faixas, os rumos de uma excelente fusão com o electro, e contando até mesmo com um legítimo breakbeat em outra faixa. Pois bem, no disco lançado no final do ano passado, o Ticon abraçou descaradamente o electro, criando faixas de altíssimo poder de fogo tanto em pistas de psy/progressive trance, quanto de electro. Há ainda uns dois psy trances um tanto quanto dispensáveis, ainda mais se compararmos com o restante do disco, com excelentes soluções melódicas e riffs de synth que nada têm a ver com o universo psicodélico em si, chegando perto de um rock eletrônico! Satisfação garantida para mentes abertas.


A dance music é um balaio de gatos tão abrangente que fica difícil de categorizar um disco inteiro em um termo específico como techno, trance, house, etc., pois cada um destes rótulos possui tantas sub-divisões (ex: acid house, minimal techno, progressive trance...) que certos álbuns receberam a categoria de electronica - simples assim! Esta categoria, aparentemente simplória, na verdade surgiu para definir discos lançados por produtores que saíram das pistas underground para invadir o mainstream com suas idéias originais. Muita coisa boa vem sendo produzida desde meados da década passada, e gente como Leftfield, Orbital, Future Sound of London, Daft Punk ou mesmo Prodigy e Chemical Brothers desafiam categorizações homogêneas – são os famosos discos de dance que dão pra ouvir em casa, e não somente sob efeito de estimulantes cerebrais diversos. O alemão Timo Maassurgiu da cena original de trance de seu país natal, e aos poucos foi garantindo status de pop star até ao ponto de poder chamar quem quisesse para participar de seus álbuns, fossem eles artistas de rock, pop, soul, rap, etc. A série de discos de electronica de Maas iniciou-se com “Music For The Maases” (2002), chegou à perfeição com “Loud” (2003), e agora atinge a maturidade com “Pictures” (2006). O trance tradicional ainda está lá, como na épica “4 UR Ears”, com participação da cantora Kelis. Porém, é na diversidade das demais faixas que a veia criativa do DJ/produtor alemão se sobressai, assumindo formatos diversos como breakbeat, techno, lounge, e demais variações, que contam com outros ilustres convidados como Brian Molko (do Placebo) e Neneh Cherry. Se dá para ouvir em casa? Não só em casa, mas no trabalho, no carro... e na pista de dança também!