
Não adianta! Quando o negócio é botar o povo pra suar na pista, nada melhor do que o balanço black vindo direto da origem. Produtores de música eletrônica suam seus dedinhos nos softwares de produção, mas só conseguem um resultado sacolejantemente bom quando bebem (sampleiam!) diretamente da fonte negra. E tome James Brown, George Clinto/Funkadelic, Earth, Wind & Fire, Cameo, Chic, Isaac Hayes… e também Tim Maia e Jorge Ben! O grande lance de ouvir um som contemporâneo é sacar de onde veio aquele sampler, aquela batida, aquele vocal. E saber também que tem gente maluca o suficiente para juntar este monte de referência e dar cria a uns troços estranhos e bem legais!
Tim Maia Disco Club! Presentão de aniversário de meu amigo Caio, que minha mãe, meu tio, o cachorro da vizinha e este que vos escreve não páram de ouvir, pirar e se contagiar. Eu conheci o som do tio do Ed Motta nos anos 80, aqueles baladões estilo final-de-noite-num-piano-bar-decadente, e só fui descobrir os potes de ouro do cara na década passada. E pensar que tinha vinil original da fase anos 70 dele dando mole na minha antiga casa... Enfim, vamos ao presente-passado-futuro: “A fim de voltar”, “Ascenda o farol” e “Sossego” são de rachar qualquer assoalho por aí, de igual para igual com papas da música black sacolejante norte-americana – as duas primeiras são disco music incandescentes, e a terceira, bem, é “Sossego”, porra! A híper dançante e instrumental “Vitória Régia, Estou contigo e não abro” faz a ponte para os baladões soul de “All I Want” (se mostrar este som p/ jovem pesquisador de som black por aí, o cara vai achar que se trata de algum clássico da Motown), “Murmúrio”, “Pais e Filhos” e “Se me lembro faz doer”. “Juras” recoloca o trem nos trilhos da disco - infernal!, e “Jhony” quebra tudo no final, com muito funk percussivo e fantásticos arranjos de metais e orquestra – presentes (e de autoria de Tim) por toda a parte do disco, diga-se. Quem sou eu de indicar algo tão bom e clássico assim! Neste caso aqui, é só para curtição das melhores! *Este disco ganhou uma remasterização excelente, pois o som está muito nítido e forte, sem aquele ranço “magrinho” típico das produções brasileiras da época.
Jazz pra mim soa chato demais, na maiora das vezes que me dispus a ouvir. Aqueles troços tipo fusion e tal não entram na minha mente. Mas os balanços mortais da Blue Note são outros quinhentos! Órgão Hammond, baixo acústico, bateria suingada... tomei conhecimento daquela cepa através de discos de jazz-rap de gente como US3 e Digable Planets. Qual não foi a minha surpresa de saber da existência de um trio que reverencia aquele tipo de groove nos dias atuais? Medeski, Martin & Wood praticam uma espécie de acid-jazz-funk muitíssimo bem tocado (como é de praxe em formações do tipo), ora pendendo para o groove puro, ora caindo para a punhetagem instrumental. Os caras lançam disco quase que anualmente, e a maioria é muito boa, sendo que eu prefiro o lado mais balançado de, por exemplo, “Shack Man”. Encontrei esta belezura perdida num sebo no Centro de Vitória há alguns anos atrás, em versão nacional! Procure que você acha!*Vez ou outra o M,M&W dá as caras em terras tupiniquins. Mês passado eles tocaram em Sampa com apresentações esgotadas semanas antes dos shows. Na próxima eu vou!
Pegue a Blue Note e o M, M&W, jogue tudo num tanque lotado de haxixe, fluído de bateria e cerveja, misture e bote pra dentro sem respirar! Vai dar uma congestão estomacal, mas também vai dar uma onda louca! Só esqueceram de chamar (samplear!) o Síndico Tim Maia! “At The Center”, disco mais recente da dupla de loucos de pedra vanguardistas do Meat Beat Manifesto (Jack Dangers e Jonny Stephens) é jazz-funk-breakbeat-dub-ambient alucinadamente dançante e, ãh, cabeçudo. Da mistura de hip-hop com industrial do começo (chegaram a gravar pela Wax Trax, conceituada gravadora de industrial de Chicago), passando pelo big beat antenado com o melhor produzido no final dos anos 90 (“Prime Audio Soup”, do álbum “Actual Sound & Voices”, fez parte da trilha de Matrix), ao jazz-electro-funk de “RUOK” (2003), o Meat Beat Manifesto sempre se mostrou inquieto a cada disco. Este álbum mais recente é capaz de provocar alucinações tanto balançadas quanto espasmos em ritmo de bad trip. É uma droga esquisita, de efeito dançante e conseqüências por vezes indigestas. Estou me arriscando a experimentá-la e até agora gostei!



Em 1997 uma bomba suja e eletrônica tomou de assalto o Mundo Pop. Eram quatro malucos com pose (cyber) punk e batidas irresistíveis esfregando na cara dos incautos sobre o “futuro da música” e a “morte do rock and roll”. Besteira! O maior erro dos leigos foi tentar enxergar no Prodigy o futuro de alguma coisa, e o fim de outra. Após o lançamento de “The Fat of The Land”, tinha jornalista comparando-os até com os Beatles (é sério)! Logicamente, tamanho hype criou um retrocesso que gerou antipatia em roqueiros radicais, e uma mega-expectativa em torno do próximo trabalho da “banda” (aspas são necessárias). Meus amiguinhos, o Prodigy é um projeto tão única e exclusivamente encabeçado pelo seu fundador, o produtor Liam Howlett, direcionado às pistas de dança desde o início, que data de 1990. O poder de fogo de bombas atômicas como “Breathe” e “Firestarter” foi potencializado na época certa, da massificação mundial da música eletrônica que o próprio Prodigy ajudou a arquitetar. Guitarrista e baterista ao vivo eram artifícios para enquadrar o grupo no esquemão pop. Mas Liam Howlett fez questão de afirmar o propósito de sua criação, ao lançar logo após o seu estouro o mix-set “Dirty Chamber Sessions – Vol1”, um sensacional compêndio contendo a discotecagem de tudo o que influenciou a mente deste talentoso DJ/Produtor – de Beastie Boys a Sex Pistols, passando por Bom The Bass e Chemical Brothers. A demora em lançar material novo fez a poeira baixar e, mesmo assim, “Always Outnumbered , Never Outgunned” (2003) foi malhado de cima embaixo. Porra nenhuma! É um puta disco para as pistas, com breakbeats (sua marca mais famosa) convivendo harmoniosamente com timbres electro/disco punk matadores. Para quem já foi dono do mundo, uma volta às melhores pistas de dança não era considerada digna pelo panteão pop. Não sabiam o que estavam perdendo...