terça-feira, outubro 23, 2007

A dança dos pós-punks e outros seres estranhos

Batidas dançantes, vocais agudos e alegres, e uma indisfarçável sensação de que os anos 80 não foram tão ruins assim. A música atual corre atrás da década das ombreiras e dos mullets como se estivesse atrás de um santo graal que contém a secreta fórmula do sucesso. O lado bom disso tudo é que o rock voltou às pistas de dança, as batidas eletrônicas voltaram a conjugar com as guitarras sem constrangimento, e as lições deixadas pelo pós-punk original voltaram a se tornar relevantes hoje em dia. O lado ruim é o de sempre: genéricos copiando o que já era cópia sem discernimento algum e muito hype envolvendo caôs sem tamanho. Mas há sempre o que se pescar dentro de tamanha lagoa de influências que a geração seguinte ao punk rock começou a escarafuchar e misturar a partir do final dos anos 70

Pós-punk desde criancinha?



Vejam como são as coisas hoje. Os noruegueses do 120 Days misturam muita coisa do que se aboleta debaixo do guarda-chuva hype atual - agora, toda banda de rock minimamente dançante é new rave - e o resultado soa radicalmente diferente deste senso comum. Mesmo assim, eles estão enquadrados no esquema geral que rola por aí, onde a “novidade” é mais importante do que a relevância sonora. Praticamente todas as resenhas que li sobre eles apontam para uma mistura de Daft Punk e Kraftwerk com o novo rock anos 2000. Na pressa de lançar as novidades, a audição apenas da primeira faixa do seu álbum homônimo, lançado no final do ano passado, a excelente (e longa!) “Come Out (Come Down, Fade Out, Be Gone)”, sugere esta descrição mesmo. Porém, basta ouvir a segunda música do disco, “Be Mine”, para sacar a onda real do 120 Days. Trata-se sim de uma puta banda que emula o melhor do pós-punk oitentista, com baixão na frente marcando o ritmo, bateria eletrônica e sintetizadores analógicos tecendo um beat minimalista e dançante, e vocais urgentes e melódicos ao estilo do U2 (acredite!) dos primeiros discos - não há aquela afetação dos vocalistas atuais, cujos timbres parecem ter saído da dublagem do filme/animação “A Fuga das Galinhas”. O som é denso, com fortes influências de Joy Division (primordialmente), Echo and the Bunnymen e The Cure (fase “Pornography”). Mais um mero emulador do pós-punk? Não somente. Há ainda climões psiciodélicos promovidos pelos sintetizadores ao estilo de “Autobahn”, do Kraftwerk - o que remete ao pós-rock de gente como o Trans AM, porém sem ser chato em demasia. “Get Away”, quinta faixa do disco, sintetiza a sonoridade do 120 Days: refrão forte, densa, dançante... e com absolutamente nenhuma influência pós-anos 80. Mais retrô, impossível. Mais moderno, impossível...

Cow Punk?



Está aí uma banda verdadeiramente surgida nos anos 80 que deveria soar radicalmente fora do eixo vigente naquela época: os californianos do Gun Club! No disco “Miami” (1982) não há qualquer vestígio de bateria eletrônica (aquelas hexagonais...), teclados Casio (aqueles que pareciam de brinquedo...) e guitarras encharcadas de efeitos flanger (aquelas com um som magrinho...). Há sim acordes raivosos, num híbrido de (pós)punk, country music, rockabilly e a anarquia sonora da dupla pré-punk The Stooges e MC5. Os vocais do líder (e também guitarrista) Jeffrey Lee Pierce (falecido em 1996) são gritados, anárquicos, meio que um bluesman bêbado tocando num pub esfumaçado – daí a comparação justa e imediata com o som que Jon Spencer viria a produzir posteriormente com seu Blues Explosion. Eu, que só conhecia a primeira faixa deste disco (“Run Through the Jungle” – um pós-punk meio death rock, totalmente diferente do resto das demais), gravada numa fita K7 há mais de 15 anos, e que tinha apenas como referência o fato de ser a banda de onde saiu a baixista Patricia Morrison para gravar o clássico “Floodland”, do Sisters of Mercy, simplesmente tomei um susto quando um amigo meu me passou o disco inteiro para ouvir. Já os rotularam anos atrás de cow punk. Faz sentido. No meio da mistureba maluca, colorida e espalhafatosa que foram os anos 80, mais estranho no ninho o pessoal do Gun Club não poderia deixar de ser.

Shoegazer Gótico?



Perdido no meio deste post, surge o casal Dean Garcia (guitarra) e Toni Halliway (vocal), que comanda o Curve, uma banda difícil de ser rotulada. Da leva de formações inglesas de nomes curtos (Ride, Lush, etc.) surgidas entre o fim dos anos 80 e começo dos anos 90, categorizadas como shoegazer (devido à postura tímida dos músicos, que tocavam olhando para os seus sapatos), o Curve se destacava por ser muito mais pesado que seus pares de cena, além de carregarem fortemente nas programações eletrônicas e nos climas sombrios. Toni e Dean estavam muito mais para uma dupla gótico-industrial-alternativa do que qualquer outra coisa, pelo menos dos dois discos que tenho deles, “Come Clean” (1998) e “Gift” (2001). Músicas docemente indies e balançadas como “Something Familiar” (1998) e “Want More Need Less” (2001) poderiam enganar os leitores da Melody Maker de outrora, que corriam atrás de algo similar ao que viria se tornar o brit pop dos anos 90, ou então o que um dia já foi o indie dance da geração de Jesus Jones, Soup Dragons (a new rave de 15 anos atrás) e cia. O pesadelo breakbeat hardcore de “Chinese Burn” (1998) e o batidão industrial com guitarras malvadonas e distorcidas digitalmente de “Hell Above Water” (2001 – algo como um Nine Inch Nails com vocal feminino) não dão margem a tais singelezas. Trata-se sim de uma bandaça, totalmente à parte do que rolava quando surgiram – o que dirá dos dias de hoje. Já me disseram que o Curve é um “Garbage do mal”. É por aí. A voz sensual e (pseudo)delicada de Toni declamando letras dúbias por cima de sonoridades proto-indies e programações eletrônicas fazem um paralelo com a banda de Shirley Manson. Mas as batidas muitas vezes descambam no estilo Prodigy e Chemical Brothers (“Gift”, “Chainmail”), ou mesmo no techno/house (“Robbing Charity” e “Fly With The High”). O casal andava meio sumidão, mas em sua página oficial há uma música mais recente, “Weekend”, que é simplesmente arrasadora: batida tribal, synths electro e baxo distorcido. Vai na fé que vale à pena entrar no universo do Curve, mesmo que você não encontre paralelos atualmente.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Extermínio da consciência

Os desvios de caráter, o descontrole emocional e a eliminação de moral e de princípios são características em comum nos filmes do diretor britânico Danny Boyle (famoso mundialmente a partir do genial “Transpotting”). Mesmo os “heróis” de suas produções são dotados de comportamentos desaprováveis quando submetidos a situações extremas. É o caso dos dois filmes deste cineasta que assisti semana passada: “Extermínio” (2002) e “Sunshine – Alerta Solar” (2007). Para salvar a própria pele, nós, humanos, agimos muitas vezes como animais selvagens – segundo a ótica de Boyle.



“Extermínio” surgiu embalado pelo marketing de “filme de zumbis”, na onda dos blockbusters hollywoodianos de terror atuais, que são lotados de efeitos especiais e de sustos cuidadosamente preparados para o espectador saltar da cadeira e depois esquecer de tudo. Porém, o filme de Danny Boyle é infinitamente superior ao que o próprio gênero do terror restringe em torno de si. O mote desta produção – um rapaz comum acorda do coma após 28 dias e se depara com a Inglaterra totalmente abandonada e tomada por um vírus mortal que transforma pessoas em zumbis raivosos, sem saber se o resto do mundo também padece desta epidemia – é por si só genial para atiçar a curiosidade do espectador. Mas, muito além da carnificina que o título da película possa sugerir, “Extermínio” coloca em questão valores éticos e morais diante de uma situação de total desolação e horror. Os zumbis, na verdade, são meros coadjuvantes dos humanos “normais”, que agem muitas vezes de forma pior que mortos-vivos em estado de raiva absoluta.

O primeiro zumbi a aparecer no filme, por exemplo, surge justamente na figura do padre da paróquia onde o personagem principal foi buscar abrigo ou respostas. A religião simplesmente não existe nem possui autoridade diante da situação. Quando alguém é contaminado, podendo ser um desconhecido ou o seu próprio pai, a única solução é matar para não ser morto. Homens agem de forma primitiva quando confinados num mesmo ambiente, ainda mais se todos possuirem o poder de uma arma nas mãos, transformando a autoridade máxima em relativa por si própria. Mas, apesar de toda a desolação sugerida em “Extermínio”, há uma fonte de luz, valores surgem aqui e acolá sim senhor! A degradação humana encontra seus pares assim como aqueles que ainda persistem em seus juízos de valor diante de tal calamidade.



