segunda-feira, outubro 17, 2005

Terror flúor em Guaçuí


Este é o único registro fotográfico que restou desta roubada monstro!
Foto by Kalunga


A idéia era mirabolante (e suspeita...), mas a secura para botar um som sempre falou mais alto. Afinal de contas, era só levar os discos. Não éramos uma banda, não tínhamos que botar e carregar equipamento – esse negócio de “DJ” é bem menos cachorro na prática do que ser “músico”. Para mim e para o Tourco, bastavam uma cervejinha di grátis na mão e um som potente para acharmos tudo de bom. Grana nem vinha ao caso, pois o lance era botar som mesmo e foda-se. Mas o cara tinha planos mais ambiciosos: ele queria fazer uma grande festa itinerante, com uma equipe de som, DJs, segurança e decoração fixos. E iria rolar uma graninha! O único porém – o maior! – era que o tal queria invadir o Interior do nosso Estado, com a promessa de receber apoio de “políticos locais”. Isso não tinha como dar certo...

Na noite de uma sexta-feira qualquer de 2001, rolou a primeira festinha de trance na Fazenda Camping Barra do Jucu, com o homem-rave Pablo trazendo tudo de Arraial d’Ajuda. Foi bacana, umas cento e poucas cabeças dançando animadamente. Já às 10 da manhã de sábado, ainda na Barra, não daria tempo para dormirmos, pois o busão-com-ar-condicionado, prometido pelo cara das festas do Interior, estaria de prontidão naquele horário para levar a trupe toda ao primeiro destino desta Thrash Mistery Tour: a cidade de Guaçuí! Teria público lá para ouvir nosso som? O cara falou que a divulgação estava bombando por lá há semanas, e que todo mundo da cidade iria à festa, pois se tratava da única opção daquela noite (Vitória muitas vezes age como se também fosse assim...). A caranga atrasou pra caralho e, quando adentrou às nossas vistas, revelou-se uma enorme charrete motorizada, de cadeiras todas fodidas e arriadas, com aquele cheiro maravilhoso de cachorro molhado impregnado pelo ar. Foram cinco horas tomando sol na moleira e sacudindo dentro daquela fedentina. Lindo!

O tal cara da festa já foi segurança noturno e, como “dono” do evento em questão, colocou na fita seus chapas de terno-e-gravata para trabalharem com ele. Deveriam ter uns 20 no ônibus. “Será que o povo de Guaçuí é tão selvagem assim, para necessitar de tantos armários?”, pensei com meus botões. Estragados da noite anterior, eu e o Tourco ainda tínhamos que respirar o cheiro constante daquele baseado prensado (em mijo???) que a galera da decoração fumava o tempo inteiro. Conversa vai, conversa vem, e o Tourco lembrou de uma bela noite em que ele viajara como técnico de som da banda Símios para a mesma cidade. As lembranças dele eram terríveis! Para piorar os nossos presságios, o sol forte e incessante deu espaço a um dilúvio/ciclone na última parte da viagem (entre Alegre e Guaçuí), que quase jogou nossa lata-de-lixo-ambulante ribanceira abaixo. Depois do susto, finalmente chegamos ao nosso destino!

A cidade de Guaçuí parecia ter recebido a visita de um furacão: árvores partidas, postes dependurados, poças, lama, enfim, estava era uma merda total. O pessoal que chegou antes à cidade, para montar e divulgar a festa, estava aos prantos, pois havia caído água sobre a mesa de som e toda a decoração pré-montada tinha voado com o vento. Haviam nos prometido também um hotel e, de fato, havia um (péssimo) para nós, naquele esquema de uns cinco dentro de um quarto para uma pessoa – a intenção de descansar um pouco foi eliminada sem dó. E existia um grave impasse instalado: rolaria ou não a festa? O dono da coisa toda tentava a todo custo tomar uma solução, até que voltou com a notícia de que conseguira um local ótimo e que o evento rolaria de qualquer jeito. Vamos botar som, porra!!!

O local ótimo ficava num galpão quente, fechado e horroroso (com paredes pretas?!?), no alto do morro onde existe um Cristo Redentor capixabasso. O som de lá era horrível, e parecia que não era ligado há séculos. Eis que entraram em cena o Técnico de Som (Tourco) e o dono do barraco, um coroa cabeludão com cara de Hell’s Angel: o auto intitulado DJ Vovô. Ele era muito gente fina e ofereceu o possível para ajudar o Tourco a fazer milagre naquela aparelhagem cheia de teias de aranha e de outros insetos de procedência desconhecida. O som saía meio distorcido, mas dava pro gasto. A galera da decoração começou a esticar os cordões fluorescentes, e os 20 seguranças já estavam a postos. Mas havia algo muito de errado pairando no ar.

O primeiro sinal de que aquilo tudo estava muito esquisito foi quando vi um dos caras da decoração negociando pó com um figura no bar externo. “Porra, aqui deve ser o único lugar que vende cocaína nesta cidade!”, pensei. Depois, as peças começaram a se encaixar. Imaginem um bando de malucos de dreadlocks, tatuagens e piercings cuspindo fogo e praticando malabares no meio da rua de uma cidade do Interior, com uma peruinha tocando um trance pesadão na maior altura, e com a arte dos flyers e cartazes estampando a imagem de uma mulher semi-nua e de cinta-liga, com os seguintes dizeres: “Sucubus: Uma Noite de Prazer e Sedução”. Esta era a divulgação que fizeram semanas antes. Não sei como não foram presos... E, para piorar, o tal do galpão onde a festa foi improvisada tratava-se de um puteiro - o único - da cidade de Guaçuí!

