segunda-feira, outubro 09, 2006

Me indicaram!


Este cara morreu produzindo música boa até o fim

Me indicaram!

Pessoas e fatos passam pela sua vida a todo instante, e alguns poucos são dignos de nota no seu cérebro. Penso o mesmo sobre música. Indicações ocorrem aos montes, e muitas vezes um som que mudou a vida de um amigo próximo seu pode lhe despertar a mais profunda indiferença. Porém, é sempre bom dar ouvidos às indicações, mesmo que exista a suspeita de que o negócio não vá provocar impacto algum – o que não foi o caso aqui. Estes três sons a seguir mexeram comigo, cutucaram no meu cérebro, e estão devidamente guardados na minha lista.

O punk rock, quando do seu surgimento, era a coisa mais urgente e “tapa na cara” que existia. O que poderia acontecer quando os ícones desta facção sonora envelhecessem? Afinal de contas, eles – os punks – vieram também para varrer as gerações anteriores junto de seus vícios. Era o futuro - ou no future, como cuspia Johnny Rotten. Mas como esta geração se comportaria fazendo parte de um passado já distante? Muitos deles acomodaram-se em carreiras e barriguinhas salientes de formas tão idênticas quanto os próprios dinossauros que eles clamavam por extinção. Tornaram-se aquilo tudo que criticavam. Vejo o mesmo acontecendo com alguns ícones da música eletrônica que vieram nos anos 90 arrombando as portas e empurrando o que havia de estabelecido na época para o parque jurássico dos acomodados em geral. Porém, do meu parco conhecimento no terreno do punk rock, sempre que a palavra "The Clash" era citada, surgiam na minha mente músicos que desafiaram seu tempo e que sempre apontavam suas carreiras para a evolução. O que meu amigo Paulinho Ramone já me mostrou destes caras não era brincadeira: em meio ao minimalismo sonoro propagado pelos punks, o Clash estreitava as relações com a Jamaica, fuçava o rockabilly e, de vez em quando, concatenava com até com o jazz e o ska. Seria uma banda à frente do seu tempo ainda hoje!

Eis que, na quebradeira ocorrida sábado retrasado, quando da ocasião do aniversário do Mentor, rolou por intermédio de Caio o disco-solo do ex-Clash Joe Strummer e sua banda The Mescaleros. Em meio a bebidas destiladas em doses fartas, cerveja em copos de 500 ml e muita fumaça, o dub incrivelmente maravilhoso de “Get Down Moses” penetrou na minha mente sem pedir licença, bagunçou meus neurônios e me deixou hipnotizado naquele divertidíssimo caos do momento. Baladas ao violão e punks de veia country também me deixaram embasbacado com aquele disco. Naquele momento meu cérebro não tinha muitas condições de tecer considerações mais profundas, mas fiquei com aquela pulguinha atrás da orelha. Eis que, fuçando um cd de mp3 presenteado pelo Mr. Lips (made in Colatina/Hell’s Kitchen) em 2003, estava lá o tal álbum do Strummer. Definitivamente o falecido tiozinho do punk rock cometeu ali um disco para marcar época e deixar o seu legado para futuras gerações. Faixas como “Coma Girl”, “Arms Aloft” e “All In a Day” jorram adrenalina e suas melodias e soluções harmônicas (que porra de banda é o The Mescaleros?!?) estabelecem marcas definitivas no seu cérebro. A voz de punk envelhecido de Strummer parece reverenciar Johnny Cash nas belíssimas baladas “Long Shadow”, “Silver and Gold” e “Ramshackle Day Parade”. Rocks que parecem ter saído de botecos de beira de estradas poeirentas perfazem também um tanto de melancolia em “Midnight Jam” e “Burnin’ Street”. E ainda há uma linda versão de “Redemption Song”, do Mestre Bob Marley. Enfim, trata-se de um clássico contemporâneo. Joe Strummer produziu este último suspiro de consistência e profundidade antes de falecer.

