quarta-feira, abril 05, 2006

Beco sem saída?


É produzir e mandar pra fora!
Foto by: Kalunga


É irônico notar que, aqui no Espírito Santo, não há uma cultura em si relacionada à música eletrônica. Num país sem memória, viver num Estado de população pouco numerosa é afundar de vez nos círculos provincianos que cultivamos desde sempre. O que era a ponta de lança de uma súbita e promissora novidade em meados de 2002, acabou por cair no esquecimento e por ser sugada quase que na sua totalidade por uma vertente solitária e totalitária. Até 2002, vá lá, 2003 também, Vitória tinha eventos que disputavam entre si a preferência do público que bancava a novidade, contando com ecletismo e muita boa vontade de quem os produzia e também de quem apenas queria se divertir. Techno, house, drum’n’bass e trance pareciam viver uma disputa saudável naquela época. Porém, a novidade passou. Sobreviveram aqueles que souberam canalizar os anseios de gerações específicas ainda mais novas em torno do que dá grana no bolso (não vejo nenhum demérito nisso, pois qualquer trabalho tem que ser recompensado), enquanto que todos os outros parecem viver de sobras, ilusões, ou de nada mesmo. O jovem de hoje (entre 18 e 25 anos) quer se divertir onde está bombando, seja numa boate badalada, seja numa micareta baiana. É um sintoma típico de gente normal de classe média e sempre vai ser assim em qualquer lugar. Este mesmo jovem agora se diverte - novidade! - também nas festas de psy trance. Os que optam por trilhar caminhos alternativos curtem o último hype do mês, de compratilhar arquivos novíssimos de Block Party e Arcade Fire, e de dançar em festas nostálgicas de uma época em que nem eram nascidos – os anos 80. E a música eletrônica, coitada, ficou perdida no tempo, virou som, acreditem, de gente velha?!?

Seria muito cômodo culpar o psy trance por este ostracimo para com as demais vertentes da música eletrônica no ES. A cena psy brasileira é idêntica em todo o território nacional, tanto em termos de público quanto de estrutura – uns maiores, outros menores, mas a postura em si é igual em todo o lugar. É uma cena independente com público de alto poder aquisitivo – um fenômeno sociológico a ser estudado! A forma com a qual as pessoas se aproximam do psy pode ser altamente questionável. Porém, o que não se questiona é o grau de profissionalismo acerca do que realmente interessa aos amantes de música em si: som bom e alto, decoração estupenda, e as maiores atrações mundiais do estilo batendo cartão nos festivais. É preciso botar e ganhar muita grana para sustentar algo deste nível. E o psy brasileiro (capixaba incluso) vive de uma forma totalmente independente a qualquer outro gênero musical. Talvez sua solidez fosse abalada se o suprimento de drogas lisérgicas fosse cortado de vez (eu tinha que soltar essa, hehehehehe...), mas o fato é que trata-se de, repito, um fenômeno sociológico entre jovens de classe média-alta brasileiros. A música eletrônica como um todo (techno, drum’n’bass, house, etc.) também já foi assim no Brasil, e aqui no Estado apenas ensaiou algo parecido. O que nos restou, capixabas, é trance, trance e trance.

Partindo daí, há aqueles que cairam na real e abriram as pernas para o mainstream, e embutiram seus anseios em noites típicas de boates badaladas regadas a drinks e azarações. Quem opta por viver disso aqui no Estado tem mais é que se adaptar ao sistema. Quem um dia sonhou em viver disso e manter algum tipo de integridade, ou passou a tocar psy trance ou largou dessa vida. Quem quer tocar sons diferentes da seara psy, tem que ralar! E quem somente curte estes outros sons diferentes parece que sumiu! Cadê aquela galera que freqüentava o Sala 11 e o Pub 455?!? O pessoal com mais de 25 anos que ia a estas baladas parece não ter tomado partido. Eu sei, parece papo de militante da Une falar em “tomar partido”. Mas, porra, estamos (eu, você que estiver lendo meu blogg, e o resto eu nem sei se existe mais...) ilhados (ops!) em parcas opções de se ouvir música eletrônica que não seja psy trance! E olha que quem escreve isso é um cara que poderia estar faturando bons trocos por DJ set de psy, na condição de veterano daquela cena.

Não toco mais psy por mera questão de gosto e por não me identificar mais com aquele público, e não por querer ser alternativo (algo que não enche o bolso de ninguém) ou qualquer coisa que o valha. Você, que gosta de techno, house, drum’n’bass ou o caralho-a-quatro-eletrônico - se é que você existe mesmo, saiba que tem gente tocando coisas diferentes na Serra (a galera de Ádamo e Anderson) e em bairros da Grande Vitória que saem do espectro de Praia do Canto-Jardim da Penha (DJs Cristiano e Mazzo). Fora os músicos veteranos e novatos daqui que vez ou outra fazem algum barulho bom produzindo sua própria música. É um exercício de paciência e, principalmente, persistência apostar em algo que parece estar caindo no esquecimento. Essa tal de música eletrônica deixou de ser moda por aqui, e virou demodé gostar disso entre os “jovens”. Tudo bem, o negócio é reunir quem gosta, partir para locais menores e com público realmente interessado. É pescar alguns dinossauros aqui e ali, e correr atrás daqueles “novatos” que gostam de algo que já não é mais sinônimo de “novidade”. Partir praticamente do zero.


