
Tarantino ainda não descobriu esta banda
Existe uma banda perfeita para tocar a zona nos puteiros de Sin City. Mescla de decadência sub-urbana retrô com futurismo barato, este mesmo bando(a) poderia fazer a farra em pubs de mundos insólitos como os de Blade Runner e ainda servir de música ambiente para happy hours da casa da família de O Massacre da Serra Elétrica. Aliás, os ditos cujos deste texto surgiram do propósito de compor a trilha sonora de um filme trash/terror B que nunca fora exibido: My Life With The Thrill Kill Kult . Idealizado em meados dos anos 80 pelos cérebros alterados de Buzz MCoy e Groovie Mann, este divertido agrupamento de lunáticos de Chicago pratica um som industrial único, mesclando elementos de noir, big bands dos anos 40, guitarras surf e vocais femininos lascivos. A matriz é esta, mas não é só isso. Vale à pena ouvir “Sexplosion” (que tem na capa a mais famosa pin up de todos os tempos, Bettie Page), com seu clima jazzy e refrãos cantaroláveis por todos os lados. Ou então a pegada mais marcial do rock industrial de “Confessions of a Knife”, transformando um estilo notoriamente sisudo em algo divertido. Ou ainda os ecos de house music e hip-hop (!) de “ Reincarnation of Luna ”, que mandou às favas qualquer tipo de hermetismo acerca do estilo que a banda poderia perpetrar. A propósito, o Kill Kult mandou ver até mesmo num disco festeiro – praiano até!, algo entre The B-52`S e Revolting Cocks, no divertidíssimo “Hit, Run & Hollyday”. Arrisque-se a botar músicas como “Sex on Wheelz” e “Glamour is a Rocky Road” para tocar numa festinha qualquer e você verá as pessoas dançando algo que elas não conhecem. My Life With The Thrill Kill Kult é uma banda que promove diversão no terreno improvável de seu ponto de partida, justamente o som industrial.
Ouvir um disco delicioso como o mais recente lançamento do Kill Kult, “ The Filthiest Show in Tow ” (2007), nos dias atuais é um alento, ao mesmo tempo que fico me perguntando sobre como é que um som original como esse não caiu no gosto dos geradores de hype - e olha que a MTV brazuca até colocou a citada “Sex on Wheelz” de fundo para a chamada de um programa e nada. “The Filthiest...” restringiu os elementos de “industrial” a apenas alguns timbres de bateria ocasionais e riffs de sintetizador bem discretos e certeiros, apostando fundo no clima jazzy/noir com toques de horror decadente que caracterizou mais os sons de “Sexplosion”. Mas há uma evolução em termos de grooves (elemento improvável em bandas de industrial), tal qual ocorre em faixas irresistíveis como “Born of Fire” (linha de baixo matadora!), “High Class Taboo” (guitarra setentista sampleada e melodias vocais que parecem ter saído do Funkadelic!), “My Kinda Guy” (pianos elétricos e até mesmo um melotron dão o clima) e “Jive Ass Live” (guitarrinha em wah-wah irresistível fazendo o balanço com piano, percussão e baixo bem marcados). E quando você ouve o tecladinho de filme de terror barato de “Cadillac Square”, que abre o disco, e o som de sax e de piano de cabaré de “Cover Girl Blues”, música que fecha o álbum, tudo isso embalado por vocais masculinos sussurrados e canastrões alternados por vozes femininas provocadoras, o clima da música do Kill Kult se faz mais sólido e presente em 2007. É som para embalar um helloween divertidíssimo, dry martinis por todos os lados, zumbis decadentes dançando junto de meretrizes e traficantes mexicanos negociando jogatinas. Quentin Tarantino, que tanto gosta de um horror B e de humor negro, precisa descobrir esta banda urgentemente para compor a trilha de seus próximos filmes.

À primeira audição, “Year Zero” soa mal acabado, sujo, de ritmo agarrado num freio de mão. Quando fui ouvir, até pensei que a cópia que meu amigo Hudson (valeu!!!) havia me dado de presente se tratava da versão demo do disco, naquelas típicas pegadinhas do mundo dos downloads, quando você, na ânsia de baixar o disco antes dele sair oficialmente, acaba pegando uma versão inacabada da obra. Mas o disco era esse mesmo! E Reznor, como bom conhecedor de estratégias de marketing, tratou logo de criar factóides que pudessem chamar a atenção para a sua obra mais anti-comercial: a temática ambientada num futuro próximo, apocalíptico, arrasado social e ambientalmente... e com uma mão que vem do céu para aterrorizar as pessoas! Bom, todo mundo já leu isso antes na internet e em praticamente todos os setores da mídia musical – até os indies caíram no hype de ouvir e elogiar o disco (mais pela temática meio nerd do álbum, que inclusive teve prenúncios estilo RPG virtual espalhados pela rede)! Ué? Indie caindo na onda de uma banda com quase vinte anos de estrada?!? O caô de Mr. Reznor colou mesmo!