segunda-feira, setembro 10, 2007
New rave do caralho
É incrível notar como o electro é um ponto de interseção entre diversos universos sonoros diferentes. Do “novo rock” ao EBM, da new rave a até mesmo ao pop, e incluindo também o guarda-chuva que acolhe a dance music (trance, house, breakbeat, techno, etc.) - todos estão se fazendo valer dos blips robóticos e timbres que parecem um computador dando defeito que são tão caros ao electro. E audiências tão diferentes quanto também se encontram nesta via retro-futurista que apareceu com força nos anos 80. Um dos maiores nomes da safra new rave (o rótulo da hora, mas que parece que em breve vai ser substituído por outro...), o Simian Mobile Disco, usa e abusa do gênero citado, mas consegue dar uma cara contemporânea e bastante pessoal em suas produções.
“ Attack Decay Sustain Release ”, lançado neste ano, é um petardo dançante altamente inflamável, digno dos grandes álbuns de música eletrônica que começaram a surgir na década passada. Os antenados de plantão já baixaram singles e remixes bem antes do “álbum oficial” sair de fato. Ok, segundo a regra atual, o SMD já estaria passado, então? Nem fodendo! Se a pressa em adiantar as músicas no seu tocador de mp3 deixar, você vai se deparar com pedradas altamente destruidoras como “I got this town” (ecos de electro-funk), “It’s the beat” (minimalismo a serviço de robótica), “Tits & acid” e “Hot-dog” (electros devastadores como estes existem poucos por aí!). E o álbum ainda contém “Hustler”, um breakbeat animalesco de faz dançar até o mais apático ser humano. Aí você se pergunta: “Tá! Então eles na verdade não apresentam nada de novo, a new rave é um embuste?”. Pois é... os ingredientes são todos conhecidos, mas a receita do SMD é digna de chefs virtuosos, que sabem extrair de elementos simples e óbvios um resultado bastante saboroso e pessoal. Os timbres ácidos, os sub-graves, os samples espertos – definitivamente o Simian Mobile Disco criou um grande disco querendo ser taxado de novo, porém reciclando idéias já utilizadas. Se quiserem adotar o rótulo que deram para isso, então que seja: é um puta new rave do caralho!
Ainda dando no couro
Em outros tempos, um post como este nunca poderia deixar os Chemical Brothers em segundo plano. Mas, na real, os tiozinhos da eletrônica dos anos 90 largaram o manche da embarcação que lidera a corrida pelo novo lá atrás, na época do “ Surrender” (1999). Até então, a dupla Ed Simons e Tom Howlands era quem dava as cartas nas pistas de dança. O tempo é cruel nestes dias de banda-larga (eu que o diga!), mas seria injusto afirmar que estes figuras aí perderam o bonde. Num caso clássico de quem um dia foi o centro das atenções e que agora observa os novos para se manter em evidência, “ We are the night” é, sem dúvida, um disco que os catalisa para a atualidade e reafirma a importância destes ingleses para a história da música eletrônica.
Chemical Brothers encarnando um Trentemoller (papa do minimal electro) básico em “Do it again”? O fato é que esta faixa bota no chinelo praticamente toda a turma que aposta em tiques-nervosos para fazer dançar (irritar?), incluindo o fodão citado aí. “Das Spiegel” e “Burst generator” se encaixariam perfeitamente na geração atual da new rave, misturando baixos sujos de pegada rock underground com eletrônica pesada - como se os próprios velhinhos aqui do post não fizessem exatamente isso em clássicos como “Block rockin beats” e “Setting sun” há mais de dez anos. No final das contas, temos aqui um típico disco com a sonoridade característica da dupla, com diversos detalhes pipocando pelos canais de som e muitas melodias (vocais ou de sintetizadores analógicos e/ou digitais) que remetem à psicodelia de décadas atrás. Mesmo em músicas de forte apelo no electro como “No need” e “A Modern midnight conversation”, surgem espectros meio ripongas até! E esta não era uma das ondas dos caras desde o primeiro disco (veja a capa de “ Exit Planet Dust")? Portanto, esqueça a bombação, pois “We are the night” é um disco de eletrônica que dá para ouvir em casa, no trabalho e até mesmo na pista de dança, com produção de ponta e muito, mas muito talento e sabedoria de quem realmente sabe o que faz e onde quer chegar. Trata-se de um Chemical Brothers de boa safra, do bom e com efeitos colaterais pra lá de positivos.
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8 comentários:
Caraca! o SMD é muiiiiitooo bom!!! Já o Chemical novo ainda não ouvi. Não rola um link no rapid share pra nóis baixá não? heheheheh...
Bicho, o electro e suas subdivisões, dentro da música eletrônica, ainda não me tocaram. Acho meio "popzão" e não curto muito as timbragens. Vou seguir suas dicas para ver qual é.
Ultimamente procuro timbres e micro-tons e estou me lixando para as batidas, harmonias e melodias. A minha onda é acústica e percussiva, mas não custa nada pesquisar, ouvir, assimilar e recriar com tecnologia rudimentar: pau, pedra, água, ferro, ar (assovios e sopros) e ambientações acústicas (salas, caixas e camadas de ruídos).
Atualmente, o único recurso tecnológico, principalmente os não-lineares, que são mais baratos e mais "faça você mesmo", que ouso usar é para trabalhar o silêncio, sobrepor as ambientações e num futuro próximo, mixar em canais simples e infinitos até que o bom gosto perdure e a memória agüente.
Fala Blasko!!! enfim apareceu, né maluco? hehehehe...
O SMD é muito bom mesmo, a mídia gringa está os comparando com Daft Punk e os próprios Chemical Brothers, e eles estão fazendo por merecer.
Sobre o link, eu vou ver se ainda hoje eu boto um rapid share p/ a galera baixar. Mas lembre-se: não tenho internet em casa...
abração!
Mentor, seu verme!!!!
Rapaz, tem certeza que o electro é "meio popzão"???
Cara, os timbres são totalmente robóticos, radicalmente eletrônicos e a parada é bem pesadinha...Acho que vc deve estar confundindo com ol electroclash, que é mais pop e escrachado sim, aquelas coisas tipo Vive La Fétê, Cansei de Ser Sexy e tal. Mas o electro que estou falando aqui é outra parada...
Vou postar um link aqui c/ um set list de electro du bão p/ a galera baixar...sabe lá deus quando!
abração!
Sei lá, ainda acho meio "Atari" oitentão. o electro house e o electroclash ainda mantiveram a mesma proposta robôtica pop do original. Na Casa da Matriz rolava muito eletropunk e eu sempre saia d apista para chapar uma breja, achava chatão.
Tudo bem: eu estou falando das poucas referências que eu tive. Vou cair dentro de suas dicas e pesquisar também sobre o tal de electrogoth.
Quando digo meio "popzão" é pelos "Synthpops" e o apêlo futerepop.
Mas eu acho que eu gostarei do electrogótico. Tem influência industrial e EBM, apesar do synthpop usado nele.
Mentor, este electro que estou falando é algo novo, pesadão, timbres "duros" e radicalmente sintetizados, tem influência de EBM e synthpop juntos, mas resultou em algo bem mais pesado e menos pop do que os electros que vc se refere. É algo que tomou corpo mesmo margeando o mainstream só agora...
Irado,
vou pesquisar.
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