domingo, dezembro 04, 2005

NINE INCH NAILS

Ainda estou surpreso com a vinda do Nine Inch Nails ao Brasil. Como já havia escrito num post lá embaixo, a banda de Trent Reznor nunca foi bem assessorada por estas plagas, com os parcos lançamentos tendo sido muito mal divulgados, à exceção óbvia de “With Teeth”, seu mais recente petardo, justo por conta do show no Festival Claro Que É Rock. A julgar pelas palavras de um fã que, desde 1991 ouve com devoção, gasta os tubos com lançamentos importados e/ou edições limitadas de EPs, singles e DVDs (até um box set eu tenho!), é deveras esquisito que esta tal pessoa não tenha ido a este show, certo?. Pois é, são coisas da (minha) vida, que não dizem nada à respeito do assunto em questão, mas que por motivos de força maior fizeram com que este que vos escreve tenha perdido o show de “uma-das-bandas-de-minha-vida-entre-mais-cinco-ou-seis”. Mas me sinto vingado. São 15 anos ouvindo sozinho este (e muitos outros mais) som sem que praticamente ninguém (as poucas exceções sabem que eu sei quem são) desse a devida e merecida atenção. Aos notívagos no universo de Trent Reznor & Cia., as resenhas de toda a sua (econômica, diga-se) discografia, escrita por quem – sem falsa modéstia – sabe do assunto.

*Eu não sou daqueles fãs que sabem a cor da cueca do Reznor, por favor! O que vem a seguir é um relato pessoal, dentro do possível tecendo críticas justas, sem babações desnecessárias.

Os anos 80 e todo os seus exageros estético-visuais estavam com o prazo de validade esgotado, naquele longínquo 1988. Os poucos artistas que produziam algo de bom naqueles tempos procuravam enterrar de vez aquela década o quanto antes. Um deles, porém, era o paradoxo do futuro iminente coagindo com o passado intermitente. Quem era aquele cara que criou uma banda formada tão somente por sua pessoa, que praticava o tipo de música mais futurista que havia no momento, e que ao mesmo tempo absorvia na maior cara-de-pau as melodias daquela década tão abnegada? Trent Reznor surgiu do underground conceitual da música industrial/EBM, tão em voga naqueles tempos. Porém, possuía neurônios muito mais ativos e que o faziam enxergar tocando em grandes palcos e não em pequenos clubes esfumaçados lotados de gente esquisita. O cara tinha visão, mas também era dotado de um talento extraordinário. Sozinho, juntou duas ou três vias já existentes e criou a sua própria estrada.

“Pretty Hate Machine”, à época de seu lançamento, assustava por um estreante apresentar tamanha qualidade de produção sonora que, não por menos, ficou à cargo de gênios de estúdio como Adrian Sherwood e Flood - o primeiro famoso por investidas vanguardistas nos terrenos do dub e do industrial, o outro por seus trabalhos com Depeche Mode e U2, além do próprio Reznor. Mas o senso melódico do dono da banda mostra a sua cara logo na abertura, “Head Like a Hole”, um autêntico clássico cyberpunk, com eletrônica pesada, letra forte e melodias marcantes. “Terrible Lie”, com seu mix improvável de Prince e Skinny Puppy, segue o disco promovendo uma inquisição de sentimentos engasgados na garganta de seu autor. “Down In It” é um cyber-rap pesado, enquanto que “Sanctified” colide uma batida eletrônica reta com um baixo meio disco, climas sombrios (estes permeiam todo o álbum) e letra/melodia de arrepiar. A viagem segue abismo abaixo com a estupenda balada “Something I Can Never Have”, de rara e sinistra beleza. O lado B (estou me baseando na fita K7!) puxa o beat para cima com “Kinda I Want You”, um rock electro-dançante de conteúdo altamente sexual/subversivo. “Sin” possui um doce sabor 80’s, dançante e com timbres típicos, mas a letra e a melodia cáusticas assopram a afetação para longe. “That’s What I Get” e “The Only Time” são duas quase baladas cujas funções melódicas resistem ao tempo, pois seus timbres eletrônicos realmente soam datados. “Ringfinger”, por incrível que pareça, fecha o disco num clima bem dançante e para cima, com direito até a uns scratchezinhos. Após tantas sombras e dor, um pouco de amenidade para aliviar.
*”Pretty Hate Machine” é um álbum essencialmente eletrônico, com os demais elementos aparecendo de forma mais discreta, porém incisiva. Na lista de agradecimentos do encarte, Reznor cita influências díspares como Prince, Clive Barker (sim, o cineasta famoso por filmes de terror), Jane’s Addiction, Public Enemy e This Mortal Coil. Tudo faz sentido.
**Por conta deste disco, o NIN recebeu o convite para participar da primeira edição do festival itinerante Lollapallooza, em 1991. Reznor & Cia.(ele montou uma banda “de verdade” para tal), ao que consta, roubaram a cena com shows eletronicamente subversivos (era o início da quebra de teclados no palco e coisas do tipo), saindo de lá aclamados e fazendo com que o disco de estréia ultrapassasse a barreira do milhão de cópias vendidas.

Quisera o Trent Reznor não ter caído na lorota do selo TVT Records, pois os tais impuseram um contrato falcatrua ao cara, deixando-o quase como um escravo que não podia usufruir da fama e da grana obtidas com seu álbum de estréia. Foram mais de três anos de batalhas judiciais e um quase assassinato - o cara invadiu o escritório da gravadora com uma faca na mão!, o que influiu no processo de composição do EP “Broken”, em 1992. O som do disco é pesadíssimo, lotado de guitarras raivosas e eletronicamente alteradas. Foi bastante comparado ao Ministry na época, mas estava mais mesmo era para o noise-industrial de raiz roqueira (e não metaleira, como a banda de Al Jourgensen) dos suíços Young Gods, com tudo, obviamente, sendo direcionado pela marca registrada de Reznor e que surgia cada vez mais forte. São seis faixas matadoras, com outros dois interlúdios instrumentais postos a dar um freio na locomotiva para que esta pudesse voltar atropelando tudo pela frente. “Pinion” precede o esporro dançante de “Wish”, que é sucedida pela quase heavy metal “Last”. “Help Me, I’m In Hell”, instrumental sinistra e de nome sugestivo, abre caminho para a pancadaria industrial de “Happiness In Slavery”, cujo videoclipe mostra toda a sorte de mutilações e sadomasoquismo. “Gave Up” é quase um hard rock - quase, pois Reznor jogou tudo no caldeirão e dali saíram uma bateria eletrônica nervosa, um refrão poderoso, e um solo de sintetizador! Como bônus, o EP, em sua versão original, apresenta num mini-CD a redhotchillipepperiana “Suck” (tudo bem, o refrão explode tudo...) e a pesada e arrastada “Physical”, com camadas e mais camadas de guitarras e sintetizadores. “Broken”, até o momento, é o disco mais pesado de Reznor.

“The Downward Spiral” é o auge da criatividade de Trent Reznor, deixando por definitivo sua marca na música pop. Pop?!? Pois é, acreditem, mas a sonoridade nem um pouco comum deste álbum fez a banda galgar altas posições nas paradas e chover convites para trilhas sonoras e participações nos maiores festivais da época (1994/95). A fórmula NIN definitiva é composta de muita, mas muita barulheira industrial, riffs de guitarras pesados, computadorizados e alterados, e melodias marcantes, indo do mais sombrio ao mais doce e palatável. É difícil apontar destaques neste disco, pois praticamente todas as suas faixas viraram hits. Fãs de “Broken” se identificarão com as pancadarias de “Mr Self Destruct” (e seu final inaudível), “March of The Pigs” (batida quase hardcore e pianos a lá Faith No More), “I Do Not Want This” (batida abafada, refrão explosivo) e “Big Man With a Gun” (num crescente de guitarras e synths). O beat se torna mais dançante nas excepcionais “Heresy” (EBM com vocais em falsete), “The Becoming” (festa de synths, violões e melodias grudentas) e no mega-hit “Closer” (de melodia doce e letra subversiva). As estranhezas surgem ainda mais fortes no peso arrastado de “Reptile”, nos instrumentais quase ambient de “Downward Spiral” e “Warm Place”, e na jazzy “Piggy”. “Hurt”, uma balada de letra e melodia fantásticas, fecha o caos de “The Downward Spiral” da forma mais inusitada possível.
*Depois deste disco, tudo o que levava o rótulo de “industrial” acabou sugando até a alma do NIN. A lista é extensa, pois até mesmo medalhões pop buscavam por algo parecido.

“The Fragile” é um ótimo disco. Mas o inevitável aconteceu: a sonoridade do NIN encontrava-se em franco desgaste. Afinal, foram cinco anos em que deus e o mundo usurparam das fórmulas criadas por Trent Reznor. O disco (duplo) em questão revela-se um beco sem saída para quem procurava por termos como inovador e original, tão comumentemente associados à obra do NIN. Se a sonoridade do disco soa como uma versão domesticada de “The Downward Spiral” (menos sujeira, menos caos, mais coesão na mistura), as letras de Reznor revelam-se mais maduras e introspectivas, o que reflete diretamente nas melodias. Poderia se dizer que “The Fragile” é um disco mais, digamos, bonito de se ouvir, vide os arroubos de agressividade dosados com beleza pura de “The Wretched”, “Where In This Together” (com seu tocante videoclipe) e “The Mark Has Been Made” que, logicamente, não são os únicos destaques. Para o fã convicto do NIN, este álbum duplo soa como uma coletânea de músicas inéditas da banda, que compilam perfeitamente as três fases anteriores – eletrônica, peso e caos. “The Fragile” é o disco mais acessível, o que o torna uma excelente porta de entrada para o universo musical de Trent Reznor.

E o ano de 2005 está aí com disco novo do NIN na praça. E, querem saber de uma coisa? Vão comprar (ou baixar) e tirar suas próprias conclusões, seus bastardos embalistas de última hora! Afinal, a banda tocou num grande festival e agora todo mundo quer ser fã do NIN desde criancinha, né não? Enquanto isso, vou ouvindo sossegado – e sozinho – minha cópia em CD-R (presente daquele indie gordo e peludo do Taylor) de “With Teeth”, pensando em adqüirir logo o disco original para completar o buraco na minha coleção.

Bônus – EPs, Singles, Ao Vivo, Remixes, Bootlegs, Videos, etc.

Dos singles, sempre há coisa boa de sobra de estúdio inédita ou coisa assim. Eu destaco a excepcional versão de “Get Down Make Love”, do Queen entre os remixes de “Sin”, e o cover do Soft Cell, “Memorabilia”, em “Closer to God” – ambas as faixas completamente vertidas ao estilo do NIN. Os discos de remixes do NIN – é tradição eles lançarem as remixagens um tempinho depois após os álbuns “normais” – são um tanto quanto chatos, pois a maioria das versões descamba para a barulheira industrial pura, sobrando um ou outro destaque entre tais tranqueiras – procure que você os acha, vide os remixes de “Happiness In Slavery” (do EP “Fixed”) e “Mr Self Destruct” (de “Further Down The Spiral”), além de sempre conterem algumas faixas inéditas perdidas na bagunça. E nas trilhas sonoras você acaba encontrando algumas das melhores músicas da banda. É o caso de “Burn” (do filme “Natural Born Killers”), “Perfect Drug” (“de “Lost Highway”) e o fantástico cover de “Dead Souls”, dos baluartes pós-punk/gótico do Joy Division.

