quinta-feira, abril 07, 2005

Os Fãs Estragam Tudo


Marcelo Camelo, dos Los Hermanos
Foto by: não fui eu!


Meados de 1996. Rodinha de violão na beira da praia da esquerda, na Ilha do Boi (Vitória). De noite e com gente praticamente desconhecida para mim. Estava de olho numa menina ali e também interessado em fazer a minha cabeça. Fui levado por amigo de minha sala na faculdade. Todos à minha volta eram estudantes da Ufes, de visual riponga seguido à risca, pose de intelectuais meio lesados e deslumbrados, vinho vagabundo rolando de mãos em mãos... e um cara tocando violão e sendo acompanhado pelas vozes dos demais. Eu estava de gaiato ali – essa era a verdade. Eis que um deles (o que cantava as músicas) dirigiu a palavra a mim:
Aí brother, qual música do Legião de você quer ouvir?
Na hora eu pensei: “Qual do Legião??? Putz!”. Aí emendei:
Olha, eu não gosto de Legião Urbana.
Você não gosta de Legião???, questionou-me o cara, visivelmente indignado com minha resposta.
Porquê você não gosta de Legião??!!, insistiu o figura, já com olhares atônitos e irritadiços de todos à minha volta.
Olha, não gosto e pronto!, respondi, já com tom de voz querendo encerrar o assunto. O cara insistiu:
Ah, então deve ser porque você é metaleiro, concluiu o mané – o fato de na época ter cabelos compridos quase na cintura e estar todo de preto deve ter provocado esta impressão.
Eu não sou metaleiro!, retruquei, já sem disfarçar minha irritação.
De repente, a rodinha estava girando contra mim, o que fez me sentir numa espécie de inquisição. Só conhecia o meu amigo que me levara até lá e minha situação estava ruim perante aquela galerinha. Eis que o cara do violão tentou amenizar as coisas para o meu lado:
Mas de Raulzito você gosta, né?, perguntou-me o cara, já pronto para emendar um som e acabar com o mal-estar ali estabelecido.
Eu odeio Raul Seixas!, respondi, na lata. Neguinho ali queria me afogar (de incenso, de músicas do Legião???)! Resolvi dar linha, pois havia queimado meu filme com eles.

Os fãs estragam tudo! Esta visão pragmática me acompanha desde quando comecei a colocar a música com algo muito importante em minha vida. Quantas vezes eu deixei de ouvir um determinado som por conta daqueles fanáticos de carteirinha, prontos para te converterem cegamente e sem direito a questionamentos? Por conta destes merdas foi que eu ignorei e ignoro até hoje gente importantíssima como Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin, por exemplo. Criei antipatia por determinados sons por conta dos péla-sacos de plantão. Tomei raiva de qualquer coisa que tivesse surgido até o final dos anos setenta por conta disso. Me sentia num culto evangélico (ou numa reunião da Amway) quando alguém vinha me mostrar algo daquela época. Normalmente era algum riponga universitário ou um tio velho, gordo e decadente que cuspia coisas tipo “não se faz música como antigamente”. A rôla do cara também não deve subir como antigamente...

Você tem duas opções com este tipo de gente: conversão total ou aversão total. Eu optei pela segunda alternativa. Porra, vocês já viram como são os fãs de Legião Urbana? Eles sempre andam em grupos, com olhares tipo “vamos ser todos amigos”, mal vestidos, vinho Chapinha a tiracolo (que troço ruim!) e uma incrível disposição coletiva de convencimento digna de pastores evangélicos. Boto no mesmo saco os fãs de Raul, Janis Joplin, The Doors, Pink Floyd... peraí! Pink Floyd não! Quando algum destes manés sair dos manjados “The Wall” e “The Dark Side of The Moon” é bad trip na certa, pois o PF não se afunda nos clichês viajandões de sempre. Aliás, todos os outros artistas que citei são fenomenais, cada qual com seu lugar garantido na história. O que estraga tudo, pra variar, são seus fãs.

O fanático-padrão é aquele que ouve as músicas mais batidas de seus ídolos, pois dar atenção para coisas obscuras é algo impensável para eles. São capazes de ir a um show de sua banda preferida dos anos sessenta ainda hoje, mesmo que o único membro original seja o baterista. Adoram enxergar significados mais complexos (na maioria dos casos, inexistentes) nas letras e capas de discos de seus ídolos. São os mesmos imbecis que gritam “toca Raul” mesmo que esteja rolando um pagode. Enfim, são todos são cegos, burros e óbvios em suas convicções e argumentos. Tenho vontade de tocar fogo nessa gente!

