domingo, março 13, 2005

Rave On U - parte I


Esta foto é da primeira festa trance que fizemos na Fazenda Camping Barra do Jucu - abril de 2001
Foto by Kalunga

Lembro-me como se fosse hoje: carnaval de 98, Trancoso, sul da Bahia. De um grupo de mais ou menos dez amigos que estavam ali, a maioria esmagadora curtia rock and roll e torcia o nariz para a música eletrônica. A hipótese de alguém ir para uma rave à beira da praia comigo e com o Turco seduziu apenas ao brother Mentor, que imaginara não ter nada a perder e tudo a acrescentar – não custava nada, literalmente (a rave era gratuita), conhecer algo novo até então. Um doce na cabeça (eu e o Turco, apenas), algumas doses de cachaça de jararaca (sim, tinha uma cobra dentro da garrafa) e lá fomos nós, no meio do escuro, em direção ao bar Vegetal. Chegando perto, o tum-tum-tum eletrônico foi ficando mais intenso, mas ao mesmo tempo não víamos nada. Mais alguns minutos e, de repente, enxergamos algo como um disco voador no meio do mato, com dragões e Ets fluorescentes brilhando com o efeito da luz negra. O pico estava cheio, mais de gringos do que de brasileiros. Performances pirofágicas espetaculares elevavam o nível de adreanlina dos presentes. O som – que som era aquele?? – era repetitivo, pesado, hipnótico, psicodélico. Apesar de todas as idéias pré-concebidas, nós realmente nos surpreendemos com o que vimos. De minha parte, pelo menos, algo mudou em minha vida.

Ver o Sol nascer numa praia paradisíaca naquela ocasião foi algo fantástico. Nós três quase não dançamos. Ficamos observando as pessoas, sacando o som, pirando na decoração, tentando entender que tipo de vibração era aquela. Para mim, a música eletrônica não era nenhum mistério há tempos. Mas fiquei surpreso com o conjunto de fatores apresentados em Trancoso de uma vez só. O trance que eu conhecia era algo mais viajandão, melódico, mas nunca com o peso quase industrial que aqueles franceses (os caras do Total Eclipse, como fiquei sabendo depois) estavam tocando. Pude perceber que havia uma espécie de conduta padrão no público ali presente: camisetas fluorescentes, dança ininterrupta, sorrisos estampados constantemente, pouco álcool, muita água e maconha. E também a ausência quase que total de comunicação verbal entre os presentes, ainda que rodinhas de dança se formassem a todo momento. Pouco ou nada do hedonismo a que tanto falavam sobre o público raver.

Confesso que, num primeiro momento, fiquei empolgado além da conta com aquilo tudo. Eu e o Turco já vínhamos agitando o som em festinhas particulares de amigos, misturando rock, hip-hop e alguns breakbeats, mas sempre sonhando em tocarmos um repertório basicamente eletrônico e que pudesse se expandir em algo maior, com mais público e mais acessível. A música eletrônica no Espírito Santo carregava, até então, a pecha de som de viado, entre outras categorizações preconceituosas do tipo. Era muito gueto para o público em geral. Pois o trance encaixava-se como uma luva para esta pretensa expansão que sonhávamos. O som era envolvente, balançado e não possuía aqueles vocais de divas exagerados ao extremo e que queimavam o filme da música eletrônica para os ouvidos menos acostumados.

Embalados por uma típica inocência de quem acabara de descobrir um brinquedo novo, nós fomos à luta para fazer acontecer algo do tipo no Estado. Encontramos com o Pablo, que tinha toda a disposição e recursos para tal empreitada (chamavámos o cara de “O Homem-Rave”), e fizemos umas festinhas memoráveis. A cada balada, o público ia aumentando. O apelo visual das festas contava muitos pontos a favor. Alguns ainda se assustavam com o peso do som. Outros afirmavam que era preciso importar de Trancoso um ônibus cheio de malucos doidos de bala para corromper a inibição do público que insistia em ficar parado, observando. Para mim, bastava minha cervejinha gelada... Foi tudo muito divertido, inocente e marcante – pelo menos para nós. Sem apelar para a nostalgia barata, mas foram tempos que não voltaram mais. E que fique assim.

Continua...

15 comentários:

Mentor disse...

Eh kalunga, Trancoso foi clássico!!!
jararaca rula...

Aí, atualizei meu blogg... vai lá, está uma merda...ahahahahahaha...
estou trabalhando bêbado... hahahahahahahah...
valeu!!!!!!!!

Kalunga disse...