O álbum/DVD ao vivo “And All That Could Have Been” é excelente, pois capta a banda na sua essência do palco. Ouvir o CD é ficar babando pelo DVD: compre, roube, baixe ou grave de mim! E eu tenho alguns bootlegs em CD original: “Woodstock 94” possui gravação perfeita e diversas faixas que não entraram no ao vivo oficial, como “Down In It”, Happiness in Slavery”, “Burn”, “The Only Time”, “Ruiner”, “Help Me I’m In Hell”, “Dead Souls” e “Something I Can Never Have”, todas elas em versões matadoras. “Children of The Night” é um pirata ao vivo da turnê que o NIN fez com David Bowie em 1995, destacando “Sanctified” e “The Becoming”, além de “Reptilian”, “Hurt” e “Scary Monsters” (de Bowie), todas elas com a canja do ex-Ziggy Stardust nos vocais. O outro pirata que tenho poderia ser o melhor de todos, pois é um disco duplo com o registro completo de um show da tour de “The Downward Spiral”. Mas há um porém: a gravação é uma merda! “Slaugher In The Air”, o disco em questão, só valeu à pena os dólares investidos por conta de uma coisa: no disco 2 há, na íntegra, a primeira demo do NIN, com versões pré-“Pretty Hate Machine” (e bem diferentes) de “Sanctified”, “The Only Time”, “Kinda I Want You”, “That’s What I Get”, “Ringfinger” e “Down In It”, além das totalmente unreleased “Maybe Just Once” e “Purest Feeling”. Fã paga caro para levar apenas um algo mais. Sou uma besta mesmo...
*Não resenhei o VHS (até quando vou ter de esperar pelo lançamento em DVD?!?) duplo “Closure” pelo simples fato de não ter conseguido comprar na época. Segundo fontes seguras, é o melhor vídeo dos caras, disparado!

sexta-feira, novembro 18, 2005

A Indústria não pára – Parte IV: O Future Pop


Este é um dos ícones desta vertente musical conteporânea.
Imagem by: Icon of Coil Official Website


Future Pop? ‘Que merda é essa?’, me perguntei há alguns anos atrás, quando li sobre numa (excelente, diga-se) reportagem em O Globo, num período em que a internet ainda não fazia parte ativamente da minha vida. Eu já não podia mais comprar discos importados como antes (o dólar disparara novamente, além de minhas prioridades serem outras), o selo/loja Cri Du Chat (que fez história no Brasil lançando bandas brazucas e gringas neste segmento com uma regularidade impressionante) havia falido, e tudo acabou por fazer com que minhas fontes de informação no universo da música industrial simplesmente secassem. Tal reportagem retratou um novo estilo que havia tomado forma e cara próprias entre o final dos anos 90 e o início desta década. Já tinha ouvido falar de alguns nomes ali citados, mas nunca havia de fato entrado em contato com aquilo tudo. Deixei o tempo passar.

Quando caí nas graças dos downloads via internet, fui procurar pelos principais nomes do tal do future pop: Apoptygma Berzerk e Covenant. Disparadamente estes dois grupos são a melhor e a principal porta de entrada neste segmento. A tal reportagem atentava para uma drástica atualização da música industrial e da electronic body music por meio de batidas dançantes mais em dia com as tendências das pistas, e de vocais limpos, sem distorção e totalmente pop, com algumas quedas para as melodias de bandas góticas contemporâneas. E o future pop é isso mesmo, pois se trata da vertente do universo industrial/ebm com claras tendências populares, passível de ser ouvida em rádio e de ser tocada sem o menor pudor em festas de techno e trance. Mas é aí que o caldo pode entornar.

É notória a predileção dos europeus por melodias um tanto quanto bregas empregadas em trance e afins. São aquelas notas de sintetizador jogadas em cascatas melódicas em excesso, que podem tanto ser utilizadas em faixas techno radicais quanto em babas como aqueles dances de aeróbica. O future pop é um gênero europeu por natureza, e mesmo as bandas mais conceituadas insistem algumas vezes neste tipo de melodia. Pelo visto o público de lá gosta muito disso pois, em alguns casos, surgem até faixas grotescas onde melodias bregas de sintetizador são colocadas junto a vocais guturais estilo death metal - cruz-credo! É preciso separar o joio do trigo e é isto que tentarei fazer a seguir.

O Apoptygma Berzerk é o mais melódico de todos, mas sua música é muito bem trabalhada, e sua discografia é impecável, tendo começado praticando uma ebm rápida, gótica e apocalíptica, e que com o tempo acabou por definir o estilo primordial do future pop (também ficaram ainda mais famosos pelo cover de “Nothing Else Matters”, do Metallica). Pioneiro também é o Covenant (não confundir com o black metal Kovenant), que produz bases próximas às do psy trance, mas investindo também em beats mais quebrados estilo breakbeat/electro, além de investir em melodias mais melancólicas. Um nível ligeiramente abaixo vêm: Icon of Coil (perfeita fusão entre o Apoptygma Berzerk e o Covenant), Razed in Black (com beats mais quebrados e guitarras heavy metal) e Assemblage 23 (o mais gótico de todos, fazendo uso eventual de vocais femininos). Logicamente este é apenas um ponto de partida. Selos underground e prolíficos em produções a todo momento como Metropolis Records e Zoth Ommog são uma excelente fonte de pesquisa.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Dando pista


Foto by: Kalunga

Existem sons de pista de dança que são atemporais, cujas batidas e melodias nunca ficam velhas. Pois é, tal proeza é raríssima, principalmente pelo fato de que a dance music propriamente dita (techno, house, trance, etc.) depende tanto de recursos tecnológicos que o prazo de validade de suas produções expira rapidamente – o recurso da “atualidade” é de uma constante meio doentia. Por exemplo: você, que tenha um mínimo de interação com a “cena eletrônica”, consegue imaginar algo mais datado hoje do que aquelas misturas de drum’n’bass com bossa nova/mpb estilo Kaleidoscópio? Ao mesmo tempo, o que era considerado o supra-sumo do ultrapassado, a acid house, de uns dois anos para cá, vem experimentando um hype fervoroso, com direito às velhas linhas ácidas da TB-303 (sintetizador de baixo pré-histórico da Roland - ouça o álbum “20 to 20”, do mega DJ Josh Wink). O que dirá, então, do electro, que atualmente infesta todas as sub-divisões da música eletrônica com seus timbres deliciosamente retrô?

No final das contas, o que fica para trás neste segmento acaba por interessar somente àqueles que se preocupam em fazer dançar e não àqueles que apenas dançam numa pista. Justamente são os DJs que lançam as tendências, promovem revisões do passado e modernizam-no. É um processo contínuo, que a cada dois anos, em média, determina que um ou dois gêneros musicais sejam os mais “modernos e atuais”. O que será das pistas de dança em 2008, por exemplo? Disco music a lá anos 70 infestando house, tecnho e adjacências? Ou teríamos misturas improváveis de minimal techno com trance dominando as tendências daqui a três anos? Sei lá! Vou apenas escrever sobre algo que está sendo e sugerir algo que poderia ser.

Psicodelia eterna

Conheci o tal do trance psicodélico numa época em que este se encontrava em plena fase de transição, entre o primal goa trance, de fortes linhas melódicas e criado por alemães que piravam a cabeça nas praias de Goa (Índia) desde o começo dos anos 90, e o então eminente israeli trance, produzido por jovens de Israel e de características mais frias e pesadas. Meu primeiro contato com este universo se deu em Trancoso, no carnaval de 1998, numa rave realizada na beira da praia (eu já descrevi a ocasião no post “Rave on U – parte I”, nos arquivos do mês de março). Eu e meus amigos Tourco e Mentor vimos, sem saber direito o que estava acontecendo, um live PA do projeto francês Total Eclipse. Logo depois, o Tourco foi caçar na internet sons daquele trio (formado pelos exímios produtores Stephen Howleck, Serge Souque e Loic Van Pocke) e acabamos por eleger a música do TE como o topo em qualidade no quesito “trance”.

Ouvindo hoje o álbum duplo “Violent Relaxation” (de 1999) e comparando-o com o padrão vigente na produção de psy trance dos últimos três anos, fica evidente que o Total Eclipse se tornou impróprio para rivalizar com os nomes mais atuais do gênero - o principal motivo é a (falta de) pressão nas bass lines se comparada com o padrão atual. Mas o som deste trio francês vai muito além dos limites restritos de um gênero específico. Os tradicionais climas estilo invasão alienígena do goa trance se fundem com sacadas melódicas referenciais que vão de samples de gritos e sirenes do big beat de Chemical Brothers e Prodigy, a batidas minimalistas vindas direto do Kraftwerk. A pegada dos caras muitas vezes era puramente roqueira, com direito a viradas de bateria e solos de synth dignos de uma guitarra elétrica (vide a faixa “Can’t do That”). As músicas puramente dançantes não se prendiam a BPMs rígidos – variavam de 130 a 148 batidas por minuto, pois cada faixa possuía vida própria. Nas faixas destinadas ao chill out, a criatividade destes caras aflorava ainda mais, com os tradicionais cânticos orientais e cascatas de notas melódicas podendo se transformar num breakbeat poderoso ou dar lugar a um violento solo de guitarra de verdade. O som do Total Eclipse é discoteca básica em música eletrônica!
*O psy trance, na minha opinião, está totalmente estagnado musicalmente, e entregue a um público que perpetua uma mentalidade (ou seria a falta dela?) cabeça-de-bagre de só depender de melodias óbvias e com a garantia certa de bombar a pista. Não há mais inovação nem renovação que me façam perder o tempo com este universo. Eu apostaria na fusão do peso atual com as melodias do antigo goa trance. Alguém aí se dispõe?
**O Total Eclipse acabou. Alguns projetos surgiram, como o Antidote e outros. O nível de qualidade diluiu-se quando cada um dos três foi para o seu canto, mas ainda vale à pena procurar as produções que envolvam os nomes de Stephen Howleck, Serge Souque e Loic Van Pocke.

Na quebrada

O termo breakbeat surgiu do hip-hop, por conta de cortes e quebradas de ritmo feitos ali, na hora, nos toca-discos, dando origem a novas músicas. No final dos anos 80/início dos 90’s, era sinônimo de anarquia sonora, dando cria ao jungle (pré-drum’n’bass) e ao hardcore techno (pré-gabba), com suas violentas e rápidas rajadas rítmicas. No meio da década passada desmembrou-se no big beat, com batidas mais lentas e grooveadas, e uma estreita relação com o rock – a era de grandes álbuns eletrônicos (antes só haviam singles) de Prodigy, Chemical Brothers, Leftfield, Crystal Method, entre outros. No começo desta década o breakbeat voltou com força, por conta de batidas mais organizadas (menos barulhentas e quebradas que o big beat) e fundindo-se com electro, house, techno e o que mais vier à cabeça. Transformou-se em um gênero forte, sólido e irresistivelmente dançante, englobando tudo o que veio antes, criando novas formas a todo momento.

Plump DJs, Drumattic Twins, Lee Coombs, Soul of Man e Meat Kattie estão na linha de frente do breakbeat, e o selo Finger Lickin é a principal matriz destes abalos sísmicos sonoros. O gênero atualmente encontra-se numa maturidade impressionante, mesmo sendo considerado o estilo que mais engloba referências diversas. Batidões electro-funk podem ser acompanhados por synths psicodélicos e vozeirões de soul music numa mesma faixa, por exemplo. Às vezes parece que James Brown e Funkadelic foram robotizados (Soul of Man); noutras o Prodigy surge ainda mais bombástico que antes (Plump DJs - definitivamente o maior nome da cena – no single “Get Kinky”); em certos momentos uma avalanche de percussão africana se sobrepõe a pesados beats digitais (Lee Coombs); a house music é estuprada com bass lines cavalares e quebradas de ritmo perfeitas (Meat Kattie); e os anos 80 são postos no caldeirão dos breaks atuais (Drumattic Twins). E esta galera toda acaba se cruzando (ops!), se remixando e produzindo juntos a torto e a rodo. Os breaks voltaram para ficar!
*Logicamente o breakbeat não se restringe a estes artistas/selo. Há muitos outros afluentes por aí, produzindo boa música para as pistas. Tal gênero musical, em termos de downloads na internet, ainda é bastante restrito a singles em vinil, portanto, meio chatinho de achar.
**Segundo o Marcel, que recentemente fez uma gig pela Europa com sua banda Zémaria, o breakbeat já se encontra num estágio em que o hype no clubes underground já o vem descartando entre os mais antenados, dando vazão a fusões de breaks, electro e house como os italianos do Pressalaboys. Olha aí a música eletrônica e sua fome doentia de se atualizar constantemente – para o nosso bem!

quarta-feira, outubro 19, 2005

A Indústria não pára – Parte III: Os Góticos


Esta é galera que gosta de vestir um pretinho básico!
Imagem by: Diary of Dreams Official Website


O universo da música gótica sempre possuiu relações estreitíssimas com a galera do industrial, ao ponto de seus públicos se misturarem e se confundirem entre si. Vou abordar aqui algumas bandas que trafegam nesta linha estreita, onde os climas lúgubres se encontram com as máquinas pesadas. Como o verão está chegando, nada melhor do que ouvir sons gélidos e darkosos para espantar o suor!