Há opções, porém sem hype e para públicos mais seletos – Piscina Lounge Orchestra, Café Touché, 31/03/2006.


A banda Control Z, formada pessoas de idades entre 16 e 19 anos, está produzindo o som deles de maneira instintiva, sem seguir modas por aí. Teacher's Pub, 04/04/2006.
Fotos by: Kalunga

25 comentários:

Kalunga disse...

Não duvido nada que logo mais surjam exclamações na mídia sobre "a morte da música eletrônica", como vez ou outra falam o mesmo do rock and roll...

caio disse...

Papo fora do post (que comento depois): eu não falei - sempre - que esse papo de relacionar idade e pique nada tem a ver, seu peludo vaquento? Agora, com trintinha, vc vai começar a pirar DE VERDADE!!! Hahahahahahaha!!!! Vamos neeeessssssaaaaaaaaaa, pooorraaaaaaaaaaaaaa!!!!!

Hahahahahahahahaha!!!!!!!!


3.0 rula!!! 4.0 mais rula ainda!!!


Hahahahahahaha!!!!!!!!!!!!!!

caio disse...

A palavra é: engajamento. Mesmo o hedonismo sem gelo é questão de compromisso. Bobagem qualquer um achar que o lazer está dissociado da atitude. O compromisso consigo mesmo já é um engajamento, que pode conectá-lo a outros engajados em seu próprio campo. Essa turma de vinte e tantos anos que fritava (n)as pistas aqui do estadinho simplesmente parece não assumir laços com quaisquer coisas. O laço é com o trem que estiver passando na estação naquele momento, nada mais. Isso pode ser ruim? Pode ser bom? Bom e ruim. Basta saber em que time queremos ser escalados. Meu trabalho, assim como o seu, dá-se em um campo de contato pessoal extremado, e é ali que podemos jogar alguma coisa pros bicos das aves interessadas. De resto, farinha pouca - meu pirão primeiro.

Anônimo disse...

Mas o melhor do pirão não é a farinha... É a cabeça do peixe!!!

E essa aí normalmente só tem uma.

Quando se fala de lazer hj em dia, principalmente relacionado com esses modismos massacrantes que a gente vê por aí, o pirão é de água e farinha. Agua mineral e farinha em cápsulas... E esse é o compromisso da maior parte.

Que o som esteja alto e que a onda seja forte. O que estiver tocando, não importa. Importa é um flyer com um design e impressão caprichados, alguma novidade travestida endeusada por meia dúzia de malados e muitos aditivos.

Música associda a entretenimento. Isso pode facilmente se tornar uma pobreza total. Miséria.

Música é arte. Não é uma coisa que tem que "agradar", "bombar", etc.

FODA-SE o lazer e o entretenimento. O que faz a história é a arte.

FODA-SE!!!FODA-SE!!!FODA-SE!!!

Kalunga disse...

Boa Turco!

Boa Lacaio!

Vcs entenderam exatamente o que quis expressar no meu post!

Kalunga disse...

Caio, não é onda não, mas depois que fiz 30, me deu um start nesta bunda peluda que eu estou correndo atrás - e me dando bem! - de tanta coisa, que fico de cara!

Kalunga disse...

Olha, seguir o caminho da música eletrônica é algo muito mais tortuoso do que seguir os caminhos do rock and roll, por exemplo - em termos de botar som, cobrar fidelidade, etc.

Música eletrônica para dançar é basicamente ritmo, não tem o poder de uma canção, por exemplo. Eu nem de longe sonho em uma exposição da música eletrônica perante às massas igual ao rock and roll. Deixei isso exposto nas entrelinhas do post do Prodigy.

O negócio é aqui no Estado, onde pouquíssima gente toma partido de alguma coisa. Mas não tem disso não, estou agitando outras paradas, em proporções menores e mais seletivas. Eu gosto desta porra, fazer o quê, né...

Anônimo disse...

é isso ae kalunga! bom texto. pena que é real!
gostei da foto, valeu!
vou ver se consigo gravar o set do piscina hj e te passo.
e vamo q vamo pq lutamos por uma boa causa e isso é o q realmente importa!
modismos passam. a gente q passou dos 30 ja ta careca de saber disso.
abracao irmao!

caio disse...

Kalunga, vamos beber aquele uísque, mas só nós dois, sozinhos...

Hahahahahahahahahaha!!!!!!!!!!!

Que PALA foi aquela no Motörhead de sexta?

Hahahahahahaha!!!!!!!!!

Brokeback Daniel´s???

Hahahahahaha!!!!!!

Kalunga disse...

Sai fora, Lacaio!!!


hahahahahaha!!!

***

Fala Alex!

Estou no aguardo do teu set, para justamente engatar a matéria p/ o Rraurl.

