terça-feira, setembro 27, 2005

A Indústria Não Pára – II



Somente um festival de médio para grande porte poderia trazer o Nine Inch Nails para o Brasil. A banda de Trent Reznor nunca foi devidamente assessorada por essas plagas, visto que, dos seus cinco álbuns (sem contar Eps e discos de remixes), apenas o deste ano foi realmente lançado por aqui – “Fragile” (1999) saiu em edições importadas (o olho da cara) pela gravadora, “Broken” (1992) recebeu versões em CD e vinil tão difíceis de achar que parecem ter sido importadas também, e “Pretty Hate Machine” (1989) e “Downward Spiral” (1995) simplesmente passaram batidos. Ser fã brasileiro do NIN requer suados dólares convertidos em real. Mas você pode disponível relativamente fácil um DVD (em versão nacional - o fominha aqui não esperou e comprou o grindo antes de sair por aqui) deles e ter uma prévia do tal show a ser realizado no final de novembro.

“And All That Could Have Been” registra o NIN no auge de sua popularidade nos EUA, durante a turnê de “Fragile”. E, pela lotação do lugar (a média foi de 10 a 25 mil pessoas a cada data), fica difícil saber como que bandas como eles e o Tool (que também é mega por lá) sejam tão populares. Para o gênero industrial, o NIN bem que injetou letras mais consistentes e canções assobiáveis, mas o tom geral é sombrio e sem parentesco com nada que se resvale em algum padrão de “top 40”. O espetáculo visual apresentado neste DVD por si só é de encher os olhos, mas as figuras pouco simpáticas de Trent Reznor, Robin Finch, Danny Lohner e cia. não contribuem muito para uma identificação mais popular. Portanto, fica apenas, para tentar deduzir algo, o excelente registro audiovisual de vocação “search & destroy” cuidadosamente ensaiada que o NIN sabe muito bem fazer. O grupo executa suas canções de maneira muito mais energética que no estúdio, transpondo a própria eletrônica massiva para uma espécie de de/re-construção ao vivo, com direito a muitos sintetizadores sendo tocados com a intensidade de um guitarrista batendo cabeça. Reznor dá seu showzinho particular jogando ao chão alguns teclados de milhares de dólares, como que se quisesse enfiar o dedo na cara daqueles que acreditam que show de música eletrônica é só alguns caras apertando botões devidamente pré-programados (a maioria é isso mesmo, diga-se...). O Brasil vai ver um ótimo show. Será que vai ter público aqui para eles virem sozinhos algum dia?

Se Sin City tivesse gerado uma banda, esta teria o nome de My Life With The Thrill Kill Kult. O que, a princípio, era para ser a trilha de um filme que misturava trash B e noir, acabou se transformado numa banda que carregava o nome do próprio filme, que nunca fora lançado (era para ter sido em 1985)! O que ficou foi aquele clima de cabaré anos 40, vozes masculinas roucas e sussurradas, vocais femininos lascivos, metais nonsense, guitarrinhas safadas e um maquinário electro/industrial eficiente para dar coesão nesta mistura. O Kill Kult evoca imagens de carrões de mafiosos e de pin ups provocantes, que se encaixariam como uma luva para a já clássica filmagem dos HQs de Frank Miller. Ouça sem contra-indicações os álbuns “Sexplosion”, “Hit, Run & Hollyday” e “Reincarnation of Luna” e entre neste clima.

Os momentos mais sangrentos de Sin City bem que poderiam ter sido acompanhados pelos retardados/industrialistas/metaleiros do KMFDM. Trafegando numa linha bem estreita que os separa do som praticado pelo Kill Kult (surgido praticamente na mesma época), este agrupamento alemão multirracial também aposta em climas de noir e terror B acompanhados por vozes femininas, mas investe numa versão heavy metal disso tudo, com direito até a solos de guitarras típicos dos headbangers da terra do chucrute. “WWIII”, seu mais recente petardo, pouco acrescenta à sua extensa discografia (desde 1985 é um - ou mais - álbum por ano), mas mantém a tradição de refrões divertidos, porradarias de guitarras aqui e ali, batidas dançantes a rodo, e muita diversão movida a HQs – vide as suas capas. Aliás, algumas definições sobre o significado da sigla “KMFDM”, segundo eles próprios, podem ser “Kill Mother Fuckin’ Depeche Mode”, ou “Kylie Minogue Fans Don’t Masturbate”. Nem sempre o som industrial é sinônimo de postura séria e sisuda para com o mundo.

*Sin City também poderia ter Stray Cats, Social Distortion, Revolting Cocks, Autoramas, Anal Cunt... Realmente faltou apenas aquela trilha bombástica para o filme, mas mesmo os temas incidentais são perfeitos. Alguns sons são “trilhas sonoras” não-filmadas. Isso rende outro post...

3 comentários:

Mentor disse...

My Life With The Thrill Kill deve ser foda hei. A capa é meio rockabilly. E$tou pensando em mandar umas tastoo rockabilly nos braços... Ah, kalunga, estou baixando um stray cats no slsk... a banda é ducaraio mesmo... guitarrinha porca anos cinquenta purinho!
Eu estarei no Rio agora, já no início de outubro... e é lógico que eu irei assistir a esses shows

Anônimo disse...

Sin City foi um tapa tão grande para mim que nem deu pra viajar na trilha... A parte mais tensa era a Nana enfiando a cabeça atrás do meu braço o filme quase todo! :)

Kalunga disse...

O Kill Kult tem "guitarrinha porca" misturada com maquinário industrial da melhor qualidade. Marylin Manson e Rob Zombie chuparam sem dó desta banda, no que diz respeito aos climinhas de terror B, vozes femininas sacanas, climas de cabaré, etc.