Já “Sunshine – Alerta Solar” embute o mesmo tipo de questionamento no âmbito de um filme ambientado no espaço. O Sol está morrendo, a humanidade está congelando e esvaindo junto com a luz cada vez mais fraca e escassa, e uma missão espacial leva todo o arsenal atômico da Terra para tentar reativar a Grande Estrela. Confrontos de egos surgem durante a viagem, mas os erros não podem ser tolerados neste tipo de tarefa. Quando as coisas começam a dar errado, “Sunshine” sai do âmbito de um mero filme de ficção científica estilo “veja-e-esqueça” e adquire contornos tipicamente característicos da mente de Danny Boyle. Porém, esta produção de 2007 não se equipara à “Extermínio”, talvez por pressão de fazer sucesso impondo um ritmo de thriller de suspense comum justamente perto da conclusão final. Talvez Boyle, um diretor tão afeito a mostrar as mazelas da psique humana, tenha sucumbido a salvar sua própria pele na indústria cinematográfica e acabou por produzir uma “obra menor” em sua filmografia. Tal qual o Tim Burton andou fazendo, que ganhou grana com “Planeta dos Macacos - um filme razoável - para finalizar uma produção fora dos padrões de Hollywood, (“Noiva Cadáver”), o cineasta britânico deve estar usando o sistema e juntando libras para poder bancar seus projetos pessoais mais profundos. Atitude muito parecida com a do personagem principal de “Trainspotting”...

New rave do caralho



É incrível notar como o electro é um ponto de interseção entre diversos universos sonoros diferentes. Do “novo rock” ao EBM, da new rave a até mesmo ao pop, e incluindo também o guarda-chuva que acolhe a dance music (trance, house, breakbeat, techno, etc.) - todos estão se fazendo valer dos blips robóticos e timbres que parecem um computador dando defeito que são tão caros ao electro. E audiências tão diferentes quanto também se encontram nesta via retro-futurista que apareceu com força nos anos 80. Um dos maiores nomes da safra new rave (o rótulo da hora, mas que parece que em breve vai ser substituído por outro...), o Simian Mobile Disco, usa e abusa do gênero citado, mas consegue dar uma cara contemporânea e bastante pessoal em suas produções.


Attack Decay Sustain Release ”, lançado neste ano, é um petardo dançante altamente inflamável, digno dos grandes álbuns de música eletrônica que começaram a surgir na década passada. Os antenados de plantão já baixaram singles e remixes bem antes do “álbum oficial” sair de fato. Ok, segundo a regra atual, o SMD já estaria passado, então? Nem fodendo! Se a pressa em adiantar as músicas no seu tocador de mp3 deixar, você vai se deparar com pedradas altamente destruidoras como “I got this town” (ecos de electro-funk), “It’s the beat” (minimalismo a serviço de robótica), “Tits & acid” e “Hot-dog” (electros devastadores como estes existem poucos por aí!). E o álbum ainda contém “Hustler”, um breakbeat animalesco de faz dançar até o mais apático ser humano. Aí você se pergunta: “Tá! Então eles na verdade não apresentam nada de novo, a new rave é um embuste?”. Pois é... os ingredientes são todos conhecidos, mas a receita do SMD é digna de chefs virtuosos, que sabem extrair de elementos simples e óbvios um resultado bastante saboroso e pessoal. Os timbres ácidos, os sub-graves, os samples espertos – definitivamente o Simian Mobile Disco criou um grande disco querendo ser taxado de novo, porém reciclando idéias já utilizadas. Se quiserem adotar o rótulo que deram para isso, então que seja: é um puta new rave do caralho!

Ainda dando no couro



Em outros tempos, um post como este nunca poderia deixar os Chemical Brothers em segundo plano. Mas, na real, os tiozinhos da eletrônica dos anos 90 largaram o manche da embarcação que lidera a corrida pelo novo lá atrás, na época do “ Surrender” (1999). Até então, a dupla Ed Simons e Tom Howlands era quem dava as cartas nas pistas de dança. O tempo é cruel nestes dias de banda-larga (eu que o diga!), mas seria injusto afirmar que estes figuras aí perderam o bonde. Num caso clássico de quem um dia foi o centro das atenções e que agora observa os novos para se manter em evidência, “ We are the night” é, sem dúvida, um disco que os catalisa para a atualidade e reafirma a importância destes ingleses para a história da música eletrônica.

Chemical Brothers encarnando um Trentemoller (papa do minimal electro) básico em “Do it again”? O fato é que esta faixa bota no chinelo praticamente toda a turma que aposta em tiques-nervosos para fazer dançar (irritar?), incluindo o fodão citado aí. “Das Spiegel” e “Burst generator” se encaixariam perfeitamente na geração atual da new rave, misturando baixos sujos de pegada rock underground com eletrônica pesada - como se os próprios velhinhos aqui do post não fizessem exatamente isso em clássicos como “Block rockin beats” e “Setting sun” há mais de dez anos. No final das contas, temos aqui um típico disco com a sonoridade característica da dupla, com diversos detalhes pipocando pelos canais de som e muitas melodias (vocais ou de sintetizadores analógicos e/ou digitais) que remetem à psicodelia de décadas atrás. Mesmo em músicas de forte apelo no electro como “No need” e “A Modern midnight conversation”, surgem espectros meio ripongas até! E esta não era uma das ondas dos caras desde o primeiro disco (veja a capa de “ Exit Planet Dust")? Portanto, esqueça a bombação, pois “We are the night” é um disco de eletrônica que dá para ouvir em casa, no trabalho e até mesmo na pista de dança, com produção de ponta e muito, mas muito talento e sabedoria de quem realmente sabe o que faz e onde quer chegar. Trata-se de um Chemical Brothers de boa safra, do bom e com efeitos colaterais pra lá de positivos.

terça-feira, agosto 07, 2007

The Last Sucker


Este ainda não sou eu...

No meio da correria do dia-a-dia, quatro trabalhos diferentes (de locais diferentes!) para fazer todos ao mesmo tempo, arrumando as coisas às pressas, cada pé com uma meia de cor diferente, a pressão de dar conta de tudo sem fazer merda, ventilador ligado mesmo fazendo frio, rinite alérgica batendo com força, cabelo na cara, cabelo do nariz crescendo pra fora, telefone celular que não funciona tocando e apagando tudo na hora que eu atendia, não sabia quem estava ligando, tropecei na cama, bati a canela com força, tô cheio de roxos pelo corpo por conta destes esbarrões, este parágrafo que não termina...e apertei play do Winamp no meio desta loucura toda, já com o fone no ouvido (na verdade eu estava com o fone no ouvido o tempo todo, acho que foi por causa dele que tropecei), e havia uma faixa mais calma selecionada para justamente preencher meu cérebro naquele momento com sonoridades amenas...só que o troço estava ligado no shuffle e abriu o som rasgando tudo com a versão de “Roadhouse Blues” (The Doors) que o Ministry cometeu no seu disco mais recente, “Last Sucker”. Thrash metal industrial com pegada blueseira, dois bumbos a lá Motorhead, Al Jougersen rasgando os vocais como se estivesse tirando u msarro de minha cara naquele momento. Pronto! Agora sim eu acalmei!

Eu poderia tecer comentários mais profundos sobre cada faixa deste troço de louco que é o disco novo do Ministry, mas não dá. A parada fundiu meu cérebro com força! Sei lá, me senti como no filme “Old Boy”, quando o cara sai com a machadinha na mão querendo vingança. Mas eu não quero vingança! Eu quero ouvir este som mesmo no meio do caos em que me encontro no momento – a machadinha serviria para eliminar os obstáculos nos quais vivo esbarrando ultimamente. O Ministry inisiste em participar de minha vida em momentos marcantes, tipo quando recebi pelo correio o “Filth Pig” em plena Quarta-feira de Cinzas chuvosa. Fui ouvir “The Fall” com um pé d’água caindo do lado de fora... Enfim, “Last Sucker” encerra a trilogia anti-Bush perpetrada pelo Ministry de forma primorosa. E tenho que agradecer às pessoas que me têm me repassado sons como esses nos últimos meses, pois realmente não estou tendo condições de baixar qualquer coisa há tempos. Mas tenho plenas condições de ouvir cada som (presente!) desses e ficar com uma impressão de que estes momentos atuais estão tendo sua trilha sonora acertada – ainda que involuntariamente. Valeu!

segunda-feira, julho 09, 2007

Cadáver mete medo em hype


Necro Stellar, da Rússia

Necro Stellar. Caramba... acho que poucas vezes o nome de uma banda soou tão perfeito. O som destes russos (!) é um amálgama de influências sombrias, off-road total das pistas de corrida do Grande Prêmio Hype do Mês. Um cadáver em decomposição cujos vermes comem e regurgitam sonoridades originais que a inteligentsia indie pós-moderna viraria pó – tal qual um vampiro à luz do sol – se fosse exposta a alguns segundos de audição. Dark wave, ebm, hard techno, pós-industrialNecro Stellar!!! - porra, o nome da banda é o seu próprio rótulo musical: decomposição sonora vinda do espaço, climas pra lá de tétricos produzidos eletronicamente para que guitarras saturadas, cânticos das tumbas e vocais com quilos de efeitos joguem tudo que faria o terror para um fã daquilo que a Revista Bizz elege mensalmente como o que você tem que ouvir.

