terça-feira, outubro 28, 2008

Don’t Mess With Texas!



Patrimônio histórico do Texas e uma das bandas mais singulares, divertidas e sacanas da história do rock and roll, o trio de barbudos ZZ Top finalmente lançou neste ano seu primeiro DVD contendo uma apresentação ao vivo. “Live From Texas” obviamente foi registrado em seu estado natal, na cidade de Dallas, com um show simplesmente sensacional. É impressionante a interação do trio com sua platéia, com a banda tocando como se estivesse num boteco de beira de estrada típico de filme americano, com garçonetes peitudas, caminhoneiros bêbados falando alto, hell’s angels arrumando confusão e chicanos de prontidão para lhes oferecer uma parada. Vendo o DVD, parece que a qualquer momento vão surgir da platéia Burt Reynolds e seus amigos – e amigas também – do filme “Agarre-me se Puderes”. Preste a atenção na platéia e verá que estes tipos ainda existem e urram de felicidade a cada canção tocada pelo trio - inclusive há até uns figuras portando barbas postiças! Mas não se engane com a comparação. O show é super produzido, com um trabalho irrepreensível no palco, algo como um Texas futurista, meio Galaxy Rangers, se é que você me entende... E o som! Puta que pariu! Se você tem um home theater (eu ainda não tenho), deve ser uma experiência áudio-visual alucinante. Mas nada disso seria relevante se a banda não for legal. Legal?!? Meu amigo, estamos falando de ZZ Top!



É impressionante a precisão, o feeling e a total interação entre Billy Gibbons (guitarra e vocal), Dusty Hill (baixo e vocal) e Frank Beard (bateria – curiosamente, o “Frank Barbudo” é o único que carrega a palavra “barba” no nome e ostenta apenas um discreto bigode, vai entender...). Também, são quase 40 anos tocando juntos sem mudanças na formação. E os caras se divertem pra caramba no palco, tocando apenas os três, sem backing vocals, teclados ou metais – essas coisas que tanto embregalham o rock and roll. O show do ZZ Top é como se eles estivessem se apresentando para seus amigos mais chegados – sendo a apresentação no Texas, nada mais natural, ainda que seja para umas 20 mil pessoas! Vendo o DVD – inclusive os extras, com um impagável jogo de pôquer entre os três (falo sobre isso mais à frente...) - dá para deduzir que Dusty Hill seria o cara sacana da banda (se bem que Gibbons não fica atrás neste quesito...), daqueles que te convidariam para tomar uma cerveja na sua mesa, apresentaria umas gostosas, enfim, te levaria pro mal caminho e para a diversão sem hora nem dia para acabar. E o barbudão ainda segura a onda com peso e groove nos momentos em que Billy Gibbons larga a base e parte para os solos. Dusty Hill é o quietão da banda, sério e compenetrado no palco, que vez ou outra dispara os dois bumbos ou algum efeito na batera. Mas dêem umas cervas pro cara que ele começa a te sacanear (vejam os extras...). E Billy Gibbons... bom, sou suspeito para falar de um dos meus guitarristas preferidos de todos os tempos. Cada riff, cada arpejo, cada deslizada no slide vindos das mãos calejadas deste texano gente fina são carregados do mais puro feeling e sem nenhuma embromação. É o rock and roll/boogie/blues/southern rock personificado num só ser humano. O timbre de suas guitarras (quase sempre uma Gibson customizada) e a sua forma de tocar são únicos e inacreditavelmente agradáveis de ouvir.