A praça central da cidade estava lotada, mas ninguém ali se atreveria a subir o morro para a nossa festa. Nem o Cristo Redentor (aquele, o capixabasso...) salvaria a nossa roubada! Acabou que tocamos assim mesmo, para algumas putas, uns traficantes, a galera da decoração (que fumava o bagulho mais fedorento que já vi, e cheirava o tempo inteiro uma parada marrom – eu hein!), e os indefectíveis 20 seguranças. Não rolou hotel para descansarmos, fomos embora virados de dois dias, com o sol batendo forte na cabeça novamente, com o cheiro do bagulho mais horroroso da história, com as cadeiras-cachorro-molhado balançando horrores, e com os 20 seguranças comentando em voz alta coisas tipo “a festa estava uma merda, mas os DJs eram piores ainda!”. Os planos do dono da bagaça incluíam invasões posteriores a cidades como Linhares, São Mateus, Ecoporanga, Barra de São Francisco, entre outras improváveis opções. Pergunte se rolou mais alguma festa dessas?!? Grana no nosso bolso, então, só em sonho... ou pesadelo! E tome roubada!

12 comentários:

Anônimo disse...

Uhahahaha!
Quem mandou ir pra Guaçuí? O Tourco deveria ter te avisado...
Se fosse em Alegre teria sido ótimo!
[óbvio que é brincadeira, nunca rolaria ir na Sucubus]
Que comédias!

TCo disse...

Só vc mesmo Kalunga... pra me lembrar desses filmes de HORROR!!! EM DETALHES, AINDA POR CIMA!!!

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Maizen, tome comédia!!! É bom tomar na cabeça pra aprender... Hj em dia, tenta me contratar pruma parada dessas???

NEM SE FOR NO INTERIOR NA EUROPA!!!

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Kalunga disse...

Porra, eu tava fuçando uns CDs com fotos arquivadas de anos atrás, e vi lá uma pasta com o seguinte nome: "Sucubus".

Caralho, me mijei de tanto rir, e pensei comigo mesmo: eu TENHO que postar essa roubada por aqui, ahhahahahaha!!!!

Isso não foi "gonzo jornalismo", foi é "zarro jornalismo", hehehehehe...

Kalunga disse...

Kate, o Turco tem mais experiência (traumas?!?) em tocar no interior do que eu, hehehehehehe...

Fala aí, Turco!

caio disse...

"Não acredito nos Beatles, só acredito em John Lennon"

John Lennon, 1970

Acho que isso diz muito sobre tais roubadas. Não acredite em promotores, em músicos, em dj´s, em patrocinadores. Só acredite em você. Aliás, acho que vc já está fazendo isso. Vc e o tourco.

Kalunga disse...

Caio, o lance foi bem inocente mesmo. Fomos lá, nos jogamos, e ainda voltamos morrendo de rir. Quebrados também, hehehehehehe...

Olha, ainda bem que este negócio de botar som só envolve a gente por prazer pois, como já havia postado aqui antes, o meio noturno transpira roubadas e falcatruas de toda a sorte.

Por isso que as memórias das (muitas!) roubadas que passei neste segmento são bem divertidas.

Anônimo disse...

BOM TAMBEM JA ME METI EM ROUBADAS,ALIAS NA VERDADE QUEM AINDA NÃO?
MAIS O QUE IMPORTA E QUE COM ESSAS ROUBADAS SE APREDE E ADQUIRE-SE ESPERIENCIA ,MAIS MESMO ASSIM NÃO DEIXAMOS DE PASSAR RAIVA EM ALGUMA DESSAS ROUBADAS , O QUE IMPORTA É A AVENTURA. ASS: DJ CRISTIANO SOUZA

UM ABRAÇO MEU AMIGO FABIO E ATÉ SEMANA QUE VEM NO GAZZ,SE DEUS QUISER.................FUIIIIIIIIIIIIII

Kalunga disse...

O bom é rir de tudo depois, hehehehbehe...

Melhoras pra ti, meu brother! Vamos botar um som quinta que vem e, com certeza, sem roubadas!

Anônimo disse...

Bom teve uma vez que eu touei em Castelo...

Resultado... como me recusei tocar forró e música baiana, tive que ENSINAR (ISTO MESMO, ENSINAR) um cara que estava de bobeira lá na boate a mexer no mixer e nos CDs da casa para que o som não parasse...

Isso porque o dono do bar, que é amigo do meu cunhado, já estava dando uma de DJ pedindo pelamordedeus que eu desse uma solução para aquilo, qualquer uma...

Semana pasasda meu cunhado me convivou pra tocar lá de novo, com cachêzin e tudo...

Adivinha o que eu respondi?

Kalunga disse...

caralho Turoc, mesmo depois de tudo (e de todas as recusas) ainda te convidam???

Vez ou outra chega algum empolgado lá na Curva querendo levar a gente para tocam no Interior. Não dá certo!

Anônimo disse...

Poizé, camarada, ainda me convidam... Acredite se quiser!

Mas agora sou cast exclusivo do Gazz/Antimofo!!!

hehehehe

Kalunga disse...

Turco, me avise com antecedência quando vc puder tocar na quinta na Curva e/ou no sábado na Matriz. Nesta quinta agora tem o Alex fazendo live PA de breaks!