Steve Albini é considerado o Mestre da Sujeira, aquele cara que faz as bandas mais selvagens soarem ainda mais primitivas, ao mesmo tempo em que todos os instrumentos são captados na sua mais pura beleza barulhenta e de forma incrivelmente nítida. Fez parte de combos radicais (nos anos 80) como Big Black e Rapeman, onde baterias eletrônicas toscas serviam de base para verdadeiros estupros sonoros. Como produtor, é sempre requisitadíssimo, tanto por bandas underground que queiram dar um tapa mais profissa na sua sujeira, quanto por bandas pop que queiram garantir uma moral para com a turminha alternativa – exceção honrosa ao Nirvana e o seu maravilhoso “In Utero”. Pois onde estava com a cabeça o Albini quando pegou para produzir uma banda gótica?!? O Userhouse, banda californiana por azar do destino (a californication teria produzido sua cria mais bizarra de todos os tempos?!?), é soturna, triste e sorumbática, querendo fazer nevar nas areias de Venice Beach. Pratica um mix excepcional de rock gótico tradicional (Bauhaus é a sua maior referência) com climas e sintetizadores sombrios (a face industrial), tudo isso misturado a guitarras sujas e pesadas – cortesia do humor de Mr. Albini na mesa de som. Ótimas canções estão registradas neste “Molting” (1994). É para bater a cabeça e se deprimir – e nada a ver com aquela xaropada do tal do gothic metal, por favor!

Existem bandas que são tão influentes em seus segmentos, que geram crias baseadas tão somente em algumas músicas específicas suas. É o caso do Sisters of Mercy, talvez a maior referência em termos de “som gótico” que vemos atualmente. O dinamarqueses do Diary of Dreams, por exemplo, se basearam única e exclusivamente na música “Flood” (ao meu ver, é claro), do clássico álbum “Floodland” (1987), da turma morcegóvia de Andrew Eldritch. A faixa citada criou um mix de electro/EBM/industrial bem pesado, junto ao seu estilo único de gothic rock, com os vocais de Andrew mais graves e fantasmagóricos do que nunca, e recheando tudo ainda com camadas de guitarras assombrando os canais de som. O Diary of Dreams, logicamente, não é uma repetição de uma nota só. Mas deve a sua alma sofrida a esta música. Edward Mãos de Tesoura iria cortar sua própria cabeça de alegria/tristeza com esta banda.

Outra banda mais do que influente ao pessoal das catacumbas é o Depeche Mode, que gera clones a cada esquina escura. Uma destas cópias começa a criar vida própria e a produzir um tipo de música cada vez mais especial: o Mesh. Mais guitarras, mais peso, mais melancolia - a banda adiciona também influências do Nine Inch Nails nesta mistura, tornando-os ídolos entre os guetos mais sombrios da Europa (seus discos nem são lançados nos EUA). Lembrando: eles fazem canções para cantar – e chorar – junto. Chega a ser pop – para os padrões de “O Corvo”, é claro.

A Alemanha é prolífica em matéria de música gótica. A quantidade de bandas apostando no lado negro da força que brotam de lá é absurda, com o termômetro de qualidade sempre batendo lá em cima. O Wolfsheim começa a se tornar grande entre os cemitérios alemães. Eles praticam uma mistura de rock gótico com elementos eletrônicos – peraí! Eu já vi este filme antes! Ok, tudo bem, eles não fazem nada de novo. Mas o som deles é lindo, porra! Percebe-se uma finesse, um bom gosto absurdo em suas melodias e arranjos. É belo, é encantador, é poeticamente triste e contemplativo. “Casting Shadows” (2003), com suas canções em alemão e inglês, é o disco perfeito para ouvir ao lado de sua musa gótica, bebendo vinho com sangue, chorando e sorrindo juntos ao mesmo tempo, observando a chuva cair pela janela.

Vomito Negro dá medo, a começar pelo próprio nome desta banda belga. Há uns oito anos atrás, encomendei o maravilhoso álbum “A New Drug” (1990), através de uma difícil conexão européia (o cd veio escrito “made in Austria”). Paguei caro para me assustar! O estilo desta banda remete diretamente à EBM clássica pois, afinal, este gênero musical partiu dos conterrâneos do Front 242 que, em 1981, criaram uma cena local fortíssima. Pois bem, o Vomito Negro (o nome é esse mesmo!) partiu da citada “EBM clássica” para costurá-la com alguns dos climas mais soturnos que se têm notícia - usei até em trilha de história de terror na faculdade! Já o álbum “Wake Up!” (1992 – tenho em mp3), é mais voltado à EBM, mas igualmente poderoso. Ouça e vomite negro!

*Ainda poderia falar de nomes excelentes nesta linha como Clan of Xymox, Alien Sex Fiend, Kovenant (um ex-black metal) e Mortiis (idem). Muita escuridão acabou por me dar vontade de ir à praia tomar um sol e ouvir ons mais alegres!

**Eu ODEIO esta praga atual chamada de gothic metal. Nesta linha, fico só com os clássicos de Type O’Negative (“Bloddy Kisses” e “October Rust”) e Paradise Lost (todos os discos, inclusive os mais atuais!). Estou ficando velho e resistente a estes modismos dos dias de hoje, hehehehehehe...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Terror flúor em Guaçuí


Este é o único registro fotográfico que restou desta roubada monstro!
Foto by Kalunga


A idéia era mirabolante (e suspeita...), mas a secura para botar um som sempre falou mais alto. Afinal de contas, era só levar os discos. Não éramos uma banda, não tínhamos que botar e carregar equipamento – esse negócio de “DJ” é bem menos cachorro na prática do que ser “músico”. Para mim e para o Tourco, bastavam uma cervejinha di grátis na mão e um som potente para acharmos tudo de bom. Grana nem vinha ao caso, pois o lance era botar som mesmo e foda-se. Mas o cara tinha planos mais ambiciosos: ele queria fazer uma grande festa itinerante, com uma equipe de som, DJs, segurança e decoração fixos. E iria rolar uma graninha! O único porém – o maior! – era que o tal queria invadir o Interior do nosso Estado, com a promessa de receber apoio de “políticos locais”. Isso não tinha como dar certo...

Na noite de uma sexta-feira qualquer de 2001, rolou a primeira festinha de trance na Fazenda Camping Barra do Jucu, com o homem-rave Pablo trazendo tudo de Arraial d’Ajuda. Foi bacana, umas cento e poucas cabeças dançando animadamente. Já às 10 da manhã de sábado, ainda na Barra, não daria tempo para dormirmos, pois o busão-com-ar-condicionado, prometido pelo cara das festas do Interior, estaria de prontidão naquele horário para levar a trupe toda ao primeiro destino desta Thrash Mistery Tour: a cidade de Guaçuí! Teria público lá para ouvir nosso som? O cara falou que a divulgação estava bombando por lá há semanas, e que todo mundo da cidade iria à festa, pois se tratava da única opção daquela noite (Vitória muitas vezes age como se também fosse assim...). A caranga atrasou pra caralho e, quando adentrou às nossas vistas, revelou-se uma enorme charrete motorizada, de cadeiras todas fodidas e arriadas, com aquele cheiro maravilhoso de cachorro molhado impregnado pelo ar. Foram cinco horas tomando sol na moleira e sacudindo dentro daquela fedentina. Lindo!

O tal cara da festa já foi segurança noturno e, como “dono” do evento em questão, colocou na fita seus chapas de terno-e-gravata para trabalharem com ele. Deveriam ter uns 20 no ônibus. “Será que o povo de Guaçuí é tão selvagem assim, para necessitar de tantos armários?”, pensei com meus botões. Estragados da noite anterior, eu e o Tourco ainda tínhamos que respirar o cheiro constante daquele baseado prensado (em mijo???) que a galera da decoração fumava o tempo inteiro. Conversa vai, conversa vem, e o Tourco lembrou de uma bela noite em que ele viajara como técnico de som da banda Símios para a mesma cidade. As lembranças dele eram terríveis! Para piorar os nossos presságios, o sol forte e incessante deu espaço a um dilúvio/ciclone na última parte da viagem (entre Alegre e Guaçuí), que quase jogou nossa lata-de-lixo-ambulante ribanceira abaixo. Depois do susto, finalmente chegamos ao nosso destino!

A cidade de Guaçuí parecia ter recebido a visita de um furacão: árvores partidas, postes dependurados, poças, lama, enfim, estava era uma merda total. O pessoal que chegou antes à cidade, para montar e divulgar a festa, estava aos prantos, pois havia caído água sobre a mesa de som e toda a decoração pré-montada tinha voado com o vento. Haviam nos prometido também um hotel e, de fato, havia um (péssimo) para nós, naquele esquema de uns cinco dentro de um quarto para uma pessoa – a intenção de descansar um pouco foi eliminada sem dó. E existia um grave impasse instalado: rolaria ou não a festa? O dono da coisa toda tentava a todo custo tomar uma solução, até que voltou com a notícia de que conseguira um local ótimo e que o evento rolaria de qualquer jeito. Vamos botar som, porra!!!

O local ótimo ficava num galpão quente, fechado e horroroso (com paredes pretas?!?), no alto do morro onde existe um Cristo Redentor capixabasso. O som de lá era horrível, e parecia que não era ligado há séculos. Eis que entraram em cena o Técnico de Som (Tourco) e o dono do barraco, um coroa cabeludão com cara de Hell’s Angel: o auto intitulado DJ Vovô. Ele era muito gente fina e ofereceu o possível para ajudar o Tourco a fazer milagre naquela aparelhagem cheia de teias de aranha e de outros insetos de procedência desconhecida. O som saía meio distorcido, mas dava pro gasto. A galera da decoração começou a esticar os cordões fluorescentes, e os 20 seguranças já estavam a postos. Mas havia algo muito de errado pairando no ar.

O primeiro sinal de que aquilo tudo estava muito esquisito foi quando vi um dos caras da decoração negociando pó com um figura no bar externo. “Porra, aqui deve ser o único lugar que vende cocaína nesta cidade!”, pensei. Depois, as peças começaram a se encaixar. Imaginem um bando de malucos de dreadlocks, tatuagens e piercings cuspindo fogo e praticando malabares no meio da rua de uma cidade do Interior, com uma peruinha tocando um trance pesadão na maior altura, e com a arte dos flyers e cartazes estampando a imagem de uma mulher semi-nua e de cinta-liga, com os seguintes dizeres: “Sucubus: Uma Noite de Prazer e Sedução”. Esta era a divulgação que fizeram semanas antes. Não sei como não foram presos... E, para piorar, o tal do galpão onde a festa foi improvisada tratava-se de um puteiro - o único - da cidade de Guaçuí!

A praça central da cidade estava lotada, mas ninguém ali se atreveria a subir o morro para a nossa festa. Nem o Cristo Redentor (aquele, o capixabasso...) salvaria a nossa roubada! Acabou que tocamos assim mesmo, para algumas putas, uns traficantes, a galera da decoração (que fumava o bagulho mais fedorento que já vi, e cheirava o tempo inteiro uma parada marrom – eu hein!), e os indefectíveis 20 seguranças. Não rolou hotel para descansarmos, fomos embora virados de dois dias, com o sol batendo forte na cabeça novamente, com o cheiro do bagulho mais horroroso da história, com as cadeiras-cachorro-molhado balançando horrores, e com os 20 seguranças comentando em voz alta coisas tipo “a festa estava uma merda, mas os DJs eram piores ainda!”. Os planos do dono da bagaça incluíam invasões posteriores a cidades como Linhares, São Mateus, Ecoporanga, Barra de São Francisco, entre outras improváveis opções. Pergunte se rolou mais alguma festa dessas?!? Grana no nosso bolso, então, só em sonho... ou pesadelo! E tome roubada!

domingo, outubro 09, 2005

Chama acesa



A internet muitas vezes pode ser um meio de comunicação bem filho da puta. Junto com todas as suas maravilhosas possibilidades de se obter/produzir informação, também agregam-se toneladas de banalidades. É o preço que se paga pela tal da liberdade que a web lhe permite. E sempre penso que palavras virtuais nunca substituirão a conversa pessoal. E as tais palavras virtuais podem ser sempre mal entendidas.