[A propósito, alguém aí da geração download compra aquela revista?!? Se eles – o pessoal da Bizz – pregam tanto o “fim da indústria musical” e “a livre troca de conteúdo pela internet”, então o povo que cresceu chamando “música” de “arquivo” não vai gastar dez paus num amontoado de informações em papel cujos milhões de web site dão as notícias instantaneamente. Acho que eles devem falar para as paredes e para velhacos rabugentos como eu ficarem descendo o pau – ter 31 anos hoje é ser mais ultrapassado do que ter esta idade há dez anos atrás, ao que me dizem por aí...]

Continuando...



E o disco destes zumbis russos se chama “Saturating Cemetery ”! Um clichê gótico para um conceito novo?!? Realmente não têm mais o que inventar, por isso re-inventam. Só que volto a bater na tecla do parágrafo primeiro deste texto: não tem nada do que postam por aí na mídia indie mainstream (redundante ou contraditório este adjetivo? Eu é que não vou responder novamente...) sobre o que é bom, não criaram rótulo ainda para o som desta banda. Por via das dúvidas, chamo o estilo deles de... necro stellar! Portanto, se você ainda acha que pode descobrir algum som por seus próprios meios, levando tapas na cara e/ou ouvindo algum pensando que era outro, baixe via banda-larga o espírito destes russos simpáticos ( Cemitério Parque da Paz agradece!), ouça num quarto escuro (olha o clichê! olha o clichê!), beba um vinho barato e acenda uma vela. E veja a cera derreter até a ponta do dedão do seu pé, o vinho pegar fogo (vinho bom não queima!) e fazer com que você, apavorado, tire o Necro Stellar do mp3 player (ouvir som no CD-player é coisa de velho!) e bote pra tocar o disco de 2007 dos canadenses do Arcade Fire (“Neon Bible”), que andaram postando por aí que se trata de uma “obra-prima sombria” – e o pior que é mesmo, pois se trata de um discaço!!! Porém, com embalagem chique demais para tamanha cara-de-pau disfarçada...

Pois é... os hypados do Arcade Fire chuparam o sangue de cadáveres oitentistas que poucos (nem eles próprios, inclusive) aí atualmente teriam coragem de admitir suas influências: Echo & The Bunnymen, Bauhaus, Southern Death Cult - é mais in citar o Joy Division, pois prestar tributo para gente morta (cadáver novamente!) é mais lisonjeiro! Mas os caras do Arcade enfiaram conceitos no disco e despistaram todo mundo sobre suas verdadeiras origens. Também, pudera: entregar influências góticas dentro do hype pega mal. Vampirinhos, Evanescence, Marylin Manson, RPGs do mal... é a superfície – ou melhor, a cova-rasa da parada, é caricato, é tão cafona pra este pessoal antenado quanto dizer que curte Motorhead ou AC/DC, sons acéfalos por natureza, burros demais para serem dignos de textos aprofundados em bloggs da vida, porém dotados de emoção genuína. Bom, até agora, estão exumando ilicitamente cadáveres que estavam enterrados a sete palmos abaixo. No processo de cremação dos downloads e seus ídolos instantâneos, pega bem disfarçar tal pilhagem com punhetagem conceitual. Por essas e outras que o som do Necro Stellar vai ficar preso numa vila de zumbis – muitos é verdade. Vão direto ao ponto sem floreios: é som sombrio para gente que curte isso, é eletrônica radical para mentes devidamente formatadas. É inocente e vazio para quem procura pela salvação-conceitual de qualquer donwload que o valha. Apesar das contra-indicações, arrisque-se. Um download também pode ser surpreendente, seja para te emocionar ou para te enojar.

*Não fosse um amigo meu, Carlos Alberto, vulgo DJ Angel, parceiro meu nas festas Dark Street, eu nunca haveria de conhecer o som de russos e também japoneses, romenos, venezuelanos (aguardem os próximos capítulos!) que produzem música esquisita e sem amarras com conceitos pseudo-alternativos. A propósito, o mesmo Angel descobriu o Necro Stellar por indicação pessoal do fera Alex Twin, da conceituada banda de goth-synthpop multinacional 3ColdMen - gente que está no olho de um furacão que não sai na previsão do tempo do Jornal Nacional nem da MTV. Não conhece? Não sabe o que está perdendo...

sexta-feira, junho 29, 2007

The Young Gods – “Super Ready Fragmenté” - 2007



O grupo suiço The Young Gods tem sua marca definitiva em algum capítulo da música popular. Foram pioneiros em transformar o praticamente inaudito som industrial de malucos noise desbravadores - desde os anos 70 - como Throbbing Gristle (que tinha uma gravadora chamada “Industrial Records ” naquela época!) em algo palatável às massas, sobretudo por ter utilizado o sampler para modificar, deturpar e reinventar o som da guitarra roqueira no distante ano de 1985, quando a banda foi formada. Suas misturas de manifestos poéticos e filosóficos cantados no francês extremamente agressivo do vocalista Franz Treichler por cima de bases nervosas de bateria, riffs de guitarra inovadores e elementos folclóricos europeus romperam barreiras e deixaram interrogações em mentes incautas através dos álbuns “ The Young Gods ” (1987) e “ L’Eau Rouge ” (1989). Tiveram a ousadia de musicar poemas do músico e escritor alemão Kurt Weill e transformá-los em algo pós-moderno, fim de mundo e magistral ao mesmo tempo, no disco “Plays Kurt Weill” (1991). Quando começaram a cantar também em inglês, a partir de “ TV Sky” (1991), atingiram o mundo inteiro com uma sonoridade mais acessível, porém desafiadora em sua essência, jogando no caldeirão influências de Stooges (no som das guitarras – eles próprios declararam isso na época) e até mesmo The Doors (nos vocais), acabando por mostrar ao mundo que não havia barreiras para a criatividade e para o bom gosto.

A banda sempre prezou por belas melodias vocais, e os caras resolveram incluir nelas influências radicalmente psicodélicas e progressivas no disco seguinte, “ Only Heaven” (1995), onde guitarras e ambiências sonoras flutuavam pelos canais de som emoldurando vocais ora agressivos, ora etéreos – ouça o dub sinistro de “Donnez Les Espirits” ou a trip pesada dos mais de 18 minutos de “Moon Revolutions” olhando para as imagens da arte do CD e tente imaginar o que se passava na mente deles quando gravaram o disco... Seu último registro oficial como “banda” mesmo - “ Music for Artificial Clouds ”, 2004, foi um experimento com ambient music - até o presente momento foi no quase que totalmente eletrônico “ Second Nature” (1999), e conceitual (traça um paralelo entre o uso de substâncias alucinógenas pelas sociedades modernas – que procuram escapar da realidade, e pelas tribos “primitivas” que vivem no meio da natureza – que as utilizam para elevação da alma e do conhecimento) com as guitarras - ou o que sobrou delas - soando como sintetizadores trance e mais um punhado de memoráveis canções de outros planetas. Para onde mais os Jovens Deuses poderiam ir? Apostar fundo em alguma sonoridade “nova” ou voltar às raízes? Talvez as duas opções...



As duas primeiras faixas de “ Super Ready Fragmenté”, recente lançamento dos Young Gods, confirmam o que o próprio Franz Treichler me contou pessoalmente quando da vinda de sua banda a São Paulo em 2004: “As guitarras vão voltar”, disse ele para mim e para um grupo de fãs que o cercavam no teatro do Sesc Av. Paulista naquela ocasião. Com o disco finalmente na rua (eles tiveram problemas de gravadora neste período), dá para constatar através de “I’m The Drug” e “Freeze”, as tais músicas que abrem o disco, que as mesmas poderiam tranquilamente estar presentes em “TV Sky”, justamente o seu maior êxito comercial. Nostalgia? Apelação? Falta de criatividade? Você pode até acusá-los superficialmente dessas coisas, mas um fato é certo: são duas músicas matadoras, com as tradicionais guitarras moto-serra apitando alto, pegada forte na bateria e com os vocais de Franz ainda mais marcantes, com um timbre ligeiramente mais rouco e envelhecido. O disco segue nesta onda auto-referencial, com as tribais e barulhentas “Cest Quoi Cest Ca” e “El Magnífico”. Porém, a faixa seguinte, “Stay With Us”, mostra do que estes caras ainda são capazes quando resolvem pirar o cabeção: trata-se de uma espécie de dub industrial, com sons de citaras e violões que pairam sobre ambiências sonoras, enquanto Franz versa palavras dignas de uma viagem de ácido. O buraco (negro?) é mais profundo na faixa-título (quase nove minutos de uma trip alucinada com batida quebrada, guitarras flutuando pelos canais de áudio, e com Treichler encarnando um Jim Morrison pós-moderno) e em “Un Point Cest Tout” (bela melodia cantada em francês por cima de algo entre o dub, o ambient e o rock progressivo). Nestes momentos, os ouvidos mais convencionais poderiam taxá-los de “chatos”, mas justamente ali reside a inquietude musical que tanto os tornou cultuados. “About Time” (com um groove surpreendente!), “The Color Code”, “Secret” e “Everythere” recolocam o grupo na trilha roqueira, sangue nos olhos com neurônios – coisa rara! Os Young Gods, que por muitos anos passados, foram considerados a ponta-de-lança do que havia de mais moderno e desbravador na música, resolveram olhar para dentro de si para poderem clamar por respeito e, acima de tudo, se mostrar relevantes atualmente. Em pleno 2007, com tudo o que já se fez por aí até hoje, o “antigo” pode soar “moderno” para as novas gerações. Franz Treichler e cia. jogam tudo isso num mesmo caldeirão e ainda fazem você sair cantando belas melodias por cima de soluções musicais anti-convencionais. O universo dos Jovens Deuses é bastante complexo, mas eles sabem se fazer ouvidos.

