quinta-feira, dezembro 18, 2008

Pay Per View

Eu bem que tento baixar tudo o que desejo ter. Porém, existem alguns itens que simplesmente não consegui achar na rede. Então, recorri ao velho expediente de encomendar tais DVDs numa loja virtual. Sou fã destas três bandas que falarei logo a seguir, e me permiti ao luxo de desembolsar um dinheirinho para ter o produto original em casa e passar por aquela gostosa expectativa de conferir o andamento do pedido no site, ficar ligado nas Kombis ou motos amarelinhas do Sedex, para depois abrir a caixa da encomenda, estourar as bolinhas daquele plástico utilizado para proteger o produto... e me deleitar no sofá de casa assistindo os tais vídeos.

KMFDM – “World War III Tour



O divertido e original combo metal-industrial-techno criado e comandado pelo alemão Sacha Konietzko há 25 anos apareceu na mídia nos últimos tempos pelos motivos errados: aqueles dois garotos idiotas cuja história foi retratada no documentário “Tiros em Columbine” praticaram seus assassinatos em série, segundo a mídia sensacionalista, influenciados pelas letras do KMFDM, banda da qual eram fãs (na verdade, a mídia marrom da época deve ter achado a banda underground demais e escolheu primeiramente Marylin Manson como bode espiatório, pois o mesmo artista citava o KMFDM como influência). Outros imbecis resolveram se inspirar no episódio de Columbine e andaram executando pessoas em colégios/faculdades mundo afora. Muito se falou das letras do KMFDM, que eram violentas ou belicistas, ou pior, que os caras eram nazistas! O próprio Sacha Konietzko teve de vir a público para explicar-se, com se algo tivesse de ser esclarecido por causa da demência alheia, pois tais acusações eram completamente infundadas. Dito isso, talvez a energia do álbum “WWIII”, lançado em 2003, tivesse sido contagiada por estes episódios, pois a banda nunca soou tão política, crítica e pesada em seu som.



Pois é a turnê deste disco marcante que “WWIII Tour” retrata. Antes que se pense em caras sisudos e mal humorados, vociferando contra George Bush e revoltados pela associação com serial killers adolescentes e nazistas, os integrantes do KMFDM são pessoas “normais”, brincalhonas e bem humoradas, em contraste com a pancadaria fenomenal que eles provocam em cima do palco. Portanto, este DVD é um presente para os fãs, com muitas cenas de bastidores, videoclipes exclusivos e um monte de coisas mais (links p/ internet, fotos, press kit, credenciais, etc.). Ou seja: Sacha e cia. apenas mostraram-se como o são de verdade, calando a boca de embalistas preconceituosos e deleitando os admiradores de uma das mais bacanas misturas de rock pesado com eletrônica que se tem notícia.


A vocalista Lucia Cifarelli em foto atual

Sobre o que mais interessa, o show ao vivo, o KMFDM destrói! A sonoridade é executada à perfeição no palco, incluindo efeitos de voz, samples, sintetizadores e a tradicional rifferama de guitarras. A abertura do show, com a faixa título do disco que dá nome ao DVD, é simplesmente animal! “From Here On Out” vem na seqüência, com a vocalista Lucia Cifarelli largando os backing vocals e sintetizadores e assumindo a linha de frente com muita sensualidade e presença de palco. Ela realmente rouba o show quando comanda a situação. O visual de Lucia e sua roupa colante de látex, além dela ser uma tremenda gata e cantar muito, parece ter saído de algum HQ dos X-Men – tudo a ver com a banda, pois as capas de todos os seus discos possuem temática de quadrinhos. Aliás, o visual atípico dos caras em relação ao que se espera de uma formação vinda do cenário industrial (um dos guitarristas usa até um infame boné!) talvez possa decepcionar os neófitos de plantão, tão acostumados com bandas maquiadas e de figurinos impecáveis. Com exceção de Lucia, do moicano de Sacha Konietzko e o estilo glam-cowboy do convidado e membro honorário Raymond Watts (da banda-irmã PIG), os outros caras parecem mesmo que tocam no Social Distortion! Voltando ao show, o repertório obviamente é centrado no (ótimo) disco lançado em 2003, mas alguns clássicos como “Light”, “A Drug Against War” e “Juke Joint Jezebel” (esta, encerrando de forma apoteótica a apresentação) são tocados com fúria e perfeição. Se você é fã, vale cada centavo investido. Se você apenas gosta de uma música ou outra da banda, vai acabar virando fã ao ver o show.

My Life With The Thrill Kill Kult – “Kult Kollection”



Se o papo é de fã para fã, este DVD do My Life With The Thrill Kill Kult é para amantes hardcore da banda! Grupo underground formado em Chigago ( EUA), berço do rock industrial yankee, o Kill Kult reuniu todos os seus vídeos (com exceção do material produzido de seu disco mais recente , lançado ano passado) num só DVD, recheando o espaço que sobrou (muito, diga-se) com uma apresentação ao vivo. O mix de rock industrial com vozes femininas lascivas e climas noir está muito bem representado nos clássicos videoclipes de “Sex On Wheelz” (com aquele clima cabaré estilo puteiro de Sin City), “Sexplosion” (em preto-e-branco, noir total) e “Kooler Than Jesus” (ótima colagem de imagens de santos católicos e putaria, dando efeito de stop motion) – produções simples com idéias idem, porém com resultados bem interessantes. Mas o resto dos vídeos, meu deus... Manja estudantes de comunicação filmando um videoclipe após muita fumaça na cabeça? É daí pra pior! Tudo bem que o Kill Kult nunca foi uma banda grande ao ponto de possuir verbas gordas para seus clipes. Mas vídeos como os de “Dope Doll Jungle”, “Blue Buddha” e “Hard, Fast & Beautiful” parecem ter sido feitos de gozação, tamanho o amadorismo e o nonsense das cenas! É trash mesmo e escrevo isso sem pestanejar! São alguns dos piores videoclipes que eu já vi, e talvez por isso mesmo possa ser divertido de assisti-los após litros de cerveja... “O DVD então é uma porcaria?”, alguém poderia perguntar. Não mesmo! Na verdade, as nove músicas gravadas ao vivo redimem o vexame provocado pela maioria dos videoclipes. O show foi registrado durante a turnê do excelente “Hit, Run & Hollyday” (o disco mais The B-52’s da banda), e a apresentação é ótima, com todo aquele clima noir e sensual realçado pelas vocalistas convidadas. Se você curte a banda mesmo vai tomar um susto com a tosqueira de boa parte dos videoclipes. Mas o material ao vivo compensa o choque. Se você não curte ou pouco se interessa pelo Kill Kult, passe longe.

*Este DVD não contém extra algum...