Um dia ruim na tua cabeça pode interpretar palavras escritas no campo virtual de todo o tipo de forma, menos o correto. É isso que eu venho esclarecer. Não vem ao caso agora julgar qualquer tipo de brincadeira feita comigo neste blogg. Simplesmente passo para frente. Também não venho pedir ou exigir desculpas para todos os mal entendidos que me envolvi via web. O encontro pessoal mostra o quanto que (se) levar a sério neste meio de comunicação pode se tornar meio enfadonho quando tua guarda está aberta para negatividades em geral.

Curto demais escrever neste espaço, sou apaixonado pela idéia de que você pode usar das possibilidades da internet para postar relatos, praticar o tal do “jornalismo gonzo” – tudo isso seguindo apenas aos seus critérios e dividindo (e divulgando) suas opiniões com terceiros. Vou continuar a fazer o que gosto, sendo mais atencioso para não me envolver negativamente com mais nada. Apenas agradeço a atenção de todos que vieram por aqui. A chama continua acesa!

quinta-feira, setembro 29, 2005

ACABOU

Conseguiram até me deixar doente.

Para não dizer que eu simplesmente fechei as portas sem maiores explicações, está aqui o registro para os próximos sete dias.

Da minha vida só eu sei, e alguns poucos amigos também.

Não preciso deste tipo de baixaria comigo, simplesmente me recolho no meu canto.

Aos que participaram (todos, sem distinção) disso aqui, os meus sinceros agradecimentos.

Simplesmente aboli a internet com este fim para a minha vida.

Não esperem mais respostas de minha parte.

Quem me conhece de verdade sabe onde me encontrar, simplesmente pelos meios de comunicação mais convencionais.

Adeus.

Sem dramas.

terça-feira, setembro 27, 2005

A Indústria Não Pára – II



Somente um festival de médio para grande porte poderia trazer o Nine Inch Nails para o Brasil. A banda de Trent Reznor nunca foi devidamente assessorada por essas plagas, visto que, dos seus cinco álbuns (sem contar Eps e discos de remixes), apenas o deste ano foi realmente lançado por aqui – “Fragile” (1999) saiu em edições importadas (o olho da cara) pela gravadora, “Broken” (1992) recebeu versões em CD e vinil tão difíceis de achar que parecem ter sido importadas também, e “Pretty Hate Machine” (1989) e “Downward Spiral” (1995) simplesmente passaram batidos. Ser fã brasileiro do NIN requer suados dólares convertidos em real. Mas você pode disponível relativamente fácil um DVD (em versão nacional - o fominha aqui não esperou e comprou o grindo antes de sair por aqui) deles e ter uma prévia do tal show a ser realizado no final de novembro.

“And All That Could Have Been” registra o NIN no auge de sua popularidade nos EUA, durante a turnê de “Fragile”. E, pela lotação do lugar (a média foi de 10 a 25 mil pessoas a cada data), fica difícil saber como que bandas como eles e o Tool (que também é mega por lá) sejam tão populares. Para o gênero industrial, o NIN bem que injetou letras mais consistentes e canções assobiáveis, mas o tom geral é sombrio e sem parentesco com nada que se resvale em algum padrão de “top 40”. O espetáculo visual apresentado neste DVD por si só é de encher os olhos, mas as figuras pouco simpáticas de Trent Reznor, Robin Finch, Danny Lohner e cia. não contribuem muito para uma identificação mais popular. Portanto, fica apenas, para tentar deduzir algo, o excelente registro audiovisual de vocação “search & destroy” cuidadosamente ensaiada que o NIN sabe muito bem fazer. O grupo executa suas canções de maneira muito mais energética que no estúdio, transpondo a própria eletrônica massiva para uma espécie de de/re-construção ao vivo, com direito a muitos sintetizadores sendo tocados com a intensidade de um guitarrista batendo cabeça. Reznor dá seu showzinho particular jogando ao chão alguns teclados de milhares de dólares, como que se quisesse enfiar o dedo na cara daqueles que acreditam que show de música eletrônica é só alguns caras apertando botões devidamente pré-programados (a maioria é isso mesmo, diga-se...). O Brasil vai ver um ótimo show. Será que vai ter público aqui para eles virem sozinhos algum dia?

Se Sin City tivesse gerado uma banda, esta teria o nome de My Life With The Thrill Kill Kult. O que, a princípio, era para ser a trilha de um filme que misturava trash B e noir, acabou se transformado numa banda que carregava o nome do próprio filme, que nunca fora lançado (era para ter sido em 1985)! O que ficou foi aquele clima de cabaré anos 40, vozes masculinas roucas e sussurradas, vocais femininos lascivos, metais nonsense, guitarrinhas safadas e um maquinário electro/industrial eficiente para dar coesão nesta mistura. O Kill Kult evoca imagens de carrões de mafiosos e de pin ups provocantes, que se encaixariam como uma luva para a já clássica filmagem dos HQs de Frank Miller. Ouça sem contra-indicações os álbuns “Sexplosion”, “Hit, Run & Hollyday” e “Reincarnation of Luna” e entre neste clima.

Os momentos mais sangrentos de Sin City bem que poderiam ter sido acompanhados pelos retardados/industrialistas/metaleiros do KMFDM. Trafegando numa linha bem estreita que os separa do som praticado pelo Kill Kult (surgido praticamente na mesma época), este agrupamento alemão multirracial também aposta em climas de noir e terror B acompanhados por vozes femininas, mas investe numa versão heavy metal disso tudo, com direito até a solos de guitarras típicos dos headbangers da terra do chucrute. “WWIII”, seu mais recente petardo, pouco acrescenta à sua extensa discografia (desde 1985 é um - ou mais - álbum por ano), mas mantém a tradição de refrões divertidos, porradarias de guitarras aqui e ali, batidas dançantes a rodo, e muita diversão movida a HQs – vide as suas capas. Aliás, algumas definições sobre o significado da sigla “KMFDM”, segundo eles próprios, podem ser “Kill Mother Fuckin’ Depeche Mode”, ou “Kylie Minogue Fans Don’t Masturbate”. Nem sempre o som industrial é sinônimo de postura séria e sisuda para com o mundo.

*Sin City também poderia ter Stray Cats, Social Distortion, Revolting Cocks, Autoramas, Anal Cunt... Realmente faltou apenas aquela trilha bombástica para o filme, mas mesmo os temas incidentais são perfeitos. Alguns sons são “trilhas sonoras” não-filmadas. Isso rende outro post...

segunda-feira, setembro 26, 2005

Os Ícones do Funk Carioca


A Cavalera assina o figurino de Tati Quebra Barraco! Será que ela conseguirá se manter como artista do pancadão por mais uma temporada?
Foto e notícia neste site


Não existem ícones no funk carioca. Desde que eu freqüentava as noites dance da extinta boate Zoom, por volta de 1991, que vejo indo e voltando alguma “onda do funk carioca”, algumas mais intensas, outras menos bombásticas. Atualmente o tal gênero musical ocupa um destaque nunca antes visto, com os gringos postos a balançar suas bundinhas e com direito até mesmo a uma musa estrangeira chamada M.I.A. - cotada com “grande atração” para o próximo Tim Festival. O funk carioca virou “símbolo da cultura brasileira” lá fora, com alguns MCs cantando em noites cult dos gringos e sempre assessorados pelo onipresente DJ Malboro. E aí que a porca torce o rabo. Não adianta assoprar, vai arder mas não vai gozar dentro: o funk carioca é das equipes de som de bailes e dos DJs/produtores. Ou você vai conseguir enxergar algum destes/destas MCs 12 meses depois produzindo discos próprios e dando continuidade em suas, digamos, carreiras?

Uma excelente reportagem publicada em 1995 no Jornal do Brasil já dava pista: os MCs vão, e os donos de bailes e produtores (os “DJs”) ficam... com toda a grana! Dez anos se passaram desde então e você se lembra de algum MC daquela época? Claudinho & Bochecha, honrosa exceção, chegaram a optar por mais consistência musical, investiram também no charm (versão r&b do pancadão) e poderiam estar aí na mídia até hoje, não fosse a morte de um deles. Atualmente o nome de Tati Quebra Barraco perdura por árduos dois anos. Ela virou a popstar do funk, presença garantida em “noites culturais brasileiras” na gringolândia. Carisma e irreverência a Tati possui de sobra para reinar neste segmento – os gringos descolados até a chamam de Peaches tupiniquim! Será que ela vai perdurar? Ou será que ela seguirá o fim comum de tantos(as) MCs do pancadão, que venderam suas almas em contratos assinados com os tais donos de bailes e DJs-produtores? A mesma reportagem do JB alertava para esta situação. E, hoje, parece que nada mudou.

Há alguns posts atrás, eu havia dado um braço a torcer e passei a respeitar o funk carioca na sua autenticidade como “música eletrônica brasileira”, apontando o meu interesse num gênero musical novo (o minimal techno) como uma justificativa para tal cessão de barreiras de minha parte. Tal respeito neste ponto ainda prevalece. Mas não consigo ainda enxergar alguma marca definitiva, algum nome forte que possa, enfim, fazer do funk carioca algo mais consistente do que mais uma onda passageira e que só enche os bolsos das mesmas cartas marcadas. Tomo como referência a música brega produzida no Norte e no Nordeste do nosso país. Grupos que misturam forró, Caribe, house, funk e Jamaica tudo no mesmo caldeirão, que lançam discos de sucesso a cada 12 meses, e que são adorados por uma parcela da população que o resto do Brasil prefere desprezar com o já citado rótulo de brega - o mesmo que tais artistas ostentam com o maior orgulho. Estes criaram - e continuam criando – suas marcas e seguem firmes e fortes tocando até para aldeias indígenas. É isso que falta aos MCs de funk carioca.

Os tais MCs são marionetes de produtores de bailes e de estúdio que lançam coletâneas com os “sucessos da hora”. Dificilmente você verá nas lojas algum álbum inteiro de um único artista de pancadão. Os tais antropólogos-de-plantão, que adoram filosofar em torno do tema, poderiam instruir suas fontes de pesquisa a tomarem partido de uma carreira mais consistente, de optarem por seguir um caminho que chegue a pelo menos num álbum inteiro. Aos produtores de bailes e de estúdio só lhes interessam o rodízio interminável de MCs desbocados - e também desafinados e desinformados. Ganham-se rios de dinheiro com a ignorância alheia, pois é muito fácil para eles ludibriarem o pobre com doses de uísque gratuitas e algumas notinhas de cem reais no bolso. A grande queixa daqueles que, com eu, gostariam que o funk carioca fosse melhor produzido para que este evoluísse musicalmente, simplesmente se torna uma utopia de fins inatingíveis. Os gringos e os formadores de opinião adoram valorizar a tosqueira do pancadão pois, afinal, é “música autêntica de preto, pobre e favelado brasileiro”. Estes mesmos intelectuais utilizam do funk carioca como atividade de filantropia com fins lucrativos. E que fique bem claro que os lucros serão divididos entre os donos de bailes, os DJs-produtores, e os intelectuais que poderão vender suas teses sobre o assunto para editoras em busca do sucesso imediato. Aos pobres, pretos e favelados, os devidos 15 minutos de fama e de volta para o seu cafofo!

segunda-feira, setembro 19, 2005

A Indústria Não Pára – Parte I

Eis aqui algumas resenhas de discos de um gênero que curto pra cacete, que é o industrial. São discos mais recentes (posso ter perdido o bonde, talvez, pois não ouço muita coisa nova nós últimos 12 meses) de alguns ícones deste estilo e que, para quem me conhece, não teria o porquê de eu não escrever sobre no meu blogg.


Al Jourgensen está cada vez mais parecido com Lemmy Kilminster em sua trajetória. A comparação pode soar esdrúxula, mas vamos aos fatos. Lemmy começou sua carreira numa banda viajandona (Hawkwind) e fez do seu Motorhead uma pioneira - e nada a ver com seu antigo grupo - fusão da velocidade do punk rock com o peso do heavy metal setentista, o que acabou por apontar as diretrizes do que viria a ser o thrash metal. O líder do Ministry também começou praticando um som bem diferente (o technopop) do que viria a fazer a fama de sua banda, fundiu eletrônica com heavy metal como nunca antes e influenciou várias gerações posteriores nesta mistura. Ambos são beberrões (mais o Lemmy) e junkies (mais o Jourgensen) inveterados, buscam influências tradicionais (rock and roll anos 50 – Lemmy, country music – Jourgensen) ao invés das modas de última hora, e seus últimos discos apenas reafirmam suas fórmulas consagradas... e continuam botando pra foder sem perderem suas majestades – ainda que reinem em territórios que agreguem poucos novos adeptos.