*Quer ouvir os Young Gods em plena onda de piração total? Vá ao disco 2 da coletânea “ XXY: Twenty Years – 1985-2005”, e ouça coisas esquisitas e geniais como a desconstrução dub-house-minimal de “Astronomic”, o arranjo de cordas em “Child in the Tree”, as versões dub de “Kissing the Sun” e “Supersonic” produzidas por Mad Professor (que virou “Dub the Sun”) e pelo próprio Franz Treichler respectivamente, e os covers de “Requien Pour un Con” (Serge Gainsbourg - com sub-graves alienígenas, radicalmente eletrônica!) e “The End” (The Doors - em fiel citação gravada ao vivo).

quinta-feira, maio 24, 2007

My Life With The Trhill Kill Kult – “The Filthiest Show in Tow”


Tarantino ainda não descobriu esta banda

Existe uma banda perfeita para tocar a zona nos puteiros de Sin City. Mescla de decadência sub-urbana retrô com futurismo barato, este mesmo bando(a) poderia fazer a farra em pubs de mundos insólitos como os de Blade Runner e ainda servir de música ambiente para happy hours da casa da família de O Massacre da Serra Elétrica. Aliás, os ditos cujos deste texto surgiram do propósito de compor a trilha sonora de um filme trash/terror B que nunca fora exibido: My Life With The Thrill Kill Kult . Idealizado em meados dos anos 80 pelos cérebros alterados de Buzz MCoy e Groovie Mann, este divertido agrupamento de lunáticos de Chicago pratica um som industrial único, mesclando elementos de noir, big bands dos anos 40, guitarras surf e vocais femininos lascivos. A matriz é esta, mas não é só isso. Vale à pena ouvir “Sexplosion” (que tem na capa a mais famosa pin up de todos os tempos, Bettie Page), com seu clima jazzy e refrãos cantaroláveis por todos os lados. Ou então a pegada mais marcial do rock industrial de “Confessions of a Knife”, transformando um estilo notoriamente sisudo em algo divertido. Ou ainda os ecos de house music e hip-hop (!) de “ Reincarnation of Luna ”, que mandou às favas qualquer tipo de hermetismo acerca do estilo que a banda poderia perpetrar. A propósito, o Kill Kult mandou ver até mesmo num disco festeiro – praiano até!, algo entre The B-52`S e Revolting Cocks, no divertidíssimo “Hit, Run & Hollyday”. Arrisque-se a botar músicas como “Sex on Wheelz” e “Glamour is a Rocky Road” para tocar numa festinha qualquer e você verá as pessoas dançando algo que elas não conhecem. My Life With The Thrill Kill Kult é uma banda que promove diversão no terreno improvável de seu ponto de partida, justamente o som industrial.

Ouvir um disco delicioso como o mais recente lançamento do Kill Kult, “ The Filthiest Show in Tow ” (2007), nos dias atuais é um alento, ao mesmo tempo que fico me perguntando sobre como é que um som original como esse não caiu no gosto dos geradores de hype - e olha que a MTV brazuca até colocou a citada “Sex on Wheelz” de fundo para a chamada de um programa e nada. “The Filthiest...” restringiu os elementos de “industrial” a apenas alguns timbres de bateria ocasionais e riffs de sintetizador bem discretos e certeiros, apostando fundo no clima jazzy/noir com toques de horror decadente que caracterizou mais os sons de “Sexplosion”. Mas há uma evolução em termos de grooves (elemento improvável em bandas de industrial), tal qual ocorre em faixas irresistíveis como “Born of Fire” (linha de baixo matadora!), “High Class Taboo” (guitarra setentista sampleada e melodias vocais que parecem ter saído do Funkadelic!), “My Kinda Guy” (pianos elétricos e até mesmo um melotron dão o clima) e “Jive Ass Live” (guitarrinha em wah-wah irresistível fazendo o balanço com piano, percussão e baixo bem marcados). E quando você ouve o tecladinho de filme de terror barato de “Cadillac Square”, que abre o disco, e o som de sax e de piano de cabaré de “Cover Girl Blues”, música que fecha o álbum, tudo isso embalado por vocais masculinos sussurrados e canastrões alternados por vozes femininas provocadoras, o clima da música do Kill Kult se faz mais sólido e presente em 2007. É som para embalar um helloween divertidíssimo, dry martinis por todos os lados, zumbis decadentes dançando junto de meretrizes e traficantes mexicanos negociando jogatinas. Quentin Tarantino, que tanto gosta de um horror B e de humor negro, precisa descobrir esta banda urgentemente para compor a trilha de seus próximos filmes.

terça-feira, maio 15, 2007

NINE INCH NAILS - "YEAR ZERO"



Trent Reznor possui uma inquietude rara e, por vezes, incômoda. O cérebro teutônico do Nine Inch Nails tem a necessidade de estar sempre se reinventando a cada disco. Além disso, sua banda faz parte de uma linhagem virtuosa de artistas provindos da década de 90 (e dos pouquíssimos que ainda estão na ativa hoje) que se dão ao luxo de lançar o som que bem entendem que as suas respectivas gravadoras terão apenas que aceitar, prensar e distribuir seus discos sem pestanejar – e colher os frutos financeiros com um largo sorriso posteriormente. Gente como Radiohead, Pearl Jam, REM (este, dos anos 80) e o próprio Nine Inch Nails conquistaram uma certa independência de fazer inveja às novas gerações, pois são figuras mega que se comportam como alternativos sem perder a integridade musical. Não sei até quando esta moral deles durará, até porque o álbum “Year Zero”, lançado recentemente, parece ser o suicídio comercial de Trent Reznor. Parece...

À primeira audição, “Year Zero” soa mal acabado, sujo, de ritmo agarrado num freio de mão. Quando fui ouvir, até pensei que a cópia que meu amigo Hudson (valeu!!!) havia me dado de presente se tratava da versão demo do disco, naquelas típicas pegadinhas do mundo dos downloads, quando você, na ânsia de baixar o disco antes dele sair oficialmente, acaba pegando uma versão inacabada da obra. Mas o disco era esse mesmo! E Reznor, como bom conhecedor de estratégias de marketing, tratou logo de criar factóides que pudessem chamar a atenção para a sua obra mais anti-comercial: a temática ambientada num futuro próximo, apocalíptico, arrasado social e ambientalmente... e com uma mão que vem do céu para aterrorizar as pessoas! Bom, todo mundo já leu isso antes na internet e em praticamente todos os setores da mídia musical – até os indies caíram no hype de ouvir e elogiar o disco (mais pela temática meio nerd do álbum, que inclusive teve prenúncios estilo RPG virtual espalhados pela rede)! Ué? Indie caindo na onda de uma banda com quase vinte anos de estrada?!? O caô de Mr. Reznor colou mesmo!

Mas de caô “Year Zero” não tem nada, musicalmente falando. É, para variar, um discaço – ainda que contenha algumas idéias repetidas. Todo o hype que Trent Reznor conseguiu trazer para este lançamento trará novas gerações que poderão se interessar no universo da música industrial, pois o disco em questão vai de contra à tendência mais roqueira e direta do fantástico “With Teeth” (2005), seu álbum anterior. Após a introdução “Hyperpower”, “The Beginning of the End” até que engana bem a quem acha que o disco está bem “rock”, com suas guitarras sobrepostas e bateria bem marcada. Mas “Survivalism” vem com muito barulho, bateria eletrônica minimalista e synths tão pesados quanto as guitarras. A estranheza do disco caminha para o groove robótico de “The Good Soldier”, à sujeira industrial de “Vessel”, à arrastada “Me, I'm Not”, e ao proto-blues mecânico de “Capital G” – todas essas, diga-se de passagem, poderiam muito bem fazer parte do clássico “Downward Spiral” (1994), o que denota um sinal de repetição de idéias clara e evidente. Já “My Violent Heart” apresenta uma estranha batida electro-funk que culmina num refrão ao estilo “explode tudo” – uma solução bem original e que vai de encontro às declarações anteriores ao lançamento do disco, onde Reznor afirmava ter sido influenciado pelos primórdios do seminal e inovador grupo de rap Public Enemy, com muitas batidas e colagens eletrônicas. O mesmo ocorre nas músicas “God Given” e “The Great Destroyer”, de batidas dançantes bem originais e fragmentos de melodias pop por todos os lados. No mais, o disco segue o formato de alternar batidas esquisitas com sujeira digital, guitarras roqueiras e as excelentes melodias que Trent Reznor sabe fazer muito bem. Nos anos 90, “Year Zero” seria considerado “a bola da vez” no quesito “modernidade”. Mas, nos anos 00, o “moderno” aqui soa até mesmo retrô, com suas soluções noventistas. Reznor fez mais um grande disco, bem acima da média de tudo que há por aí. Mas a obrigação de se reinventar esbarrou aqui em repetição de idéias por mais da metade do álbum. Um defeito e uma virtude - um paradoxo: o NIN atual busca inspiração na sua própria obra para se repetir, se renovar e/ou criar novas soluções. Convenhamos: isso é para poucos.

