quarta-feira, maio 10, 2006

O Poder dos Downloads e dos Camisas-Pretas



A Revista Bizz tem influência fundamental na minha vida com esse negócio de música, desde que comecei a comprá-la mensalmente lá pelo final de 1989. Acompanhei-a desde então, passando pela “fase Forastieri” (a melhor), me decepcionando profundamente quando esta se transformou em “Showbizz” (popularesca ao extremo), e olhando com frieza seu triste fim após tentar voltar às boas eras em 2001. Pois bem, um dos meus maiores prezeres de ler a Bizz nesta sua fase “atual” é justamente poder presenciar uma troca de guarda radical nos dias, minutos, segundos e downloads que correm em velociade absurda hoje. Chega a ser engraçado ver seus editores e jornalistas sambando para agradar ao público das antigas ao mesmo tempo em que tentam seduzir os mais novos – aqueles que não nasceram com o costume de comprar CDs, de ler revistas/noticiários em papel, sacam? A redação atual da revista conta com as bases sólidas também de antigamente – a Editora Abril – e imagino o tamanho da lábia que eles tiveram que gastar para convencer um dos maiores grupos empresariais do Brasil a voltar a apoiá-los numa era tão desfavorável às “mídias não-virtuais” como hoje. O maior reflexo da citada “troca de guarda” é sua seção de cartas. Quem já nasceu baixando música não quer saber de esperar um mês para ler sobre algo que eles mesmos já puderam conferir horas - minutos até! – depois em trocentos web sites. Mas é justamente neste paradoxo que a Bizz tenta se sustentar, afirmando que a informação que eles produzem é diferenciada, que se trata de algo que você literalmente guarda numa estante como um livro. O difícil é convencer as novas gerações desta “importância”. Ao apontar sua linha editorial dividido-se entre semear o conhecimento sobre os “clássicos” e dar importância ao que de novíssimo está saindo agora, a Bizz parece se encontrar numa encruzilhada.

Não tenho acesso a dados sobre as contas da Abril em relação a Bizz para tirar qualquer conclusão mercadológica. Apenas concluo sobre o que venho lendo desde que a revista voltou, no ano passado. Disponibilizar todas suas edições num pacotão de primeira em CD-Rom foi uma jogada fantástica para trazer de volta seus antigos leitores, todos na faixa dos trinta anos pra cima, com poder aquisitivo e mentalidade maduros o suficiente para selecionar melhor o que vão gastar com seu dinheiro. Mas a atual geração não está nem aí para isso, e a Bizz tenta a todo custo agradá-los, dispondo seus textos como numa página da web, escrevendo pequenos editoriais sobre “as maravilhas de ouvir música num mp3 player”, ou de pegar mais leve com os hypes que, aposto, a maioria dos jornalistas ali não engole tão facilmente. Mas o fato mais perigoso, na minha opinião, a ser apontado é justamente a manutenção da postura antiga, de serem meio “alternativos numa grande corporação” – atualizando em termos: eles (a Bizz) ainda adoram espezinhar em cima de Figurões do Pop, Tubarões da Indústria Fonográfica e Promotores Vampirescos de Mega-eventos, mesmo dependendo drasticamente destes para sobreviver. Ou seja, a “caça às bruxas da Bizz” sempre existirá. Só que o mercado atual está mudando radicalmente. Gravadoras estão perdidas com essas “novas tecnologias”, e os tais “anunciantes corporativos” são os que botam (e sempre botaram) dinheiro nas suas páginas. Particularmente acho do caralho este conflito de “nobres ideais” vs. “preciso-pagar-minhas-contas-com-seu-dinheiro-sujo” que a Bizz faz desde sempre e que acaba produzindo o certo e o questionável lado a lado. Mas o mundo de hoje não é mais o mesmo de antes do surgimento da internet em massa. Tentar agradar à Geração Download, aos Antigos Leitores e também às Grandes Corporações me parece uma tarefa praticamente impossível. Essa garotada de hoje vai ler a Discoteca Básica e talvez se interessará em baixar (comprar, nunca!) tais sons, enquanto se fartam de adquirir informação nova sem ter muita (nenhuma...) paciência de olhar para o que veio antes. Enquanto isso, as tais Grandes Corporações se viram em travas contra cópias de CDs, mega-eventos com armações pop e por aí vai. O conflito de interesses de gente que não fala a mesma língua, ao meu ver, está tão grave como nunca antes. Meu medo é de que a Bizz, aquela que ainda me dá tanto prazer, possa sumir novamente, comendo a poeira dos arrastões que o Mundo Pop promove periodicamente.