Meat Beat Manifesto – “In Dub: 5.1 Surround”



O inovador projeto eletrônico encabeçado pelo produtor musical Jack Dangers ganhou um registro audio-visual à altura da relevância de sua música. “In Dub: 5.1 Surround” é uma experiência única de assistir/ouvir. Trata-se de um ambicioso projeto desenvolvido junto com o respeitado videomaker Ben Stokes, onde áudio e vídeo estão conectados perfeitamente, numa mistura de sensações marcantes para quem puder usufruir deste produto em sua amplitude. As colagens visuais interagem-se com o som, com versões ainda mais pesadas e voltadas para o dub de várias faixas da banda (a maioria de “RUOK”), tudo produzido para rodar em sistemas de áudio 5.1 surround (daí o subtítulo do DVD). O sub-grave do som é de tremer o chão de sua sala, sendo que em vários momentos a própria imagem do DVD treme nas batidas mais pesadas (acredito que isto tenha sido intencional ou minha TV já está dando defeito, rsrsrsrs...). Como se trata de um produto incomum, não teremos aqui cenas de apresentações ao vivo (isto já foi muito bem registrado no DVD “Travelogue Live 05” – vi alguns trechos no You Tube e em breve vou encomendar este também), mas sim muita piração audiovisual, daquelas perfeitas para um dono de bar metido a moderno colocar em TVs de LCD e tirar onda de que comprou “um DVD muito louco na Europa”. Mas podemos esperar tudo, menos clichezões batidos quanto ao som – e também aos videos – do Meat Beat Manifesto. O máximo que o grupo chegou ao mainstream foi a inclusão do breakbeat animal de “Prime Audio Soup” na trilha sonora de “Matrix” (inclusive aparecendo em algumas das cenas mais marcantes do filme), e este DVD definitivamente não os colocará em vala-comum alguma. Vale ver e ouvir com a mente devidamente preparada e nas melhores condições possíveis, ou seja: com uma bela de uma TV e um bom sistema de som. Impressiona!

terça-feira, outubro 28, 2008

Don’t Mess With Texas!



Patrimônio histórico do Texas e uma das bandas mais singulares, divertidas e sacanas da história do rock and roll, o trio de barbudos ZZ Top finalmente lançou neste ano seu primeiro DVD contendo uma apresentação ao vivo. “Live From Texas” obviamente foi registrado em seu estado natal, na cidade de Dallas, com um show simplesmente sensacional. É impressionante a interação do trio com sua platéia, com a banda tocando como se estivesse num boteco de beira de estrada típico de filme americano, com garçonetes peitudas, caminhoneiros bêbados falando alto, hell’s angels arrumando confusão e chicanos de prontidão para lhes oferecer uma parada. Vendo o DVD, parece que a qualquer momento vão surgir da platéia Burt Reynolds e seus amigos – e amigas também – do filme “Agarre-me se Puderes”. Preste a atenção na platéia e verá que estes tipos ainda existem e urram de felicidade a cada canção tocada pelo trio - inclusive há até uns figuras portando barbas postiças! Mas não se engane com a comparação. O show é super produzido, com um trabalho irrepreensível no palco, algo como um Texas futurista, meio Galaxy Rangers, se é que você me entende... E o som! Puta que pariu! Se você tem um home theater (eu ainda não tenho), deve ser uma experiência áudio-visual alucinante. Mas nada disso seria relevante se a banda não for legal. Legal?!? Meu amigo, estamos falando de ZZ Top!



É impressionante a precisão, o feeling e a total interação entre Billy Gibbons (guitarra e vocal), Dusty Hill (baixo e vocal) e Frank Beard (bateria – curiosamente, o “Frank Barbudo” é o único que carrega a palavra “barba” no nome e ostenta apenas um discreto bigode, vai entender...). Também, são quase 40 anos tocando juntos sem mudanças na formação. E os caras se divertem pra caramba no palco, tocando apenas os três, sem backing vocals, teclados ou metais – essas coisas que tanto embregalham o rock and roll. O show do ZZ Top é como se eles estivessem se apresentando para seus amigos mais chegados – sendo a apresentação no Texas, nada mais natural, ainda que seja para umas 20 mil pessoas! Vendo o DVD – inclusive os extras, com um impagável jogo de pôquer entre os três (falo sobre isso mais à frente...) - dá para deduzir que Dusty Hill seria o cara sacana da banda (se bem que Gibbons não fica atrás neste quesito...), daqueles que te convidariam para tomar uma cerveja na sua mesa, apresentaria umas gostosas, enfim, te levaria pro mal caminho e para a diversão sem hora nem dia para acabar. E o barbudão ainda segura a onda com peso e groove nos momentos em que Billy Gibbons larga a base e parte para os solos. Dusty Hill é o quietão da banda, sério e compenetrado no palco, que vez ou outra dispara os dois bumbos ou algum efeito na batera. Mas dêem umas cervas pro cara que ele começa a te sacanear (vejam os extras...). E Billy Gibbons... bom, sou suspeito para falar de um dos meus guitarristas preferidos de todos os tempos. Cada riff, cada arpejo, cada deslizada no slide vindos das mãos calejadas deste texano gente fina são carregados do mais puro feeling e sem nenhuma embromação. É o rock and roll/boogie/blues/southern rock personificado num só ser humano. O timbre de suas guitarras (quase sempre uma Gibson customizada) e a sua forma de tocar são únicos e inacreditavelmente agradáveis de ouvir.



O repertório de “Live From Texas” é excelente, pois privilegia tanto os clássicos dos anos 70 quanto algumas músicas mais recentes, como a sensacional “Pin Cushion” (do quase industrial “Antenna”, 1993). O show começa quebrando tudo com a fantástica “Got Me Under Pressure” (de “Eliminator”, 1983, que foi o disco mais vendido da história da banda). “Waitin’ For The Bus” e “Jesus Left Chicago” vêm em seguida, fazendo a alegria deste que vos escreve, pois elas são do “Tres Hombres” (1973), o melhor disco da banda, na minha humilde opinião. Os clássicos vão sendo tocados com feeling e bom humor ao longo do show. Em “Just Got Paid” (de “Rio Grande Mud”, 1972), Billy Gibbons troca sua Gibson customizada por um modelo surradão da mesma marca. É um dos pontos altos do DVD, pois o guitarrista encaixa um slide no dedo e simplesmente destrói ao introduzir o riff animal desta música! E ele ainda improvisa novamente um slide malvadão no meio da canção, levando a platéia à exaustão. Falar dos destaques do resto do repertório é entrar na redundância do quanto ele é fantástico, mas não há como não chamar à atenção para a paulada de “Heard It On The X” (de “Fandango”, 1975 – sempre me vem à cabeça o Motorhead tocando esta música, não sei porquê...), a impagável “Legs” (novamente de “Eliminator”), quando Billy Gibbons e Dusty Hill tocam com instrumentos de pelúcia (só vendo para acreditar!), e o grand finale com as espetaculares “La Grange” e “Tush”, dois mega-clássicos de “Tres Hombres” e “Fandango”, respectivamente. “Live From Texas” vale cada centavo investido (saiu no Brasil!) e merece ser visto na companhia de seus melhores amigos regado a cerveja gelada e wisky de qualidade – um clichezão, mas absolutamente autêntico em se tratando de ZZ Top. Portanto, não mexa com o Texas!