“Houses of Molé” marca os 25 anos do Ministry e segue pegando pesado (e se repetindo...) no formato consagrado em “The Mind Is A Terrible Thing To Taste (1989)” e “Psalm 69 (1991)”. Pelo menos é o que as faixas “No W”, “Worthless”, “Warp City”, “Waiting” e a desnecessária revisão de “TV Song” (de “Psalm...”) chamada “WTV 6” afirmam. É heavy/thrash metal de influência oitentista com refrões calcados no punk rock clássico - olha a influência clara de Motorhead aí! – misturados com programações eletrônicas e samples de diálogos de filmes e discursos políticos polêmicos, pois a temática do álbum gira em torno de narrativas sarcásticas (com influência direta de Jello Biafra/Dead Kennedys, antigo colaborador de projetos em conjunto com o Ministry) sobre Geroge W. Bush e as suas cagadas políticas (segundo Jourgensen). Nestas faixas o Ministry joga em um time que já ganhou vários campeonatos e que hoje só leva às arquibancadas aqueles torcedores que insistem em reverenciar glórias passadas.

É na outra metade do disco que reside o lado letal e inovador que Al Jourgensen (agora sem seu parceiro por 20 anos, Paul Barker) acaba sempre injetando em seus álbuns. Tal veia vem sendo exposta desde os mal compreendidos “Filth Pig (1995)” e “The Dark Side of Spoon (1999)”, onde a velocidade travou, os graves do contra-baixo pesaram e influências aparentemente desconexas de gothic rock, country, jazz, dub e rock psicodélico surgiram em meio ao pesadelo apocalíptico típico da banda. Em “Wored”, “WKYJ”, “Worm” e a faixa-sem-nome escondida no final, surgem vocalizações limpas e sem distorção, melodias e refrões épicos, bandolin, gaita/harmonica, hammond B3, sax e percussão, tudo isso sem destoar nem um milímetro da marca que o Ministry criou. “Houses of Molé” é um disco de uma banda que já não se encaixa mais em nenhuma categoria musical “atual”. Apenas segue seu rumo sozinha produzindo boa música e sem dar a mínima para o que está à sua volta. Igual ao Motorhead!



Esta onda de comebacks dos anos 80 parece não ter fim. Alguns nomes dos quais eu até curtia vêm resolvendo voltar lançando coletâneas ou discos ao vivo junto com DVDs que juntam material antigo com apresentações constrangedoras (barrigudos, calvos, grisalhos ou, pior, vestindo as mesmas roupas ridículas daquela época) registradas nos dias atuais. Graças aos céus que uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos não caiu nesta armadilha e resolveu voltar à ativa com um álbum totalmente inédito e apontando para o futuro – como, aliás, sempre o fizeram. O Skinny Puppy acabou em 1996 por conta da morte (por overdose de heroína) de um des seus três integrantes, Rudolph Goethel. Os remanescentes Cevin Key e Nivek Ogre decidiram pôr fim à banda não só pela fatalidade ocorrida mas também pelo desgaste pessoal entre os dois. Há de se apontar que o SP nunca habitou mainstream algum, fato este que invalida qualquer tipo de oportunismo em torno de sua volta, pois a banda é e sempre será underground pelo simples fato de seu som não ser digerível para qualquer um. Que o digam membros de bandas muito mais famosas como Tool, Static X e Nine Inch Nails, que sempre apontam o trio canadense como influência marcante, mas que na prática isto não seja tão perceptível em suas músicas.

O Skinny Puppy criou um universo musical próprio, que no início agregou a postura punk e barulhenta dos industrialistas (e conterrâneos) do Cabaret Voltaire e o som EBM pesado e dançante do Front 242. E transformou tudo em uma complexidade sonora única, onde o vocal e as letras de Ogre se casavam perfeitamente com os ritmos e climas criados por instrumentos acústicos e digitais manipulados por Key e Goethel. A descrição soa simplória, mas é preciso ouvir com atenção e se desprender de conceitos musicais pré-estabelecidos para compreender a espantosa pluralidade musical - a mesma que acaba por definir o reconhecimento da faixa mais hardcore à mais etérea como algo instantâneo à marca do SP. Por uma dessas ironias do destino, o álbum de retorno da banda é bem, digamos, pop, com direito a estruturas melódicas mais convencionais. “The Greater Wrong of the Right” acaba se tornando uma ótima porta de entrada para este universo, pois sua música está realmente mais acessível.

Os projetos paralelos de Key (Download, Tear Garden, etc.) e Ogre (OhGr), levados à cabo após o fim da banda, definitivamente influenciaram a sonoridade deste álbum. Ogre está cantando de forma mais melódica e quase não utiliza distorções em sua voz, enquanto que a parte instrumental ganha em sofisticação e investe mais em ritmos do que nos habituais climas sombrios. “I’mmortal”, que abre o disco, é um ótimo exemplo: batida sincopada, guitarras recortadas e vocal limpo com refrão marcante – um autêntico cyberpunk, assim como soam também “Pro Test” e “Empte”. Faixas como “Ghost Man”, “Useless” (com Danny Carey, do Tool, arregaçando na bateria) e “Goneja” investem em climas mais sombrios mas ao mesmo tempo possuem melodias e refrões que as aproximam de algo como um mix de rock gótico e de arena. Esta verve surpreendente para a banda permeia todo o resto o disco. Eu particularmente ainda considero “Vivisect VI (1988)”, “Too Dark Park (1990)” e “Last Rights (1992)” os clássicos da banda. Mas “The Greater Wrong of the Right” vem logo em seguida, justamente por não ter feito do Skinny Puppy mais uma armação nostálgica e ter apontado para novos caminhos.

sábado, setembro 17, 2005

Pecado Americano

Demorei, mas fui! As referências eram ótimas, pois quem havia odiado a parada era gente viciada no esquemão, que precisa de ver início, meio e fim contadinhos como se fossem histórias para criança dormir. Fui assistir a Sin City no cinema da Glória, em Vila Velha, um local mal iluminado e fedendo a poeira e com gente esquisita te olhando torto – era o noir me envolvendo antes de presenciar de fato o tal filme. Sin City é legal pra cacete! Não sou cinéfilo, mas também não engulo qualquer coisa. Saí satisfeito e querendo mais. Os climas, as histórias, os exageros, a estética (o que era aquilo?!?), um Mickey Rourke horrendo (e roubando o filme) e muito sangue fluorescente. Há vida inteligente no “cinemão” norte-americano. Mas o choque em si só assusta a quem, repito, precisa de ver tudo mastigadinho e pronto para ser digerido sem contra-indicações.

A tão propagada violência de Sin City, aquela que o gosto-comum dos viciados em blockbusters condenou – muita gente foi para ver “o filme do Bruce Willis”, é estilística, é aquela alegoria toda que Tarantino adora ver espirrar na tela que diverte e faz você pedir mais. Estupro, canibalismo, pedofilia, crimes de toda a sorte. O universo da Cidade do Pecado transposto para a tela do cinema assustou e provocou repulsa no público em geral, mas este – o “público em geral” – não sabe uma fração do que pode ser realmente indigesto. Não vou aqui me meter a crítico de cinema, apenas descrevo o que gosto e o que vejo. E a violência nas telas em si não precisa ser explícita.

Eu gosto do implícito, daquelas situações onde você não daria nada no começo do filme e de repente elas te sufocam na cadeira do cinema até você pedir que dito cujo acabe. Há muita produção aí que não mostra uma gota de sangue e que te faz voltar para casa abalado com tamanha violência. Também seria muito fácil me resvalar no cabecismo intelectualóide gratuito e sair cuspindo na cara das pessoas que filme bom é filme iraniano e tal. O lance é saber separar o trigo do joio – e o cinema americano realmente produz muito pouca coisa que deixe algum tipo de marca em destaque na sua mente. Sin City é genial na sua proposta (eu amo a estética do noir!), mas a verdadeira violência e a crueldade do ser humano passam longe dos cinemas de shopping centers. Ela está lá no gueto das locadoras (“filmes estrangeiros” ou coisa do tipo) e em cinemas periféricos. Uma coisa não precisa eliminar a outra - dá para você tomar uma coca-cola num dia e também beber água natural da fonte no outro. Basta querer.

domingo, agosto 28, 2005

Veneno Nostálgico


Nostalgia Barata bem produzida e embalada ao gosto do freguês!
Imagem e produto à venda by Submarino.Com


Alguém aí se lembra de uma época, mais precisamente no começo dos anos noventa, em que havia uma banda cover a cada esquina? Era incrível mas, para qualquer banda que tenha feito um mínimo de sucesso (de Guns‘n’Roses a Locomia!), haviam várias cópias inundando as casas noturnas de todo o Brasil. O rock nacional dos anos oitenta encontrava-se na sua fase mais desprezada (e desprezível), as poucas bandas dos subterrâneos da vida queriam todas tocar pesado, cantar em inglês e fazer sucesso no exterior como o Sepultura estava fazendo... e os Engenheiros do Hawaii entoavam o refrão “O Papa é Pop” em todas as rádios! Êita época ruim, viu? Mas as coisas negativas sempre podem virar um fato positivo quando inspiram as pessoas a remarem contra as marés (de esgoto...) e darem um pé na bunda da mediocridade para produzirem algo melhor. Atualmente eu não saberia dizer onde começa e onde estaria terminando alguma fase ruim no nosso cenário pop/rock nacional. A impressão que eu tenho é que a última fase boa tenha ficado para trás com a morte do Chico Science, e que atualmente existem algumas boas bandas por aqui e ali, mas nada que constitua num “cenário” consistente em si. Uma coisa é certa: o cover voltou com força! Mais anguloso, egoísta e simplório do que antes. Emmerson Nogueira é o Rei e deu cria a uma Rainha, a tal da Dani Carlos. E tudo é só para eles! Senão, imaginem alguém fazendo cover de outro cover! Seria muita cara-de-pau. Se bem que eu não duvido de mais nada hoje em dia...

O Rei e a Rainha do cover tocam diretamente na memória afetiva das pessoas e da forma mais fácil possível: o esquema voz-e-violão – ou o infame som-de-barzinho (logicamente o Rei e a Rainha atingiram o status de megastars – um tem até uma caixa de cds estilo obras completas! - e tocam atualmente com bandas de apoio com todos os instrumentos imaginados). A fonte de criação de tais anomalias provém daquelas noites típicas organizadas para o público mais de trinta. Muita gente desta faixa etária vai aos shows dos Nobres do Cover e lembra “de uma época que não volta mais”, ou “de quando eu dançava e me divertia horrores com aquelas músicas”. A maioria, ao final da noite, também exclama: “nossa, nem lembrava mais como era bom dançar assim!”. Meus amigos, isso é um veneno nostálgico da pior espécie! Dá a entender – e na maioria é isso mesmo – que quem casou ou passou dos trinta não sai mais de casa, não se diverte, não bebe, não ouve música, não trepa, não vive! Aí vêm o Rei e a Rainha do Cover e aproveitam-se de um público que está numa época da vida em que surgem as estabilidades (que não necessariamente significam felicidade) profissional e afetiva, onde também as pessoas se dispõem a pagar mais caro por um ingresso de um show de cover e assistirem todos sentadinhos em mesas muito bem comportados. Logicamente, há mais coisa a ser dita sobre isso.

Gosto não se discute. Isto é fato e cada um tem o direito de gostar do que bem entender. O que me incomoda é a relação passiva das pessoas no caso específico do que estou falando. Casamento e ter mais de trinta anos não têm que significar o fim de nossas vidas, da nossa diversão a dois ou com os amigos, ou de um cd a ser ouvido com prazer, por exemplo. Por mais que digam o contrário, mas ainda muita gente se casa por conveniência, para não ficar sozinho ou “pra titia”. Aí engordam, viram uns bagaços humanos, enfurnam-se em casa, anulam-se um para o outro, morrem e não sabem. E também caem facilmente nas armadilhas da nostalgia barata, aquela que vem bem embaladinha com CDs bonitinhos e shows com mesas e cadeiras decoradas estilo baile de formatura. Vejam bem, eu não sou contra ter conforto e qualidade na vida, não seria louco de afirmar isso. Muito pelo contrário, com a idade (parece papo de velho decrépito...) e a maturidade você vai ficando mais seletivo, exigente e com o bom gosto mais apurado – isso é fundamental em nossas vidas. Assim como é fundamental se divertir, ainda que com mais moderação ao longo dos anos. E a maioria dos mais de trinta confunde shows de cover com uma boa diversão, quando na verdade estão mesmo é numa exceção em suas vidas e movida a um veneno nostálgico que só fará a tua alma se sentir mal bem no fundo dela.

