É produzir e mandar pra fora!
Foto by: KalungaÉ irônico notar que, aqui no Espírito Santo, não há uma
cultura em si relacionada à música eletrônica. Num país sem memória, viver num Estado de população pouco numerosa é afundar de vez nos círculos provincianos que cultivamos desde sempre. O que era a ponta de lança de uma súbita e promissora
novidade em meados de 2002, acabou por cair no esquecimento e por ser sugada quase que na sua totalidade por uma vertente solitária e totalitária. Até 2002, vá lá, 2003 também, Vitória tinha eventos que disputavam entre si a preferência do público que bancava a
novidade, contando com ecletismo e muita boa vontade de quem os produzia e também de quem apenas queria se divertir.
Techno, house, drum’n’bass e
trance pareciam viver uma disputa saudável naquela época. Porém, a
novidade passou. Sobreviveram aqueles que souberam canalizar os anseios de gerações específicas ainda mais novas em torno do que dá grana no bolso (não vejo nenhum demérito nisso, pois qualquer trabalho tem que ser recompensado), enquanto que todos os outros parecem viver de sobras, ilusões, ou de
nada mesmo. O jovem de hoje (entre 18 e 25 anos) quer se divertir onde está bombando, seja numa boate badalada, seja numa micareta baiana. É um sintoma típico de gente normal de classe média e sempre vai ser assim em qualquer lugar. Este mesmo jovem agora se diverte - novidade! - também nas festas de psy trance. Os que optam por trilhar caminhos
alternativos curtem o último hype do mês, de compratilhar arquivos novíssimos de Block Party e Arcade Fire, e de dançar em festas nostálgicas de uma época em que nem eram nascidos – os anos 80. E a música eletrônica, coitada, ficou perdida no tempo, virou som, acreditem, de gente
velha?!?
Seria muito cômodo culpar o psy trance por este ostracimo para com as demais vertentes da música eletrônica no ES. A cena psy brasileira é idêntica em todo o território nacional, tanto em termos de público quanto de estrutura – uns maiores, outros menores, mas a postura em si é igual em todo o lugar. É uma cena independente com público de alto poder aquisitivo – um fenômeno sociológico a ser estudado! A forma com a qual as pessoas se aproximam do psy pode ser altamente questionável. Porém, o que não se questiona é o grau de profissionalismo acerca do que realmente interessa aos amantes de música em si: som bom e alto, decoração estupenda, e as maiores atrações mundiais do estilo batendo cartão nos festivais. É preciso botar e ganhar muita grana para sustentar algo deste nível. E o psy brasileiro (capixaba incluso) vive de uma forma totalmente independente a qualquer outro gênero musical. Talvez sua solidez fosse abalada se o suprimento de drogas lisérgicas fosse cortado de vez (eu tinha que soltar essa, hehehehehe...), mas o fato é que trata-se de, repito, um fenômeno sociológico entre jovens de classe média-alta brasileiros. A música eletrônica como um todo (techno, drum’n’bass, house, etc.) também já foi assim no Brasil, e aqui no Estado apenas ensaiou algo parecido. O que nos restou, capixabas, é trance, trance e trance.
Partindo daí, há aqueles que cairam na real e abriram as pernas para o mainstream, e embutiram seus anseios em noites típicas de boates badaladas regadas a drinks e azarações. Quem opta por viver disso aqui no Estado tem mais é que se adaptar ao sistema. Quem um dia sonhou em viver disso e manter algum tipo de integridade, ou passou a tocar psy trance ou largou dessa vida. Quem quer tocar sons diferentes da seara psy, tem que ralar! E quem somente curte estes outros sons
diferentes parece que sumiu! Cadê aquela galera que freqüentava o
Sala 11 e o
Pub 455?!? O pessoal com mais de 25 anos que ia a estas baladas parece não ter tomado partido. Eu sei, parece papo de militante da Une falar em “tomar partido”. Mas, porra, estamos (eu, você que estiver lendo meu blogg, e o resto eu nem sei se existe mais...)
ilhados (ops!) em parcas opções de se ouvir música eletrônica que
não seja psy trance! E olha que quem escreve isso é um cara que poderia estar faturando bons trocos por DJ set de psy, na condição de
veterano daquela cena.
Não toco mais psy por mera questão de gosto e por não me identificar mais com aquele público, e não por querer ser
alternativo (algo que não enche o bolso de ninguém) ou qualquer coisa que o valha. Você, que gosta de techno, house, drum’n’bass ou o caralho-a-quatro-eletrônico - se é que você existe mesmo, saiba que tem gente tocando coisas diferentes na Serra (a galera de
Ádamo e
Anderson) e em bairros da Grande Vitória que saem do espectro de Praia do Canto-Jardim da Penha (
DJs Cristiano e
Mazzo). Fora os músicos veteranos e novatos daqui que vez ou outra fazem algum barulho bom produzindo sua própria música. É um exercício de paciência e, principalmente, persistência apostar em algo que parece estar caindo no esquecimento. Essa tal de música eletrônica deixou de ser moda por aqui, e virou
demodé gostar disso entre os “jovens”. Tudo bem, o negócio é reunir quem gosta, partir para locais menores e com público realmente interessado. É pescar alguns
dinossauros aqui e ali, e correr atrás daqueles “novatos” que gostam de algo que já não é mais sinônimo de “novidade”. Partir praticamente do zero.
Há opções, porém sem hype e para públicos mais seletos – Piscina Lounge Orchestra, Café Touché, 31/03/2006.
A banda Control Z, formada pessoas de idades entre 16 e 19 anos, está produzindo o som deles de maneira instintiva, sem seguir modas por aí. Teacher's Pub, 04/04/2006.
Fotos by: Kalunga