Foto do ZZ Top da época do "Eliminator" (1983), que é o nome deste hot rod customizado do trio

EXTRAS:

Jogo de Pôquer: Eis que Billy Gibbons, Dusty Hill e Frank Beard resolvem contar a história da banda numa partida de pôquer regada a cerveja, cigarros, charutos e uma boa grana apostada. Em tempos de aquecimento global e outras empulhações caretas atuais, nada mais politicamente incorreto – contudo, nada mais autêntico vindo destes caras. O trio vai apostando e bebendo cerveja à medida que passagens marcantes e divertidas do ZZ Top vão sendo contadas por quem viveu aquilo na primeira pessoa. Lá pelas tantas, os caras meio que tiram um sarro dos Rolling Stones, com quem excursionaram nos anos 70 e, segundo diz a lenda, foram engolidos pela força do power trio texano. Em outro momento divertido, Dusty Hill sacanaeia a si próprios afirmando que “naqueles tempos o ZZ Top estava na moda”, ao comentar os altíssimos níveis de popularidade que o trio alcançou nos anos 80 sem abrir mão do seu visual atípico. Mas não vá esperando que Billy Gibbons dê pistas sobre a história da Fender rosa que ele ganhou de Jimi Hendrix, porque o cara não abre o jogo nem a pau!

*Não há legendas em português, apesar de o DVD ser nacional (pra variar, o pouco caso das gravadoras brasileiras...). Mas dá para entender o que os caras falam se você não manja de inglês ao optar por legendar em espanhol.


Foto dos primórdios, no começo dos 70's

O Dia do Show: apenas um making off do espetáculo, nada de mais.

Foxy Lady: Ah, isso sim é um presente! O ZZ Top tocando o clássico de Jimi Hendrix (O Deus e o Diabo encarnados juntos num músico!) com a pegada característica do trio. A versão ficou fodaça!

Observações:

Obviamente, com uma banda de quase 40 anos de carreira, ainda na ativa e que lança bons discos até hoje (“Recycler”, de 1990, talvez seja o único mais fraquinho), sempre haverá omissões sentidas no repertório de seus shows. Pois eu gostaria apenas que pelo menos uma do sensacional “Rythmeen” (1996) tivesse sido tocada, como as fantásticas “Bang Bang”, “Hairdresser”, “Hummbucking PT 2” ou mesmo a faixa-título. Eles também não tocaram nenhuma do "First Album" (1970), que é o meu segundo disco preferido. E bem que eles poderiam ter mandado “Beers, Drinkers & Hellraisers” (de “Tres Hombres”), uma das músicas que melhor definem o ZZ Top! Enfim, satisfazer fã deve ser um saco, rs...

O download de “Live From Texas” via torrent é até fácil de achar por aí. Eu, inclusive, estava baixando, até que descobri que o DVD havia sido lançado no Brasil. Uma preciosidade dessas eu fiz questão de ter o original!

terça-feira, setembro 23, 2008

ALGUNS SONS...

E não estranhe se este blogg for atualizado por dez dias seguidos ou só no ano que vem.

Covenant – “In Transit”


A sofisticação do figurino dos caras combina com sua música

Uma das melhores bandas eletrônicas da atualidade, o trio sueco Covenant - não confundir com o black metal industrial The Kovenant – lançou outro disco ao vivo em 2007 (o primeiro, “Synergy – Live In Europe ”, é de 2000). “In Transit ” contém mais uma leva de belíssimas canções sobre bases digitais modernas e dançantes. O rótulo futurepop, do qual o trio é comumente associado à sua concepção, não comporta mais a excepcional música destes caras – eles estão mais para um Depeche Mode dos novos tempos. Ouça, por exemplo, a magistral versão ao vivo de “Bullet” ou a melodia singela de “Happy Man” cantada perfeitamente pelo vocalista Eskil Simmonsson, e constate que a famigerada mistura de synthpop com EBM e melodias trance – a grosso modo, o que consiste o futurepop – não é mais suficiente para resumir o que é o Covenant. Este disco ao vivo é uma boa coletânea de algumas de suas melhores faixas, mas o barato mesmo é ver o DVD do show, com uma excelente produção de palco (ligeiramente alusiva ao Kraftwerk), a qualidade sonora perfeita, o figurino finesse dos caras e o público tão elegante quanto. Eu ralei para achar isso no Torrent, e o link que baixei já expirou. Qualquer coisa, eu gravo para quem interessar...

Front 242 – “Moments”




De volta ao passado! A onda dos revivals ainda age como uma praga sem data para acabar. Sinal dos tempos, de que os velhinhos (adjetivo para qualquer um que tenha nascido antes dos 90’s, segundo os tempos atuais) têm pouco ou nada a dizer a não ser relançarem clássicos e deixarem as novidades para a garotada? É bem provável, e isso pode se aplicar aos belgas criadores da EBM (electronic body music): o Front 242 . Ao que tudo indica, ele preferem o conforto de andar sobre este tipo de terreno mais seguro e garantido contra críticas vorazes. O último disco inédito deles foi lançado em 2003 (“Pulse”), era apenas ok e demorou 10 anos para sair! Fora isso, o quarteto vinha desagradando os fãs ortodoxos (como eu!) ao insistir em tocar ao vivo suas faixas no mesmo formato registrado desde “Reboot: 98 ”. Os clássicos de outrora foram repaginados radicalmente para uma espécie de hardcore techno barulhento e repetitivo, que depunha contra o passado de glórias do grupo. Todos os detalhes dos arranjos e timbres foram aplacados por uma sonoridade acid, linear e chata pra burro em todas as músicas! Acho que a chiadeira foi tanta no ouvido deles, que agora os caras resolvem dar um mimo aos fãs com o recém lançado box “Moments”. Da primordial “U-Men” (1981) à recente “Together” (2003), são mais de 20 clássicos tocados ao vivo, próximos à maneira original, tal qual sugere o título da turnê que gerou este lançamento (“Vintage Tour”). É pra fã nenhum reclamar, ainda que a versão 2008 do mega-clássico “Headhunter” não chegue aos pés da energia contida no registro de “Live Code” (1995), que pra mim é ainda o disco ao vivo definitivo do Front 242 (em que se pesem as ausências homéricas daquele disco, devidamente resgatadas em “Moments”).

ELETRÔNICA HYPE

The Presets – Apocalypso


Posso jurar que o som do The Presets não tem nada a ver com o visú destes caras...

Tudo o que você ler nesta resenha pode resvalar em mofo. Afinal de contas, o último disco do duo australiano de synthpop The Presets , “Apocalypso ”, foi lançado há distantes três meses, e a cena eletrônica do país dos cangurus pode já ter sido deixada de ser hype há muito tempo - talvez algumas horas atrás – para dar espaço às novidades vinda de/da/do ... (preencha o espaço você mesmo, pois eu perdi o bonde da história). Agora, se você não se deixa levar por qualquer marola passageira divulgada por aí pela internet, eu ponho a mão no fogo por estes caras aqui. Não tem pra Pnau, Midnight Juggernauts, Cut Copy ou Bag Raiders nenhum não: entre os nomes mais hypados do tal synthpop australiano, o The Presets põe fogo nas pistas de dança de verdade, sem pudores indies (tais quais seus conterrâneos de cena), pois não tem medo de pesar o som quando lhe convém (como em "Kicking and Screaming" e em "My People"), fazendo o disco descer bem por inteiro. Em alguns momentos, os vocais e as melodias dos arranjos (principalmente em “This Boy In Love e “New Sky”) lembram um Depeche Mode classudo ou mesmo um Information Society quando estes resolviam mandar bem de verdade (tipo “What’s On Your Mind”, injustamente relegada à condição de trash hit 80’s). E synthpop por synthpop da cena do país do caçador de crocodilos que morreu com uma ferroada de uma arraia no meio do coração, o The Presets é o grupo que mais se aproxima do verdadeiro sentido deste gênero musical, ao mesmo tempo que o atualiza e o transforma em algo moderno e original.

