terça-feira, abril 19, 2005

Pistas para o Espaço – Parte I


Vista da área externa do extinto Pub 455. Um ‘muquifo’ privilegiado esse, não?
Foto by Kalunga


Precisou vir um cara de outro Estado para elogiar o que pouca gente daqui se dava conta. A verdade é que nossa combalida capital contava com um proto-clube voltado à música eletrônica e ao rock alternativo e que era bem localizado e dotado de uma estrutura razoável. Poderia ser muito melhor, mas também era muito pior para a maioria. Segundo o tal forasteiro, um clube de tamanho médio (para os padrões alternativos) e com vista para o mar não poderia ser tão desprezado/desprezível. E não era. Porém, ao meu ver, pagou o preço de uma ruptura de gerações que se dizem formadoras de opinião. Uma parte, mais nova em idade e em conceitos, só queria dançar e curtir o que não encontrava nas demais casas noturnas locais. A outra parte, de uma geração com mais de vinte e cinco anos nas costas, preferiu em sua maioria detonar o lugar com o que, para mim, foi uma das mais nefastas manifestações de provincianismo desta terra, e partiu para desmoralizar o tal estabelecimento por conta da cobrança de singelos dois reais de entrada. “Lucro imundo, mercenários, aproveitadores” – estes foram alguns dos termos que pulularam pela internet e que ecoaram até mesmo na dita “mídia séria” dos jornais impressos, que noticiaram o Pub como “praticamente morto”. Deram crédito para uns bobocas que hoje estão no ostracismo. Um tipo de gente que queria ver a pimenta arder nos olhos dos outros e só.

O tal lugar era o Pub 455. Mas eu não vou ficar aqui gastando palavras em tom de nostalgia de merda. O que passou já era. Lições foram tiradas disso. Até onde eu sei, o local afundou por conta dos longos meses de quase hibernação após a revolta dos dois reais. E depois disso, mesmo com algumas festas lotando o recinto novamente, as dívidas ainda prevaleceram e os donos sumiram. “Muquifo” era um adjetivo bastante utilizado para definir o lugar. Com três reais de entrada (às vezes cinco), realmente não podia se exigir algo requintado. Os mesmos que queimavam o lugar eram aqueles que faziam miséria para entrar. Mas o fato era que o Pub 455 contava com três ambientes totalmente aproveitáveis, sendo um externo e com uma vista belíssima do canal de Camburi. Existia sim um ar alternativo, mas nada tão radical aos olhos menos habituados. Bandas podiam tocar lá! Sinceramente, mas eu visitei boa parte dos clubes alternativos da maior cidade do Brasil e pude reparar que alguns locais super conceituados (Funhouse, Atari, Outs, etc.) possuíam estruturas semelhantes, sem nada de mais a não ser um cuidado maior com decoração ao caráter do perfil de público de cada casa. Logicamente estes clubes paulistanos agiam de forma mais estruturada e profissional. São cenas bem resolvidas, diga-se de passagem.

Existe alguma cena alternativa “bem resolvida” por aqui? Vejam bem: há uma diferença bem clara entre o underground e o alternativo (Obs: eu assumo este comparativo). Há eventos que são realizados em locais horríveis, com cerveja vagabunda e som péssimo, mesmo que boas bandas toquem em tais ocasiões. Não falo somente de bandas em si, mas de pistas de dança também. O underground é taxativo e limitadíssimo ao descrito na frase anterior. Já o alternativo é, ao meu ver, um conceito mais brando, que pode ser assimilado sem maiores traumas e com potencial para crescer gradativamente em nível sonoro, de estrutura local, de serviços prestados e de atitude do público. Considero o valor de entrada entre dez e quinze reais muito justo se o local e as condições para tal permitissem uma evolução gradual, contando inclusive com um constante intercâmbio com artistas/DJs de fora. O problema é que ainda muita gente que se diz alternativa gasta sem a menor cerimônia cem paus em boate da moda e ainda cospe na sua cara que “Vitória não tem opções de rock que não seja para playboy”. É a mesma galera que, por exemplo, ficava do lado de fora fazendo não sei o quê (tentando entrar na beirada, provavelmente) na porta do extinto Sala 11.

Sala 11! Aquilo foi um começo meio precário, mas algo começou ali sim! Por conta dos beiradas que chiavam para entrar (e não havia absolutamente mais nada para se fazer naquele local isolado no meio do nada em Jardim Camburi-Vitória), shows memoráveis de gente como Pólux, Garage Fuzz e da banda É (protótipo do que viria ser o Zémaria) só começavam depois das duas da manhã... E, na mesma época, havia também o Camburi Vídeo, berço de sons mais extremos porém com uma estrutura razoável – o público não era tratado como ratos de esgoto. Parando para pensar, até o fim do Pub 455, haviam muitas opções dos ditos “sons alternativos” em nossa capital (a Grande Vitória como um todo). Quem aproveitou se deu bem. E precisou um cara de fora e sua namorada para terem a visão de que algo poderia ser feito após o final de todos estes locais citados.

