sexta-feira, fevereiro 15, 2008

SUMMER HITS 2008

O título aí acima não se trata daquelas coletâneas chumbregas de dance-hits de aeróbica que o mala do Luciano Huck anuncia em seu programa. Trata-se de uma singela trilha sonora com alguns sons – a maioria bem recente - para amenizar o calor deste verão que parece se iniciar somente agora em fevereiro, quando todo mundo que tirou férias (não foi o meu caso...) em janeiro levou chuva na cabeça e até correu o risco de levar um raio na telha (foi o meu caso...). Eu fiz a minha trilha. E você?


Miss Kittin

Vamos começar o som do verão numa caixa de morcegos. Bem apropriado para vampiros que viram pó quando se expõem ao sol... “Bat Box”, recém-lançamento da musa do electroclash Miss Kittin, é um discaço! É electro dos bons, com timbres de sintetizador pesados e que lembram muito a EBM dos anos 80, porém com uma produção sofisticada e ao mesmo tempo minimalista – tudo o que não era o electroclash quando do surgimento do hype em torno de si, lá por 2001. Há tanto momentos “pista” quanto entre quatro paredes, se é que você me entende. A francesa Miss Kittin é a rainha deste troço aí, não há o que se discutir. Sua voz é o cálice sagrado do que os produtores de electro buscam para dar aquele ar, digamos, mais lascivo numa pista de dança. Porém, quando esta menina resolve mandar uns vocais entre o gótico e o etéreo no meio do batidão (ouça “Pollution of the Mind”!), a concorrência fica mais perdida do que bêbado farofeiro no meio de uma praia lotada.

Mais francês na área! Não estamos na Riviera, e o casal Danny Mommens e Elys Pynoo, mais conhecido como Vive La Fête, apesar de belga, canta na língua pátria do Zidane e inspira chamapagne à beira-mar após uma noitada daquelas. Na verdade, nunca achei o som deles lá essas coisas, pois mais sugeria um hype do que algo com mais consistência. Mas seu último disco, “Jour de Chance”, é muito legal. A banda está mais rock, com as guitarras aparecendo com mais freqüência, e as batidas estão mais aceleradas. Lembra uma espécie de Siouxie and the Banshees tocando num desfile de moda (se isso é possível), sei lá. É diversão garantida.

Do champagne ao bourbon. “Subhuman” seria uma perfeita trilha sonora de um final de tarde meio tempestuoso de um verão meio apocalíptico (cruz-credo!). Trata-se da volta do projeto Recoil, capitaneado por Alan Wilder, ex-Depeche Mode, que já lançou outros quatro álbuns excelentes, onde praticava uma mistura de sua ex-banda com nuances sombrias (notadamente o trip-hop e o darkwave) alternado vocais femininos sensuais e soul com vozes góticas (Douglas McArthy, do Nitzer Ebb, era colaborador constante), além de enxertar algumas influências de jazz e blues. Pois é justamente o blues que dá o tom em “Subhuman”, que conta com a predominância dos vocais, guitarras e letras do soturno bluesman texano Joe Richardson, que parecem ter saído lá dos tempos de Robert Johnson. As faixas com vozes feminas sensuais - à cargo de Carla Trevaskis neste disco - desta vez são apenas suas coadjuvantes. Imagine uma banda jazz/blues de New Orleans tocando com um maquinário eletrônico pesado ao fundo e com tudo lotado de efeitos psicodélicos. Sensacional é pouco. Ouça a mistura sonora fascinante que faixas como “Killing Ground” e “Backslider” produzem e se imagine à beira-mar vendo o sol se ponto com belíssimos trovões ao fundo.


Gein and The Gravehobbers

Vamos à praia pegar umas ondas – ou levar umas na cabeça e sair arrotando água salgada e com a cueca lotada de areia. Gein and The Graverobbers é uma divertidíssima banda que provavelmente tocaria no Campeonato de Caixotes do verão do programa Hermes & Renato. O Gein (referência ao serial killer Ed Gein, que inspirou, entre outras coisas, a trama do filme “O Massacre da Serra Elétrica”, de Tobe Hoper) e sua turma de lunáticos praticam uma surf music instrumental calcada na mistura entre The Trashmen, Misfits e The Cramps, junto de ambiências sonoras sombrias e alguns momentos de mariachi (a lá “Um Drink no Inferno”). Não tem nada de novo aqui, mas é divertido pacas. Bom para pegar onda num pranchão velho remando com uma mão e a outra segurando uma latinha de cerveja.