Já disseram que “metaleiro é tudo burro”. Bem, este não é o caso dos headbangers que tocam a Ferro e Fogo a revista Rock Brigade desde o longínquo ano de 1983 – dois anos antes de a Bizz surgir. Adentrando nos Portões de Vahalla, decepando cabeças de dragões com Espadas Sagradas e combatendo os Traidores do Metal sem dó nem piedade, os Senhores de Aço que tocam pra frente este Bastião Sagrado do Heavy Metal há 23 anos são muito, mas muito mesmo inteligentes! Toda sua fidelidade para com a paixão pelo heavy metal - e contra as modinhas passageiras - gerou um mercado sólido, aparentemente muito lucrativo, ainda que bem setorizado. Ao ignorar as mudanças de mercado promovidas por fenômenos como o grunge, o techno e o novo rock pós-Strokes, os senhores da Brigada do Metal pavimentaram um terreno fértil de acordo com os interesses de seu selo/gravadora homônimo, lançando como febre (no underground, é claro) gêneros considerados até mesmo pela grande mídia metálica estrangeira (como a inglesa Kerrang, que eles execram) como demodés, tais quais o metal melódico, power metal e thrash metal 80’s. Só não conseguiram pôr a mão na fatia no bolo do black metal porque Nuclear Blast e Century Media - seus maiores concorrentes e ao mesmo tempo aliados! – eram donos dos passes dos maiores nomes daquele estilo musical. Para uma revista direcionada aos camisas-pretas, é impressionante o número e o nível alto dos anunciantes na Brigade – fenômenos pop (e com nada a ver com o metal) das grandes majors já constam em suas páginas. Mas o maior fato é justamente a conseqüência disso tudo. Enquanto que a Bizz samba para agradar leitores downloaders e balzaquianos/quarentões, a Rock Brigade criou verdadeiros exércitos de fãs radicais de heavy metal - radicais sim, mas também apaixonados. E os anúncios atuais da revista contam com discos em versões digipack luxuosas e preços até justos (entre R$ 25 e 30) se comparados com um Franz Ferdinand numa Laser da Vida (45 paus!). Os tais Barões da Indústria (Rock Brigade Records inclusa) encontraram ali um filão imutável, que ainda compra CDs, que cola pôster no quarto (a Brigade ainda os traz encartados no meio da revista até hoje!), e que vão em massa nos shows dos seus ídolos, trazidos pelos Produtores Vampirescos de Mega-Eventos. E o corpo editorial da Brigade – sabiamente – ignora por completo termos como “novas tecnologias”, “mp3”, “My Space” e tal, no máximo citando-os numa entrevista e nunca explicando-os. E ainda aproveitam esta omissão para enfatizar fortemente campanhas anti-pirataria. A busca pela “atualidade” dos leitores jovens de Bizz pode levá-la a uma nova falência. E o conservadorismo dos leitores da Rock Brigade garante uma sobrevida cega e inerte à revolução em plenos pulmões que ocorre atualmente na indústria fonográfica. Nesta briga de foice em meio ao tiroteio de donwloads e tentativas de travar o curso da história, os alternativos no comando de uma revista soam desnorteados face à liderança dos camisas-pretas da revista-do-metal em seu meio de combate.

18 comentários:

caio disse...