Até que enfim vc atualizou aquele muquifo, porra!!!

E o veneno da jararaca de estar agindo no meu organismo até hoje, hehehehe

pegoretti disse...

Ae, vaca!

Vcs iriam se esbaldar por aqui.
Nao falta musica eletronica, raves, doces, galera pirada, etc, etc... O problema eh a concorrencia. O que tem de DJ aqui eh absurdo!

Eu podeira ate indicar uns sites desses DJs pra vc visitar mas nao entendo do assunto. Definitivamente nao eh a minha praia pois eu soh vou onde tem cachaca(caipirinha); e onde tem cachaca tem brasileiro; e onde tem brasileiro tem... AXE music. :p

Mas com bastante caipirinha ate isso torna-se suportavel.

Kalunga disse...

Fala Gleidson!

Na verdade este texto é sobre um passado que eu prefiro que fique como está. Drogas para mim só quando passa algum carro perdo de mim tocando funk com o som alto...A segunda parte deste texto será mais esclarescedora sobre o que eu quero dizer sobre o assunto.

Porra, a cachaça deve ser boa, pois vc pelo visto tá virando um Durval Lélis de mão cheia, hahahahaha!!! Caralho, vc deve comer sushi todo dia, hehehehehe!!

nati disse...

ei, vaca. gostei do texto. posta a outra parte aí, menino.
nunca tomei um doce. tenho medo. a própria maconha já me fez ter ondas erradas muito ruins, de achar que ia morrer. taquicardia e tal. imagine, então, entrar numa onda ruim de algo mais brabo. não sei, não.
nunca fui a uma dessas raves em vitória. corrigindo: nunca fui a uma rave. sempre tive um pé atrás, medo de chegar lá e não conseguir me envolver o suficiente e não ter pra onde correr. bobeira, lógico. passo noites inteiras ao lado de trios elétricos todo ano e nunca morri nem nunca me senti enfadada a ponto de ir embora.
mas aí uma vez eu estava em vitória e ia ter uma rave. não me lembro onde. talvez fosse uma das suas (de vocês). fiquei animada pela possibilidade de ir a uma rave, comecei a achar que era uma boa idéia. eu e uns amigos fomos pra um boteco, tomamos umas e depois, fim das contas, deu tudo errado e não conseguimos ir. nem me lembro o porquê.
bem, chega de lenga-lenga.
viajo pro rio no fim da semana. quando é que você vai aparecer por lá? o apartamento tá lá às suas ordens, viu? vê se aparece. :)
gosto muito do que você escreve.
um beijo.

nati disse...

um adendo: adoro a não-nostalgia que rola aqui :)

Mentor disse...

quoé vaca?
aê, estou marcando um rockzinho lá em casa, nesse domingo (20-03-2005), bora lá?
leva uns sons... das últimas só rolou som do mentor!!!!!!!!
convoca a galera, valeu.

Kalunga disse...

Nati, entendo perfeitamente o que vc disse, pois minha visão atual é mais ou menos por aí. Vou postar a segunda parte hoje à noite, pois de dia a conta telefônica arranca meu couro.

Mentor, que rock é esse de domingo??? Por falar nisso, se rolar mesmo eu vou levar meu gravador e entrevistar teu pai! Pode botar a cachaça na roda, hehehehe...

Kalunga disse...

Nati, no momento estou absurdamente (o termo é este mesmo) sem condições nem de peidar fora de casa, tá osso! Mas, quando minha situação se estabilizar, vou lhe fazer uma visita, com certeza! Lacaio e Paulinho Ramone também estão planejando algo para o RJ em breve...

nati disse...

eu sei, vaca. mas foi só pra deixar claro que o convite está sempre de pé. um beijo.

Kalunga disse...

Pô Nati, agradeço pela consideração! Beijão!

Anônimo disse...

TÁ MARCADO O ROCK DE DOMINGO!!! Mas só se for de dia, pq de noite eu vou lá no Sambalaco do Com Vento ver o DJ Pedrada "apedrejar" a galera com o melhor da black music...

Mentor, seu blog realmente está um merda!!! hahahaha... e eu não estou bêbado.... hehehehe....

Mentor disse...

salve turco. O rock será de tarde (2:27), depois quero ir nesse rock blak music tb...
hoje eu não estou bêbado!!!!!!
eheheheheh

Kalunga disse...

caô...

Kalunga disse...

foda! com certeza, hehehehehe... olha, tem tanta história ali... e a rave foi só um detalhe a mais nos quase quinze dias que ficamos por lá.