O repertório de “Live From Texas” é excelente, pois privilegia tanto os clássicos dos anos 70 quanto algumas músicas mais recentes, como a sensacional “Pin Cushion” (do quase industrial “Antenna”, 1993). O show começa quebrando tudo com a fantástica “Got Me Under Pressure” (de “Eliminator”, 1983, que foi o disco mais vendido da história da banda). “Waitin’ For The Bus” e “Jesus Left Chicago” vêm em seguida, fazendo a alegria deste que vos escreve, pois elas são do “Tres Hombres” (1973), o melhor disco da banda, na minha humilde opinião. Os clássicos vão sendo tocados com feeling e bom humor ao longo do show. Em “Just Got Paid” (de “Rio Grande Mud”, 1972), Billy Gibbons troca sua Gibson customizada por um modelo surradão da mesma marca. É um dos pontos altos do DVD, pois o guitarrista encaixa um slide no dedo e simplesmente destrói ao introduzir o riff animal desta música! E ele ainda improvisa novamente um slide malvadão no meio da canção, levando a platéia à exaustão. Falar dos destaques do resto do repertório é entrar na redundância do quanto ele é fantástico, mas não há como não chamar à atenção para a paulada de “Heard It On The X” (de “Fandango”, 1975 – sempre me vem à cabeça o Motorhead tocando esta música, não sei porquê...), a impagável “Legs” (novamente de “Eliminator”), quando Billy Gibbons e Dusty Hill tocam com instrumentos de pelúcia (só vendo para acreditar!), e o grand finale com as espetaculares “La Grange” e “Tush”, dois mega-clássicos de “Tres Hombres” e “Fandango”, respectivamente. “Live From Texas” vale cada centavo investido (saiu no Brasil!) e merece ser visto na companhia de seus melhores amigos regado a cerveja gelada e wisky de qualidade – um clichezão, mas absolutamente autêntico em se tratando de ZZ Top. Portanto, não mexa com o Texas!


Foto do ZZ Top da época do "Eliminator" (1983), que é o nome deste hot rod customizado do trio

EXTRAS:

Jogo de Pôquer: Eis que Billy Gibbons, Dusty Hill e Frank Beard resolvem contar a história da banda numa partida de pôquer regada a cerveja, cigarros, charutos e uma boa grana apostada. Em tempos de aquecimento global e outras empulhações caretas atuais, nada mais politicamente incorreto – contudo, nada mais autêntico vindo destes caras. O trio vai apostando e bebendo cerveja à medida que passagens marcantes e divertidas do ZZ Top vão sendo contadas por quem viveu aquilo na primeira pessoa. Lá pelas tantas, os caras meio que tiram um sarro dos Rolling Stones, com quem excursionaram nos anos 70 e, segundo diz a lenda, foram engolidos pela força do power trio texano. Em outro momento divertido, Dusty Hill sacanaeia a si próprios afirmando que “naqueles tempos o ZZ Top estava na moda”, ao comentar os altíssimos níveis de popularidade que o trio alcançou nos anos 80 sem abrir mão do seu visual atípico. Mas não vá esperando que Billy Gibbons dê pistas sobre a história da Fender rosa que ele ganhou de Jimi Hendrix, porque o cara não abre o jogo nem a pau!

*Não há legendas em português, apesar de o DVD ser nacional (pra variar, o pouco caso das gravadoras brasileiras...). Mas dá para entender o que os caras falam se você não manja de inglês ao optar por legendar em espanhol.


Foto dos primórdios, no começo dos 70's

O Dia do Show: apenas um making off do espetáculo, nada de mais.

Foxy Lady: Ah, isso sim é um presente! O ZZ Top tocando o clássico de Jimi Hendrix (O Deus e o Diabo encarnados juntos num músico!) com a pegada característica do trio. A versão ficou fodaça!

Observações:

Obviamente, com uma banda de quase 40 anos de carreira, ainda na ativa e que lança bons discos até hoje (“Recycler”, de 1990, talvez seja o único mais fraquinho), sempre haverá omissões sentidas no repertório de seus shows. Pois eu gostaria apenas que pelo menos uma do sensacional “Rythmeen” (1996) tivesse sido tocada, como as fantásticas “Bang Bang”, “Hairdresser”, “Hummbucking PT 2” ou mesmo a faixa-título. Eles também não tocaram nenhuma do "First Album" (1970), que é o meu segundo disco preferido. E bem que eles poderiam ter mandado “Beers, Drinkers & Hellraisers” (de “Tres Hombres”), uma das músicas que melhor definem o ZZ Top! Enfim, satisfazer fã deve ser um saco, rs...

O download de “Live From Texas” via torrent é até fácil de achar por aí. Eu, inclusive, estava baixando, até que descobri que o DVD havia sido lançado no Brasil. Uma preciosidade dessas eu fiz questão de ter o original!