Por falar em synthpop...


O cara aí da esquerda não é o Patrick Dempsey!

Outro dia eu estava ouvindo o duo norte-americano Chromeo , super hypado projeto de electro-retrô que rola atualmente. Ao mesmo tempo em que me divertia à beça com o som deles, me incomodava constatar que os caras emulavam 100% um tipo de tecnopop caricato que era datado já nos anos 80! Enquanto baluartes do primeiro escalão deste gênero como Depeche Mode, New Order e o pai/avô/Deus-Criador Kraftwerk inovavam a cada lançamento, uma turma da segunda divisão daquela época suava em baterias hexagonais vagabundas e sintetizadores baratos para tentar correr atrás dos mestres, gerando faixas tão divertidas quanto constrangedoras. Pegue aí o exemplo de gente como Spandau Ballet e Flock of a Seagulls. Esta leva de artistas ficou eternizada por carregar os nomes, as roupas e os penteados mais ridículos de todos os tempos, assim como tiveram pelo menos uma música registrada nos anais do tecnopop e que hoje são motivo de risadas em festas retrô. Pois é este tipo de som que o Chromeo quer reproduzir sem o menor pudor. Tirando a qualidade da gravação (com graves e médios prontos para tremer o chão das pistas de dança de hoje), esta dupla cara-de-pau e seus discos poderiam se equiparar ao som que o Ministry fez em seu primeiro disco, de 1983.


Este cowboy do inferno apocalíptico atual um dia foi vítima da moda...



O que esta pessoa viu na sua frente nos anos 80 para se transformar no cara da foto anterior?!?

Se hoje o grupo de Al Jourgensen é lembrado por ter criado a incendiária mistura de thrash metal com industrial e segue atualmente provocando abalos sonoros pesadíssimos, em 1983 o Ministry gravou um vexame, parecendo querer ser desesperadamente uma banda para tocar na trilha sonora de “A Garota de Rosa Shocking” (ou em qualquer filme adolescente genérico da época). Postas lado a lado, até que as três primeiras músicas de “With Sympathy” não fariam feio aos sons do Chromeo (ué, não deveria ser o contrário?). “Effigy”, com bons arranjos de synth e guitarras, “Revenge” e seu clima quase gótico, e o groove irresistível de “I Want To Tell Her”, que faria bonito na onda new disco atual, formam uma bela trinca inicial neste disco de estréia do Ministry. Mas o que se segue no resto das faixas é de constranger até mesmo ao Chromeo! Confie na opinião do próprio Al Jourgensen sobre este álbum: “Não valeria à pena nem ser roubado!”.

O TECNOPOP SANGUE BOM


O grupo belga Telex

Por conta de irresponsáveis como o Chromeo e também por causa do já longínquo hype do electroclash (foi em 2001, lembra?), o tecnopop tem sido sinônimo de uma época em que o bom gosto fora esquecido. Tamanho foi o estrago promovido por aquela gente esquisita e exagerada, que logo no início dos anos 90 o gênero musical movido à base de sintetizadores apareceu já de rótulo novo, o synthpop. Esta nova alcunha nada mais era do que a mesma coisa que o tecnopop, porém sob um estofo mais chique e menos espalhafatoso. Contudo, músicos de boas bandas do ressurgido pop de sintetizadores como De/Vision, Wolfsheim e Mesh - que, diga-se de passagem, passam batidas do hype do synthpop australiano de hoje - faziam referência não aos trash hits dos 80’s citados no parágrafo acima, mas sim a um pessoal do tecnopop que deixou algum legado respeitável a ser seguido. É por isso que lembrei com carinho de duas bandas ótimas dos anos 80: Telex e Moskwa TV (OBS: eu poderia citar também o excelente Ultravox, mas este e a carreira solo do ex-integrante John Foxx merecem posts à parte). Estes dois nomes participaram ativamente de minha pré-adolescência, ao lado dos óbvios Depeche Mode, New Order e Kraftwerk. Posso afirmar tranquilamente que faixas como “So Sad” e “Second Hand”, dos belgas do Telex (vale atentar que eles voltaram á ativa!), quando tocadas numa pista de dança de electro/synthpop de hoje (eu já fiz isso!), gerariam interrogações nos antenados de plantão, ávidos para saberem que banda nova estaria tocando. Já músicas como “Tell Me, Tell Me” e “Brave New World”, dos alemães do Moskwa TV (uma das crias do geniozinho Talla 2XLC), talvez agradem em cheio aos fãs de grupos que promovem o eterno revival do post-punk (como fizeram os noruegueses do Monomen em “Oscilate”) e que não resistem em soltar uma ou outra faixa lotada de sintetizadores oitentistas.

LOUNGES E GROOVES INSUSPEITOS

A música lounge/chill out virou rótulo suspeito para a trilha sonora de qualquer ambiente metido a besta. Há tempos que este tipo de som tem sido banalizado por cítaras indianas de araque, BPMs baixos e safados programados em cima de discos de música étnica de procedência duvidosa, e vez ou outra com alguma cantora brasileira de vocais neo bossa nova de sobrenome exótico, normalmente citando alguma cidade baiana ou carioca, cuja fama só engana a gringos sebosos sempre dispostos a chacoalhar os esqueletos com alguma world music devidamente europeizada para não agredir aos seus paladares. Separar o trigo do joio em meio a tanto curry e dendê falsificados requer um trabalhinho! E não vou negar o clichezão de assumir que curto sons mais light para embalar meu dia-a-dia com mais calma.

The Orb – “The Dream”


Este simpático senhor é responsável por alguns dos sons mais alucinógenos e originais que se tem notícia

Quando as primeiras raves surgiram na Inglaterra, na segunda metade dos anos 80, um sagaz indivíduo chamado Alex Paterson resolveu criar a trilha sonora para aqueles momentos onde a bombação já havia passado, mas as drogas ainda continuavam a fazer efeito. Era a hora de diminuir gradativamente o BPM, como que um espírito pilhado fosse expurgado aos poucos de seu corpo, sem acabar com a festa abruptamente. Reza a lenda que o hoje mega DJ Paul Oakenfold cedeu um espaço em uma festa sua ao tal do Paterson, que acabou concebendo o The Orb como o primeiro projeto musical dedicado exclusivamente aos chill outs. Tomando lições dos experimentos com música ambient promovidos por Brian Eno, das viagens mais progressivas e psicodélicas do Pink Floyd (David Gilmour declarou em 1993 que era fã do Orb!) e das chapações dub jamaicanas, Alex Patterson criou um som único. A música flutua pelos canais de som, mas também treme o chão e faz dançar. Nunca em qualquer de seus discos Patterson apelou para climinhas pseudo-trancendentais. A única certeza ao ouvir o som deste inglês doidão é que a viagem estaria garantida, mas o destino seria sempre para algum lugar diferente. Dito isso, é bom frisar que “The Dream”, seu lançamento mais recente, é o seu melhor disco desde “ Orblivion” (1997). Alguns climas iniciais nas faixas deste disco novo do The Orb podem sugerir alguma aula de meditação ou tai chi chuan. Mas os grooves e programações que entram a seguir podem fazer de um incenso um incêndio! De fato, a sonoridade de “The Dream” é mais dançante, vide as ótimas batidas de “Vuja De” e “The Truth Is...”. Contudo, os momentos espaciais estão sempre presentes, como em “The Dream” e “DDD”, como reza a cartilha psicodélica de estilo único nas produções de Alex Paterson. Aperte os cintos, senão teu corpo e tua mente vão loooooonge....