Acompanhei o projeto Antimofo lá de São Paulo, com o Rike (um paulistano ao contrário, se é que vocês me entendem) me passando todas as informações possíveis via internet. “Clube Centenário???”, foi o que me perguntei meio que espantando quando soube do ponto de partida deste projeto. Não via com bons olhos aquele local para eventos do tipo mas, fazer o quê? Não haviam mais Pub, Sala 11 nem Camburi Vídeo. E os dois paulistanos arretados foram em frente. Hoje posso afirmar sem demagogia alguma que existe uma raiz plantada e que já rendeu frutos – digo público mesmo. Mas, mesmo com todos os esforços da produção em transformar o local, o Centenário ainda deixa a desejar. É a melhor opção no momento, mas não deveria ser a única. É neste ponto onde a porca torce o rabo.

Continua...

26 comentários:

caio disse...

Considerava e ainda considero esses três lugares uma MERDA, sem rodeios. Respeito a opção dos outros, claro, e sei que em terra de cego caolho é rei, mas não consigo sentir sequer saudadezinhas de ambientes sujos/abafados-cerveja SEMPRE quente e cara-péssimo atendimento-público arrogante e bundão-etc. Desculpem-me os que gostavam, mas esta é a opinião que tenho e gostaria que ela não fosse vista como algo ranzinza, uma má vontade e nada mais. Estou apresentando razões para castigar os points. Estive lá? Sim, algumas vezes, mas por uma questão de brodagem, para estar com os AMIGOS, e só. Diversão? Pouca.

Kalunga disse...

Em momento algum eu elevei a suposta "qualidade" destes ditos "points" a algo maior do que eram: apenas razoáveis - e que poderiam ser muito melhores por conta dos diversos fatores que apresentei. Este é o tom desta discussão.

Só digo uma coisa: ruim com eles, pior sem eles. A falta de espaço decente por aqui me irrita profundamente. Eu ligo para este tipo de coisa pois trabalho diretamente com isso.

caio disse...

Problema seu!!! Egoísmo rulez!!! Ahahahahahah!!!!!!!!!

carol disse...

Vaca, tá vendo aquela luz verdinha lá ao fundo? Que tal atravessar o canal e invadir a igreja? Altas festas no templo do Senhor regadas a refrigerante e Lauriette...
Ainda há salvação! hahaha

Kalunga disse...
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Kalunga disse...

quando eu arrumar uma ocupação decente para a minha vida, vou largar tudo isso para trás. se depender de certas opiniões alheias, tô fudido.

obrigado por mandarem me foder.

Kalunga disse...

Na verdade, eu levo a sério isso tudo demais.

tá me faltando uma vida...

nem eu tô me aguentando!

Kalunga disse...

Carol, se eu entrar naquela igreja do fundo da foto, será para fazer uma rave lá, cheia de todos os tipos de drogas possíveis e depois para incinerar todo mundo que estiver por ali.

se bem que se eles me arrumarem um empreguinho que pague bem, tá valendo! vendo a minha alma para o diabo, ops, para cristo!

Kalunga disse...

quanta besteira que ando escrevendo, putz!

caio disse...

Peraí, vc levou a sério o que disse lá em cima? Putz, não ficou CLARO que era uma zoação? E essas certas opiniões alheias são as minhas? Bem, se vc quer que eu concorde contigo em tudo o que disseres, e se isso te faz bem, sem problemas. Posso ser ótimo na arte de bajular amigos e afagar os seus egos, ainda que me custe um pouco de representação. Acho esses lugares umas merdas, sempre achei, e isto NADA TEM A VER com vc e seus projetos; estes têm o meu apoio incondicional. Mas se acho certos lugares de uma estrutura pobre, vou dizer o que penso, sempre.

E segure a sua onda, estresse-se com quem merece o seu estresse.

Kalunga disse...

realmente, eu estou levando isso tudo a sério demais!

mas que vc é mais péla-saco do que eu, isso ninguém me prova o contrário!

Kalunga disse...

ando com a absoluta falta do que fazer. e quando pinta algo, deposito energia demais naquilo.

a verdade é que, quando eu for trampar com algo decente, vou dar as costas para isso tudo.

o problema é que estas coisas que posto me afetam tanto porque são as únicas que estão movimentando minha vida no momento. e isso é uma merda!

o prazer acaba virando estresse.

por enquanto, se divirtam por mim, pois eu não estou conseguindo por conta própria.

adeus.

Kalunga disse...