Penso que o fato de uma CLASSE MÉDIA, uma CLASSE MÉDIA ALTA e uma CLASSE ALTA terem acesso relativamente fácil aos downloads não altera significativamente o tesão pela INTERPRETAÇÃO daquilo que é ouvido. O cara que baixa quer, além de sua própria opinião e a de seus amigos/colegas, buscar a palavra embasada (resenha crítica de um cara com quilometragem) que seja capaz de modificar ou ratificar uma impressão inicial. O que me impressiona nesse novo sopro da Bizz é o primarismo de grande parte de seus textos, em que a preocupação em CRIAR/REAFIRMAR um estilo parece ser mais importante que a análise da(s) obra(s) em jogo. Ou seja - como dizem pelas bandas do Rio de Janeiro -, muita espuma e pouco chopp. Sou (quase que) radicalmente contra a possibilidade de menores de 30 anos escreverem quaisquer coisas que venham a abordar contrastes geracionais. Esses caras estão soterrados por informações aos milhares e possuem pouco tempo pra digerir e regurgitar adequadamente o que ouviram/viram. A velha ladainha da pressa como amiga do juízo precipitado. Garotos de vinte e poucos anos deviam calar a boca e escutar mais. É extremamente difícil achar alguém capaz de analisar uma trajetória roqueira em pouco tempo. Imagine um garoto de 16 anos que baixe e ouça toda a discografia do Led Zeppelin; pode ele apresentar uma visão crítica justa de um fenômeno que construiu sua obra em 12 anos, quando dispõe (ele, o garoto) de pouco mais de uma semana pra fazê-lo? O segredo está na palavra CONTEXTO. Qualquer juízo de valor que esse moleque venha a construir sobre o Led exigirá dele, para que possua consistência, TEMPO E CONTEXTUALIZAÇÃO. São coisas que a
molecada que escreve pra Bizz não detém nem de longe. Ouvir uma obra de mais de uma década em um mês e cagar regras a respeito não dá. Estou comprando e lendo, mas o tesão ainda não é (e provavelmente jamais voltará a ser) o mesmo.

caio disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Kalunga disse...

Concordo e reafirmo: escrevo sobre o que vivi, apesar de que termos como "technopop", "ebm" e "gothic rock" soarem como chacota para alguns amigos quando falo que meus ídolos residem ali, daquela época em diante. Vou escrever sobre o que não vivi? Vou falar sobre a minha emoção de "ouvir um disco do Zeppelin pela primeira vez"?? Eu poderia fazer uma puta resenha sobre o filme "Easy Rider", evocando meus tempos de lisergia em Matilde... nos anos 90! (?). Prefiro escrever sobre o mesmo, só que me colocando no meu lugar, contextualizando a época em que sou ativo.

Boa parte do editorial atual da Bizz veio da extinta (e nem um pouco saudosa) Zero. É uma galera da minha geração p/ mais nova. A Bizz hoje tenta equilibrar os "atuais" com alguns dinossauros de sua época áurea (Alex Antunes, Otávio Rodrigues, Ana Maria Bahiana, etc.) tentnado (em vão...) catequizar seu público. Mas reforço o que escrevi no post: este conflito de gerações parece que vai acabar levando a revista p/ o buraco novamente.

Olha, sinceramente, eu não consigo imaginar uma ruptura comportamental tão grande relacionada à tecnologia e à cultura como ocorre hoje, pelo menos pegando como ponto de partida a idade do rock and roll e a posterior criação da cultura pop.

A Bizz me dá prazer, mas também me irrita. Antigamente também sentia prazer e me irritava, só que em outros termos.

Kalunga disse...

O que me irrita na Bizz atualmente é que a cada edição eles mudam algo, tentam se adequar "aos novos tempos", para satisfazer as gerações atuais, a "dos downloads".

Lógico que muita gente de CLASSE MÉDIA/ALTA (eu mesmo só acesso DESDE SEMPRE a internet rápida dos locais onde trabalho) pode aproveitar a condição privilegiada (que não vejo demérito algum nisso) de ter uma formação melhor que a média brasileira para poder desenvolver uma curiosidade maior e com mais afinco sobree as raízes do que gosta atualmente. Mas este tipo de sujeito ao meu ver é cada vez mais uma raridade.