Outro dia rolou uma discussão muito bacana com meu amigo Taylor, sobre o fato da geração atual de auto-proclamados indies não buscar referências musicais que tenham vindo antes dos anos 2000, de simplesmente ignorar a existência de, pelo menos, duas ou três gerações de bandas do dito rock alternativo, da frustração de tocar (na verdade, fui eu que fiz isso) um hit manjado de 1996 do Suede e o público simplesmente não saber (e nem querer saber) o que era aquilo, e que tudo isso acabou por fazê-lo perder o tesão de batalhar por pistas de dança menos óbvias e mais informativas. Na mesma discussão eu pude, de certa forma, comemorar o fato de que boa parte do público mais novo que freqüenta a minha festa gótica-industrial The Dark Street Project caça as novidades ao mesmo tempo em que se mantém informado sobre o que veio antes. Pelo menos a galera que curte EBM/industrial é assim, enquanto que os “góticos” em sua maioria só dão trela para coisas tipo gothic metal e adjacentes. Pois foi de uma galerinha bem nova (não deviam ter pouco mais do que dezoito anos) que conheci a pedrada sonora chamada Combichrist. Esta mesma turma veio olhar meus CDs e pirou com o fato de eu ter todos os discos do Nitzer Ebb originais, e acabaram por pedir para tocar o clássico “Join in the Chant”. No mesmo ato eles me indicaram a ouvir o tal Combichrist. Não conhecia e fui correr atrás. Trata-se de um projeto paralelo de Andy Laplegue, do cultuado grupo de future pop Icon of Coil, e foi criado para resgatar as bandas na linha powerfull-industrial-ebm de gente como 1.000 Homo DJs e o citado Nitzer Ebb, com batidas eletrônicas estilo bigorna, sintetizadores rascantes e muita distorção digital. O primeiro álbum, “Joy of Gunz” vai bem nesta linha distorcida até o talo. Porém, os caras poliram o som e, pelo menos nos EPs “Get Your Body Beat” e “Sex, Drogen & Industrial”, cometeram atos de EBM e industrialismos dignos de clássicos como “Headhunter” Front 242) e “Let Your Body Learn” (Nitzer Ebb). O Combichrist reverencia o passado de forma respeitosa e ainda atualiza o som com pegadas de techno e hard trance. Batidão pesado, travado e com palavras de ordem para gritar na pista de dança!

Quando fiz um post sobre o She Wants Revenge, o colega virtual Doggma comentou sobre o som, afirmando que lembrava um pouco o Bella Morte. Fiquei instigado. Sabe aquele som que você acha que conhece, mas nunca deu a devida atenção? Pois é, eu só tinha uma música desta banda e fui atrás para ver conhece-la melhor. O link com o hypado SWR é real, pois há uma semelhança entre a bateria eletrônica minimalista e os sobretons góticos de ambos. Mas o Bella Morte é mais atual, não se prende rigorosamente a um passado específico como o SWR faz com Joy Division (principalmente) e Depeche Mode dos primórdios. As guitarras são mais sujas, as melodias vocais são mais rasgadas e há uma conjugação pertinente com sons góticos atuais. “The Quiet” é o meu álbum preferido do Bella Morte, principalmente pelas faixas “Logic”, “Whispers” e “Always” (mais eletrônicas), “Living Dead”, “Echoes” e “Chistina” (mais heavy metal, guitarras apitando, refrãos cantaroláveis), e “Ember” e “Wires” (boas baladas neo-góticas).

*A quem interessar, existe um novo projeto semanal de música eletrônica aqui em Vitória: Projeto Makina

Estamos remando contra todas as marés possíveis, mas o negócio está engrenando!

Valeu!

17 comentários:

caio disse...

Rapá, nadar contra a correnteza dá uma musculatura danada...


Quem só nada a favor definha devagarzinho...

Kalunga disse...

sim, nado contra o tempo inteiro, mas...

Kalunga disse...

...pelo menos os músculos do cérebro não atrofiaram, hhahahahaha!!!

Kalunga disse...

malhar ouvindo Combichrist: vai na minha, é bom pra caralho, hehehehe...

val bonna 665 >> 667 disse...

esse Joe Strummer & Mescaleros é absurdo de bom. na época escrevi um review pro vol.4 e na época da invasão jegue-macho a colatina presentiei o paulim com uma cópia.

agora, vem cá...vc já ouviu o EP "Iconoclast" do Ascension of the Watchers?

é banda dark do Burton C. Bell do Fear Factory com o ex-tecladista do Killing Joke e cooperador do Prong e do próprio FF. bem atmosférico o som, nada que lembre o FF. guitarras? esquece... só climão e voz sempre bem cantada.

se ainda não conhece, tá dada a dica, agora deixa eu ir atrás do Bella Morte.

