terça-feira, maio 15, 2007

NINE INCH NAILS - "YEAR ZERO"



Trent Reznor possui uma inquietude rara e, por vezes, incômoda. O cérebro teutônico do Nine Inch Nails tem a necessidade de estar sempre se reinventando a cada disco. Além disso, sua banda faz parte de uma linhagem virtuosa de artistas provindos da década de 90 (e dos pouquíssimos que ainda estão na ativa hoje) que se dão ao luxo de lançar o som que bem entendem que as suas respectivas gravadoras terão apenas que aceitar, prensar e distribuir seus discos sem pestanejar – e colher os frutos financeiros com um largo sorriso posteriormente. Gente como Radiohead, Pearl Jam, REM (este, dos anos 80) e o próprio Nine Inch Nails conquistaram uma certa independência de fazer inveja às novas gerações, pois são figuras mega que se comportam como alternativos sem perder a integridade musical. Não sei até quando esta moral deles durará, até porque o álbum “Year Zero”, lançado recentemente, parece ser o suicídio comercial de Trent Reznor. Parece...

À primeira audição, “Year Zero” soa mal acabado, sujo, de ritmo agarrado num freio de mão. Quando fui ouvir, até pensei que a cópia que meu amigo Hudson (valeu!!!) havia me dado de presente se tratava da versão demo do disco, naquelas típicas pegadinhas do mundo dos downloads, quando você, na ânsia de baixar o disco antes dele sair oficialmente, acaba pegando uma versão inacabada da obra. Mas o disco era esse mesmo! E Reznor, como bom conhecedor de estratégias de marketing, tratou logo de criar factóides que pudessem chamar a atenção para a sua obra mais anti-comercial: a temática ambientada num futuro próximo, apocalíptico, arrasado social e ambientalmente... e com uma mão que vem do céu para aterrorizar as pessoas! Bom, todo mundo já leu isso antes na internet e em praticamente todos os setores da mídia musical – até os indies caíram no hype de ouvir e elogiar o disco (mais pela temática meio nerd do álbum, que inclusive teve prenúncios estilo RPG virtual espalhados pela rede)! Ué? Indie caindo na onda de uma banda com quase vinte anos de estrada?!? O caô de Mr. Reznor colou mesmo!

Mas de caô “Year Zero” não tem nada, musicalmente falando. É, para variar, um discaço – ainda que contenha algumas idéias repetidas. Todo o hype que Trent Reznor conseguiu trazer para este lançamento trará novas gerações que poderão se interessar no universo da música industrial, pois o disco em questão vai de contra à tendência mais roqueira e direta do fantástico “With Teeth” (2005), seu álbum anterior. Após a introdução “Hyperpower”, “The Beginning of the End” até que engana bem a quem acha que o disco está bem “rock”, com suas guitarras sobrepostas e bateria bem marcada. Mas “Survivalism” vem com muito barulho, bateria eletrônica minimalista e synths tão pesados quanto as guitarras. A estranheza do disco caminha para o groove robótico de “The Good Soldier”, à sujeira industrial de “Vessel”, à arrastada “Me, I'm Not”, e ao proto-blues mecânico de “Capital G” – todas essas, diga-se de passagem, poderiam muito bem fazer parte do clássico “Downward Spiral” (1994), o que denota um sinal de repetição de idéias clara e evidente. Já “My Violent Heart” apresenta uma estranha batida electro-funk que culmina num refrão ao estilo “explode tudo” – uma solução bem original e que vai de encontro às declarações anteriores ao lançamento do disco, onde Reznor afirmava ter sido influenciado pelos primórdios do seminal e inovador grupo de rap Public Enemy, com muitas batidas e colagens eletrônicas. O mesmo ocorre nas músicas “God Given” e “The Great Destroyer”, de batidas dançantes bem originais e fragmentos de melodias pop por todos os lados. No mais, o disco segue o formato de alternar batidas esquisitas com sujeira digital, guitarras roqueiras e as excelentes melodias que Trent Reznor sabe fazer muito bem. Nos anos 90, “Year Zero” seria considerado “a bola da vez” no quesito “modernidade”. Mas, nos anos 00, o “moderno” aqui soa até mesmo retrô, com suas soluções noventistas. Reznor fez mais um grande disco, bem acima da média de tudo que há por aí. Mas a obrigação de se reinventar esbarrou aqui em repetição de idéias por mais da metade do álbum. Um defeito e uma virtude - um paradoxo: o NIN atual busca inspiração na sua própria obra para se repetir, se renovar e/ou criar novas soluções. Convenhamos: isso é para poucos.