Nightmares on Wax – “Thought So”


O cabeça do Nightmares on Wax

Seguramente você pode baixar qualquer disco do projeto encabeçado pelo produtor inglês George Evelyn, mais conhecido como DJ EASE, que a tua viagem em busca de beats ora calmos, ora grooveados e sofisticados será recompensada. Que bom constatar que o Nightmares On Wax ainda tem gás pra acender e cozinhar bons climas e grooves sem apelar para os chavões que eles próprios involuntariamente ajudaram a reforçar. O estofo sonoro do recém lançado “ Tought So” possui uma batida ligeiramente hip-hop, com grooves graves e pesados. Contudo, a melancolia trip-hop e os climas sofisticados continuam presentes, como que se o DJ EASE quisesse sempre reafirmar que o seu Nightmares On Wax pertence – ainda que não seja um dos pioneiros – a uma rara estirpe de projetos fenomenais de down beats como Massive Attack, Portshead, Thievery Corporation e Moorcheeba.


Medeski, Martin & Wood – “Combustication remix EP”


Este trio arregaça com grooves animais e intricados

Um dos primeiros downloads que fiz em minha vida foi deste disco do trio Medeski, Martin & Wood. O meu interesse sobre eles veio após ler em algum lugar que existia uma banda que praticava exatamente o mesmo tipo de som que o Beastie Boys fez nas faixas instrumentais dos mega-clássicos “Check Your Head” (1993) e “Ill Communication” (1995). E que Combustication era um EP de remixes que estreitavam a relação do som do trio com o hip-hop e os grooves eletrônicos. Tendo à frente um Napster instalado no PC de um amigo meu, me vi num momento de mudança de hábitos irresistível e irreversível gritando à minha frente: “eu não vou mais gastar os tubos para encomendar discos importados? Agora eu só dou um clique e o disco vem pra mim, fácil assim?!?”, perguntei-me naquele dia. Pois eu baixei o disco. Um novo vício instalou-se em mim sem data para acabar. E o mesmo vício eliminou outro sem dó nem piedade. Nunca mais comprei ou encomendei um disco novo desde então, à exceção de uma ou outra ida a sebos de CDs usados.

Tenho guardado um dos primeiros CDs-R que queimei de um download que fiz. O disquinho está todo podre, com as beiradas descascando e fungos abrindo buracos pelo meio. Com a velocidade de resposta de uma busca no Google, não tive nem tempo de sofrer pelo disco em decomposição: baixei-o novamente e pronto. O sentimento de nostalgia sobre “Combustication” provinha de um clique no mouse, de um CD-R de qualidade ruim. Meus discos originais, que muitas vezes foram adquiridos com suor e espera por encomendas que pareciam demorar uma eternidade, hoje repousam em caixas e encartes que não são manuseados há anos, tais quais peças de um museu abandonado. Não tenho nem tempo de sentir saudades de algumas épocas em que a música existia fisicamente. Carrego sons no meu celular e me mando pra rua. Às vezes me bate uma sensação esquisita, de que se eu tivesse trocado a mulher que sempre amei por outra alardeada por aí como mais perfeita: sem reclamações no ouvido, sem cobranças, sem oscilações de humor... e também sem emoções marcantes e duradouras.

quarta-feira, junho 11, 2008

Tocando em casa




“Nos falaram que tocaríamos para loucos. Mas vocês são absolutamente normais para nós”. Foi com esta manifestação de sinceridade que o vocalista Lux Interior saudou o público presente no show de 1978 que gerou o vídeo “The Cramps: Live At Napa State Mental Hospital”, lançado originalmente em VHS nos anos 80, e que ganhou uma reedição em DVD há alguns anos atrás. Sim, trata-se de um show de uma banda historicamente demente, para uma platéia de doidos legítimos e clinicamente internados! Que o The Cramps nunca tenha batido bem das idéias, isto todo mundo que acompanha a carreira da banda do casal Poison Ivy (guitarra) e Lux Interior já sabia. Porém, quando li há uns 16 anos atrás numa reportagem sobre a existência deste vídeo, bateu uma curiosidade de ter isso em casa. Graças à nossa querida internet, este atestado de insanidade mental encontra-se ao alcance de todos através de um simples download!



O vídeo é tosquíssimo! Filmado em preto-e-branco, com não mais que duas câmeras e com o áudio captado da forma mais primitiva, “Live At Napa State Mental Hospital” é, talvez, um dos registros mais honestos de uma banda de rock and roll em todos os tempos. Aqui não há frescura: o baterista Nick Knox toca com o bumbo furado (vide foto no início do post) o tempo inteiro. Os internos do hospital psiquiátrico passeiam pelo palco, dançam cada um no seu mundo, agarram e tentam bater (!) no vocalista Lux Interior. Nos cantos do palco, a esposa de Lux, Poison Ivy, e o outro guitarrista, Brian Gregory - eles ficaram sem baixista até 1986 - disparam riffs seminais de seu alucinado psychobilly na mais absoluta indiferença, mascando chiclete e acendendo um cigarro de vez em quando. A propósito, o vídeo é um raro registro do que considera-se a formação clássica do Cramps. Inclusive, Gregory ficou famoso por ser o único membro da banda que lidava realmente com magia negra, e que havia simplesmente sumido da face da terra sem deixar rastro, em meio a uma turnê do grupo.

Como dá para perceber ao longo do show, é gente bizarra tocando para indivíduos devidamente diagnosticados como loucos! Porém, mesmo com todo o jogo cênico do quarteto (objeto de desejo de toda banda indie metida a agitar no palco, diga-se), percebe-se que a loucura dos Cramps fica, até certo ponto, intimidada diante de tantos seres humanos de mente verdadeiramente seqüelada reunidos num só local. Em certo momento, Lux Interior puxa ao palco um senhor negro que dançava à sua frente. Porém, o que aquele interno do hospício queria mesmo era ficar no seu canto, e por isso volta rapidinho ao seu local de origem. Os doentes mentais do Napa State Mental Hospital estavam curtindo, mas preferiam que ninguém lhes guiasse para nada, aproveitando um raro momento de liberdade. Se for baixar este troço, saiba que isso aqui é coisa de louco mesmo!