Anônimo disse...

Pô, estou quase pedindo uns cds de mp3 gravados com essas músicas de ebm-future pop-gothpoprockelectro e mais uns mil rotulos diferentes....
abrá de cuiabá (pra rimar)
Taylor

Anônimo disse...

e continue remando, contra a maré ou a favor (de vez em quando ela dá uma força pra gente). Exercício é bom de qualquer jeito.
Taylor

TCo disse...

Recomendo o Makina. Som fino, decente e honesto. E só gente boa nas pick-ups!

Além disso, rola ar-cond e telão... Simplesmente a melhor estrutura em Vitória.

Com isso tudo, o cara ainda diz que está remando "contra a maré"... tsc,tsc,tsc... Mas gosta de reclamar mesmo, né? CHORA NENÉM!!!

Kalunga disse...

Bom, valeu a presença de todos aqui, e desculpém a demora em responder, pois estou com acesso um tanto quanto restrito até o mês que vem.

Kalunga disse...

Bonna: este disco do Joe Strummer, como citei no post, está num CD que o Lips me deu. De repente, foi vc mesmo quem passou o som p/ ele...

Este projeto do Burton C. Bell & Cia me interessa e muito! Quando tiver a chance, eu baixo esta porra! Valeu pela dica!

Kalunga disse...

Paulinho: no próximo frio do posto tem que rolar o Strummer!!!

***

Turco: Som fino, decente e honesto. E só gente boa nas pick-ups! Além disso, rola ar-cond e telão... Simplesmente a melhor estrutura em Vitória.

pois é, meu caro amigo. Apesar de termos tudo isso nas mãos, não basta para o povo daqui tirar a bunda dos botecos de sempre e investir numa diversão diferente, ainda mais que tem um monte de gente que adora reclamar que "Vitória não tem nada" sentada na Lama, Praia do Canto e adjacentes e que não tem um pingo de atitude de fazer algo diferente.

Mas parece que o negócio está mudando. A maré ainda está bem contra, mas já não está tão forte assim.

Kalunga disse...

Led: o Makina tá engrenando aos poucos, tendo em vista a falta de atitude da maioria, e à atitude positiva de alguns grupos de pessoas (muitos estavam no seu aniversário no Onkoto) que investiram seus nobres tempos no projeto desde o começo. Qualquer coisa, acesse o fotolog: www.fotolog.com/projeto_makina

Lá tem tudo o que vc precisa saber.

E neste sábado, dia 21, no mesmo España vai rolar a festa Dark Street, onde vão rolar todos estes sons horríveis que posto aqui no blogg. Tá lá na web também: www.fotolog.com/the_darkstreet

remando contra a maré, sempre, e carregando junto alguns remadores também!

Estou ficando com os músculos definidos...

Kalunga disse...

Taylor!!!

Eu posso gravar um DVD lotado destes troços aí que posto no meu blogg!

Me mande teu endereço, aqui nos comentários ou no meu e-mail (fabiokalunga@yahoo.com.br). Não é caô, eu vou mandar mesmo!

abração!

Anônimo disse...

opa...
cara, ainda estou te devendo umas coisas que fiquei de te mandar. vergonha minha, total. Mas estou com o endereço guardadinho aqui, pode ficar tranquilo. hehehe

anota aí o meu:
Av lavapés, 513/902. Duque de Caxias, Cuiabá, MT. 78043-300

Abrá
T

Anônimo disse...

por falar nisso, quando algum puto daí vai tirar a bunda da Lama e vir fazer uma visita ao Centro-Oeste?!
Buaiz ficou aqui 6 anos e ninguém veio. Acho que sou a última de chance de vocês conhecerem este canto!!!!

TAylor

Kalunga disse...

Taylor, eu confesso que só vou baixar aí em Cuiabá se for sequestrado, pois não tenho a menor condição no momento. Mas pelo menos um OVNI eu te mando pelo correio!!!

fica tranquilo!

***

Led, num conheço isso aí não!!!

Anônimo disse...

knife é beeeeem legal. tenho os discos deles. suécia , a nova onda, há uns 7 anos.
hahahaha

Taylor