
As Brumas de Outono se encontraram na Dark Street
Foto By: Kalunga
Mineiro é muito gente fina! Não é de hoje que meus amigos me falam isso, dos famosos rocks em Bêagá, de boa comida, papo bom, cerveja boa, farta e sempre gelada, uai! Papo tão bom este que rendeu convite para fazer minha festa The Dark Street Project na Terra do Pão de Queijo. Porra, pão de queijo! Tinha que comer um logo quando pisasse nas Minas Gerais, mas ficou pra depois. Pois é, quando pisei na capital das Gerais o visual até me lembrou São Paulo: muita ladeira, céu poluído, trânsito infernal, ar seco... Rapaz, as semelhanças acabam por aí e lendo o texto vocês saberão o porquê! Cheguei às 18 horas de quinta-feira, hora do rush, com o Angel e sua mulher já me esperando na Rodoviária, e fomos pegando busão lotado (linha 1407), estilo Transcol, para a casa do Nilton, nosso cicerone – que por incrível coincidência encontrava-se no mesmo coletivo, voltando de seu trabalho. Já devidamente instalado no apê em São Francisco, rolou aquele banho providencial, passamos rapidamente para conhecermos a Casa Matriz (espaçosa, underground, com toda a estrutura – tudo isso junto nunca existiu no ES!), e partimos para o principal: cerveja! Cerveja esta que está sempre boa, farta e gelada!
A primeira cerveja boa, farta e sempre gelada rolou um barzinho na Savassi: cadeiras na calçada, lotado de gente de todo o tipo, tomamos Heineken em um linda e verde garrafa de 600 ml – nunca tinha visto!, comemos uma porção de 10 pastéis a R$ 2,50 (lembrem-se: a porção!), e começamos a perceber que tudo em BH é mais em conta que em Vitória. Estão vendendo uma imagem exagerada de “qualidade vida” que na verdade está encarecendo tudo na nossa Ilha-Província-Capixaba. E olha que estávamos na Savassi, a Praia do Canto os belorizontinos, pagando barato para beber bem, cerveja sempre gelada – porra, como é difícil tomar uma cerva nos trinques aqui em Vitória! E com os neurônios nos trinques que fomos panfletar a nossa festa em locais como A Obra e Up Club – locais pequeninos, no meio termo entre o charmoso e o tosco. A fome e o cansaço batendo, e lá fomos nós para o Centrão, forramos o estômago na tradicional cantina italiana La Greppia, 30 anos de história, aberta e lotada 24 horas, R$ 8,90 pra comer uma variedade deliciosa até cair. Só não rolou pão de queijo! E caímos de sono, pois no dia seguinte tinha mais.
O dia seguinte teve muito mais, pois fomos ao Mercado Central, mil comidas, temperos, cachaças, mais cervejas geladas e nos trinques. Comemos Comida Mineira (com maiúsculo e autoridade!) legítima no Casa Cheia, que fica no mezanino do Mercado. Rapaz, até a couve refogada deles é de uma divindade única! Da divindade para o inferno, pois tivemos que andar na rua torrando com 38 graus de um sol atípico (segundo os próprios mineiros) na moleira, tontos de tanto comer, e sem podermos dar mole de pedestre capixaba: quem anda a pé em BH não vale um tostão, pois o trânsito ali é dos velozes e furiosos. E fomos, velozes e furiosos, no Gol do Nilton, pegamos o brother Tatá (o cabeça do movimento gótico de BH, quando bêbado, parece um urso amigo e emotivo – figuraça!), e a dupla Fábio e Ricardo, da banda Lost Days (que iria tocar conosco – mais figuraças!) e partimos para darmos seguimento à saga de divulgar nossa festa em programas de rádio e de televisão. Da UFMG (cheia de histórias de estupros e assassinatos) à PUC, suamos a camisa (literalmente!) e cumprimos nosso papel. E partimos para a cerveja boa, farta e sempre gelada, desta vez no Maleta, um pico no Centrão, parecia até a Rua da Lama, com vendedores de cd pirata, amendoim, hippieces, mendigos... e com o que a nossa Lama produz com dificuldades: a porra da cerveja boa, farta e sempre gelada – Original na cabeça! Cabeças as nossas já meio lesadas, mas fomos para outro lado da cidade, num bairro mega-granfino chamado Belvedere, tudo isso para tomarmos um chopp divino no Krug Bier. Puta que pariu! A espuma daquele chopp (um de trigo, meio turvo e mais forte que todos) é alucinógena. E ainda rolou um vira-vira de tequila no final - R$ 6,50 a dose de Jose Cuervo Ouro, num bar, pasme!, numa área tipo Ilha do Frade... porra, capixaba paga o dobro nisso, e ainda não come pão de queijo decente, sendo que eu ainda não havia comido um!