Baixe aqui o vídeo pelo Torrent

terça-feira, maio 06, 2008

2008 JÁ COMEÇOU…

…e só o Kalunga aqui é que demorou para acordar. Talvez seja o efeito de um verão que nunca acaba, esse calor dos infernos. Enfim, mãos à obra!

Hype que cumpre expectativa... ou não?



O Does It Offend You, Yeah? lançou o melhor disco de electro-indie-rock (ou new rave, se preferir) de 2008. Ponto. Não há o que se discutir sobre esta afirmação acerca do excelente álbum de estréia destes ingleses amalucados. Portanto, que venha toda a aura hype em torno deles, muita babação de “a melhor banda de todos os tempos da semana passada”, para depois virarem pó, iguais a vampiros que se arriscam sair à luz do dia? Vamos com calma, ouçam o disquinho bacana que é “You Have No Idea What You’re...” e se deleitem com o que muitos grupos novos prometeram e não cumpriram. As três primeiras faixas, “Battle Royale”, “With a Heavy Heart (I Regret To Inform You)” e “We Are Rockstars” são tudo aquilo que se espera de uma boa safra musical atual, com sintetizadores rascantes fazendo-se de guitarras, som de baixo matador, vocais, letras e título das músicas, hum..., provocadores. Estas três faixas, isoladas, compõem um panorama electro-rock de primeira, e que finalmente promovem uma mistura musical dançante e com um peso de verdade e sem frescuras. Logo a seguir, os caras querem mostrar que sabem produzir boas melodias, com “Dawn of Dead”, um belo indie rock de traços oitentistas. A dança volta com “Doomed”, com linha de baixo post-punk, batida new wave e um vocoder ao melhor estilo Daft Punk. “Attack of The 60 ft Lesbian Octopus” é uma faixa divertida, curta e engraçadinha, que parece ter jogado The B-52’s e Devo num liquidificador lotado de anfetaminas. A aura Daft Punk volta em “Weird Science”, um filhote bastardo da já clássica “Robot Rock”. Delírios pós-adolescentes encarnados em doces melodias farão a alegria daqueles indies de franja na cara (e estacionados na tênue linha que os separa dos emos...) nas belas “Being Bad Feels Pretty Good” (algo como um Cure fase “Head on The Door” com mixagem decente) e “Epic Last Song” (um caldeirão com todas as bandas alternativas levemente tristonhas dos anos 2000). Mas ficou faltando uma faixa, justamente a melhor! Pois é aí que reside o problema, e o péla-saco aqui não deixaria de expor. “Let’s Make Out” foi a música que me fez correr atrás deste disco, tendo em vista que ela saíra antes numa das coletâneas da Kitsuné. É ali que os meninos entraram numa saia justa danada, e sabem o porquê? Pelo simples fato dela jogar boa parte deste disco de estréia no ralo (com exceção das citadas três primeiras músicas). E a dita cuja ainda conta com os vocais ensandecidos de um convidado (Sebastien Grainger, do Death From Above 1979 – por sinal, influência notória no som do Does It Offend You, Yeah?)! É o famoso caso de single fantástico que cria tamanha expectativa que, quando o disco inteiro sai, a frustração fica latente. Tive de ouvir “You Have No Idea...” umas oito vezes para sacar que, sim, a banda é boa. Mas, no mundo rarefeito dos hypes pós-modernistas, ao invés de lascar um 10 com louvor, vou da uma nota 8 porque está mais do que justo.

Aquilo de sempre



O bendito blogg que hospedou (não me pergunte qual, pois não guardei o link) o passe-livre para baixar “Velocifero” o categorizou com uma simples frase: “aquilo de sempre”. Pois bem, tenho de concordar com nosso parceiro bloggueiro, pois o disco novo do Ladytron não vai muito além do que eles - e elas - produziram até agora. Trata-se de um electro-rock (nada de new rave, apesar do rótulo comum) de tintas sombrias com vocais femininos doces e etéreos. Algo como o que seria um Cocteau Twins produzido pelo DJ Hell. Passado o furacão do electro-clash, de onde o Ladytron surgiu, permaneceu um grupo de boas canções e mais voltado para pistas góticas do que às luzes de néon piscando. Dito isso, é sempre bom ouvir músicas de boa qualidade, como “Black Car” (algo como um electro-rock denso e de ritmo tribal), “Ghosts” (uma espécie de blues eletrônico épico a lá Depeche Mode), “I’m Not Scared” (a melhor do disco, na minha opinião: com ritmo mais acelerado, lembra as faixas mais eletrônicas de “Automatic”, clássico do Jesus and Mary Chain), “Runaway” (batida oitentista e uma belíssima melodia), “Predict The Day” (a brutalidade do Laibach encontrando-se com garotas delicadas - ou um Kraftwerk versão Hello Kitty…) e “Deep Blue” (lembra os momentos mais atmosféricos do New Order). Tudo muito bem produzido e perfeitamente audível. Porém, nada que vá mudar sua vida ou que promova arroubos emocionais. Aquilo de sempre


Vampiros desencarnados



Seres das trevas, louvai! Direto das tumbas, ressurge o vampiro-mor: o Bauhaus está de volta! Trata-se do retorno às músicas inéditas do maior ícone do rock gótico de todos os tempos - tem o Sisters of Mercy também, mas o Andrew Eldritch insiste em enganar otários promovendo turnês com versões irreconhecíveis de seus clássicos sem lançar nada de novo há quase 20 anos… Não é pouca coisa, mas alguns fãs mais ardorosos (e que parecem presos numa tumba empoeirada dos anos 80) poderão levar alguns sustos com o recém lançado “Go Away White”. Os calafrios da turma fantasmagórica de Peter Murphy não serão provocados pelas belezuras góticas - até certo ponto, previsíveis - de “Endless Summer of the Damned”, “Mirror Remains” (as clássicas guitarras climáticas de Daniel Ash e o baixo dub de David J fazendo a cama para a interpretação expressionista de Murphy), “Saved” (bela – ou seria horrenda? – balada de letra supostamente inspirada nas viagens islâmicas do vocalista), e também nas gélidas e cadavéricas “The Dog’s a Vapour” e “Zikir”. Os fãs congelados nas catacumbas pós-punks vão mesmo pedir uma água-benta por causa do rockão a lá Stooges de “Adrenalin”, o pique hard/glam rock de “International Bulletproof Talent” – lembrem-se de que os caras sempre curtiram a fase purpurina do rock and roll, vide covers de Bowie e T-Rex - ou mesmo a faixa de abertura, “Too Much 21st Century” que, ao meu ver, possui uma clara inspiração Beatle! Sendo sincero, trata-se de um bom disco que honra o glorioso passado destes ingleses de características únicas. Dada a esmagadora maioria dos comebacks em ritmo de cover de si próprios, o espectro soturno do Bauhaus está mais (morto)vivo do que nunca.


