


As duas primeiras faixas de “ Super Ready Fragmenté”, recente lançamento dos Young Gods, confirmam o que o próprio Franz Treichler me contou pessoalmente quando da vinda de sua banda a São Paulo em 2004: “As guitarras vão voltar”, disse ele para mim e para um grupo de fãs que o cercavam no teatro do Sesc Av. Paulista naquela ocasião. Com o disco finalmente na rua (eles tiveram problemas de gravadora neste período), dá para constatar através de “I’m The Drug” e “Freeze”, as tais músicas que abrem o disco, que as mesmas poderiam tranquilamente estar presentes em “TV Sky”, justamente o seu maior êxito comercial. Nostalgia? Apelação? Falta de criatividade? Você pode até acusá-los superficialmente dessas coisas, mas um fato é certo: são duas músicas matadoras, com as tradicionais guitarras moto-serra apitando alto, pegada forte na bateria e com os vocais de Franz ainda mais marcantes, com um timbre ligeiramente mais rouco e envelhecido. O disco segue nesta onda auto-referencial, com as tribais e barulhentas “Cest Quoi Cest Ca” e “El Magnífico”. Porém, a faixa seguinte, “Stay With Us”, mostra do que estes caras ainda são capazes quando resolvem pirar o cabeção: trata-se de uma espécie de dub industrial, com sons de citaras e violões que pairam sobre ambiências sonoras, enquanto Franz versa palavras dignas de uma viagem de ácido. O buraco (negro?) é mais profundo na faixa-título (quase nove minutos de uma trip alucinada com batida quebrada, guitarras flutuando pelos canais de áudio, e com Treichler encarnando um Jim Morrison pós-moderno) e em “Un Point Cest Tout” (bela melodia cantada em francês por cima de algo entre o dub, o ambient e o rock progressivo). Nestes momentos, os ouvidos mais convencionais poderiam taxá-los de “chatos”, mas justamente ali reside a inquietude musical que tanto os tornou cultuados. “About Time” (com um groove surpreendente!), “The Color Code”, “Secret” e “Everythere” recolocam o grupo na trilha roqueira, sangue nos olhos com neurônios – coisa rara! Os Young Gods, que por muitos anos passados, foram considerados a ponta-de-lança do que havia de mais moderno e desbravador na música, resolveram olhar para dentro de si para poderem clamar por respeito e, acima de tudo, se mostrar relevantes atualmente. Em pleno 2007, com tudo o que já se fez por aí até hoje, o “antigo” pode soar “moderno” para as novas gerações. Franz Treichler e cia. jogam tudo isso num mesmo caldeirão e ainda fazem você sair cantando belas melodias por cima de soluções musicais anti-convencionais. O universo dos Jovens Deuses é bastante complexo, mas eles sabem se fazer ouvidos.
*Quer ouvir os Young Gods em plena onda de piração total? Vá ao disco 2 da coletânea “ XXY: Twenty Years – 1985-2005”, e ouça coisas esquisitas e geniais como a desconstrução dub-house-minimal de “Astronomic”, o arranjo de cordas em “Child in the Tree”, as versões dub de “Kissing the Sun” e “Supersonic” produzidas por Mad Professor (que virou “Dub the Sun”) e pelo próprio Franz Treichler respectivamente, e os covers de “Requien Pour un Con” (Serge Gainsbourg - com sub-graves alienígenas, radicalmente eletrônica!) e “The End” (The Doors - em fiel citação gravada ao vivo).