*Este disco do NIN abre caminho para os leigos no som industrial ouvirem The Young Gods e My Life With The Thrill Kill Kult (cujos discos só fui ter a chance de ouvir de antemão através do brother Doggma - valeu mesmo!) que também estão de discos recém saídos do forno! Em breve – e para quem tiver saco – resenhas aqui!

terça-feira, abril 03, 2007

O Indie é Pop...


...e o Pop não poupa ninguém! Os Klaxons já vão tarde?!

Fenômeno louco esse dos anos 2000, cujas novidades aparecem e somem na mesma rapidez em que sua conexão de banda larga demora para carregar uma página da internet. Faça um paralelo entre o que se chamava de “indie” em meados dos anos 90 e o mesmo nos dias atuais. O cara que habitava este universo, até dez anos atrás, invariavelmente era uma figura meio nerd, usava roupas parecidas com as de um professor de física nuclear, e consumia cultura pop de acordo com o que deveria ser a “nova onda do momento” até alguém chegar lá e escrever uma matéria num grande jornal e/ou revista tupiniquim. Aí perdia a graça, pois a panelinha de amigos antenados que sabiam ler a Melody Maker e o NME sem precisar da ajuda de um tradutor simplesmente largava de mão sua banda-preferida-das-últimas-semanas pelo simples fato de que os reles mortais poderiam ouvir tal som e, pasme, comprar o disco na loja da esquina!

Hoje os tempos são outros. Basta um clique que você baixa o som que quiser. A informação se democratizou. E esta democracia está se rendendo aos efeitos mais rasos da Indústria Cultural. O jovem que cresceu com internet rápida boceja o indiferente sabor da banalidade tal qual o mesmo indivíduo que cresceu tendo TV a cores em casa como a coisa mais normal do mundo. Entre perfis no Orkut, vídeos no You Tube e downloads que vão lotando o HD de seu mp3 player, os mesmos jovens engolem a informação massificada sem perceber. Expõem suas entranhas pessoais (ou mentiras pessoais) nos seus perfis de “sites de relacionamentos” (termo já démodé este...) como se fosse absolutamente corriqueiro das pessoas saberem se você está namorando ou não, se você saiu ontem e com quem, se você tem a obrigação de ter centenas de “amigos virtuais” e de participar de comunidades infinitas – estranho é quem não adere à massa expondo sua carinha em perfis sempre positivos e com defeitos convenientemente aparados. O excesso de informação está diluindo a utilidade real da própria informação. Você está ao passo de um clique no mouse para conhecer universos distintos, o seu interesse por determinados assuntos pode se desdobrar numa teia (web!!) infinita de possibilidades para ampliar seus conhecimentos e ainda pode desenvolver uma espécie de “filtro” para discernir o que presta e o que é lixo. Mas você cresceu com um PC potente e uma conexão veloz. Vai escrever “você é legal” como uma criança sendo alfabetizada (vc eh legau). Vai consumir e esquecer com a mesma rapidez. Vai sacar que ser “indie” hoje é ter o poder da banda larga nas mãos, de está em sintonia com o Mundo Pop – ainda que este utilize-se de trejeitos e maneirismos que eram exclusivos dos índios, ops!, “indies” de outrora.

Veja bem: o Santo Graal do Pop atual se encontra nos anos 80. A década dos mullets, das blusas com ombreiras, do gel New Wave, das calças baggy e cintura centro-peito - tudo o que fora mais ridículo e exagerado em todos os tempos, com certeza! Mas também era o tempo de fusões musicais inimagináveis em décadas anteriores. Uma banda de pegada legitimamente rock, por exemplo, poderia usar bateria eletrônica (aquelas hexagonais!) e teclados portáteis (estilo Roupa Nova!) sem o menor pudor. Era o pop bem feito da época, produzido para dançar e cantar junto melodias que, admita, os anos 80 souberam produzir de uma maneira bem própria. Logicamente, existiam bobagens inomináveis, daquelas que infestam hoje as festas estilo “Thrash 80’s” – piadas de extremo mau gosto sendo contadas repetidas vezes. Separando tudo isso, a entrada dos anos 2000 ofereceu o óbvio reciclo de vinte anos atrás, filtrando os excessos e buscando o refrão e a batida dançante que foram perdidos no grunge e no nu metal, fenômenos pop anteriores que já apodrecem no esquecimento. Os pioneiros de hoje, que deram largada a esta reciclagem, agora estão vendo bandas copiando o que já era copiado, assim como o público que adota os plagiadores do plágio, deixando pra lá o aprofundamento da informação, que está ali, ao sabor de um link! O que necessitava de uma pesquisa musical mais acurada, deu as bases para aqueles que pegam o produto já embalado e produzido em série. E os mesmos re-embalam o tal produto com recheio semelhante e só mudam o embrulho, lançando-o novamente na praça com o selo de “novidade”. Olha aí o exemplo atualíssimo da tal da “new rave” que não me deixa mentir, e que, após nem bem aparecer ao mundo, já é dada como morta por seus “fundadores”.

Mas, e os “indies” do começo do texto, onde se encontram atualmente? Nas paradas de sucesso! O que antes era sinônimo de informação suada, codificada e pouco compartilhada, agora é o mainstream, é o que dita comportamentos, o que você vai vestir e ouvir. A geração que cresceu com downloads nas mãos é quem tem o poder também! Se você veio antes dessa gente, que viu na internet a tábua da salvação dos seus sofridos reais minguando nas cotações em dólar para conseguir um som antes de todo mundo, que adorava ter o prazer de poder tirar onda que descobriu uma banda antes de sair na coluna do Lúcio Ribeiro, agora se vê atropelado pelo batalhão dos “indies atuais” e suas conexões de banda ainda mais larga, com disposição jovial de fuçar a internet atrás de novidades que nem elas - as “novidades”- ainda sabem que surgiram ao mundo. A prática de descobrir um novo som antes de todos banalizou-se. Na verdade, o espertinho que acha que está antenado com as últimas tendências, está mesmo é reciclando uma informação que fora jogada na rede puramente por ser “nova”. Alguém aí, de fato, presta a atenção com aprofundamento mínimo nos milhares de sons que entopem seu IPod? “Eu presto sim!”, dirá a maioria. Serão os mesmos que afirmam que os 1.328 amigos virtuais no seu Orkut são “meus amigos mesmo, de verdade!”. Você não está sendo alternativo ou “indie” a nada: você segue a massa! O “indie” de hoje é produto do “Pop do Bem” (há muita coisa boa, não tenha dúvidas) dos dias atuais, que divide ombradas e desmanches em suas franjas cuidadosamente despenteadas com rappers falcatrua, boy/girl bands armados por gravadoras e divas de araque – “O Pop do Mal”, propriamente dito. O “indie” de 2007 seria equivalente ao metaleiro poser e de cabelo de poodle dos anos 80, ou ainda um tipinho afetado tal qual gente como Boy George (Culture Club) ou os moços(as) do Duran Duran. Gente que, por sinal, hoje é bem lembrada por seus méritos como compositores pop - depois, [e claro, de rolar uma bela peneirada. Veja bem, meu caro “indie 2007”: não há demérito algum em ser “pop”. Afinal de contas, fazer as massas cantarem junto uma canção é tarefa para poucos, ainda mais se o som vem com alguma consistência, mesmo que despida de ousadia. Vai ser cantado, consumido, esquecido e lembrado vinte anos depois. Só não diga que você é “alternativo” a alguma coisa.

Exemplos práticos

Veja aí um exemplo de atualidade se sobrepondo ao que já foi considerado atual nos mesmos anos 2000, e que estão lançando discos hoje: Klaxons (disco de estréia) e Kings of Leon (terceiro disco). O som das duas bandas não tem nada a ver, com certeza. Mas há aí um paradoxo irresistível pedindo comparações. O primeiro fez fama com declarações arrogantes, a cunha de um novo rótulo (new rave), e conseguiu um contrato sem ao menos ter músicas suficientes para encher um EP (isso eles disseram em entrevistas). A tal da “urgência pop” clamou por um álbum em nome de cifras para as gravadoras, mas o público conquistado com uma ou duas músicas já os dava como “ultrapassados” quando soube do lançamento de seu primeiro disco “inteiro”. Uma audição cuidadosa do álbum (eu fiz isso!) revela um grupo promissor, divertido, mas carecendo ainda de uma personalidade musical mais forte do que suas declarações mal-criadas na imprensa. E o pior: os próprios deram fim oficial ao hype criado por eles mesmos! Justo eles, que apareceram ao mundo se auto-proclamando como a “novidade mais atual do momento”?! Já o Kings of Leon encontra-se no momento sem o auxílio luxuoso do hype que os cercou poucos anos atrás. Também, pudera: seu som, uma espécie de southern rock anos 2000, chegou como “novidade” para as gerações atuais, mas revelou mais pegada, mais consistência, e menos saco para dançar conforme a velocidade diária das informações recentes. Na boa, mas o som do Kings of Leon já nasceu velho, talvez eles mesmos nem tenham percebido isso. Caíram nas graças dos geradores de hype e depois foram relativamente esquecidos pela massa. Foram incensados pelo mesmo tipo de gente que achou que o som, por exemplo, do Wolfmother era novo e se esquece (repito: basta um clique no mouse!) de que há todo um cenário stoner rock (estilo onde a banda citada se encaixa melhor) vivo há mais de 15 anos e que se baseia em gente ainda mais antiga como Black Sabbath, Blue Cheer e Led Zeppelin. Isso é ruim? Creio que não. Se os Kings of Leon estão no terceiro disco (que é muito bom!), é sinal de que alguém aí sustenta uma carreira que parece ultrapassar a superficialidade. É só ver o caso dos White Stripes (e dos Raconteurs por tabela) para constatar que é, sim, possível criar consistência sonora em plena era do download, sobreviver ao hype de outrora, conquistar e manter novas e antigas gerações. A informação, hoje, exige quase sempre um mínimo esforço para achá-la. Mas nada nesta vida perdura sem um esforço considerável.

segunda-feira, março 05, 2007

(Des)Construindo Mitos em 2007


Tens coragem de nos adicionar no teu orkut?