Remix caô



Os terroristas alemães do KMFDM lançam o mesmo disco todo ano. É incrível a constância suas produções, assim como também é notável que, ao repetirem uma fórmula já consagrada há vinte anos, mantêm a qualidade de sua divertidíssima mistura de thrash metal com industrial, temperados com vocais femininos ultrapop e as mesmíssimas capas dos discos com temática HQ. “Tohuvabohu”, lançado ano passado, cumpre muitíssimo bem as expectativas de quem gosta da banda, porém sem grandes inovações. Eis que surge o disco de remixes do dito cujo, “Brimborium”. Eis também que paira uma nuvem de caô no céu da banda: pra quê gastar um álbum inteiro para promover remixagens que, obviamente, não são melhores que as versões originais? E o pior: qual seria a razão de lançar um disco com remixes tão idênticos à proposta original da banda? O início, com a versão arrasadora do Combichrist (a melhor banda de EBM da atualidade, disparado!) para “Tohuvabohu”, traz boas expectativas. Mas o restante do disco é auto-referente e, por isso, redundante. O mesmo problema que inferiu o Ministry, em “Rio Grand Blood” (e o mesmo para “Cocktail Mixxx”, do Revolting Cocks) que lançou versões com batidas e guitarras em ordem alterada que pouco diferiam das originais, sendo que a maioria foi produzida pelo próprio líder e membro-único da banda! O KMFDM cai nesta roubada, pois chamar remixadores de propostas musicais semelhantes não iria acrescentar em nada na discografia da banda. Acabaram chafurdando no clássico mais do mesmo. E, ainda por cima, não se deram ao trabalho ao menos de remixarem a hilária “Los Niños Del Parque”, melhor faixa de “Tohuvabohu”.


Remix inovador



Um bom caso contrário à situação do lançamento recente do KMFDM foi promovido pelo Nine Inch Nails no excepcional “Y34RZ3R0R3M1X3D”, o disco de remixes de “Year Zero”, de 2007. Ouçam as versões, por exemplo, de Ladytron (fez de “The Begining of the End” um synthpop alucinante), o casal do New Order Stephen Morris & Gillian Gilbert (“God Given” – EBM em versão moderna, e “Zero Sum”, um electro ambient viajante), The Faint (trouxe “Meet Your Master” de volta à época de “Pretty Hate Machine – primeiro disco do NIN – porém com timbres electro atuais) e Pirate Robot Midget (um electro travadão e pesado em “My Violent Heart”). Fora que o mesmo disco de remixes possui versões que vão do rap ao dub, passando até pelo minimal techno! E o Trent Reznor ainda teve a manha de lançar um DVD com todas as faixas de áudio separadas para que qualquer um produzisse seus remixes (tudo bem que o Public Enemy já havia feito coisa parecida cinco anos antes, no que resultou em “Revolverlution”). Remix pra mim é isso: re-interpretações de algo já eternizado, goste-se ou não do resultado final do que fora modificado.


O bom e velho novo rock



Ainda há mais espaço neste post para uma descoberta tardia: os canadenses do We Are Wolves. Êita bandinha divertida, essa, hein? O disquinho de duração curta (nem meia hora) “Total Magique”, lançado ano passado, desce bem igual a um bom wisky single malt. Jogado no saco de gatos em que se misturam bandas electro-rock diversas, o We Are Wolves vai além deste rótulo. É como se o White Stripes encontrasse com sons eletrônicos provindos de um sintetizador estragado. É divertido pacas, algo como uma trilha sonora perfeita para jogar Enduro, do Atari. Sim, o clima é retrô, mas citando diferentes décadas.O sintetizador dos caras ora emula um acid house barulhento, ora incorpora um Jon Lord (Deep Purple) básico. E ainda tem um baixão sujo e pesado e uma bateria nervosa, que se revesa com beats programados de maneira discreta. Enfim, diversão garantida ou o seu dinheiro de volta. Como se alguém ainda comprasse discos que não sejam em sebos…

quarta-feira, março 12, 2008

Senhores do Crime



Definitivamente David Cronenberg merece estar entre os grandes e imortais do cinema mundial após seus dois últimos filmes, “Marcas da Violência” e o recente “Senhores do Crime”. O cineasta canadense tem explorado histórias de densa profundidade sem perder suas características que o acompanham desde suas primeiras produções (“Scanners” e “Videodrome”) realmente conhecidas de algo próximo do grande público. A escatologia e a violência extrema, com imagens cruas, despidas de alegorias audiovisuais, estão lá, quase como clichês de seu estilo cinematográfico. Porém, a película mais recente, que assisti ontem (terça-feira, 11/03), é um estado de arte bruta, seca e com um surpreendente pendor positivo.

O filme retrata um universo frio, primitivo e sombrio numa Londres atual de tons cinzentos, úmidos e avermelhados, com total ausência de trilha sonora que não seja das interpretações intensas, porém comedidas. É neste cenário que residem integrantes de uma máfia russa extremamente cruel e paternalista, porém com pouco ou nada a ver com o que se espera de filmes de gângsters que se vêem por aí. Não vou dizer aqui maiores detalhes sobre a sinopse do filme, a não ser que Cronenberg tenha repetido a parceria com o excelente ator Viggo Mortensen, só que desta vez invertendo os papéis do filme anterior (“Marcas da Violência”), com um homem supostamente mau que se revela um bom coração.

Sem pieguismos. A cena de luta, facadas e mutilações numa sauna de banho turco é tão antológica quanto perturbadora: um homem completamente nu tentando se defender de capangas vingativos portando armas brancas (não se ouve um tiro no filme!), sobrando sangue e detalhismos que impressionam e incomodam na mesma proporção. Trata-se de um paralelo, ao meu ver, com uma das primeiras cenas do filme, o nascimento de uma criança banhada em sangue, totalmente desamparada e indefesa, lutando pela vida em torno de tanta crueldade em nome de negócios escusos. É neste ponto que eu quero tocar: David Cronenberg sempre primou por um invariável pessimismo em suas produções. Porém, “Senhores do Crime” confronta morte com nascimento numa mesma proporção, resultando numa peça de humanismo belíssima, ainda que envolta em selvageria. Cronenberg fez uma homenagem à vida em meio ao caos e à violência de uma forma única, com interpretações soberbas sem grandes exageros. Trata-se de um tipo de cinema de primeira grandeza. Tão cruel quanto a degola com uma navalha cega no início do filme. Tão belo quanto na manifestação à vida ao final de tudo.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

SUMMER HITS 2008

O título aí acima não se trata daquelas coletâneas chumbregas de dance-hits de aeróbica que o mala do Luciano Huck anuncia em seu programa. Trata-se de uma singela trilha sonora com alguns sons – a maioria bem recente - para amenizar o calor deste verão que parece se iniciar somente agora em fevereiro, quando todo mundo que tirou férias (não foi o meu caso...) em janeiro levou chuva na cabeça e até correu o risco de levar um raio na telha (foi o meu caso...). Eu fiz a minha trilha. E você?


Miss Kittin

Vamos começar o som do verão numa caixa de morcegos. Bem apropriado para vampiros que viram pó quando se expõem ao sol... “Bat Box”, recém-lançamento da musa do electroclash Miss Kittin, é um discaço! É electro dos bons, com timbres de sintetizador pesados e que lembram muito a EBM dos anos 80, porém com uma produção sofisticada e ao mesmo tempo minimalista – tudo o que não era o electroclash quando do surgimento do hype em torno de si, lá por 2001. Há tanto momentos “pista” quanto entre quatro paredes, se é que você me entende. A francesa Miss Kittin é a rainha deste troço aí, não há o que se discutir. Sua voz é o cálice sagrado do que os produtores de electro buscam para dar aquele ar, digamos, mais lascivo numa pista de dança. Porém, quando esta menina resolve mandar uns vocais entre o gótico e o etéreo no meio do batidão (ouça “Pollution of the Mind”!), a concorrência fica mais perdida do que bêbado farofeiro no meio de uma praia lotada.