Acreditem, mas bloggs de discussão estão totalmente em baixa na internet atualmente. O lance é Orkut (ou não, sei lá, pode ter outro mais "atual"), vender mentiras sobre si mesmo. Meu blogg e outros poucos demais por aí já são dinossauros considerados em extinção.

Vou recorrer ao IBAMA!

Kalunga disse...

E o que é a Rock Brigade, meu deus???

Por favor, eles ainda mantêm a mentalidade de 20 anos atrás, com pouquíssimas alterações! E estão ganhando grana com isso!!!

Digo e repito: os camisas-pretas nesta história toda é quem saíram ganhando!

caio disse...

Ô sua vaquinha peluda, não falava de você em meu comentário! Falo da incapacidade quase absoluta de um moleque, ao baixar toda a discografia de uma banda como o Led, ser capaz de processar toda aquela informação sem a devida contextualização. Na imensa maioria dos casos, NÃO DÁ. E hj, ao comprar e ler a penúltima Bizz, encontrei na última página (verso da contracapa) algo que me dá a pista de que estou no caminho certo em minha análise - e só li isso hoje!: "Não adianta ter todas as músicas do mundo e não saber quais são as boas." Li hj e só confirma o que disse antes: o cara procura a Bizz, mesmo possuindo seus 5900 downloads, pra separar o joio do trigo.

Sua vaca peluda!!!

E o uísque, porra???

Kalunga disse...

Mas eu não vesti carapuça alguma! E reforço: quando falo da "minha geração", muita gente cai de chacota comigo, mas fazer o quê? Dei meu exemplo para justamente contrapor gente que escreve em grandes revistas por aí com uma "propriedade" de quem de fato viveu uma era que o mesmo não viveu! Eu vivi a era do tecnopop, porra!!!

Sem treta, porra!

No mais, teus comentários são absolutmante complementares a esta discussão.

val bonna 665 >> 667 disse...

"Não adianta ter todas as músicas do mundo e não saber quais são as boas."

essa frase resume muita coisa, caio. eu concordo perfeitamente, mas não são todos que procuram se embasar na mídia escrita para filtrar o que ouvem. aliás, são muito poucos. a maioria vai pelo "fulando me disse que banda-x é muito foda, parece com banda-y, vou baixar" e depois de alguns meses/anos a esquece/abandona pq estourou realmente e fugiu dos "guetos undergrounds" ou simplesmente pq enjoou e não faz mais falta, além de já ter uma dezena/centena de outras bandas hypadas para substituirem.

val bonna 665 >> 667 disse...

...acho q fugi bastante ao assunto, mas vamos a conclusão: da galera nova interessada em hypes, poucos são os que irão comprar a Bizz ou qualquer outra revista musical, falta-lhes esta cultura. a bizz é consumida por pessoas que a acompanhavam, que acompanhavam a zero e sempre eram deixados de escanteio a espera de uma boa publicação na área. conquistar público novo tem de ser meta, não tenha dúvidas, mas parece ser utopia.

Kalunga disse...

a bizz é consumida por pessoas que a acompanhavam, que acompanhavam a zero e sempre eram deixados de escanteio a espera de uma boa publicação na área. conquistar público novo tem de ser meta, não tenha dúvidas, mas parece ser utopia.

Bonna completou tudo mais um pouco!

Alcio disse...

Agora, curiosa a chamada de capa:

"O fim dos Gorillaz"

O que houve? O cara resolveu parar de desenhar a banda? hehehhehehe

Tá, fraca, eu sei...

Anônimo disse...

"Não adianta ter todas as músicas do mundo e não saber quais são as boas."

E quem disse que a molecada geração emo/indie (pra mim, duas faces da mesma moeda) tá preocupada em saber quais músicas são boas? Se estivessem, a gente nem teria ouvido falar de Fall Out Boy nem de Arctic Monkeys.