Alguns artistas musicais utilizam-se de contradições e idiossincrasias como muletas de sustentação de um pleno exercício de egolatria, naquela necessidade de aparecer pela (suposta) quebra de paradigmas. Habitam universos propositalmente pouco ou nada acessíveis para chamar a atenção em cima de, justamente, o que pode denotar uma maquiagem para a provável falta de talento de compor músicas/sons/ruídos com substância suficiente para perdurar, e não somente dissipar-se quando as luzes se apagam. Tendo como base o texto que se segue, você pode imaginar este tipo de coisa acerca da trajetória do grupo canadense Skinny Puppy e seus mais de 25 anos de história. É um direito seu, e de qualquer um, de avaliar a arte como bem entender. Mas não há eufemismos na singular carreira desta banda. O que você concluir sobre sua música é aquilo mesmo, ainda que esta conclusão deságüe na incompreensão ou mesmo total aversão ao conjunto da obra. E as avaliações que se sucederão neste texto são de minha livre compreensão deste universo tão particular – a história “oficial” você encontra sites especializados nisso.

O Skinny Puppy nasceu com o pendor para o não-óbvio. De seus primeiros registros domésticos em K-7, lá pelos longínquos anos de 1983/84 (devidamente registrados na série de coletâneas “Back & Forth”), até seus primeiros lançamentos oficiais (o EP “Remission” e o álbum “Bites”, 1984/85), o que se via ali era um grupo preocupado em assimilar o que havia de mais difícil e inovador para suas aspirações no mundo da música eletrônica: o som industrial, com os experimentos dos também canadenses do Cabaret Voltaire à frente como influência principal, além dos vanguardistas (ou seriam electro terroristas?) do Chrome e do Throbbing Gristle. Muito ruído e experimentalismo, mas também o início de uma sucessão de hits (“Smothered Hope”, “The Choke”, “Assimilate”) à sua maneira, que pareciam subverter o tecnopop da época em algo doentio, basicamente pelo conjunto coeso das manipulações eletrônicas do multi-instrumentista Cevin Key com a absurdamente particular interpretação vocal/lírica de Nivek Ogre – a dupla fundadora do SP. Já em “Mind: The Perpetual Intercourse” (1986), o som do SP revelou-se como um todo: os hits - techopops agressivos – estão lá: “One Time, One Place” (quase um synthpop perfeito), “Dig It” (totalmente kraftwerkiana), “Stairs and Flowers” (ecos do electro da época), e a singular “God’s Gift (Maggot). Partindo desta última, você tem um claro sinal de como funciona o mundo desta banda: “Antagonism”, “There Blind Mice” e “Love” são doentias, sombrias, apocalípticas, com Ogre se contorcendo aos vocais, assustando o ouvinte-comum, e mostrando quais são as verdadeiras intenções delas. A evolução segue em “Cleanse, Fold & Manipulate” (1987), com o estreitamento tanto com o crescente som industrial quanto com a EBM criada pelo Front 242, sempre contorcendo tudo no limite onde sua música poderia se tornar mais palatável – este álbum marca a entrada definitiva de Dwayne Goethel no line up. “Vivisect VI” (1988) é um dos grandes discos da era industrial que foram lançados naquele mesmo ano (ao lado de “The Land of Rape and Honey”, do Ministry, e de “Front by Front”, do Front 242), com bases eletrônicas sofisticadas e pesadas, climas extremamente mecanizados mesmo em sua faixa mais sombria (“Harsh Stone White”) e, um paradoxo: a música mais pop de sua carreira: “Testure” – um synthpop perfeito que conquistou toda uma geração de amantes dos anos 80 (góticos inclusos). Ainda mais afundados no som industrial, criaram o irregular “Rabies” (1989), de forte conotação política (inspirados pela prisão de Nivek Ogre por acusação de “maltratar animais no palco”, sendo que ele fazia uma simulação nos shows para justamente denunciar este tipo de prática), e muita influência do Ministry, cujo brother Al Jourgensen produzira, cantara e tocara guitarra em algumas faixas. Parecia que o Skinny Puppy chegaria aos anos 90 na linha de frente do crossover industrial+guitarras que arrombou as portas nos anos seguintes. Porém, o negócio deles era mesmo olhar ainda mais para seus próprios umbigos.


Bichos esquisitos povoam a mente destes seres perturbados...

Too Dark Park” (1990) é considerado o melhor álbum do Skinny Puppy, segundo diversos fóruns de fãs e avaliações de sites especializados. Cada faixa do disco revela uma história particular do universo da banda. Há experimentos dançantes, viagens soturnas, desconstruções rítmicas caóticas, agressividade beirando o limite, climas ambientes de filme de terror – tudo isso envolto numa produção sonora sofisticada e que deixava os anos 80 comendo poeira. “Last Rights” (1992) seguiu dando passos muito além dentro do novo caminho aberto nos anos 90, com sua música se transformando em algo tão sombrio que chegava a dar medo, vide as brumas fantasmagóricas que pairam em “Killing Game”, “Love in Vein”, “Knowhere?” e “Mirror Saw” (ouvir esta faixa, chapado, com um fone de ouvido, é lisérgico e amedrontador!). O clima soturno deste disco denunciava que algo não ia bem entre eles. Dito e feito: “The Process” (1995) foi marcado por tragédias (brigas internas, incêndios no estúdio, perda total do material gravado, etc.), que culminaram com a morte, por overdose de heroína, de Dwayne Goethel. A sonoridade do álbum, calcada em experimentos radicais com guitarras pesadas e batidas dançantes modernas, registrou o fim de uma era, pois os caras resolveram acabar com a banda a partir de então. Eis que a grande volta do Skinny Puppy se concretizou em 2004 com um álbum fantástico, “Greater Wrong of The Right”, que possuía estruturas melódicas mais acessíveis (pouca distorção na voz, refrãos cantáveis) e batidas bem dançantes. Só que, mais uma vez, a banda não estava a fim de facilitar as coisas...


Além do mito

“Mythmaker” (2007) vai contorcer os cérebros que começaram a aceitar o Skinny Puppy justamente a partir do disco anterior. O começo, com “Magnifishit”, até engana bem: melodia marcante, climas épicos, refrão que gruda na cabeça – é incrível como Ogre usa a distorção na voz a favor de algo absolutamente original! “Dal” segue com batidas quebradas e clima apocalíptico, mas a melodia ainda persiste forte. “Haze” é uma balada melancólica, com blips modernos por todos os lados. “Pedafly” é pesada, quase heavy metal, mas nem um pouco acessível. “JaHer” também possui andamento moderado, com um belíssimo arranjo de violões em contraponto com climas fantasmagóricos e a interpretação sombria de Ogre – daí o fã do SP de “Greater Wrong...” já começa a sentir falta dos beats dançantes e refrãos normais daquele disco. “PolitiKil” vem para levar – finalmente – este álbum para pistas de dança: batida quebrada e balançante, synths marcando o ritmo e Ogre cantando quase em rap (ao estilo do hit do disco anterior: “Pro-Test”) com a distorção na voz criando um efeito sonoro que é marca registrada sua. Mas as três faixas seguintes, “LestiduZ”, “Pasturn” e “Ambiantz”, são experimentais demais, com batidas e programações difíceis, desafiando a paciência até mesmo dos ouvidos mais treinados – estão mais para os experimentos solo de Cevin Key e de seu projeto Download. “UgLi” finaliza o disco de forma mais palatável, mas não deixa dúvidas sobre a moral da história: por detrás da eletrônica de vanguarda (realmente as programações deste disco são fenomenais) e do caráter conceitual de “Mythmaker” (controle sobre humanos, se não me engano), a onda dos caras nunca vai mudar. Ouvir Skinny Puppy é como cutucar num machucado, arrancar aquela casquinha à força, deixar o sangue escorrer, e não passar nenhum anti-séptico depois. É ser instigado a dar passos além do que soa incompreensível em estruturas convencionais da canção. É se envolver com as letras doentias e o vocal único de Nivek Ogre, que se casam perfeitamente com o som igualmente pitoresco de Cevin Key. A eletrônica apoteótica deste grupo vai além do próprio universo restritivo que o rótulo sugere. Algumas listas de “melhores/piores de todos os tempos” já colocaram a banda entre os “piores” – a prova de que sua música desperta sentimentos arredios. É o preço que se paga por seguir apenas suas próprias regras. Mas, após 25 anos de carreira, e com o enorme culto que cerca o grupo mundialmente (e diversas bandas famosas citando-os como influência, vide os músicos do Tool e do Static-X que tocaram no álbum de 2004), a proporção de doentes da cabeça neste mundo é grande! Eu me incluo neste grupo, sem medo, desde 1992. Só não sou tão esquisito quanto as figuras que povoam o My Space dos caras, pois tem gente ali que assusta!