Mais francês na área! Não estamos na Riviera, e o casal Danny Mommens e Elys Pynoo, mais conhecido como Vive La Fête, apesar de belga, canta na língua pátria do Zidane e inspira chamapagne à beira-mar após uma noitada daquelas. Na verdade, nunca achei o som deles lá essas coisas, pois mais sugeria um hype do que algo com mais consistência. Mas seu último disco, “Jour de Chance”, é muito legal. A banda está mais rock, com as guitarras aparecendo com mais freqüência, e as batidas estão mais aceleradas. Lembra uma espécie de Siouxie and the Banshees tocando num desfile de moda (se isso é possível), sei lá. É diversão garantida.

Do champagne ao bourbon. “Subhuman” seria uma perfeita trilha sonora de um final de tarde meio tempestuoso de um verão meio apocalíptico (cruz-credo!). Trata-se da volta do projeto Recoil, capitaneado por Alan Wilder, ex-Depeche Mode, que já lançou outros quatro álbuns excelentes, onde praticava uma mistura de sua ex-banda com nuances sombrias (notadamente o trip-hop e o darkwave) alternado vocais femininos sensuais e soul com vozes góticas (Douglas McArthy, do Nitzer Ebb, era colaborador constante), além de enxertar algumas influências de jazz e blues. Pois é justamente o blues que dá o tom em “Subhuman”, que conta com a predominância dos vocais, guitarras e letras do soturno bluesman texano Joe Richardson, que parecem ter saído lá dos tempos de Robert Johnson. As faixas com vozes feminas sensuais - à cargo de Carla Trevaskis neste disco - desta vez são apenas suas coadjuvantes. Imagine uma banda jazz/blues de New Orleans tocando com um maquinário eletrônico pesado ao fundo e com tudo lotado de efeitos psicodélicos. Sensacional é pouco. Ouça a mistura sonora fascinante que faixas como “Killing Ground” e “Backslider” produzem e se imagine à beira-mar vendo o sol se ponto com belíssimos trovões ao fundo.


Gein and The Gravehobbers

Vamos à praia pegar umas ondas – ou levar umas na cabeça e sair arrotando água salgada e com a cueca lotada de areia. Gein and The Graverobbers é uma divertidíssima banda que provavelmente tocaria no Campeonato de Caixotes do verão do programa Hermes & Renato. O Gein (referência ao serial killer Ed Gein, que inspirou, entre outras coisas, a trama do filme “O Massacre da Serra Elétrica”, de Tobe Hoper) e sua turma de lunáticos praticam uma surf music instrumental calcada na mistura entre The Trashmen, Misfits e The Cramps, junto de ambiências sonoras sombrias e alguns momentos de mariachi (a lá “Um Drink no Inferno”). Não tem nada de novo aqui, mas é divertido pacas. Bom para pegar onda num pranchão velho remando com uma mão e a outra segurando uma latinha de cerveja.

Agora é hora de pegar a estrada e seguir para alguma praia mais bacana neste verão. Bote “Sucking The 70’s: Back In The Saddle Again” bombando nos altos falantes e pé na estrada! Trata-se de uma coletânea muito foda de algumas das melhores bandas de stoner rock atuais pagando tributo a diversos clássicos dos anos 70 – nada mais apropriado para esta cambada de ‘sugadores’. De Led Zeppelin a AC/DC, de Rainbow a Neil Young, gente bacana como Alabama Thunderpussy, Fireball Ministry, Raging Slab e Orange Goblin mandando bala em versões tanto de canções consagradas quanto de faixas menos óbvias. Agora as cartas foram jogadas na mesa: se alguém ainda ouvia bandas de stoner achando que se tratava de algo novo, vai perceber que o som delas é véio pacas! Vamos acelerando para alguma praia isolada da Bahia pela BR-101 lotada de buracos e calor desértico com o som deste disco no talo.

Aí, você pára num posto fuleiro na beira da estrada, negocia com o dono do boteco algumas substâncias ilícitas (se estamos na Bahia, já viu...) e dá de cara com uma plaquinha dizendo que é proibido vender bebidas alcoólicas nas rodovias federais. Caia na real, meu chapa: você não está na Route 66 e sim no brazuca! Se for o teu caso, pede para encher uma garrafinha de gasolina mesmo e entra no carro apertando o play em “4-Way Diablo”, novo petardo dos veteranos stoners do Monster Magnet. A banda liderada pelo malucão David Wyndorf (que quase bateu as botas numa overdose em 2006) ficou devendo no último disco (“Monolithic Baby”), um tanto levinho e pop demais. Mas a onda deste cara sempre foi mais sofisticada mesmo, na seara do stoner rock, desde o clássico “Powertrip” (o melhor, na minha humilde opinião). Pois o disco novo põe as coisas nos eixos com faixas envenenadas e também experimentais, beirando o pop. A estrada é ruim, mal asfaltada, cheia de buracos e lotada de policiais rodoviários te dando dura, mas o som do Monster Magnet inspira viagens on the road pra lá de intensas e lisérgicas, só que como o auxílio luxuoso de um ar condicionado.

Estamos chegando à praia! Parece bacana, água verdinha (só na Bahia mesmo, pois aqui no ES é tão difícil sair da cor barrenta do oceano...), uns hippies vendendo aquelas bugigangas típicas... aí você salta do carro e vai em direção a um zumbido sonoro que parece ser bacana. Chegando numa casinha, dá de cara com um pessoal magrela de roupas coloridas dançando ao som de bandas de rock misturadas com eletrônica. Indies na praia?! Este verão realmente está esquisito! Deve ser a gasolina ingerida na estrada ao som do Monster Magnet... Pois bem, o som que sai das caixas é o da 5ª edição da coletânea da gravadora francesa “Kitsune Maison”, ponta de lança no que diz respeito aos lançamentos do hype da vez: a tal da new rave. Assim como foi no electroclash há uns seis anos, ainda há muita gente batendo cabeça para se chegar a um resultado amplamente satisfatório. Sobram vocais afetados por cima de bases simplórias e linhas de baixo monocórdicas. Porém, sempre há o que se pescar nestas coletâneas. Particularmente escolhi um grupo ali que se destaca absurdamente dos demais: Does It Offend You, Yeah?. Batida reta electro-rock de primeira, vocais abusados, synths rascantes e uma disposição fora do comum em fazer algo bem feito e acima da média.

A festa na casinha indie parecia estar boa, mas agora eu quero mesmo é pegar um sol ao som de Jack Johnson naquela vibe gostosa, relaxando, para depois jogar um frescobol...

Jack Johnson?!

Frescobol?!

Não, isto é um delírio...

Deve ser outro blogg se infiltrando aqui.

Que verão esquisito...