Não vem ao caso aqui discutir a função do casamento e tal, ainda que eu tenha deixado isso no ar. Eu acredito que a idade não significa privar nossas vidas de alguns pequenos prazeres que nos fazem felizes por dentro, muito mais do que um bem material valioso a ser conquistado com a grana de seu trabalho, por exemplo. A nostalgia faz as pessoas infelizes sem elas perceberem. Quem lembra coisas boas da vida que ficaram para trás utilizando-se de sentimento nostálgico está maltratando o seu espírito! Você pode lembrar “de sua época” (para mim a “minha época” sempre será o presente, porra!!) em festinhas temáticas ou shows de cover e também buscar por diversão atual, nova, diferente e sem se estragar por dentro enchendo a cara como um adolescente ou se enfiar em buracos com cerveja quente e vagabunda. É um foguinho na alma que não precisa ser apagado com o passar dos anos, mas sim sendo queimado e dosado de formas mais inteligentes e maduras. Quem vai a um lugar para lembrar “de uma época que não volta mais” e volta à sua vida normal tão logo depois que a festa termina, acaba necessitando de mais nostalgia para buscar uma felicidade perdida no tempo. E os tais tempos realmente acabaram. A nostalgia se alimenta não de uma saudade inocente em si, mas sim de um sentimento de perda. A nostalgia é um veneno que se alimenta de algo que já foi bom e que hoje joga na sua cara que hoje não é mais possível ser bom também. A nostalgia é uma merda!

segunda-feira, agosto 15, 2005

Paz, Amor e Metal


Eles irão te matar!!!!
Foto by Kalunga


Jovens vestidos de negro e adornados com crucifixos invertidos e espinhos pontiagudos, caras de mau e adoradores de uma música movida a barulhos e grunhidos nem um pouco amigáveis. O local do encontro – ou do sacrifício é, invariavelmente, quente, apertado, sujo e maltratado. Público e cenário perfeitos para uma missa negra e satânica... ou de manifestações mais pacíficas que as aglomerações entre humanos podem produzir – um contradição em termos! O fato é que o heavy metal só é violento na metáfora agressiva de suas canções. Eu vim de uma época que (ainda) era perigoso freqüentar tais ambientes sob o risco de levar porrada de gangues de cabeludos sujos e malvados. Era o tempo de punks e headbangers se odiarem de morte, de quando um sujeito de apelido Repolhão causava apreensão onde quer que estivesse. Tudo bem, não sou tão velho assim - isso é coisa do “metal anos 80”, mas no começo dos 90’s, quando comecei a sair de casa, ainda rolavam alguns resquícios dos anos de ferro e fogo. O que vejo hoje, e de uns bons dez anos para cá (ou mais), é a mais pura e pacífica diversão, ainda que travestida de negro e adornos metálicos pontiagudos. Você pode levar sua mãe, seus avós e seus sobrinhos (e filhos, se for o teu caso) tranqüilamente para um evento no bar Entre Amigos II (Vila Velha), por exemplo. O inferno, sugerido pelo som e pelas alegorias de seu público, só se encontra mesmo nos banheiros – algo que parece nunca vai mudar. Ali, nem Satanás tem coragem de prestigiar.

Não vejo demérito algum neste pacifismo! Tudo bem que os shows daquela época antiga eram mais selvagens e tal, mas eu sinceramente não gostava nem um pouco de estar num local onde a qualquer momento alguém poderia juntar uma galera e te porrar sem o menor motivo. A tal diversão tinha um preço bem imprevisível. Havia o tal do Repolhão, que botava o terror em todo mundo, até que um dia (numa lona de circo em 1994 na SBPC, na Ufes, num show do Dead Fish!) uns quarenta incomodados resolveram bater todos de uma vez só no figura – mesmo que o tal puxasse uma faca! O tempo passou e o mesmo Repolhão virou motivo de piada e até mesmo um cara engraçado e amigável, sucinto a diversas lendas ao seu respeito (que virara evangélico, que falecera, que se casara, etc.). As gerações foram se sucedendo e amansando com o tempo. O público atual de shows de heavy metal faz com que seus pais prefiram que os filhos freqüentem um Entre Amigos a uma Blow Up (boate da moda) da vida.

Neste processo de “renovação”, uma coisa era certa: mulher era artigo de luxo! Numa noite de 1998 com a banda Shadow (na época, única e exclusivamente cover de Iron Maiden) no extinto Camburi Vídeo (Jardim da Penha, Vitória), deveriam haver no recinto uns duzentos cabeludos e apenas duas (!) mulheres, sendo que uma era namorada de um dos donos do local e a outra era cortejada pelos cabeludos cheios de cachaça como uma peça de alcatra num açougue – situação que poderia muito bem ser descrita numa letra de heavy metal. Ontem (domingo, 14 de agosto), no Entre Amigos, eu poderia afirmar sem medo que a proporção entre homens e mulheres era quase que 50% para cada lado. E as meninas (beeem novinhas, diga-se) eram muito bonitinhas e com uma produção visual pra lá de bem cuidada. E os meninos também cuidavam de se produzirem um pouco além do usual camisa-preta-calça-preta – acredito que os podrões não teriam chance alguma com elas. E havia muito pouca gente (muitas vezes nem vejo mais) caindo pelos cantos fedendo a cachaça como antigamente. Também, pudera, a média de idade do público deveria ser entre 14 e 16 anos. Haviam seguranças de terno que coibiam confusões e o consumo de bebidas alcoólicas para menores. E os amários eram bem pacíficos e pacientes, só estavam ali para figuração na maior parte do tempo. Definitivamente o público metal não dá o mesmo tipo de trabalho que antes.

No final das contas eu vou acabar alfinetando algo que quem me conhece já poderia esperar. Nem mesmo na época mais sinistra do heavy metal (muita briga, locais podres e pouca/nenhuma mulher) eu sentiria a repulsa que bate hoje em mim numa rave de trance. Do que participei antes – festas precárias e público neo-hippie-cabeça-de-vento (altamente criticável, mas inofensivo), não sobrou nada além da luz negra e de uma vertente de som absolutamente sem variações. Imaginem um local lotado de uns 800 pitboys travados de ecstasy e invariavelmente caçando briga, e na mesma proporção tropas de patricinhas igualmente chapadas e se equilibrando em cima de seus saltos-altos. Podem me chamar de preconceituoso, mas eu definitivamente não ponho mais os meus pés no que defino como uma micareta eletrônica: público e som igualmente apelativos e repulsivos em suas atitudes. Eu poderia criar um blogg inteiro para falar mal disso, mas acho que seja absolutamente desnecessário. Prefiro a diversão pura e inocente de um show no Entre Amigos e, de preferência, com uma boa banda tocando.

*A “boa banda” a que me refiro é o Poison God, cujas impressões minhas sobre o show estão no blogg Volume 4, onde divido espaço com meus amigos.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Cabecismo de Rachar o Côco


Veja a capa do disco do Glide e imagine o som que saiu disso...

Existem certos tipos de som que parecem ter sido criados para não serem entendidos. Por exemplo: o que estava se passando na cabeça do exímio guitarrista Will Sergeant, dos não menos excepcionais Echo & The Bunnymen, quando produziu um projeto-solo intitulado Glide? Ambient Music, arrotariam os metidos a vanguardistas. Eu iria além, na busca por uma definição mais clara: “ele estava dopado quando produziu este disco?!?” Ouvindo outros álbuns de diferentes épocas, também colocaria outro questionamento: “esses caras batem bem da cabeça?!?”. Pois é, quando você tenta explicar o inexplicável (será?) e acaba gostando daquilo, é melhor nem arriscar sua moral à sociedade para não acabar sendo taxado de louco por tabela. Mas, que nada! Muitas vezes vale à pena tentar entender o que foi pretensamente feito para não ser compreendido. Nem que isso o faça questionar por sua própria sanidade mental. Se eu fosse esquizofrênico, não me arriscaria...

Sim, eu gostei do disco do Glide. Para aqueles que consideraram como novidade e inovação os barulhos e demais experimentos dos álbuns “Kid A” e “Amnesiac”, do Radiohead, é bom saber que este tipo de vanguarda vem sendo realizado desde que os primeiros fonogramas foram produzidos. Mas você também pode passar batido de tal conhecimento e curtir numa boa as belas canções que foram postas por cima da indumentária experimental da banda de Tom Yorke e não correr o risco de passar mal indo mais a fundo nesta experiência. E o Glide é capaz de provocar vômitos até mesmo no mais fanático devoto dos Bunnymen. É preciso estar familiarizado com as experiências electro-acústicas de gente como Stockhausen e John Cage (só para citar os mais contemporâneos), com a ambient music de Brian Eno (ex-Roxy Music e produtor honorário do U2), e com a eletrônica non-stop do Kraftwerk. Ou então que sejam necessários alguns parafusos a menos e/ou colocados nos lugares errados. Uma coisa é certa: você pode morrer sem culpa de não ter se aprofundado neste universo, até porque o seu caráter vanguardista e experimental definitivamente não foi desenvolvido para uma compreensão direta. Dois parágrafos são suficientes para que você saia correndo deste blogg, pois daqui para frente tentarei contextualizar minha compreensão de uma pequena fração deste mundo insólito.

Existe uma banda que até hoje eu não consigo ouvir: Einstürzende Neubaten. Conceitualmente este grupo alemão (já notaram que os projetos mais cabeçudos vêm de lá?) já possui seu lugar na história, pois foram fundo na utilização de todo o tipo de peça para a produção de música e freqüências sonoras desconhecidas, além de possuírem um engajamento sócio-político realmente influente em sua terra-natal (já participaram ativamente de causas pró-mineradores, por exemplo). Mas eu não consegui detectar estruturas mínimas que me passem algum tipo de emoção que não seja a de “nossa, esses caras são vanguardistas!”, entendem? Ou então ouvi os discos errados da banda! Mesmo a mais assépticas faixas radicalmente eletrônicas e instrumentais produzidas para as pistas de dança despertam emoções mais puras - ou seja, para dançar! Também não ficarei aqui tentando teorizar sobre as formas e objetivos de determinados tipos de música. Simplesmente exporei minha visão sobre este universo e na intenção de fazer aos interessados que os enxerguem com olhos menos, digamos, científicos. Mas é um troço difícil isso!

O Clock DVA (alemão, para variar...) pratica algo como um som industrial científico É serio! No encarte do álbum “Man Amplified” (1991 - sim, eu comprei mesmo isso aí!) há, ao invés de letras, textos complicadíssimos sobre física quântica e energia nuclear – todos escritos pelo cabeça do grupo, um sujeito com o nome de Adis Newton. O som, propriamente dito, é uma revisão do que o Kraftwerk fez ao longo de sua carreira, adicionado com o peso e a modernidade da música industrial/ebm – muito conceito para um resultado nem tão complicado e empolgante assim. Talvez o tal do Newton (não aquele...) tivesse deixado a complicação de verdade para seu projeto The Anti-Group/T.A.G.C, que mistura cabecismo intelectual com jazz, rock progressivo e eletrônica. Aí, meu amigo, é para dar tilt na IBM inteira... Na esteira cabeçuda alemã, travei contato com nomes (alguns não-alemães) como Test Dept. (considerada “a resposta inglesa ao Neubaten”, e que produziu discos até para peças de balé), Die Krupps (começaram também na onda do Neubaten, mas logo aderiram a um rock industrial mais convencional, tendo ficado famosos pelo ‘tributo industrial ao Metallica’: ouça este disco e vomite, morra de rir ou deleite-se), Laibach (grupo pseudo-facista que faz um som que o Rammstein xerocou acrescido de guitarras pesadas, e que já gravou o disco “Let It Be” inteiro à sua maneira), e DAF (o Laibach deve as suas calças a esta banda, o Front 242 um pouco também). Parei por aqui. Quando o negócio começou a ficar complicado demais, procurei sanar meus neurônios com canções de um disco do INXS...