*Set list especial com algumas das faixas mais instigantes do Skinny Puppy (de 1985 a 1996 – a primeira fase da banda), direto de discos originais: baixe aqui, por sua conta e risco!
*Só não incluí faixas do álbum “Last Rights”, pois na minha opinião se trata da obra mais fechada desta banda: só ouça se tiver passado pelo “teste” do set list acima.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Set List - Metal Industrial



Compartilhai-vos vosso pão! A partir de agora vou postar set lists especialmente preparados sobre determinados segmentos musicais e que estarão disponíveis para download no link ao final do post. Cada faixa terá uma breve descrição, e neste primeiro set list, selecionei faixas do gênero metal industrial, com faixas exclusivamente gravadas a partir dos CDs originais da foto ali acima (com exceção de duas). São 15 bandas diferentes, a grande maioria dos anos 90 (quando o gênero “explodiu”) e priorizei coisas mais underground, pois muitos nomes aqui nem existem mais e foi difícil até achar na internet algo sobre eles. Começa com pancadaria grossa, no meio entram misturas inusitadas dentro do mix guitarras + eletrônica pesada, o BPM desce a níveis sombrios, e depois termina tudo como começou: porrada na orelha. Faça o download e divirta-se!


Faixa 1
Banda: Misery Loves Co.
Música: “My Mind Still Speaks” – 04:16
Álbum: Misery Loves Co. – 1995
Comentário: Dupla de psicopatas suecos que promoveu um fantástico metal industrial de muita personalidade. Esta música dosa agressividade pura com refrão melódico. O álbum todo é esmagador!

Faixa 2
Banda: Skrew
Música: “Black Eye” – 05:10
Álbum: Dusted – 1996
Comentário: Pela batida quebrada e hipnótica, quase dá para dançar. Mas não se engane: é o peso da desgraça industrial socando a sua cabeça. Numa das guitarras, Bobby Gustafson, do Overkill. Toneladas nos altos falantes. Gravaram quatro discos e foram um dos ícones do metal industrial da década passada.

Faixa 3
Banda: Drown
Música: “Beautiful”- 04:33
Álbum: Hold on to the Hollow – 1994
Comentário: É a química perfeita entre programações eletrônicas muito bem elaboradas (synths marcantes, ritmo percussivo que se altera várias vezes ao longo da música) com a agressividade do metal – um completa o outro. O vocal de Lauren Boquette, a despeito do sobrenome infeliz (para nossa língua, óbvio), é animal, vai do sussurrado ao extremo agressivo com a maior naturalidade. A produção de David Oglivie, do Skinny Puppy, fez a diferença.

Faixa 4
Banda: KMFDM
Música: “WWIII” – 04:58
Álbum: WWIII - 2003
Comentário: São mestres do metal industrial à sua maneira, tendo criado, ainda nos anos 80, um estilo único, que une guitarradas thrash metal (com direito a solos e tudo mais), beats de techno e refrões com vocais femininos bem pop, além de muito senso de humor e estética HQ. Esta faixa, de seu penúltimo álbum, começa como um country brejeiro e se transforma numa pancadaria grossa!

Faixa 5
Banda: Skatenigs
Música: “Passion for Destruction” – 04:42
Álbum: What a Mangled Web We Leave – 1994
Comentário: Apadrinhados por Al Jourgensen (Ministry), este grupo texano fez algum barulho na primeira metade dos anos 90 com uma original mistura de metal, rap e industrialismos – algo como um encontro de Suicidal Tendencies e Red Hot Chilli Peppers com robôs num deserto qualquer. O vocalista Phil Owen participa do último álbum dos Revolting Cocks, e seu timbre soa como um Phil Anselmo (ex-Pantera) cantando rapeado e com distorção na voz.

Faixa 6
Banda: Godflesh
Música: “Slavestate” – 03:58
Álbum: Slavestate – 1991
Comentário: Banda de Justin Broaderick, que saiu do Napalm Death (primeira formação) para criar uma personalíssima forma de metal industrial. O ritmo mecânico entra com tudo, seguido de percussões eletrônicas pesadas, baixo distorcido, vocal urrado e uma guitarra que é noise puro.

Faixa 7
Banda: Swamp Terrorists
Música: “Right Here” – 03:44
Álbum: Combat Shock - 1994
Comentário: Esta dupla suíça (tal qual seus ídolos/referência-mor Young Gods) já baixou no Brasil, mais precisamente no BH Independent Rock Fest, em 1994. Jogam no caldeirão riffs thrash metal, batidas electro-rap (ou techno/breakbeats, nas demais faixas) e vocal nervoso e distorcido. Dá até para dançar!

Faixa 8
Banda: Argyle Park
Música: “Agony” – 05:14
Álbum: Argyle Park – 1995
Comentário: Banda cristã (?) que pregou neste disco um mix interessante de metal, grunge, batidas dançantes e industrial. Os bons vocais fogem um pouco do lugar-comum do gênero, com timbre mais agudo e sem tanta distorção.

Faixa 9
Banda: Grotus
Música: “The Bottom Line” – 03:32
Álbum: Mass – 1995
Comentário: Estranhíssima banda que surgiu ao mundo pelo cast da lendária gravadora Alternative Tentacles (de Jello Biafra, ex-Dead Kennedys), e que praticava no seu segundo álbum (“Slow Motion Apocalypse”) um original mix de rock pesado, industrial e música indiana com letras de cunho dadaísta. Soaram um pouco mais “normais” no disco seguinte, que é representado por esta faixa: peso balançado à White Zombie, vocal gravíssimo, baixo distorcido, programações eletrônicas e muita percussão ao fundo. Muito bom!

Faixa 10
Banda: Holy Gang
Música: “Free Tyson Free” – 03:55
Álbum: Free Tyson Free EP – 1995
Comentário: Projeto paralelo de Richard 23, um dos dois vocalistas do Front 242. Sua voz mais rasgada encaixou-se perfeitamente nesta mistura de Biohazard com Ministry, e cujo propósito do lançamento era de conclamar a liberdade do então recém-encarcerado pugilista Mike Tyson (?). Rendeu apenas este ótimo EP, que continha a absolutamente empolgante faixa-título.

Faixa 11
Banda: Haiddé
Música: “Bacteria” – 05:40
Álbum: desconhecido
Comentário: Não sei nada sobre esta banda, nem sei ao certo se o nome está grafado corretamente. Só sei que são japoneses (!). Foi meu amigo Angel que me passou, e tive de divulgar isso, pois trata-se de um thrash metal industrial arrasador, com a adrenalina correndo solta e refrão que não sai da cabeça. O vocal alucinado lembra um pouco o de Gilbby Haynes, do Butthole Surfers, e o conjunto sonoro no geral faz com que você queira um álbum inteiro desta banda.

Faixa 12
Banda: Contingence
Música: “Fellacious Doctrine” – 07:14
Álbum: Dominium – 1995
Comentário: Vocais claustrofóbicos, percussão eletrônica ao fundo, bateria seca e “na cara”, clima soturno, guitarra pesada e eletronicamente tratada: o conjunto da obra destaca um mix até então de personalidade própria, que esta obscura banda pratica com autoridade. A temática é algo entre black metal, horror e ficção-científica. Preste a atenção na mudança de ritmo que transforma a música a partir da metade de sua duração.

Faixa 13
Banda: 16 Volt
Música: “Don’t Pray” – 04:36
Álbum: SuperCoolNothing – 1998
Comentário: Uma das melhores bandas de rock industrial que existem. No seu quarto disco, injetaram um peso poucas vezes visto, mesclando uma eletrônica muito bem produzida com guitarra/baixo de afinação gravíssima. Esta música é como um nevoeiro gelado invadindo uma cidade-fantasma. Descendente direta de “Scarecrow”, do Ministry: arrastada, densa e absurdamente sombria.

Faixa 14
Banda: Treponem Pal
Música: “Pusshing You Too Far” – 07:25
Álbum: Excess & Overdrive – 1993
Comentário: Banda francesa altamente influenciada pelos Young Gods – soam como uma versão mais metal desta. Esta faixa possui batida cadenciada e hipótica, baixo/teclado bem marcados, e nada menos que três guitarras fazendo coisas diferentes cada uma.

Faixa 15
Banda: Circle of Dust
Música: “Deviate” – 05:06
Álbum: Brainchild – 1994
Comentário: E tudo termina com pancadaria rápida em ritmo thrash metal! Atente para os últimos dois minutos da faixa: entra uma batida hip-hop/breakbeat, intercalada com riffs de guitarra animais. Esta banda sumiu tão de repente quanto apareceu.

Tempo total: 74:41

Faça o download destas músicas aqui!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Queimando CD

O critério é simples: “queimar” um CD significa elevar o status de um determinado artista dentro de minhas audições. Uma coisa é você ter todas as músicas do mundo no computador e/ou num mp3 player e sair trocando de faixa descontroladamente sem muito critério. Outra coisa é você gastar uma parte do seu tempo (cada vez menor) e do seu suado dinheirinho (menos de R$ 1,00!) numa mídia “real” para poder produzir uma coletânea ou dar vida a um álbum inteiro para ser ouvido em cd-players normais. Esta lista privilegia aqueles sons que “passaram no vestibular do mp3” e venceram por suas próprias qualidades.