ODEIO trabalhar com produção e com a "missão" (ou qualquer merda que isso seja) de tentar mudar a cabeça das pessoas. isso não é pra mim. ainda mais aqui nesta terra paupérrima de cultura!

vou sumir em breve, pois cansei de tentar "mudar" alguma coisa.

o prazer se tornou ingrato.

caio disse...

Vamos fumar maconha e deixar o ES boiar até a cachoeira mais próxima, porra! Pra cada gozação (como vc mesmo faz comigo em meu blog, caralho!) que saco lanço pelo menos dois comentários consistentes que discutem o tema em questão. E não fico dizendo asneiras como "puxa, a festa foi massa e o som rolou até tarde e todos piraram e foi realmente foda" (isso não é opinião, é lixo); discuto e proponho, sempre, certo ou errado. Então penso que posso dar umas sacaneadas de vez em quando. Relaxe, goze e limpe o pinto depois.

Relax, man!!!

Kalunga disse...

caio, é por aí, é por aí...

só que estou sem saída no momento!

Kalunga disse...

só vejo a janela do segundo andar...

vou virar um oráculo!

Anônimo disse...

Saudades do Sala 11. Aquele lugar era foda... clima muito bom...

Kalunga disse...

Marcelo, o lugar teve baladas memoráveis, mas era bem tosqueira, viu? pelo menos alguma coisa acontecia ali. o que me chateia é que sempre as coisas aqui até começam, mas acabam em nada, aí começam de novo, pifam, são religadas e por aí vai...

Anônimo disse...

Putz vc falou tudo Kalunga. É foda cara, eu gosto dessa cidade pra caralho e fico triste vendo essas coisas acontecerem por aqui. Eu não sei oq pega q as coisas aqui acontecem por um tempo tão foda e depois brocham de uma maneira estúpida... mas eu acho q pelo menos estão rolando algumas coisas legais por aqui, e poxa o q eu penso q nunca eu acho vai dar para comparar aqui com SP por exemplo (acho q nenhuma cidade do Brasil dá) mas o q eu penso tb é q nenhuma cidade dessas (Curitiba, SP, RJ, etc...) nasceu pronta né??
E acho q aqui sempre teve nego foda fazendo o trampo e cada vez mais está tendo gente boa fazendo coisas legais por aqui... mas o único problema é o Império do capixabismo q vc pode trazer Hot Water Music, Fugazi e Helmet tocando juntos no Alvares Cabral e ser perfeito q sempre vai ter um filho da puta mal intecionado do caralho para jogar areia e falar mal do evento. Ou seja, não sei se as pessoas daqui são recalcadas (nesse tipo de assunto) ou invejosas mesmo. Mas repito.... nenhum lugar já nasceu pronto. Teve alguem, q teve uma idéia, e passou essa idéia para outro alguem, q passou para outro alguem, e etc.... (continua em algum outro post...)

nati disse...

fica triste não, kalunga... :)


(caio falou uma coisa que eu também odeio: a cerveja quente e cara. puts, isso murcha todo o meu ânimo... no pub só dava pra beber o suficiente se você fosse milionário. mas eu entendi seu ponto, kalunga. e sempre me virei assim, e sempre que pude eu fui: garrafa de catuaba antes, animação depois.).

Anônimo disse...

Kalango said....
Lacaio e Kalunga acho que vcs estão precisando de uma sessão fone de ouvido !

Anônimo disse...

Levando-se em conta as poucas oportunidades de se fazer um movimento cultural aqui no Espirito Santo, foda-se a cerveja, o lugar, o som e o público. Louvo a todos que TEMTAREM movimentar algo por aqui!

Anônimo disse...

Rike:

olhe para o Josh....Ainda temos uns 25 anos para sermos melhores hehehehehe

Kalunga disse...

Nossa, a pala do Rike foi a melhor, hahahahahahahaha!!!

Não posso comentar mais por enquanto, pois estou sem internet em casa até o final da semana!

Kalunga disse...

Marcelo, na boa: isso aqui não tem cura.

Na verdade, a grande maioria não vê doença alguma pra ter cura.

Nós (que enxergamos doenças) é que somos doentes.

Eu, a partir de agora (ontem? anteontem? mês passado? ano passado? na encarnação passada???) parei de enxergar doenças.

Só quero minha cerveja gelada, meu bolso cheio, minha mente satisfeita, me coração preenchido.

Parece difícil...

mas quando vc dá as costas para o que vc acha que é incurável e vai viver tua vida, a coisa engrena.

Poderia ser melhor?

Com certeza!

Mas, no momento, estou totalmente ligado numa viagem indivdualista. Estes posts de merda meus são algo como um descarrego.

Que se fodam!

Eu estou atrás do meu!

Mentor disse...

QUE SEU KALUNGA...?
QUE SEU?
O QUE VC TÁ FAZENDO?
AH, NA BOA, O KAÔ DO SURF É MELHOR!!!