quinta-feira, maio 24, 2007

My Life With The Trhill Kill Kult – “The Filthiest Show in Tow”


Tarantino ainda não descobriu esta banda

Existe uma banda perfeita para tocar a zona nos puteiros de Sin City. Mescla de decadência sub-urbana retrô com futurismo barato, este mesmo bando(a) poderia fazer a farra em pubs de mundos insólitos como os de Blade Runner e ainda servir de música ambiente para happy hours da casa da família de O Massacre da Serra Elétrica. Aliás, os ditos cujos deste texto surgiram do propósito de compor a trilha sonora de um filme trash/terror B que nunca fora exibido: My Life With The Thrill Kill Kult . Idealizado em meados dos anos 80 pelos cérebros alterados de Buzz MCoy e Groovie Mann, este divertido agrupamento de lunáticos de Chicago pratica um som industrial único, mesclando elementos de noir, big bands dos anos 40, guitarras surf e vocais femininos lascivos. A matriz é esta, mas não é só isso. Vale à pena ouvir “Sexplosion” (que tem na capa a mais famosa pin up de todos os tempos, Bettie Page), com seu clima jazzy e refrãos cantaroláveis por todos os lados. Ou então a pegada mais marcial do rock industrial de “Confessions of a Knife”, transformando um estilo notoriamente sisudo em algo divertido. Ou ainda os ecos de house music e hip-hop (!) de “ Reincarnation of Luna ”, que mandou às favas qualquer tipo de hermetismo acerca do estilo que a banda poderia perpetrar. A propósito, o Kill Kult mandou ver até mesmo num disco festeiro – praiano até!, algo entre The B-52`S e Revolting Cocks, no divertidíssimo “Hit, Run & Hollyday”. Arrisque-se a botar músicas como “Sex on Wheelz” e “Glamour is a Rocky Road” para tocar numa festinha qualquer e você verá as pessoas dançando algo que elas não conhecem. My Life With The Thrill Kill Kult é uma banda que promove diversão no terreno improvável de seu ponto de partida, justamente o som industrial.

Ouvir um disco delicioso como o mais recente lançamento do Kill Kult, “ The Filthiest Show in Tow ” (2007), nos dias atuais é um alento, ao mesmo tempo que fico me perguntando sobre como é que um som original como esse não caiu no gosto dos geradores de hype - e olha que a MTV brazuca até colocou a citada “Sex on Wheelz” de fundo para a chamada de um programa e nada. “The Filthiest...” restringiu os elementos de “industrial” a apenas alguns timbres de bateria ocasionais e riffs de sintetizador bem discretos e certeiros, apostando fundo no clima jazzy/noir com toques de horror decadente que caracterizou mais os sons de “Sexplosion”. Mas há uma evolução em termos de grooves (elemento improvável em bandas de industrial), tal qual ocorre em faixas irresistíveis como “Born of Fire” (linha de baixo matadora!), “High Class Taboo” (guitarra setentista sampleada e melodias vocais que parecem ter saído do Funkadelic!), “My Kinda Guy” (pianos elétricos e até mesmo um melotron dão o clima) e “Jive Ass Live” (guitarrinha em wah-wah irresistível fazendo o balanço com piano, percussão e baixo bem marcados). E quando você ouve o tecladinho de filme de terror barato de “Cadillac Square”, que abre o disco, e o som de sax e de piano de cabaré de “Cover Girl Blues”, música que fecha o álbum, tudo isso embalado por vocais masculinos sussurrados e canastrões alternados por vozes femininas provocadoras, o clima da música do Kill Kult se faz mais sólido e presente em 2007. É som para embalar um helloween divertidíssimo, dry martinis por todos os lados, zumbis decadentes dançando junto de meretrizes e traficantes mexicanos negociando jogatinas. Quentin Tarantino, que tanto gosta de um horror B e de humor negro, precisa descobrir esta banda urgentemente para compor a trilha de seus próximos filmes.

terça-feira, maio 15, 2007

NINE INCH NAILS - "YEAR ZERO"



Trent Reznor possui uma inquietude rara e, por vezes, incômoda. O cérebro teutônico do Nine Inch Nails tem a necessidade de estar sempre se reinventando a cada disco. Além disso, sua banda faz parte de uma linhagem virtuosa de artistas provindos da década de 90 (e dos pouquíssimos que ainda estão na ativa hoje) que se dão ao luxo de lançar o som que bem entendem que as suas respectivas gravadoras terão apenas que aceitar, prensar e distribuir seus discos sem pestanejar – e colher os frutos financeiros com um largo sorriso posteriormente. Gente como Radiohead, Pearl Jam, REM (este, dos anos 80) e o próprio Nine Inch Nails conquistaram uma certa independência de fazer inveja às novas gerações, pois são figuras mega que se comportam como alternativos sem perder a integridade musical. Não sei até quando esta moral deles durará, até porque o álbum “Year Zero”, lançado recentemente, parece ser o suicídio comercial de Trent Reznor. Parece...