Discos Inteiros

Doll Factory



Eu estava procurando por uma banda boa de rock industrial, daquelas que você ouve um álbum inteiro sem ter de agüentar batidas e fórmulas repetidas ao longo do disco. Infelizmente o termo “personalidade” anda em falta em diversos segmentos musicais e no universo industrial não é diferente. Foram vários tiros no escuro até achar algo que realmente valesse à pena uma audição mais cuidadosa. O duo norte-americano Doll Factory é uma essas raras e agradáveis surpresas. Numa rápida pesquisa, descobri que a banda possui como referências os segmentos mais mainstream do industrial, notadamente Nine Inch Nails e Marylin Manson – inclusive gravaram um cover de “Lunchbox” para um tributo a este último. Mas o som da banda não é mero xerox. Já pelo começo do disco “Weightless” (2002), com os teclados melancólicos e a bateria seca e ao mesmo tempo com “vida” de “We Are The Hollow Men”, já dá para perceber uma identidade forte, uma presença sonora mais marcante. “Tin Girl- Tin Love”, faixa a seguir, é dançante, lotada de synths hipnóticos e com um refrão grudento – é hit certo nas pistas! Em “Bite The Coil” a cara da banda já se mostra mais coesa: ao contrário da tendência atual mais simples e fácil de se programar batidas parecidas ao longo do disco e de transparecer a impressão de que se trata de um mero live PA com vocais, o Doll Factory age como “banda” mesmo, pois ao lado da eletrônica pesada e massiva, há bateria “de verdade”, baixo marcante e guitarras ocasionais mas certeiras. Aliás, as mesmas guitarras, na maioria dos casos, dão lugar a riffs eletrônicos de sintetizador que conferem peso e personalidade por todo o álbum. Partindo daí, há faixas dançantes e com melodias perto do pop (“Rezonator”, “Shapeshifter”, “Stand & Fight”), peso industrial sem apelar para distorções exageradas (“Blank Dirge” e “Permanent” – esta com uma guitarra de timbre totalmente stoner), e proto-baladas por vezes sombrias (“Blessed” e “Glory”) ou irônicas mesmo (“Weightless”, “Touch”). O Doll Factory merece um disquinho só seu na sua coleção!

Sister Machine Gun



Imagine uma pouco provável mistura de Die Warzau, Nine Inch Nails e Morphine - é o clima electro-cool-sofisticado (ver resenha já publicada aqui) do primeiro, a pegada pop/rock industrial do segundo, e a vibe jazzy-noir do terceiro. A banda norte-americana Sister Machine Gun chegou a esta brilhante combinação no seu quarto álbum, “Metropolis”, lançado em 1997. Eu já possuía seu segundo álbum há dez anos, (“Torture Technique”), que mostrava um rock industrial com personalidade, mas ainda um tanto quanto imaturo, e quando vieram os downloads, tratei logo de baixar o resto de sua discografia. Em “Metropolis”, logo de cara salta aos ouvidos uma produção perfeita, exibindo o caráter conceitual da banda, que privilegia vocais cool, guitarras tratadas eletronicamente, batidas quebradas e sub-graves monstruosos. O vocal de Chris Randall se encaixa perfeitamente na massa sonora, e destacam-se faixas absolutamente empolgantes e originais (“Desperation”, “Think”, “Torque”, “Everything”, “What do You Want From Me” e “Cut Down”), climas sofisticados e mais relaxados, algo como um jazz eletrônico com trip-hop de pegada pop/rock (“Temptation”, “Living With You”, “Admit” e “Bitter End”), e até mesmo uma faixa muito maluca que joga no liquidificador rock industrial e southern rock (“White Lightning”), com direito até a guitarra slide! Os demais e posteriores discos da banda seguem na mesma linha sonora, alguns mais calmos, outros mais pesados, mas “Metropolis” é “O Disco” a ser consumido desta banda.

Translovenia Express Vol 2

O grupo esloveno Laibach, veteraníssimo na cena industrial, lançou em 2006 um dos melhores álbuns deste ano que passou. “Volk” elevou sua música a um patamar patamar poucas vezes visto, e não preciso tecer maiores comentários ao seu respeito, pois meu colega Doggma já o fez de forma certeira em seu espaço virtual. Mas foi procurando no Soulseek por este disco que acabei descobrindo totalmente por acaso que o grupo havia organizado, em 2005, um segundo volume de “Translovenia Express”, um interessantíssimo apanhado de bandas da região da Eslovênia que gravaram covers do Kraftwerk. Trata-se de um raro tributo que, ao mesmo tempo, reverencia e dá passos além em torno do grupo homenageado. Como no primeiro volume (lançado em 1994), o Laibach (organizador desta iniciativa) abre a coletânea e apresenta um tema inédito de sua própria autoria, e não um cover. A homenagem aqui se dá ao fato de que a faixa é totalmente Kraftwerk, mas na visão original do quarteto esloveno. No mais, seguem-se versões surpreendentes, como o rock pesado a lá Rammstein que o Siddharta transformou “The Robots”, o drum’n’bass com melodias trance (acredite!) da versão do O.S.T. para “Metropolis”, o clima trip-hop que o Silence (com participação da vocalista Anne Clark) impôs a “Hall of Mirrors”, e aos já esperados – e até mesmo óbvios – caminhos pela house music (mais precisamente nas sub-vertentes minimal e progressive) que Octex, Alenia e Inturk trilharam nas suas respectivas versões para “Computer Love”, “Home Computer” e “Sex Object”. Agora você pode estar se perguntando: tirando o Laibach, alguém aí conhece estas bandas da coletânea?!? Eu não conhecia alguma sequer! Inicia-se aqui mais uma fonte de pesquisa, dentro desta maravilhosa teia de informações que a internet nos propicia.



Coletâneas

Certas bandas você tem que filtrar um pouco, o que gera espaços vazios no CD e que acabam sendo preenchidos por outros artistas. Fiz duas coletâneas englobando vários deles.

Seabound



O duo germânico Seabound é uma boa banda que se destaca do prolífico cenário do future pop, aquele gênero musical que compactua beats e synths do trance com melodias góticas. No caso da referida banda, o destaque vai para o alto nível de produção, os excelentes vocais (tudo bem que um tanto quanto calcados demais no Covenant) e a variação de climas e batidas, pois em muitos momentos há influências nítidas de synthpop e rock industrial, o que proporciona uma audição mais proveitosa do que dezenas de minutos lotados de batidas dançantes, quase discos p/ DJ tocar em pista e pouco clima para ouvir no som do seu quarto – um clichê recorrente no future pop. Fiz uma seleção dos álbuns “Beyond Flatline” (2004), “White Nights” (2003) e do EP “Poisonous Friend” (2006) e me dei por satisfeito.

Godflesh



Num outro CD resolvi juntar faixas de Godflesh e Orgy. Do primeiro, eu já o conhecia de longa data, pois tenho em casa há muitos anos o fenomenal disco “Slavestate” (1991). Trata-se de uma brilhante fusão metal/industrial totalmente personalizada (membros do Ministry, banda ícone deste gênero musical, são fãs), com guitarras saturadas, ritmos mecânicos em exaustão e muita distorção. Para quem não sabe, é a banda de Justin Broaderick, membro-fundador do inovador grupo de grindcore Napalm Death. Juntei algumas faixas de “Songs for Love & Hate”, todas pesadonas, baixão distorcido, riffs-bigorna, peso que não acaba mais e até mesmo uma influência latente de Sepultura, e confesso: ouvir este álbum de cabo a rabo tem de ter disposição para entrar na viagem noise arrastadona dos caras.

Orgy



No mesmo CD, pesquei algumas faixas do grupo norte-americano Orgy e seu álbum mais recente, “Punk Statik Paranoia” (2004). Esta banda surgiu como uma boa promessa há dez anos atrás, quando participou da primeira edição da famosa turnê “Family Values Tour”, onde o headliner Korn, em plena ascensão, liderava um mini-festival itinerante com bandas de diversos estilos musicais diferentes e ao gosto de seus integrantes. O Orgy ficou famoso pelo fantástico cover de “Blue Monday”, do New Order, e destacou-se naquela tour por apresentar um visual calcado nos anos 80 e por investir numa espécie de rock industrial sem samplers ou sintetizadores: todos os sons eram produzidos por guitarra, baixo e bateria/percussão lotados de efeitos eletrônicos que davam a sensação de estarmos ouvindo um som totalmente digital. O grande pecado desta banda foi o fato de terem nascido nos EUA, pois a tímida veia oitentista registrada em sua estréia poderia ter se convertido num mix electro-rock, caso fossem europeus, e hoje gozariam de alguma longevidade, dado o hype em torno da década retrasada que adentrou nos anos 2000. Mas, como residentes do território norte-americano, enveredaram pelos óbvios caminhos do nu metal e dali não saíram mais. Sobraram algumas boas faixas, muito mais pesadas do que as da sua citada estréia (“Candyass” - 1998), pescadas de “Punk...”. Pelo visto, estão em final de carreira.

A lista continua...