segunda-feira, setembro 19, 2005

A Indústria Não Pára – Parte I

Eis aqui algumas resenhas de discos de um gênero que curto pra cacete, que é o industrial. São discos mais recentes (posso ter perdido o bonde, talvez, pois não ouço muita coisa nova nós últimos 12 meses) de alguns ícones deste estilo e que, para quem me conhece, não teria o porquê de eu não escrever sobre no meu blogg.


Al Jourgensen está cada vez mais parecido com Lemmy Kilminster em sua trajetória. A comparação pode soar esdrúxula, mas vamos aos fatos. Lemmy começou sua carreira numa banda viajandona (Hawkwind) e fez do seu Motorhead uma pioneira - e nada a ver com seu antigo grupo - fusão da velocidade do punk rock com o peso do heavy metal setentista, o que acabou por apontar as diretrizes do que viria a ser o thrash metal. O líder do Ministry também começou praticando um som bem diferente (o technopop) do que viria a fazer a fama de sua banda, fundiu eletrônica com heavy metal como nunca antes e influenciou várias gerações posteriores nesta mistura. Ambos são beberrões (mais o Lemmy) e junkies (mais o Jourgensen) inveterados, buscam influências tradicionais (rock and roll anos 50 – Lemmy, country music – Jourgensen) ao invés das modas de última hora, e seus últimos discos apenas reafirmam suas fórmulas consagradas... e continuam botando pra foder sem perderem suas majestades – ainda que reinem em territórios que agreguem poucos novos adeptos.

“Houses of Molé” marca os 25 anos do Ministry e segue pegando pesado (e se repetindo...) no formato consagrado em “The Mind Is A Terrible Thing To Taste (1989)” e “Psalm 69 (1991)”. Pelo menos é o que as faixas “No W”, “Worthless”, “Warp City”, “Waiting” e a desnecessária revisão de “TV Song” (de “Psalm...”) chamada “WTV 6” afirmam. É heavy/thrash metal de influência oitentista com refrões calcados no punk rock clássico - olha a influência clara de Motorhead aí! – misturados com programações eletrônicas e samples de diálogos de filmes e discursos políticos polêmicos, pois a temática do álbum gira em torno de narrativas sarcásticas (com influência direta de Jello Biafra/Dead Kennedys, antigo colaborador de projetos em conjunto com o Ministry) sobre Geroge W. Bush e as suas cagadas políticas (segundo Jourgensen). Nestas faixas o Ministry joga em um time que já ganhou vários campeonatos e que hoje só leva às arquibancadas aqueles torcedores que insistem em reverenciar glórias passadas.

É na outra metade do disco que reside o lado letal e inovador que Al Jourgensen (agora sem seu parceiro por 20 anos, Paul Barker) acaba sempre injetando em seus álbuns. Tal veia vem sendo exposta desde os mal compreendidos “Filth Pig (1995)” e “The Dark Side of Spoon (1999)”, onde a velocidade travou, os graves do contra-baixo pesaram e influências aparentemente desconexas de gothic rock, country, jazz, dub e rock psicodélico surgiram em meio ao pesadelo apocalíptico típico da banda. Em “Wored”, “WKYJ”, “Worm” e a faixa-sem-nome escondida no final, surgem vocalizações limpas e sem distorção, melodias e refrões épicos, bandolin, gaita/harmonica, hammond B3, sax e percussão, tudo isso sem destoar nem um milímetro da marca que o Ministry criou. “Houses of Molé” é um disco de uma banda que já não se encaixa mais em nenhuma categoria musical “atual”. Apenas segue seu rumo sozinha produzindo boa música e sem dar a mínima para o que está à sua volta. Igual ao Motorhead!



Esta onda de comebacks dos anos 80 parece não ter fim. Alguns nomes dos quais eu até curtia vêm resolvendo voltar lançando coletâneas ou discos ao vivo junto com DVDs que juntam material antigo com apresentações constrangedoras (barrigudos, calvos, grisalhos ou, pior, vestindo as mesmas roupas ridículas daquela época) registradas nos dias atuais. Graças aos céus que uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos não caiu nesta armadilha e resolveu voltar à ativa com um álbum totalmente inédito e apontando para o futuro – como, aliás, sempre o fizeram. O Skinny Puppy acabou em 1996 por conta da morte (por overdose de heroína) de um des seus três integrantes, Rudolph Goethel. Os remanescentes Cevin Key e Nivek Ogre decidiram pôr fim à banda não só pela fatalidade ocorrida mas também pelo desgaste pessoal entre os dois. Há de se apontar que o SP nunca habitou mainstream algum, fato este que invalida qualquer tipo de oportunismo em torno de sua volta, pois a banda é e sempre será underground pelo simples fato de seu som não ser digerível para qualquer um. Que o digam membros de bandas muito mais famosas como Tool, Static X e Nine Inch Nails, que sempre apontam o trio canadense como influência marcante, mas que na prática isto não seja tão perceptível em suas músicas.