O legal mesmo nesta “pesquisa” (aspas são necessárias pois, acreditem, sei da existência de correntes científicas sérias nesta área) é ouvir um determinado som e se transportar para a época em que fora lançado e imaginar o impacto na ocasião frente aos conceitos estabelecidos. Neste caso, volto ao Kraftwerk, mas àquele que quase ninguém conhece, pré-Autobahn (seu primeiro sucesso), dos discos “Ralf & Florian” e “Kraftwerk II” – os que eu tenho ouvido. Meu amigo, esta dupla (Ralf Hutter e Florian Schneider) merece todos os adjetivos elogiosos que já lhes foram proferidos! Na virada dos anos sessenta para os setenta, eles produziram peças sonoras que variavam do clássico/erudito/folclórico processado num sampler (muito antes que este existisse) a batidas em ritmo seqüenciado (idem ao sampler), sempre instrumentais e pontuadas por belas melodias. E o tal do Silver Apples? Baixei o homônimo álbum dos caras (de 1968, acho...), ouvi e me deu medo – tanto é que o CD que tinha simplesmente sumiu. Os malucos tiravam sons de osciladores de áudio e o que saía dali era algo impressionante, sombrio e muitas vezes belo também. Outro grupo que me impressionou, sob a perspectiva de sua época, foi o Cabaret Voltaire: industrialismo alemão (apesar de os caras serem canadenses) com atitude punk! Ouçam a faixa “Nag Nag Nag” e comprovem o que estou falando.

Percorrendo por caminhos mais normais (este termo é muito ambíguo por aqui...), dois grupos dos quais sou admirador incondicional produziram projetos paralelos distintos, cabeçudos (obviamente)e bastante desafiadores. Dos canadenses do Skinny Puppy eu destaco os projetos Hilt e Download, ambos produzidos pela mente doentia do membro fundador do SP, Cevin Key. O Hilt possui um bom mix de electro 80’s e rock gótico (“Orange Pony” – 1989) e uma verdadeira trip lisérgico-sombria sob o nome de “Journey to The Center of Bowl). E há boas canções assobiáveis neste disco (fato raro neste texto...), só que logicamente costuradas com enxertos de folk music, ebm, technopop, indie rock e heavy metal. Já o Download é o que há (ou pelo menos houve, pois está meio inativo ultimamente) de mais avançado na música eletrônica – já num campo quase que totalmente instrumental, e procurando novos caminhos para ambient music, techno e industrial/ebm. Dos suíços do Young Gods, destaco as experiências praticadas com ambiências sonoras sob os nomes de Heaven Deconstruction, Al Comet e Amazonia Ambient Project (do qual consiste a base da apresentação que relatei em meu blogg de São Paulo/2004: Digital Nonsense). O som destes suíços possui ligação direta com o do Glide, citado no começo do texto. Fui lá mas já voltei! Deu no saco...

No final das contas, podem ficar no ar alguns questionamentos básicos como: “isso é música?”, “dá para ouvir sóbrio?”, "presta?". Eu só posso afirmar o que escrevi aí em cima. Esta é a minha avaliação de apenas uma ponta de um iceberg jurássico e de proporções nababescas. Com certeza existe coisa mais cabeçuda (e inviável...) que isso. Também não quero parecer pedante quando escrevo sobre coisas que quase ninguém (será?) se disporá a ouvir. Simplesmente sou curioso sobre as origens que acercam os gêneros musicais que gosto. Muitas coisas eu não consegui ouvir mesmo, tanto é que nem as citei - é coisa ruim mesmo, não há outra definição. Mas não custa nada pesquisar um pouquinho. Olha a internet aí te facilitando tudo! Estou sendo até chato de citá-la em todo post, né não? É que sinto sua falta como me era antes: rápida, dinâmica, abrangente, com preço fixo... A quantidade de som chato e inviável que eu conheceria com uma internet rápida em casa seria impressionante! Por enquanto vou sendo chato com o que tenho em mãos.

quinta-feira, agosto 04, 2005

A Minha História


Meu primeiro disco!

Eu era um garoto que não amava os Beatles nem os Rolling Stones – e não amo até hoje. Mas comecei amando o Kiss! Coisa de moleque: quatro caras mascarados, cuspindo sangue pelas ventas e tocando o terror (estilo trem-fantasma-de-parque-de-diversões) com um discaço pesadão, o “Creatures of The Night”. Um álbum tão bom que eu não virei fã do Kiss mas sou gosto daquelas músicas ali até hoje. Ligava e cantava pelo telefone na Rádio Tropical pedindo aquela música do “Ê-ê-ê-ê-yeah!” (“Love it Loud”), colocava o disco no quarto de minha irmã para assustá-la (é sério!) e queria ir de qualquer maneira ao show deles no Maracanã. Em 1983 eu tinha a idade madura de... oito anos! Saiu no Jornal Nacional que eles jogavam pintinhos no palco e os esmagavam com suas botas com plataforma de dentes afiados. Meu pai não me deixou ir, mas morria de rir com aquilo tudo. E foi um clipe no Fantástico que me desviou dos caminhos sangrentos e maléficos do heavy metal. Uma parada bem futurista...

“Music Non Stop!” (1986). Porra, aquela imagem em computação gráfica (a mais avançada da época) com quatro homens-robôs cantando um slogan tão simplório quanto genial me abalou para sempre. O Kraftwerk me fez abrir a cabeça para aqueles sons produzidos tão única e exclusivamente com instrumentos eletrônicos. Ainda não possuía senso crítico nem independência de $$$ para correr atrás por conta própria do que gostava. Na verdade o Kraftwerk sintetizou (ops!) na minha mente (um HD?!?) o que já demonstrava curtir bem antes, pois não parava de rodar a faixa “Situation”, do Yazoo, presente na trilha da novela “Sol de Verão” (1983, o vinil acabou empenando...) e me dava conta de que havia outro disco com selo de novela (“Brilhante” - 1982) lá em casa, adivinhem de quem: Kraftwerk (“Computer World” – este eu tenho até hoje!). Minha irmã namorava um cara mais velho que chegava no carro do amigo que tocava sempre em alto e em bom som umas paradas importadas maravilhosas. O Wanderson (o “amigo” - esse é o cara!) gravou umas fitinhas para mim com pérolas de gente como Ultravox, Thompsom Twins, Yello. ABC e, logicamente, New Order (“Substance”), Depeche Mode (“Black Celebration”) e Human League, além daquelas maravilhas gélidas e sombrias do rock inglês como The Cure, The Sisters of Mercy e Echo & The Bunnymen. Passei batido de rock nacional e heavy metal sem a menor culpa.

A propaganda de um disco da Som Livre fez minha cabeça rodar 360º novamente. Uma batida dançante como nunca antes ouvi, cortes e colagens de diálogos de filmes, uma base de sintetizador bem eletrônica: Acid House! Este era o nome da coletânea que passava nos intervalos da Globo e Bomb The Bass (“Beat Dis”) era o nome do grupo em questão. Também tinha S’Express, Coldcut e uma faixa pesadona de um tal de Front 242 (“Headhunter”). Era a virada dos 80’s para os 90’s, a música eletrônica apontando e enfiando o dedo na sua cara sobre o futuro. DJs viraram superstars e eu também queria ser um. Juntava meu dinheirinho para comprar na Casa do Disco (no Centrão) aquelas coletâneas de vinil piratas (produzidas em Belford Roxo, no Rio) onde havia o filé da tal da dance music - até 93 juntei uns sessenta, tendo alguns singles importados (“Headhunter”- Front 242, “Situation 91” – Yazoo, “Enjoy The Silence - UK” – Depeche Mode). Tudo era jogado no mesmo caldeirão: as primeiras manifestações de house, techno, trance e também umas farofadas de dar vergonha até hoje de ter comprado/curtido - Ice MC, por exemplo e que fui até no show aqui em Vitória. Aliás, nossa combalida capital contava, no começo da década passada, com diversos programas de rádios muito bons (alguns nem tanto, é verdade) tocando dance (antes deste termo se tornar pejorativo) bem selecionada e mixada. Elegi o programa de Luiz Cláudio Casado e Renato Vervloet o meu preferido (eles tocavam coisas mais pesadas e/ou diferentes) e o do Dedeco o melhor mixado. No meio disso tudo descobri em outra coletânea da Som Livre (uma com a capa azul...) a faixa “Welcome to Paradise”, do Front 242. Algo muito forte estava me chamando.

Sim, eu era fã do Infomation Society, fui ao show no Álvares Cabral (um dos melhores da minha vida) e gosto até hoje! Fui fisgado, na verdade, pela batida pesada, vinda diretamente do Kraftwerk, de “What’s on Your Mind”. Aqueles caras tocando mil teclados e percussões eletrônicas no palco (na TV Manchete, dois anos antes de virem para cá) me despertou interesse para algo que eu nem sabia existir. Eu gostava mesmo era de sintetizadores pesados, climas dark e muito maquinário eletrônico percussivo. Logicamente o InSoc era só a ponta de uma navalha mais cortante, fria e mordaz. Fui na Casa do Disco pela enésima vez (eram umas três vezes por semana) e botei para ouvir o álbum “Front By Front”. Cara, era aquilo que eu gostava! Minha cabeça girou 360º pela terceira vez. O Front 242 era o futuro, era tudo o que eu gostaria de ouvir numa banda mas não tinha a menor idéia de como seria. O som era dançante, radicalmente eletrônico, ligeiramente pop (melodias que grudavam na cabeça, mas minimalistas ao extremo), pesado e variado dentro de seu estilo. Era o futuro da música daqui a cem anos, robótica, opressiva, as máquinas de Matrix e Terminator juntas escravizando os humanos e produzindo seu som. Descobri via Revista Bizz que o selo Stiletto estava despejando maravilhas da chamada Electronic Body Music - a “EBM” – com um volume inacreditável aqui no Brasil se levarmos em conta que se tratava de um gênero musical underground por natureza. Tudo o que eu queria estava ao meu alcance (no Centrão) e sob a batuta de textos, resenhas e notinhas em uma revista muito boa (a Bizz).

A Split Second, The Young Gods, Legendary Pink Dots, Borghesia, Neon Jugdment, a nata da EBM em álbuns-solo e coletâneas espertas (“Generate” era a melhor!) e que faziam com que a Stiletto abalasse minha mente para sempre e a todo momento. Este selo também despejou os primeiros lançamentos de techno, ambient, trance e new beat (um parente próximo da EBM e voltado para a dance music) que, logicamente, absorvi tudo o que podia na minha coleção de vinis que eu usava para agitar umas festinhas da galera do colégio (ninguém gostava...). Comecei a trabalhar com meu pai aos 15 anos (1991, como boy!) e abri uma conta no banco para mim. Foi quando descobri o quase inacessível mundo maravilhoso dos discos importados via Tarkus, uma lojinha na Praia do Canto dedicada a heavy metal e afins. Mas era o catálogo deles que me interessava! Foi, aliás, a Tarkus, que abriu um pouco minha cabeça para o heavy metal, pois dali saí com bolachões de Slayer (“Seasons In The Abyss”) e Anthrax (“Persistence of Time”, que emprestei e perdi duas semanas depois). Uma notinha na Bizz (sempre ela!) me indicou o caminho do som industrial. Mais uma reviravolta de 360º aconteceu comigo.

“Guitarras pesadas com eletrônica massiva, industrial e EBM”: putz, este era o caminho do paraíso para mim naquela época, pois estava curtindo pedradas do thrash metal (“Master of Puppets”, do Metallica também havia entrado em meu mundo) e adorava de paixão a EBM e seus beats eletrônicos marciais. Quando ouvi Ministry pela primeira vez, meu cérebro implodiu! “Thieves” era a música, saí da Tarkus com o vinil importado (caro pra cacete!) de “The Mind Is a Terrible Thing To Taste”) como uma meta de vida - eu não tinha grana na hora, que merda! Neste mesmo período a Rádio Cidade transmitia via satélite o programa “Novas Tendências”, do José Roberto Mahr, fonte de mil sons maravilhosos do mundo alternativo (eu pesquei principalmente bandas de shoegazer, trance/ambient e, obviamente, industrial/EBM), sendo que quando foi tocada a faixa “NWO”, do novo álbum do Ministry, acabou me deixando ainda mais inquieto. Fui na Musical Box (Praia do Canto), único local onde encontrei o tal disco (“Psalm 69”), juntei uma grana em tempo recorde e paguei uma pequena fortuna no CD (a loja enfiava a faca sem dó) – o primeiro que comprei e sem nem ter o aparelho para tocá-lo. A partir de então, fui conhecer outras maravilhas de EBM e industrial como Front Line Assembly, Nine Inch Nails e Skinny Puppy (estes dois últimos merecem posts à parte). Isso até o dólar cair o preço.