Se ainda não rolou um pão de queijo, rolou uma gripe chata que veio com tudo pra cima de mim, como que uma punição por ainda não ter experimentado essa guloseima típica mineira. Arrastando carcaça, fomos novamente para a Savassi, onde fizemos um pit-stop no Bar do João, e depois fomos a uma galeria onde ficava uma loja de moda gótica e um stand de piercing e tattoo. Neste último, conhecemos o Johnny, veterano da galera que curte e produz som e festas no estilo EBM/industrial – era O Cara, pois sua banda, Cadaveria, era um mix de Ministry com Young Gods cantado em português! O bagaço da gripe me assolava, a fome idem, e acabei comendo num restaurante natural (Casa Natural) maravilhoso, enquanto que Tatá, Nilton e Angel foram se acabar num (mais um!) restaurante de Comida Mineira (maiúsculas, lembre-se!). Da comida para a cama, pois a noite era de festa. Festa Gótica!
A Festa Gótica – organizada pelo núcleo Brumas de Outono – em si não vingou o esperado. A enorme divulgação que saiu nos principais jornais de lá (Estado de Minas e Diário da Tarde), com fotos grandes e entrevistas, parece que rendeu inveja em outros núcleos semelhantes – e eu que achava que este tipo de coisa era privilégio de nossa grande cena capixaba. Não quis nem saber, toquei com vontade, fiquei de pé à base de vodka com energético e tudo de bom aconteceu. Estiveram presentes cabeças boas e influentes, que abriram as portas para que tocássemos quando quiséssemos em BH, e ainda por cima rolou um canal do caô aqui poder ter a chance de discotecar na Thorns – a maior rave gótica do país! Quem botou esta pilha foi a dupla do Lost Days, banda que mistura gothic rock e EBM, que fez um show destruidor na nossa festa, e que bebe pra caralho!!! Os dois figuras, lá pelas tantas, me revelaram o que o adjetivo pós-punk se transformou para eles. Era algo tipo o nosso capixabasso, hehehehehe... Só sei que no final eu já estava pós-punk decadente da porra, uai!
Decadente da porra no domingão e ainda não havia comido pão de queijo! Fome batendo e fomos nós na Savassi atacar um restaurante chinês do qual não me lembro o nome (excesso de shoyu na cabeça e na pança...) e que cobrava R$ 13,00 por cabeça para comer de tudo muito bom e sem parar. Em Vitória um restaurante desses iria dar briga, seria depredado, não daria certo, muito bom pra ser verdade. Verdade mesmo era tocar fundo para a Praça da Liberdade e seus bebedouros de água gelada, gente de todo o tipo em perfeita harmonia num Domingo no Parque mineiro, uai! Bagaço batendo mais forte, e nada do pão de queijo! Chegava a hora de arrumar as malas e ir embora. Bicho, ô terrinha de gente boa da porra! Não moraria lá, mas que voltarei sempre, isso com certeza! E o pão de queijo? Comi quatro de uma vez só, momentos antes de embarcar para Vitória. O pão de queijo de rodoviária deles faz o melhor dos nossos parecer borracha com goma de mascar. Acordei já em Vitória, meio perdido, chumbado e feliz. Quero voltar, uai!!!!
+ Fotos:
By Kalunga

DJ Angel (ES), meu parceiro na Dark Street, foi devidamente 'montado' pra festa. Sinistro...

Já pedindo arrego e água, junto com Fabio Riot, guitarrista do Lost Days (MG) e pós-punk pra caralho, hehehehehe...

Entre Nilton, nosso anfitrião, cicerone e faz-tudo de BH, e o Tio Chico

A banda Lost Days quebrou tudo no seu show!

O caô aqui pode dizer agora que já botou som em BH, hehehehe...
*Esta foto by Led Russo