quarta-feira, dezembro 13, 2006

ROCK HORROR SHOW


Rob Zombie sem maquiagem é mais feio que o zumbi ao seu lado...

Lembram do Rob Zombie? É aquele mesmo, que parecia um misto de Beato Salú/Pedro de Lara com morto-vivo saído da série “Evil Dead”, e que promovia um mix bacana de rock industrial, cine trash e heavy metal. Pois é, o tempo, as cenas e o gosto-comum dos norte-americanos (sua terra-natal) transformaram-no em fumaça de despacho na encruzilhada, e o cara meio que foi esquecido nos pesadelos neófitos da garotada em prol de emossexualismos e bandas gótico-farofa de quinta. Meus caros amigos, mas a carreira do cara não era assim tão desprezível, a começar por sua antiga banda, o White Zombie. Tenho em casa quatro discos dele: “La Sexorcisto”, 1992 - metalzão dos bons, com influências sutis de industrial e hard rock (notadamente o Kiss); “Astrocreep 2000”, 1995 – radicalização eletrônica do som original da banda, mas pegando pesado em refrões poderosos e climas de horror B (também tenho o disco de remixes “Supersexy Swingin’ Sounds”, 1996, muito bom!); e sua primeira investida solo, “Hellbilly Deluxe” - uma continuação natural do último disco de sua ex-banda. Depois disso, deu no saco – pra mim e para o mundo. Parecia que o som dele não tinha mais pra onde correr. Mas, em pleno ano de 2006, resolvi baixar seu petardo mais recente, “Educated Horses” (2006), e chapei o coco!

A vinheta de abertura, “Sandwist In The Blood”, parece ter saído de algum dos filmes que Rob Zombie dirigiu – pra quem não sabe, o cara inclusive está mais envolvido com produção e direção de filmes de terror B atualmente do que com sua própria banda. “American Witch” vem a seguir com uma pegada hard rock/heavy metal que só poderia vir da mente de alguém que sabe que o metal não surgiu com Korn e Linkin’ Park. “Foxy Foxy”, com sua levada dançante, efeitos eletrônicos e refrão pop pode indicar que nada mudou desde “Hellbilly Deluxe”. Ledo engano: Zombie está cantando com voz mais fina e menos agressiva, totalmente glam, e a viagem a seguir vai fundo na highway to hell. “17 Year Locust” tem aquela pegada stoner-metal estilo Corrosion of Conformity. “The Scorpion Sleeps” parece Gary Glitter numa dança de cadáveres. A vinheta “100 Ways” abre caminho para o heavy-rock acelerado de “Let All Bleed Now” elevar os picos de adrenalina. “Death Of It All”, com seu começo dedilhado no violão, engana e parece apelar para aquelas baladas neo-góticas atuais, mas o clima aqui é outro. Aliás, Rob Zombie se destaca de toda esta praga de hoje disseminada por Evanesence e Nightwish (destes dois eu fiz questão de não colocar seus respexctivos links!) pelo simples fato de possuir um senso de humor negro e ao mesmo tempo auto-irônico. Que banda pseudo-depressiva dessas teria coragem de gravar um blues em clima de horror sanguinário (“The Devil’s Reject”) e enfiar cacetadas sem medo de soarem malvadonas e envenenadas por todos os lados? – vide “Ride” e “Lords of Salem”, que encerram o disco, além de todas as outras citadas. Esse Zombie aí agora só comete seus assassinatos em série para platéias selecionadas, pois seu som – graças aos diabos! – não se resvala nas cenas que estão em evidência.

ROCK CITY MORGUE


Banda de funerais?!?

O White Zombie tinha em suas fileiras uma bandaça, pois o talento de Jay (guitarra), Joe Tempesta (bateria) e Sean Yseault (baixo) não poderia ser menosprezado. Com o fim da banda, cada um foi tomando seu rumo. E a baixista Sean resolveu botar pra fora o que estava entalado na sua garganta dentro do WZ – a “eletronização” do som”, e montou um grupo de acordo com suas necessidades. Ou seja: rock and roll puro e com muito sangue, vísceras e putaria juntos. Rock City Morgue, a banda, e “Dead Man’s Song” (2005), o disco, parecem ter pego o lado mais rock and roll que existia dentro do White Zombie e enfiaram punk e gótico na mistura. “Disconnected”, “No Complains” e “I Did It For You” abrem o disco naquele clima rockão básico estilo Hellacopters e Backyard Babies. Só que o negócio aqui é mais sujo, underground mesmo. Eis que na faixa-título, “Hearts”, “People Are Wrong”, “A Time And a Place”, “Dakness As Fallen”, “Never Tell Lies” e em “Don’t Leave Me Haunted” o clima muda, entra um piano mezzo fantasmagórico, mezzo blues e cabaré decadentes, e fluem influências meio góticas até. Surpreendente! “Never Ending”, “Trouble” e “Waste Away” põem o Rock City Morgue novamente a serviço do bom e velho rock and roll, com o vocalista Rick Slave soltando sua voz ao melhor estilo de um Paul Stanley (olha o Kiss aí novamente!) bêbado num boteco de beira de estrada de um deserto qualquer - o vocal do cara é algo entre o punk, o poser e o fantasmagórico. O Rock Horror Show não vai acabar se depender da loirinha Sean Yseault e sua trupe de malucos-mórbidos do Rock City Morgue.


