
“Extermínio” surgiu embalado pelo marketing de “filme de zumbis”, na onda dos blockbusters hollywoodianos de terror atuais, que são lotados de efeitos especiais e de sustos cuidadosamente preparados para o espectador saltar da cadeira e depois esquecer de tudo. Porém, o filme de Danny Boyle é infinitamente superior ao que o próprio gênero do terror restringe em torno de si. O mote desta produção – um rapaz comum acorda do coma após 28 dias e se depara com a Inglaterra totalmente abandonada e tomada por um vírus mortal que transforma pessoas em zumbis raivosos, sem saber se o resto do mundo também padece desta epidemia – é por si só genial para atiçar a curiosidade do espectador. Mas, muito além da carnificina que o título da película possa sugerir, “Extermínio” coloca em questão valores éticos e morais diante de uma situação de total desolação e horror. Os zumbis, na verdade, são meros coadjuvantes dos humanos “normais”, que agem muitas vezes de forma pior que mortos-vivos em estado de raiva absoluta.
O primeiro zumbi a aparecer no filme, por exemplo, surge justamente na figura do padre da paróquia onde o personagem principal foi buscar abrigo ou respostas. A religião simplesmente não existe nem possui autoridade diante da situação. Quando alguém é contaminado, podendo ser um desconhecido ou o seu próprio pai, a única solução é matar para não ser morto. Homens agem de forma primitiva quando confinados num mesmo ambiente, ainda mais se todos possuirem o poder de uma arma nas mãos, transformando a autoridade máxima em relativa por si própria. Mas, apesar de toda a desolação sugerida em “Extermínio”, há uma fonte de luz, valores surgem aqui e acolá sim senhor! A degradação humana encontra seus pares assim como aqueles que ainda persistem em seus juízos de valor diante de tal calamidade.

Já “Sunshine – Alerta Solar” embute o mesmo tipo de questionamento no âmbito de um filme ambientado no espaço. O Sol está morrendo, a humanidade está congelando e esvaindo junto com a luz cada vez mais fraca e escassa, e uma missão espacial leva todo o arsenal atômico da Terra para tentar reativar a Grande Estrela. Confrontos de egos surgem durante a viagem, mas os erros não podem ser tolerados neste tipo de tarefa. Quando as coisas começam a dar errado, “Sunshine” sai do âmbito de um mero filme de ficção científica estilo “veja-e-esqueça” e adquire contornos tipicamente característicos da mente de Danny Boyle. Porém, esta produção de 2007 não se equipara à “Extermínio”, talvez por pressão de fazer sucesso impondo um ritmo de thriller de suspense comum justamente perto da conclusão final. Talvez Boyle, um diretor tão afeito a mostrar as mazelas da psique humana, tenha sucumbido a salvar sua própria pele na indústria cinematográfica e acabou por produzir uma “obra menor” em sua filmografia. Tal qual o Tim Burton andou fazendo, que ganhou grana com “Planeta dos Macacos - um filme razoável - para finalizar uma produção fora dos padrões de Hollywood, (“Noiva Cadáver”), o cineasta britânico deve estar usando o sistema e juntando libras para poder bancar seus projetos pessoais mais profundos. Atitude muito parecida com a do personagem principal de “Trainspotting”...