Agora é hora de pegar a estrada e seguir para alguma praia mais bacana neste verão. Bote “Sucking The 70’s: Back In The Saddle Again” bombando nos altos falantes e pé na estrada! Trata-se de uma coletânea muito foda de algumas das melhores bandas de stoner rock atuais pagando tributo a diversos clássicos dos anos 70 – nada mais apropriado para esta cambada de ‘sugadores’. De Led Zeppelin a AC/DC, de Rainbow a Neil Young, gente bacana como Alabama Thunderpussy, Fireball Ministry, Raging Slab e Orange Goblin mandando bala em versões tanto de canções consagradas quanto de faixas menos óbvias. Agora as cartas foram jogadas na mesa: se alguém ainda ouvia bandas de stoner achando que se tratava de algo novo, vai perceber que o som delas é véio pacas! Vamos acelerando para alguma praia isolada da Bahia pela BR-101 lotada de buracos e calor desértico com o som deste disco no talo.

Aí, você pára num posto fuleiro na beira da estrada, negocia com o dono do boteco algumas substâncias ilícitas (se estamos na Bahia, já viu...) e dá de cara com uma plaquinha dizendo que é proibido vender bebidas alcoólicas nas rodovias federais. Caia na real, meu chapa: você não está na Route 66 e sim no brazuca! Se for o teu caso, pede para encher uma garrafinha de gasolina mesmo e entra no carro apertando o play em “4-Way Diablo”, novo petardo dos veteranos stoners do Monster Magnet. A banda liderada pelo malucão David Wyndorf (que quase bateu as botas numa overdose em 2006) ficou devendo no último disco (“Monolithic Baby”), um tanto levinho e pop demais. Mas a onda deste cara sempre foi mais sofisticada mesmo, na seara do stoner rock, desde o clássico “Powertrip” (o melhor, na minha humilde opinião). Pois o disco novo põe as coisas nos eixos com faixas envenenadas e também experimentais, beirando o pop. A estrada é ruim, mal asfaltada, cheia de buracos e lotada de policiais rodoviários te dando dura, mas o som do Monster Magnet inspira viagens on the road pra lá de intensas e lisérgicas, só que como o auxílio luxuoso de um ar condicionado.

Estamos chegando à praia! Parece bacana, água verdinha (só na Bahia mesmo, pois aqui no ES é tão difícil sair da cor barrenta do oceano...), uns hippies vendendo aquelas bugigangas típicas... aí você salta do carro e vai em direção a um zumbido sonoro que parece ser bacana. Chegando numa casinha, dá de cara com um pessoal magrela de roupas coloridas dançando ao som de bandas de rock misturadas com eletrônica. Indies na praia?! Este verão realmente está esquisito! Deve ser a gasolina ingerida na estrada ao som do Monster Magnet... Pois bem, o som que sai das caixas é o da 5ª edição da coletânea da gravadora francesa “Kitsune Maison”, ponta de lança no que diz respeito aos lançamentos do hype da vez: a tal da new rave. Assim como foi no electroclash há uns seis anos, ainda há muita gente batendo cabeça para se chegar a um resultado amplamente satisfatório. Sobram vocais afetados por cima de bases simplórias e linhas de baixo monocórdicas. Porém, sempre há o que se pescar nestas coletâneas. Particularmente escolhi um grupo ali que se destaca absurdamente dos demais: Does It Offend You, Yeah?. Batida reta electro-rock de primeira, vocais abusados, synths rascantes e uma disposição fora do comum em fazer algo bem feito e acima da média.

A festa na casinha indie parecia estar boa, mas agora eu quero mesmo é pegar um sol ao som de Jack Johnson naquela vibe gostosa, relaxando, para depois jogar um frescobol...

Jack Johnson?!

Frescobol?!

Não, isto é um delírio...

Deve ser outro blogg se infiltrando aqui.

Que verão esquisito...