À primeira audição, “Year Zero” soa mal acabado, sujo, de ritmo agarrado num freio de mão. Quando fui ouvir, até pensei que a cópia que meu amigo Hudson (valeu!!!) havia me dado de presente se tratava da versão demo do disco, naquelas típicas pegadinhas do mundo dos downloads, quando você, na ânsia de baixar o disco antes dele sair oficialmente, acaba pegando uma versão inacabada da obra. Mas o disco era esse mesmo! E Reznor, como bom conhecedor de estratégias de marketing, tratou logo de criar factóides que pudessem chamar a atenção para a sua obra mais anti-comercial: a temática ambientada num futuro próximo, apocalíptico, arrasado social e ambientalmente... e com uma mão que vem do céu para aterrorizar as pessoas! Bom, todo mundo já leu isso antes na internet e em praticamente todos os setores da mídia musical – até os indies caíram no hype de ouvir e elogiar o disco (mais pela temática meio nerd do álbum, que inclusive teve prenúncios estilo RPG virtual espalhados pela rede)! Ué? Indie caindo na onda de uma banda com quase vinte anos de estrada?!? O caô de Mr. Reznor colou mesmo!

Mas de caô “Year Zero” não tem nada, musicalmente falando. É, para variar, um discaço – ainda que contenha algumas idéias repetidas. Todo o hype que Trent Reznor conseguiu trazer para este lançamento trará novas gerações que poderão se interessar no universo da música industrial, pois o disco em questão vai de contra à tendência mais roqueira e direta do fantástico “With Teeth” (2005), seu álbum anterior. Após a introdução “Hyperpower”, “The Beginning of the End” até que engana bem a quem acha que o disco está bem “rock”, com suas guitarras sobrepostas e bateria bem marcada. Mas “Survivalism” vem com muito barulho, bateria eletrônica minimalista e synths tão pesados quanto as guitarras. A estranheza do disco caminha para o groove robótico de “The Good Soldier”, à sujeira industrial de “Vessel”, à arrastada “Me, I'm Not”, e ao proto-blues mecânico de “Capital G” – todas essas, diga-se de passagem, poderiam muito bem fazer parte do clássico “Downward Spiral” (1994), o que denota um sinal de repetição de idéias clara e evidente. Já “My Violent Heart” apresenta uma estranha batida electro-funk que culmina num refrão ao estilo “explode tudo” – uma solução bem original e que vai de encontro às declarações anteriores ao lançamento do disco, onde Reznor afirmava ter sido influenciado pelos primórdios do seminal e inovador grupo de rap Public Enemy, com muitas batidas e colagens eletrônicas. O mesmo ocorre nas músicas “God Given” e “The Great Destroyer”, de batidas dançantes bem originais e fragmentos de melodias pop por todos os lados. No mais, o disco segue o formato de alternar batidas esquisitas com sujeira digital, guitarras roqueiras e as excelentes melodias que Trent Reznor sabe fazer muito bem. Nos anos 90, “Year Zero” seria considerado “a bola da vez” no quesito “modernidade”. Mas, nos anos 00, o “moderno” aqui soa até mesmo retrô, com suas soluções noventistas. Reznor fez mais um grande disco, bem acima da média de tudo que há por aí. Mas a obrigação de se reinventar esbarrou aqui em repetição de idéias por mais da metade do álbum. Um defeito e uma virtude - um paradoxo: o NIN atual busca inspiração na sua própria obra para se repetir, se renovar e/ou criar novas soluções. Convenhamos: isso é para poucos.

*Este disco do NIN abre caminho para os leigos no som industrial ouvirem The Young Gods e My Life With The Thrill Kill Kult (cujos discos só fui ter a chance de ouvir de antemão através do brother Doggma - valeu mesmo!) que também estão de discos recém saídos do forno! Em breve – e para quem tiver saco – resenhas aqui!