E sobre o texto, posso adiantar que nos próximos meses o negócio aqui no Estado vai tomar rumos bem interessantes. Menos gente, mais qualidade, e todo mundo que gosta e faz se divertindo em outro nível, muito melhor.

Anônimo disse...

MUITO FODA ESSA PARADA DE MODISMO MAIS FAZER O QUE,ESISTE ,MAS PASSA E AGENTE CONTINUA FABIO OK.
NÃO ESQUENTA NÃO AMIGO JÁ ESTOU VENDO O LUGAR QUE TIFALEI.
OBRIGADO POR TER SITADO COISAS QUE FIZEMOS PELA MUSICA ELETRÔNICA.
É PORISO QUE ADMIRO SUAS IDEIAS.
ESTAMOS NA BATALHA TENTANDO VENCER
ALGUNS PRECONCEITOS DE RITIMOS MAIS É ASSIM MESMO AGENTE DEPOIS DE TANTO LEVAR NA CARA AGENTE APRENDE
FUIIIIIIIIII........

ASS:DJ CRISTIANO SOUZA.......

Kalunga disse...

Fala Cristiano!

A batalha agora é por cima de territórios já conquistados, pois a moda eletrônica já passou. O legal é que a resposta tem sido muito boa por parte de todos.

Com cada um fazendo sua parte, a gente consegue alguma coisa. Tanta porrada tem que surtir efeito, heheheheheh...

Valeu!

Anônimo disse...

fala kalunga.
cade as fotos q tu tiro la no gazz/speedz?
manda ae pra mim aqui
>>> zeela7@terra.com.br
.
to com o release pronto pra te mandar.
manda teu mail urgente.
o set nao rolou pq deu pau na fonte do md.
agora so no proximo. (sorry) :/

caio disse...

Kalunga, vc se lembra de minha pressão pra que vc fosse assistir o "Sin City"? Pois meu amigo, vá ver, correndo, já, agora, "V de Vingança", dos caras que produziram "Matrix". Subversão é o nome dele. Vá e enlouqueça. Eu, pelo menos, quase infartei. Subversão, meu amigo, subversão. Eu quase tive um troço vendo aquela porra. E cinema pra mim é isso, é a porra da vontade de dar um soco no ar no meio da sessão.

caio disse...

E, pelo amor de Deus, nada de esperar o dvd... É EXPERIÊNCIA pra cinema e nada mais.

Kalunga disse...

Alex, tô mandando o e-mail!

***

Caio, confesso que quando vi o trailer a parada me pareceu um típico blockbuster americano da pior qualidade. Vou dar um jeito de ir!

caio disse...

É um blockbuster americano, mas prepare-se ("Sin City" tb era, lembre-se), e pire! Subversão é a palavra de ordem.

Kalunga disse...

então é blockbuster da melhor qualidade

Kalunga disse...

tenho que agilizar minha carteirinha de estudante caô nova, pois a que tinha venceu! Vc sabe de algum esquema???

caio disse...

Rapá, não, e a minha tb já era. Mas ontem paguei só oito mangos pela inteira no Norte-Sul.

doggma disse...

V de Vingança na hq é incomparável, mas o filme é demais.

Mas voltando... do lado dos músicos, na sua opinião, a tendência são as formações "se deixarem" descobrir por algum DJ/entusiasta europeu (vide o Zemaria)? Porque, no circuito capixaba, é questão de tempo. Seja metal, punk, eletrônico ou reggae, é foda o esquema "pay to play"...

Claro que, se tu quiser algo mais comercial, tem a Blow-up, o Wall Street, a Swingers, e até o, hã... Playman, mas os estilos mais alternativos ficam meio que no gueto.

Kalunga disse...

É isso aí Dogma, eu acredito que a tecnologia atual permite que qualquer pessoa produza seu som e toque "ao vivo" sem o compromisso de um músico profissional, daqueles que realmente precisam se adaptar a todos os esquemões para sobreviver.

Sobre alguém de fora descobrir bandas e/ou produtores daqui, acredito que a competência e o talento são fundamentais, pois o ES, em termos de banda, queimou muito seu filme naquela onda de "música capixaba" que rolou até três anos atrás. Quando morei em Sampa em 2004 eu só ouvia comentários ruins sobre a maioria das bandas daqui, salvando-se apenas gente como Zémaria, J3, Terrorturbo e Dead Fish - ou seja, os únicos que não tocavam "música capixaba" ou levantavam alguma bandeira do tipo, e simplesmente procuravam aperfeiçoar cada vez mais sua música.

Hoje, com facilidades tecnológicas como o My Space, uma banda novata pode utilizar-se da internet para divulgar seu som mundo afora, e também para procurar referências para melhorar cada vez mais seu som. Esse papo de "música capixaba" já era, é só mesmo para o "circuitão" local, como vc mesmo citou.

caio disse...

Kalunga, vamos nos embebedar e fumar maconha nesse feriado!!!!

Kalunga disse...

opa!

erva??

eu parei com isso, hahahahaha!!!

mas a vida também permite exceções, hahahaha!!

caio disse...

Vamos ouvir Racionais, a única banda do Brasil que importa, mano.