A Tarkus foi fundamental na minha coleção de CDs. Quando a cotação do dólar emparelhou com a nossa moeda, fui torrando toda minha grana com encomendas a mil naquela loja – e não me arrependo de nada! Deixei os vinis para trás junto com a intenção de me tornar DJ (também, pudera, perdi todos os meus sessenta e poucos bolachões de uma vez – na verdade, sempre detestei o som que saía do vinil e dei graças a deus quando o CD veio para ficar), e me voltei para sons mais pesados. Era a época do grunge (me viciei particularmente em Alice In Chains) e do total desvirtuamento do heavy metal (maravilhas como Prong, Helmet, Pantera, Faith no More, Rage Against The Machine, Corrosion of Conformity, além do metal industrial de Ministry, Godflesh, Lard, etc., que eu mais curtia). Apontei minha mira também para o rock and roll puro e simples, virei fã incondicional de gente distinta como Social Distortion, Tool, Kyuss, Cramps, Reverend Horton Heat, Danzig, Red Hot Chilli Peppers e Butthole Surfers. Abri meu coração para clássicos do rock como Black Sabbath, Jimi Hendrix, ZZ Top e Free. Só não virei fã de Beatles nem de Rolling Stones. E nem de Led Zeppelin. Sei lá o porquê...

Outra bomba afetou me cérebro no meio dos 90’s: o big beat de gente como Prodigy, Chemical Brothers e Crystal Method. Uma coceirinha na minha cabeça me dava novo ânimo de brincar de ser DJ, meu amigo Tourco também pirou junto na mesma época, e começamos a botar som juntos. Fui me dando conta de que gostava de muita coisa bem diferente entre si, que muitos amigos não curtiam tais sons e que outros também recriminavam outros sons também – haviam amigos para determinados tipos de música. Na virada do milênio veio a internet e mais um giro de 360º rodou minha cabeça. E vou parando por aqui. Esta história com a web ainda está acontecendo. Até agora usufruí ao máximo dela e vou usufruir até onde ela durar. Já postei várias coisas aqui e em outros bloggs sobre o que penso da “Era da Informação”. Este post não tem como intuito de mostrar nada além de minha simples relação apaixonada com a música e de como eu faço para absorver mais e mais dela. E também afirmo que nostalgia passa longe daqui, pois dou graças a deus que tudo hoje seja mais fácil neste quesito (música). E já afirmei isso: só não adqüire mais informação quem não quer!

quarta-feira, agosto 03, 2005

Shots!

Falta de assunto é foda! É difícil gerar informação estando ilhado e alheio ao que faz o mundo girar. Mas, tudo bem. Ando meio preguiçoso com meu próprio espaço. Justo eu que cobro atitude das pessoas e estou meio disperso por aqui. O blogg é meu mas não falo sobre meu dia-a-dia aqui, mas vou postando umas coisas aí que andaram passando sobre a minha cabeça...

O Fim do Século

Ao assistir o documentário “The End of Century”, dos finados Ramones, a comparação com o filme “Some Kind of a Monster”, do Metallica, me pareceu inevitável. Ambos foram lançados quase que na mesma época e retrataram de forma nua e crua duas bandas com inegável importância na história do rock and roll e cujos fãs invariavelmente encontram um gosto comum situado entre elas. Mas existe um abismo profundo que separa os dois filmes. O Metallica, ao meu ver, não é mais uma banda, mas um corporação da qual a opinião do empresário do grupo fora fundamental para definir o tipo de música (estratégia?) que eles tocariam (investiriam?) no seu último disco de estúdio. “Some Kind...” retrata momentos difíceis e reveladores sim desta banda. Uma das revelações foi a de que James, Lars e Kirk (os baixistas são sempre irrelevantes na banda desde Cliff Burton) expuseram suas picuínhas internas como nunca antes visto e também deixaram-se lucrar com um reality show dos mais apelativos, com direito até a um psicólogo falcatrua que recebe 40 mil dólares por mês para despejar chavões em cima dos caras que não resolvem porra nenhuma. Tá certo, eles deixam cair suas máscaras e massacram o tal analista sem dó, entre outras pedradas ali apresentadas. Mas o impacto inicial quando acabei de assistir o tal filme se dissolveu rapidamente quando constatei a lição de sinceridade apresentada com o universo dos Ramones em seu documentário.

A ironia que ronda a história dos Ramones é que eles foram fonte ou inspiração para bandas que acabaram se tornando infinitamente mais ricas e famosas – o caso do próprio Metallica. Eu esperava algo bem piegas quando fui assistir "The End of Century”, mas me surpreendi com os fatos e as atitudes na história do grupo. Como por exemplo a postura de Johnny Ramone sobre a cartada em busca do sucesso com o disco que eles gravaram com o produtor Phil Spector em 1980 – dali pra frente ele reconheceria que os Ramones não seriam uma banda de sucesso nunca. Rusgas entre os integrantes também foram reveladas sem dó e algumas declarações podem ferir o coração do fanático pelo "one, two, three, four" que talvez preferisse tapar os olhos e os ouvidos e mitificar sua banda preferida para sempre sem saber de certas coisas apresentadas no filme. Apesar de tudo no documentário poder indicar à melancolia induzida pelo fim do grupo e pelas mortes recentes, foram os depoimentos de um lesadíssimo (e, por isso, espontâneo ao extremo) Dee Dee Ramone que fizeram com que o filme deixasse uma marca feliz, pura (sim!) e com seu devido valor histórico para com os Ramones. Já o Metallica e seu “Some Kind of a Monster” me passaram a impressão de que a esta altura eles estão reunidos em Wall Street ou no encontro com o G8 para poder decidir qual bomba-de-impacto-polêmico® que será arquitetada para mantê-los por cima dos milhões de cópias com proteção contra pirataria...
*Que fique bem claro aqui que eu analisei os grupos por suas atitudes, pois musicalmente eu os considero excepcionais e em todas as suas fases.

Amanhã tem mais alguma coisa...

segunda-feira, julho 11, 2005

Alguns Sons...

Ouvir música o tempo inteiro: este é um vício pessoal incurável e que não tenho o menor problema de lidar com ele. Qualquer coisa que eu faço é desculpa para botar um disco para rodar. Às vezes eu estou bêbado na balada e vou para casa de repente para aproveitar a alteração de meus neurônios curtindo um som no fone de ouvido. Mas eu não gosto de absorver clichês do tipo “voz-e-violão para namorar” ou “heavy metal quando estou com raiva”, ou então o clássico “sons tristes para dias tristes e chuvosos”. Porra, eu vou ouvir som sombrio e deprê quando estou feliz! Música para mim desperta diversos sentimentos sem necessariamente definir um padrão. Tem coisa que eu ouço e nem sei explicar o porquê. Acho que já estou teorizando demais. Ontem cheguei meio (totalmente...) chapado em casa, fui ouvi alguns sons, digitei algumas coisas que acabaram dando pau no computador me fazendo perder tudo. Cada som estranho...

Dub War - Um som que conheci meio que por acaso (uma pequena e superficial resenha na Rock Brigade) e que se tornou um de meus favoritos de sempre e também o de alguns poucos interessados – seria uma cult band? Dub/ragga jamaicanos com o que havia de mais moderno no rock pesado de sua época (dez anos atrás). O vocalista Benji é um dos melhores de sua geração, uma improvável mistura (acreditem!) de Bob Marley, Michael Jackson e Corey Glover (Living Colour) a serviço de belas melodias e grunhidos raivosos. “Pain” e “Wrong Side of Beautiful” são discografias obrigatórias para quem quer ouvir boa música em forma de algo original. E o disco de remixes dos caras, “Step Ta Dis”, é o que vem me alucinando atualmente. Versões jungle/drum’n’bass/hip-hop/breakbeat (Aphrodite, Mo’ Wax, DJ Rap, entre outros) ferradonas e com particularmente uma obra-prima da reconstrução de uma música: “Silencer”, que se transformou num dub/funk com baixão na frente, órgãos hammond no fundo, uma interpretação vocal de arrepiar, tudo isso realçando a beleza de uma canção numa versão que supera a original!
*A propósito, o Dub War acabou e voltou na forma do Skindred: nu metal à Slipknot liqüidificado numa nuvem de fumaça jamaicana.

Sonic Cube - Música eletrônica para pistas de dança e sem vocais. Tem gente que só consegue gostar estando drogado. Tem gente que gostaria de ver este tipo de música morto e enterrado. Eu gosto tanto quanto qualquer “clássico do rock” que tem por aí. Fazer o quê? Este disquinho alemão é um som fino, bem produzido, trance/house progressivo dos bons, sem piques bombásticos nem melodias óbvias. Eu me emociono ouvindo este som no meu dia-a-dia. E não sou um robô!

Killing Joke - E pensar que eu tenho o “Night Time” há dez anos e só agora fui me dar conta de que se trata de um clássico do disco punk antes mesmo deste rótulo surgir. Fãs de última hora de Franz Ferdinand (banda excelente, diga-se) poderiam escutá-lo junto com outros álbuns de Talking Heads, Psychedelic Fürs e Gang of Four para aprenderem mais sobre suas origens. É aquele sabor oitentista cujas melodias singulares grudam na mente de imediato porém desprovidas daqueles arranjos plastificados típicos do pop da época. A propósito, a faixa que encerra o disco, “Eighties”, é a fonte de um dos maiores plágios da história da música. Kurt Cobain inclusive pagou aos caras do KJ para não ter maiores problemas...

Red Snapper, Thievery Corporation e Nightmares on Wax - Sabe aquelas vertentes de música eletrônica típicas de publicitário metido a bacana que o mané do Luciano Huck divulga no seu programa? Pois é, aqueles rótulos chiques tipo lounge/chill out/nu jazz podem lhe provocar cefaléia se combinados com a inevitável tríade sempre sugerida de canapés/champagne/vernissage que embalam o imaginário deste tipo de gente. Pois fique sabendo que, apesar disso tudo, existe uma turma que faz música que presta neste terreno. Climas de acid jazz, vocais femininos doces e abafados, ruídos de vinil (o velho é moderno, saca?), blips e póings aqui e ali, scratches e um bom gosto absurdo estão contidos no pacote musical que Red Snapper, Thievery Corporation e Nightmares on Wax sabem produzir de forma magistral. Vá para Ibiza com estes discos na mala e mande o Luciano Huck se foder!

Yazoo, Shrieckback, Ultravox, Yello, Human League... – Quer electro? Vá direto à fonte! Este gênero musical surgiu nos anos setenta, tomou sua forma definitiva (o technopop) nos anos oitenta, caiu no ridículo nos anos noventa, e ressurgiu ultracaricato no começo desta década sob o rótulo de electroclash. À primeira ouvida, taxei esta onda atual como uma porcaria apelativa e mal produzida propositalmente. Hoje o electro atingiu maturidade e rosto próprios, pois os climas retrô e modernos se misturam saudavelmente e acabam produzindo resultados arrasadores tanto nas pistas de dança quanto no cd-player de seu quarto. Os bambas atuais do estilo só saem perdendo quando tentam se equiparar à força melódica de seus pais (tios? avós?) dos anos oitenta. Coloque “Emerge” (do Fischerspooner) ao lado de “Situation” (Yazoo) ou “Don’t You Want Me” (Human League) e comprove. É covardia.
*Não preciso nem citar gente como New Order, Depeche Mode e Kraftwerk, pois eles estão acima de qualquer rótulo.


Eu ainda estou ouvindo uns troços esquisitos que são novos para mim ou que ainda estou tentando entender há anos. Umas paradas tipo Laibach, Test Dept., Einsturzende Neubaten, Clock DVA, Cabaret Voltaire, DAF... Quem tiver paciência de monge tibetano lerá algo sobre estas coisas por aqui.

*Não estou com saco para colocar links em todos os sons e referências que citei neste post. Vá direto ao All Music e ao CD Now. Para quem (ainda) não conhece, o primeiro é uma fonte riquíssima e completa (a maior na web, que eu saiba) sobre praticamente todos os gêneros musicais existentes e contém discografias, estilos, resenhas e links. O CD Now eu utilizo para ouvir trechos das músicas dos discos consultados no All Music – eu acho quase tudo lá.