*Este disco do NIN abre caminho para os leigos no som industrial ouvirem The Young Gods e My Life With The Thrill Kill Kult (cujos discos só fui ter a chance de ouvir de antemão através do brother Doggma - valeu mesmo!) que também estão de discos recém saídos do forno! Em breve – e para quem tiver saco – resenhas aqui!

15 comentários:

bonna, generval v. disse...

por partes... o disco é apenas bom se comparando as demais obras da banda, mas a mais feliz de suas definções foi "...a obrigação de se reinventar esbarrou aqui em repetição de idéias por mais da metade do álbum. Um defeito e uma virtude - um paradoxo: o NIN atual busca inspiração na sua própria obra para se repetir, se renovar e/ou criar novas soluções. Convenhamos: isso é para poucos."

matou a charada, ele apenas tentou poupar tempo e saciar sua própria vontade de lançar uma nova obra (a primeira parte dela) que tem todo o tal universo apocalípitico nerd por tras. o cara é workaholic total, enquanto colegas de banda vão as noitadas ele fica testando novos samplers e batidas. a quantidade de material que esse cara vai deixar quando morrer certamente fará inveja aos que ainda lucram com os "discos inéditos" do Tupack Shakur.

bonna, generval v. disse...

mas eu espero ansioso pela resenha do The Young Gods. adorei!!

Anônimo disse...

Fala Bonna!!!
rapaz, eu mesmo considero o "Year Zero"o disco mais fraco do NIN, mas o fraco deles é acima da média de muito disco bom por aí. É um trampo mais difícil de ouvir p/ os que não são acostumados com som industrial, mas o Reznor soube cooptar as atenções do mainstream para sim mesmo novamente, numa época em que este tipo de proposta sonora estaria fadada ao underground. Bom, o fraco do cara consegue ser muito bom - e, repito: isto é pra poucos hj em dia!

O posto dos YG novo vem daqui a pouco!
abração!

bonna, generval v. disse...

concordo que seja o mais fraco e ainda assim seja bom.

Anônimo disse...

Fala kalunga!

cara, muito legal a resenha ae, eu gostei muito do disco e nao achei fraco nao. bom, de qualquer forma o trampo dos caras tá aí bem acima da média como vc falou. acho que teu texto é mais uma visão pessoal, mas acho que tem que ser por aí mesmo, falar o que pensa e nao citar o que muita gente ja falou, tipo copiar mesmo.

abração véio!

doggma disse...

Aê Kalunga!

Matou na análise. É isto aí mesmo que tu destrinchou (também, com o teu conhecimento de causa...).

Mas sabe, como o Egídio comentou aí, também não acho o mais fraco não. Parece defesa de fã (criando sinônimos pra "palha", rs), mas né não. Levantaram o lado experimental até o talo, isto é certo. Eu também achei, na primeira ouvida, que fosse o leak de uma demo. A maioria das faixas parecem filhotes de quatro minutos daquela quebradeira electro do meio de "Happiness is Slavery". Ou seja, o oposto imediato do rock 'easy listening' de With Teeth. Foi um contraponto pra lá de proposital.

Cá entre nós... na época do WT tu não achou que o NIN tava acessível pacas (não que fosse ruim)?