E a respeito dessa história de Rock Brigade/metaleiros, só acho que a sua análise peca por considerar que os ditos cujos pararam no tempo de uma forma absoluta, como se metaleiro não baixasse MP3. É lógico que baixa. O fórum do Cifra Club, que é um dos fóruns de música mais movimentados que eu conheço, é quase que dominado pelos metaleiros (pelo menos eles são os que mais escrevem).

Resumindo, não acho que os metaleiros estejam ignorando o presente. Eles só não estão entrando na canoa furada de um presente que, a rigor, não existe. O presente dos NME da vida, por exemplo, é um em que Strokes e Arctic Monkeys são os equivalentes modernos de Beatles e Stones, inclusive e principalmente em termos de popularidade. Ora, o primeiro vendeu menos de 300 mil cópias do disco mais recente nos EUA, e o segundo, apesar do estouro na Inglaterra, não chegou a 50 mil nos EUA. Enquanto isso, qualquer rapper mequetrefe vende 5 milhões sem precisar fazer muito esforço. A música pop desse começo de século XXI é a atual black music americana. A Rock Brigade nega essa realidade? Sem dúvida, mas o NME também nega. A diferença é que o NME usa um DISCURSO de modernidade pra agregar valor às bandas em cima das quais ela cria hypes, o que é necessário pra vender o produto que eles têm pra oferecer. Se quisesse, a Rock Brigade também poderia apregoar a modernidade de bandas como Mastodon e System of a Down pra dizer que o metal, e não o emo/indie, é que o som "de agora". Eles simplesmente não estão interessados nisso, até porque, como está no seu texto, eles não precisam desse tipo de coisa pra vender revista.

caio disse...

Um comentário MUITO acima da média. Não sei de quem se trata, mas está tão distante da mediocridade que impera nos blogs que visito que... Bem, tudo é uma questão de aplicação dialética. Palmas pro autor do comentário em questão, rompeu tudo até o outro lado (THANKS, MR. JAMES DOUGLAS).

Kalunga disse...

Logicamenteo texto está aí p/ ser questionado, fuçado, destronado e aclamado também.

Joguei muita lenha na fogueira para depois ver os possíveis estragos. E é lógico que eu tenho conhecimento de praticamente todo mundo baixa músicas, inclusive oscitados "metaleiros". O lance é que, no restrito universo da Rock Brigade este tipo de coisa passa batido. Eles criaram uma realidade própria, ignoram o que não lhe é de interesse e conseguem fazer de sua publicação um fenômeno raro nestes dias atuais de informação à velocidade da luz. A Bizz estásofrendo para manter a postura antiga aliada à preocupação excessiva de conquistar a famigerada "Geração Download".

"George Martin", p/ que seu (excelente!) comment tenha mais valor, vc poderia se identificar, né não?

doggma disse...

Fala aí Kalunga! Grande texto e discussão super-instigante aqui nos comments.

Também li muito a Bizz, a Rock Brigade e os clones das duas que ainda hoje infestam as bancas (mas não duram nem 2 meses). Realmente... a "fase Forastieri" da Bizz foi mesmo de rachar o bico. Ele meio que personificava o amor/ódio que eu sentia pela revista na época. Os textos dele eram muito provocativos. Mas, ao mesmo tempo, havia um senso de humor tão cáustico, com atitude "papo de boteco", que eu morria de rir até quando não concordava. É como ele mesmo dizia... "você pode até gostar de um grupo/artista ruim... contanto que você SAIBA que é ruim". Não por acaso, a melhor extensão da Bizz foi justamente a revista que ele dirigia, a General. Cheguei a trocar umas idéias com o cara na UFES, quando ele veio conferir um show onde o headliner era o Dead Fish (na época, Stage Dive).

O outro André, o Barcinksy, também era muito afiado. Graças à ele que eu resolvi caçar por aí um tal de Ministry, nos idos de 89/90.

