terça-feira, maio 06, 2008

2008 JÁ COMEÇOU…

…e só o Kalunga aqui é que demorou para acordar. Talvez seja o efeito de um verão que nunca acaba, esse calor dos infernos. Enfim, mãos à obra!

Hype que cumpre expectativa... ou não?



O Does It Offend You, Yeah? lançou o melhor disco de electro-indie-rock (ou new rave, se preferir) de 2008. Ponto. Não há o que se discutir sobre esta afirmação acerca do excelente álbum de estréia destes ingleses amalucados. Portanto, que venha toda a aura hype em torno deles, muita babação de “a melhor banda de todos os tempos da semana passada”, para depois virarem pó, iguais a vampiros que se arriscam sair à luz do dia? Vamos com calma, ouçam o disquinho bacana que é “You Have No Idea What You’re...” e se deleitem com o que muitos grupos novos prometeram e não cumpriram. As três primeiras faixas, “Battle Royale”, “With a Heavy Heart (I Regret To Inform You)” e “We Are Rockstars” são tudo aquilo que se espera de uma boa safra musical atual, com sintetizadores rascantes fazendo-se de guitarras, som de baixo matador, vocais, letras e título das músicas, hum..., provocadores. Estas três faixas, isoladas, compõem um panorama electro-rock de primeira, e que finalmente promovem uma mistura musical dançante e com um peso de verdade e sem frescuras. Logo a seguir, os caras querem mostrar que sabem produzir boas melodias, com “Dawn of Dead”, um belo indie rock de traços oitentistas. A dança volta com “Doomed”, com linha de baixo post-punk, batida new wave e um vocoder ao melhor estilo Daft Punk. “Attack of The 60 ft Lesbian Octopus” é uma faixa divertida, curta e engraçadinha, que parece ter jogado The B-52’s e Devo num liquidificador lotado de anfetaminas. A aura Daft Punk volta em “Weird Science”, um filhote bastardo da já clássica “Robot Rock”. Delírios pós-adolescentes encarnados em doces melodias farão a alegria daqueles indies de franja na cara (e estacionados na tênue linha que os separa dos emos...) nas belas “Being Bad Feels Pretty Good” (algo como um Cure fase “Head on The Door” com mixagem decente) e “Epic Last Song” (um caldeirão com todas as bandas alternativas levemente tristonhas dos anos 2000). Mas ficou faltando uma faixa, justamente a melhor! Pois é aí que reside o problema, e o péla-saco aqui não deixaria de expor. “Let’s Make Out” foi a música que me fez correr atrás deste disco, tendo em vista que ela saíra antes numa das coletâneas da Kitsuné. É ali que os meninos entraram numa saia justa danada, e sabem o porquê? Pelo simples fato dela jogar boa parte deste disco de estréia no ralo (com exceção das citadas três primeiras músicas). E a dita cuja ainda conta com os vocais ensandecidos de um convidado (Sebastien Grainger, do Death From Above 1979 – por sinal, influência notória no som do Does It Offend You, Yeah?)! É o famoso caso de single fantástico que cria tamanha expectativa que, quando o disco inteiro sai, a frustração fica latente. Tive de ouvir “You Have No Idea...” umas oito vezes para sacar que, sim, a banda é boa. Mas, no mundo rarefeito dos hypes pós-modernistas, ao invés de lascar um 10 com louvor, vou da uma nota 8 porque está mais do que justo.

Aquilo de sempre



O bendito blogg que hospedou (não me pergunte qual, pois não guardei o link) o passe-livre para baixar “Velocifero” o categorizou com uma simples frase: “aquilo de sempre”. Pois bem, tenho de concordar com nosso parceiro bloggueiro, pois o disco novo do Ladytron não vai muito além do que eles - e elas - produziram até agora. Trata-se de um electro-rock (nada de new rave, apesar do rótulo comum) de tintas sombrias com vocais femininos doces e etéreos. Algo como o que seria um Cocteau Twins produzido pelo DJ Hell. Passado o furacão do electro-clash, de onde o Ladytron surgiu, permaneceu um grupo de boas canções e mais voltado para pistas góticas do que às luzes de néon piscando. Dito isso, é sempre bom ouvir músicas de boa qualidade, como “Black Car” (algo como um electro-rock denso e de ritmo tribal), “Ghosts” (uma espécie de blues eletrônico épico a lá Depeche Mode), “I’m Not Scared” (a melhor do disco, na minha opinião: com ritmo mais acelerado, lembra as faixas mais eletrônicas de “Automatic”, clássico do Jesus and Mary Chain), “Runaway” (batida oitentista e uma belíssima melodia), “Predict The Day” (a brutalidade do Laibach encontrando-se com garotas delicadas - ou um Kraftwerk versão Hello Kitty…) e “Deep Blue” (lembra os momentos mais atmosféricos do New Order). Tudo muito bem produzido e perfeitamente audível. Porém, nada que vá mudar sua vida ou que promova arroubos emocionais. Aquilo de sempre