Este zumbi habitou os pesadelos góticos dos anos 80

*Esta estranha e divertida relação de terror + rock and roll, ela vem de longa data, vide o bluesman malucão Screamin’ Jay Hawks, que foi pioneiro nesta temática (nas letras e nas suas apresentações), e que, segundo o recente livro “Goth Chic”, se trata do inventor do rock gótico lá pelos idos dos anos 50. Bom, os góticos sempre curtiram um terror B e Expressionismo Alemão, vide o Bauhaus e os tresloucados do Alien Sex Fiend (foto acima, do vocalista Nick Fiend), que assombraram as catacumbas dos anos 80. Influências nem tanto para góticos e mais para punks, psychobillies e rock and rollers, The Cramps e Misfits povoam os pesadelos de gerações que se renovam e sempre cultuam estes dois ícones surgidos na segunda metade dos anos 70. Pegando um pouco de tudo o que foi citado até aqui, o My Life With The Thrill Kill Kult produziu, no final dos anos 80, um som industrial com pitadas também de noir e easy listening, e que acabou por se tornar uma das maiores fontes de inspiração do traveco-do-mal Marylin Manson. Este último, por sinal, tratou logo de, no início de sua carreira, mostrar a origem de tudo ao gravar o cover “I Put I Spell On You” (no álbum “Smells Like Chidren”, 1995), do pai-da-matéria Screamin’ Jay Hawkins. O mundo dá suas voltas e os zumbis sempre acabam se encontrando em cemitérios e rabecões em comum.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

SONS!!! - electro

Trabalhando pra cacete, mas não deixando de ouvir música! Acredito veemente de que seja muito melhor consultar páginas de amigos para colher dicas de sons do que confiar em colunas “oficiais” que divulgam informação processada pelos motivos de hype de sempre. Você conhece a pessoa, seus gostos e sua forma de expressar seus pontos de vista. Faço aqui minha colaboração.

THE KNIFE


Gente esquisita essa...

E meio às novas ondas propagadas pela mídia imediatista, é sempre bom atentar justamente para aqueles nomes que ficaram lá no fundo destas reportagens, meio que perdidos ou condenados por serem um tanto quanto “diferentes” mesmo. É o caso da famigerada “Cena de Estocolmo – Suécia”, atualmente o centro nervoso dos caçadores de novidades com prazo de validade curto, e que pouco deu destaque ao electro esquisito da dupla de irmãos - Olof e Karin Dreijer - The Knife. Na verdade eu só dei a devida atenção por conta de uma matéria apresentada pela minha namorada e que depois fui ligar com os toques dados anteriormente pelos meus amigos Led e Taylor. Pois bem, o tal The Knife é uma agradável e instigante surpresa! Numa primeira audição dos álbuns “Silent Shout” e “Deep Cuts” identifiquei rastros de electro-clash (aquele revival anos 00 do techno-pop/electro-funk 80’s em ritmo tosqueira e desbocado), boas doses de dark wave (sobretons góticos em formas gélidas e eletrônicas) e até mesmo um tanto de “keyboard music” (não me perguntem o que seja isso...). Olha, na verdade as interrogações piscaram aos montes no meu cérebro, pois é tudo isso que falei e bulhufas disso também! Arrisco a afirmar: trata-se de um som original, onde os vocais ambíguos (são melancólicos? São debochados? São infantis? São demoníacos?!?) de Karin dão um aspecto absolutamente único na proposta musical da dupla – isso quando Olof resolve soltar sua voz de urso pimpão sintetizado (também não me perguntem o que diabos venha a ser isso!) para bagunçar tudo de uma vez. Consegui ainda verificar batidas dançantes “normais” (na faixa dos 130 bpms), outras bem rapidinhas (160 bpms!), subgraves e cliques (nervosos!) no melhor estilo minimal, e vislumbrei o agrado numa pista de dança tanto para clubbers, rockers e góticos que queiram sacudir o esqueleto com sons nem um pouco óbvios. Ah, e ainda sobram baladas que evocam emoções ainda mais estranhas! Fora que eles já têm um DVD (imagem acima) que, pelos visuais apresentados no show, deve ser alucinógeno. Troço bom, esquisito e original este The Knife!

THE NEON JUDGEMENT




Electro por electro, é sempre bom ver os caminhos das novas gerações se cruzando com tiozinhos que andavam um tanto quanto esquecidos. É o caso do duo (Dirk Da Davo e T.B. Frank) belga The Neon Judgement, que despontou na segunda metade da década de 80 praticando um mix de cold wave, electro, gothic rock e EBM, e que parecia ter perdido o rumo totalmente nos anos 90. Eis que a turba do electro-clash anos 00 resolveu tirá-los da sombra do ostracismo e deram uma forcinha na coletânea “Box”, lançada em 2005, ao comporem os remixes do disco-bônus. Obviamente tanto a coletânea em si quanto os remixes, foi privilegiado um repertório mais voltado para bases eletrônicas toscas e programações oitentistas totalmente caricatas. Particularmente curto mais as faixas melhores trabalhadas – e que não constam na coletânea – como “Kid Shyleen” e “Chinese Black”, aquelas que justamente expõem uma face mais rica, sonoramente falando, do Neon Judgement. Sobre o disco de remixagens, sobressaem-se as versões produzidas por Tiga (“TV Treated”), Vive La Fête (“Too Cold To Breath”), The Hacker (“Factory Walk”) e Terence Fixmer (“Nion”) – todos estes apontando novos rumos e sem se apregoarem a tosqueiras propositais, pois nos outros remixes parece que tentaram ridicularizar os supostos “homenageados”. Por via das dúvidas, consulte os originais da banda, particularmente “General Pain and Major Disease” e “”Horny as Hell”.

*Saí da lerdeza de posts! Ainda tem muita coisa por vir!