A Rock Brigade sempre foi cética em relação à qualquer modismo extra-gueto metal. Sempre foi assim, e não é pra menos. Desde que era apenas um fanzine distribuído entre membros de um fã-clube, já ouviam bobagens sentenciando que o heavy não teria mais que seis meses de sobrevida, suportavam xenofobia pesada, ausência de investimentos de uma grande editora, etc. Passou Plano Cruzado, Plano Collor, taxa de juros sinuosa, inflação galopante, sangria fiscal, e eles ainda estão lá. Nunca deram um passo maior que a perna (erro fatal da Bizz fase popularesca), e hoje também é publicada na Argentina com uma ótima tiragem. Isso, fora a RB Records. Nada mal para uma revista de heavy metal em pleno Brasilzão do "Ela dança, eu danço", rs.

Outra coisa que eles souberam fazer bem foi estabelecer um senso de tradicionalismo na coisa toda. A RB ainda hoje é tida como um informativo, uma espécie de "suplemento especial" mensal para a galera headbanger. Isso, revezando com o conteúdo extra do site, que funciona como um complemento do que é publicado na revista (entrevistas exclusivas, análises, etc). Quando ocorre um aumento real no preço (muito raramente), justificam identificando as alterações do orçamento técnico - o que denota um grande respeito ao leitor/consumidor, que se sente motivado a investir novamente num produto de qualidade. Sem falar que os caras se tornaram profundos conhecedores da nossa instável economia. Mais de 20 anos de estrada...

Curiosamente, usei o exemplo da Bizz em um texto que escrevi no Área Azul:

http://areaazul.blogspot.com/2006/03/quem-quer-manter-ordem.html

É o último texto "assinado", hehe... tá mais focado nas HQs, mas tive de usar a Bizz para tornar o meu ponto de vista mais ilustrativo. É o exemplo perfeito de uma trajetória editorial tragicômica.

Abração!

Mrlips disse...

A Bizz tem uma luta ingloria com a internet é claro. Mas mesmo assim, mesmo de carona, devo continuar lendo. Seja por uma questão de saudosismo ou pelos entrevistões, alias sempre foi a melhor coisa da revista.
Afinal a Bizz,Roll,General e o tabloide Internacional Magazine foram minhas fontes em busca de novos sons.
Mas não vejo muito futuro nessa "volta" da publicação. A gurizada não tem tempo nem pra ler os livros obrigatorios da escola, e nem quer, vivem se "maturbando" via fotologs e baixando zilhoes de musicas na internet pra ver quem tem o HD mais lotado.
Vejo a experiencia assepitica que essa turma tem com a musica. Sem contatos, sem cheiros e sem trocas.
Vaca a diferença entre "nós" e "eles" é essa, por isso a Capricho daqui a 10 anos sera mais relevante na memoria afetiva deles do que a Bizz.

Kalunga disse...

Sensacional teu comment, Doggma, sem mais nem menos.

Definitivamente a RB dá um banho de sabedoria para com nossa instável economia. Agora há pouco mesmo eu estava relendo a penúltima Bizz antesde seu fim, em 2001, com o REM na capa. O então editor Emerson Gasperin defendia a tese de que era melhor seguir com seus ideais e não dar bola para um diretor de gravadora que colara na sua orelha falando sobre o fato de a Bizz "não construir ídolos". Pois é, a Bizz acabou, voltou alguns anos depois e continua comentendo os mesmos erros. Cutuca com vara curtíssima a mesma onça que lhe sustenta.

Concordando ou não com a postura da RB, é fato que eles souberam criar ídolos, e também manter ideais intactos, e ainda por cima ganhar dinheiro e se manter com isso após mais de 20 anos de publicação.

Kalunga disse...

Lips, tua última frase é emblemática!

Hoje há um confronto de gerações que implica numa mudança radical da forma como a informação é veiculada e como ela é consumida. E a Bizz vai sendo consumida pelos HDs lotados de tudo quanto é tipo de música...

Tentando falar a mesma língua para uma geração que praticamente não exercita suas mentes além de atualizar vosso Orkut, a Bizz vai pro saco!