O Skinny Puppy criou um universo musical próprio, que no início agregou a postura punk e barulhenta dos industrialistas (e conterrâneos) do Cabaret Voltaire e o som EBM pesado e dançante do Front 242. E transformou tudo em uma complexidade sonora única, onde o vocal e as letras de Ogre se casavam perfeitamente com os ritmos e climas criados por instrumentos acústicos e digitais manipulados por Key e Goethel. A descrição soa simplória, mas é preciso ouvir com atenção e se desprender de conceitos musicais pré-estabelecidos para compreender a espantosa pluralidade musical - a mesma que acaba por definir o reconhecimento da faixa mais hardcore à mais etérea como algo instantâneo à marca do SP. Por uma dessas ironias do destino, o álbum de retorno da banda é bem, digamos, pop, com direito a estruturas melódicas mais convencionais. “The Greater Wrong of the Right” acaba se tornando uma ótima porta de entrada para este universo, pois sua música está realmente mais acessível.

Os projetos paralelos de Key (Download, Tear Garden, etc.) e Ogre (OhGr), levados à cabo após o fim da banda, definitivamente influenciaram a sonoridade deste álbum. Ogre está cantando de forma mais melódica e quase não utiliza distorções em sua voz, enquanto que a parte instrumental ganha em sofisticação e investe mais em ritmos do que nos habituais climas sombrios. “I’mmortal”, que abre o disco, é um ótimo exemplo: batida sincopada, guitarras recortadas e vocal limpo com refrão marcante – um autêntico cyberpunk, assim como soam também “Pro Test” e “Empte”. Faixas como “Ghost Man”, “Useless” (com Danny Carey, do Tool, arregaçando na bateria) e “Goneja” investem em climas mais sombrios mas ao mesmo tempo possuem melodias e refrões que as aproximam de algo como um mix de rock gótico e de arena. Esta verve surpreendente para a banda permeia todo o resto o disco. Eu particularmente ainda considero “Vivisect VI (1988)”, “Too Dark Park (1990)” e “Last Rights (1992)” os clássicos da banda. Mas “The Greater Wrong of the Right” vem logo em seguida, justamente por não ter feito do Skinny Puppy mais uma armação nostálgica e ter apontado para novos caminhos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Ministry é foda!!! Uma banda que me pegou de surpresa e sempre serviu pra mim como inspiração musical. Quando ouço um CD novo do Ministry me dá vontade de compor! E olha que eu ouço muitas bandas. Ainda temos de marcar um MOTORHEAD pra eu poder ouvir o MOLÉ com atenção. Ou tavez quem sabe um Domingo Lesado! Nessas horas a bestinha faz falta! Mas também há outra opção. Podemos ir lá no DODAS que ele também tá seco pra ouvir esse novo. Acho que ele tá prescisando de inspiração musical também, e dois caras do SILENCE inspirados pelo MINISTRY vai dar merda!!!
Lemmy

Kalunga disse...

Fala Lemmy! Realmente me foi supreendente aquele verão em Meaípe (1993, certo?) do qual eu lhes apliquei Ministry pela primeira vez. Estava totalmente cabreiro, pois vcs eram "roqueiros radicais" e eu só ouvia aqueles "troços esquisitos". E "Stigmata" virou um dos hits daquela porra, hehehehehe!!!

O bom do som do Ministry é que eles conseguem enfiar umas paradas totalmente tradicionais no meio de algo que, à primeira vista, sempre soará modernoso em demasia para os ouvidos não familiarizados com o som industrial. O legal também é ver caras como Dodão ou mesmo Fábio Boi, com décadas de bagagem de rock and roll nas costas, curtirem este som - provando que suas mentes não estão viciadas num só formato musical, pois o Ministry (e o industrial em si) é minimalista ao extremo em suas melodias e é preciso ouvir com mais percepção.

Kalunga disse...

Sobre a "aplicação do som", é fato que os tempos são outros, que fazer fly nas ruas hoje é muito mais arriscado, hehehehehe... Pô, de segunda a quarta eu estou relativamente liberado à noite. Se rolar um ensaio na casa de Dodas, me levem que eu boto o disco pra rolar depois, com aquela suprise acompanhada de uma gelada, que tal?

Anônimo disse...

Cara, segunda e quarta fica meio foda pra mim,pois teria que ser depois do ensaio (que acaba pra lá das 11:00) e na terça e quinta eu acordo bem cedo pra trampar. A não ser que seja feriado no outro dia, he,he! Numa terça ou quinta,porém seria perfeito. Assim você também não tem que ficar de bobeira esperando o ensaio acabar!
Lemmy

Kalunga disse...

Terça é perfeito! No aniversário de Paola e de Paulinho nós combinamos direitinho além de, é claro, levar o disco pra rolar!

Anônimo disse...

Já viu que parece que confirmou o Claro que é rock com NIN(!!!), Sonic Youth(!!!) Iggy and the Stooges(!!!) dia 27 de novembro no Rio? Tudo no mesmo dia, e outros que eu não gravei o nome.
SE for verdade...UHU!

Kalunga disse...

Já tô lá, Kate! A data é ótima, eu já iria só pelo NIN, e agora ainda vou pegar de lambuja Iggy Pop & The Stooges, Sucidal Tendencies, Sonic Youth e Nação Zumbi??? Até o Good Charlotte fica bom neste cast!

Anônimo disse...

Oba! Vamos fazer uma caravana?