YZ é sim um registro altamente agressivo e nada amigável, mas é justamente este o lance. O disco é conceitual. Estruturas, linearidade e concessões vão pro saco quando o esquema é este. Reznor já falou que a parada não era pra ser de fácil digestão mesmo.

Mas te digo que curto o disco muito mais hoje do que quando ouvi pela primeira vez. E cada faixa está ficando absurdamente peculiar...

Anônimo disse...

Salve Doggma!

Perfeitas tuas colocações, até mesmo pq eu já estou mudando mais minha percepção acerca do "Year Zero" a cada ouvida. Isso é foda, mas é por isso que eu não gosto de postar uma resenha no calor dos acontecimentos logo de cara, ainda mais que o referido disco em questão é sim mais "difícil" e com certeza não bate logo de cara como no "With Teeth" (que fez, finalmente, a cabeça de roqueiros em geral que não curtem barulhos eletrônicos). Mas ainda acho o disco mais "fraco" dos caras, o que não siginifca que seja ruim. O adjetivo correto seria "o menos espetacular", ehehehe... Mas êita carinha FDP este Reznor, que insiga e foge do óbvio como poucos - e o "With Teeth", poir ter sido mais "rock" e, por isso, mais palatável, deve tê-lo deixado incomodado, tipo: "este povo aí tá achando que meu NIN é bandinha de fácil digestão, então toma o Year Zero pra ver o que eu quero mesmo fazer com tua cabeça, porra!".
*Rapaz, muito bem lembrada aquela zoeira de Happiness in Slavery (sem dúvida minha faixa preferida da banda), vou ouvir este troço alucinante agora, hehehehe...

um grande abraço!!!

Anônimo disse...

pois é.
escrevi sobre o NIN.
vou postar em algum desses blogs, você lê e me diz o que achou!

eu gostei do disco. POde ser repetição, mas pô, o Coldplay faz isso, o U2 faz isso, o Oasis faz isso e continuam vendendo discos e sendo grandes bandas... por que não o NIN?!

Taylor

Anônimo disse...

Taylor!!!

Rapaz, eu falei: o que o NIN faz é pra poucos - o que eu quiz dizer: que a banda faz um som totalmente próprio e de qualidade e que atualmente se dá ao direito de buscar inspiração em si mesma. Fazer isso sem se queimar é pra poucos, mhehehehe...

abração!

caio disse...

Rapá, boto fé em tudo o que foi dito aqui, mas não comentarei o disco por duas simples razões:

1 - não o ouvi

2 - só tenho ouvido o rock setentista ultimamente.

Kalunga disse...

Caio, acho que vc não vai gostar deste disco....hehehehe

inutilia sapiens disse...

bem...
difícil falar sobre NIN, conheci pelo broken, que por sinal acho fantástico assim como cada nova experiência da banda. Sempre um tapa na cara, por vezes um tapa ruim, na maioria das vezes um tapa pra derrubar de tão bom e impressionante, concordo com vc man, NIN é "pra poucos"; gostei da sua explicação.
heheh.
abraço.

Anônimo disse...

Vaca!!!!! Li uma parada interessante que tá rolando sobre esse CD (YEAR ZERO) no WHIPLASH que achei a sua cara! Provavelmente você já deve estar sabendo, mas se não tiver dá uma olhada lá que eu fiquei de cara com essa idéia! É um esquema envolvendo mensagens subliminares e criptografadas em vários lugares (shows da banda, camisas do NIN,clipes, sites e até no próprio CD)que se tornou uma espécie de jogo. Bom segundo o "próprio" REZNOR não é um jogo nem puro marqueting mas uma nova forma de arte! Acho que vale a pena você dar uma conferida lá!
Lemmy

Kalunga disse...

fala Lemmy! rapaz, essa parada aí tá rolando desde antes de o disco sai, mas eu esou com acesso restrito à internet e passei batido...

valeu!

Anônimo disse...

Art is Resistence