Vampiros desencarnados



Seres das trevas, louvai! Direto das tumbas, ressurge o vampiro-mor: o Bauhaus está de volta! Trata-se do retorno às músicas inéditas do maior ícone do rock gótico de todos os tempos - tem o Sisters of Mercy também, mas o Andrew Eldritch insiste em enganar otários promovendo turnês com versões irreconhecíveis de seus clássicos sem lançar nada de novo há quase 20 anos… Não é pouca coisa, mas alguns fãs mais ardorosos (e que parecem presos numa tumba empoeirada dos anos 80) poderão levar alguns sustos com o recém lançado “Go Away White”. Os calafrios da turma fantasmagórica de Peter Murphy não serão provocados pelas belezuras góticas - até certo ponto, previsíveis - de “Endless Summer of the Damned”, “Mirror Remains” (as clássicas guitarras climáticas de Daniel Ash e o baixo dub de David J fazendo a cama para a interpretação expressionista de Murphy), “Saved” (bela – ou seria horrenda? – balada de letra supostamente inspirada nas viagens islâmicas do vocalista), e também nas gélidas e cadavéricas “The Dog’s a Vapour” e “Zikir”. Os fãs congelados nas catacumbas pós-punks vão mesmo pedir uma água-benta por causa do rockão a lá Stooges de “Adrenalin”, o pique hard/glam rock de “International Bulletproof Talent” – lembrem-se de que os caras sempre curtiram a fase purpurina do rock and roll, vide covers de Bowie e T-Rex - ou mesmo a faixa de abertura, “Too Much 21st Century” que, ao meu ver, possui uma clara inspiração Beatle! Sendo sincero, trata-se de um bom disco que honra o glorioso passado destes ingleses de características únicas. Dada a esmagadora maioria dos comebacks em ritmo de cover de si próprios, o espectro soturno do Bauhaus está mais (morto)vivo do que nunca.


Remix caô



Os terroristas alemães do KMFDM lançam o mesmo disco todo ano. É incrível a constância suas produções, assim como também é notável que, ao repetirem uma fórmula já consagrada há vinte anos, mantêm a qualidade de sua divertidíssima mistura de thrash metal com industrial, temperados com vocais femininos ultrapop e as mesmíssimas capas dos discos com temática HQ. “Tohuvabohu”, lançado ano passado, cumpre muitíssimo bem as expectativas de quem gosta da banda, porém sem grandes inovações. Eis que surge o disco de remixes do dito cujo, “Brimborium”. Eis também que paira uma nuvem de caô no céu da banda: pra quê gastar um álbum inteiro para promover remixagens que, obviamente, não são melhores que as versões originais? E o pior: qual seria a razão de lançar um disco com remixes tão idênticos à proposta original da banda? O início, com a versão arrasadora do Combichrist (a melhor banda de EBM da atualidade, disparado!) para “Tohuvabohu”, traz boas expectativas. Mas o restante do disco é auto-referente e, por isso, redundante. O mesmo problema que inferiu o Ministry, em “Rio Grand Blood” (e o mesmo para “Cocktail Mixxx”, do Revolting Cocks) que lançou versões com batidas e guitarras em ordem alterada que pouco diferiam das originais, sendo que a maioria foi produzida pelo próprio líder e membro-único da banda! O KMFDM cai nesta roubada, pois chamar remixadores de propostas musicais semelhantes não iria acrescentar em nada na discografia da banda. Acabaram chafurdando no clássico mais do mesmo. E, ainda por cima, não se deram ao trabalho ao menos de remixarem a hilária “Los Niños Del Parque”, melhor faixa de “Tohuvabohu”.


Remix inovador



Um bom caso contrário à situação do lançamento recente do KMFDM foi promovido pelo Nine Inch Nails no excepcional “Y34RZ3R0R3M1X3D”, o disco de remixes de “Year Zero”, de 2007. Ouçam as versões, por exemplo, de Ladytron (fez de “The Begining of the End” um synthpop alucinante), o casal do New Order Stephen Morris & Gillian Gilbert (“God Given” – EBM em versão moderna, e “Zero Sum”, um electro ambient viajante), The Faint (trouxe “Meet Your Master” de volta à época de “Pretty Hate Machine – primeiro disco do NIN – porém com timbres electro atuais) e Pirate Robot Midget (um electro travadão e pesado em “My Violent Heart”). Fora que o mesmo disco de remixes possui versões que vão do rap ao dub, passando até pelo minimal techno! E o Trent Reznor ainda teve a manha de lançar um DVD com todas as faixas de áudio separadas para que qualquer um produzisse seus remixes (tudo bem que o Public Enemy já havia feito coisa parecida cinco anos antes, no que resultou em “Revolverlution”). Remix pra mim é isso: re-interpretações de algo já eternizado, goste-se ou não do resultado final do que fora modificado.


O bom e velho novo rock



Ainda há mais espaço neste post para uma descoberta tardia: os canadenses do We Are Wolves. Êita bandinha divertida, essa, hein? O disquinho de duração curta (nem meia hora) “Total Magique”, lançado ano passado, desce bem igual a um bom wisky single malt. Jogado no saco de gatos em que se misturam bandas electro-rock diversas, o We Are Wolves vai além deste rótulo. É como se o White Stripes encontrasse com sons eletrônicos provindos de um sintetizador estragado. É divertido pacas, algo como uma trilha sonora perfeita para jogar Enduro, do Atari. Sim, o clima é retrô, mas citando diferentes décadas.O sintetizador dos caras ora emula um acid house barulhento, ora incorpora um Jon Lord (Deep Purple) básico. E ainda tem um baixão sujo e pesado e uma bateria nervosa, que se revesa com beats programados de maneira discreta. Enfim, diversão garantida ou o seu dinheiro de volta. Como se alguém ainda comprasse discos que não sejam em sebos…