É uma utopia imaginar que todo mundo ouça seus artistas preferidos de forma sensata e coerente. Acho que é uma fração menor que 1% que o faz desta maneira. O resto se divide entre os fanáticos fundamentalistas e os cabeças-de-vento que nem sabem o que estão ouvindo. Eu já deixei passar muita coisa boa na minha cabeça por conta da empulhação destes bobocas. Há alguns anos eu venho revendo minhas posturas sobre determinados tipos de som. É um processo lento e cuidadoso. Afinal de contas, tudo o que você ouve hoje tem suas raízes mais profundas em outras épocas. E eu não vou cometer o mesmo tipo de bitolação que os fanáticos ao contrário. Se eu fizer isso, me joguem na mesma fogueira!
*Por meros acasos, caíram nas minhas mãos, em períodos distintos, os seguintes discos: “Álbum Branco” (Beatles), “III” (Led Zeppelin), “Sticky Fingers” e “Tatoo You” (Stones), todos eles aplicados sem forçar a barra. E adorei estes discos!
*Vejam o caso atual dos Los Hermanos: uma banda acima da média, com elementos líricos e sonoros que fogem do óbvio, e com um exército de fãs cada vez mais bitolado, capaz de até limpar o molho de tomate do macarrão que grudou na barba do Marcelo Camelo. Admito que não curto aquele tipo de som, mas o meu bode para com eles é enorme e por conta de seus fãs.
*Não é só no rock and rol que rola isso. Por exemplo, você consegue imaginar algo tão irritante como aquele mudernete que adora cuspir de forma blasé que gosta de nu jazz e minimal techno (gêneros eletrônicos excelentes, diga-se de passagem) e afirma que rock é coisa ultrapassada??? Pior ainda é aquele(a) tranceiro(a) raver de roupas fluorescentes e pose de espiritualista indiano querendo te convencer sobres os poderes do trance de “elevar a mente e a consciência. Tire o ecstasy e a maconha do cérebro destes figuras e veja se sobra alguma coisa. Tem chato pra todo mundo.
*Nem citei o papel da mídia que cria hypes a todo momento. Só dou moral para uma banda depois dela ter, no mínimo, lançado três discos bons e consistentes. Fogo de palha também surge a todo momento.
*Não! Acho que nunca conseguirei gostar de Legião Urbana. Já participei de mais de uma dezena de situações equivalentes às descritas acima. A parada virou um trauma mesmo!

26 comentários:

pegoretti disse...

Eh, vaca...

Volta e meia essa situacao acontece comigo quando digo que nao gosto de LU. E o pior e' que na maioria das vezes eu sou o cara do violao. eheheh

Seu ruminante, nao vai mandar email pra mim, nao? Desse jeito nao posso te passar informacao nenhuma. Deixa uma forma de contato qualquer que seja melhor do que esse sistema de comentario maldito.

TE+

caio disse...

Rapaz, o meu comentário será tão grande (maior que o seu post) que o tempo de que agora disponho não é suficiente. Prepare-se para (algumas) concordâncias e (muitas, muitas) marretadas. Vou destruir esse post, pedaço por pedaço.

Obs: também odeio fãs, são insuportáveis realmente. E só concordo com esse ponto do teu post, eheheheheh...

Prepare-se, amigo...

Marteladas rulez!!!

Kalunga disse...

Que venham as marretadas, velho!

Gleidson, estou lhe preparando um questionário para lhe mandar por e-mail. Será sobre pontos de vista peculiares de sua parte, sobre o Japão e sua cultura. Vai preparando teu espírito de porco, hehehehe

caio disse...

Eu vou te machucar!!!

Kalunga disse...

pra mim isso é só caô...

Kalunga disse...

ameaça não diz nada... tá bom...

André D'Isep Costa disse...

Vou acompanhar tudo de camarote, comprei as cervejas, aperetivos, tudo que tenho direito, ainda vou colocar a trilha sonora do Raul e da Legião...

Anônimo disse...

Belo post Kalunga!!! Concordo com você.

Kalunga disse...

quero fãs de Legião por aqui!!!

caio disse...

Sei que os fãs - e como sei - podem jogar tudo no lixo. Sei que a pentelhação pode fechar portas. Sei e concordo com Kalunga. Mas penso que essa é uma defesa fácil para que não se encare a realidade: Kalunga, vc não conhece suficientemente essas bandas, não gosta de boa parte da pequena parte que conhece e, portanto, ainda não ouviu o bastante para emitir uma opinião embasada. Eu te desafio a ouvir essas bandas comigo! Vc precisa de uma séria aula para deixar de lado esses preconceitos. Deixe-me levá-lo pela mão por esse novo mundo.

Cansei.

Mentor disse...

kalunga, vc já ouviu falar em diplomacia?

Mentor disse...

Já tentou fazer a mesma coisa (por exemplo, um desenho) varias vezes, só que de formas diferente?

Mentor disse...

Já tentou, por exemplo, ouvir uma música, sem pré-referências?

Mentor disse...

Já parou para pensar que os preconceitos são tão ruins quanto os mal conceitos?

Mentor disse...

eheheheheheh

Kalunga disse...

Mentor e Caio: mas é justamente esta pré-disposição preconceituosa minha que eu venho tentando relevar em prol de audições justas e coerentes. E todos vcs, TODOs mesmo (incluem-se os que também não participam de bloggs) possuem tal predisposição. De tanto batermos nas cabeças uns dos outros, estamos abrindo-as.

O "rock vinil" na casa do Mentor foi uma prova disso. Eu mesmo nem quis botar som lá (coisa que eu tenho feito sempre nestas ocasiões). Tenho que quero muito o que conhecer sobre horizontes que desprezei por outrora.

No mais, está aí o título do post que todo mundo concordou: "Os Fãs Estragam Tudo", ou pelo menos podem estragar, se vc deixar que aconteça.

Kalunga disse...

Mentor: um exemplo do que vc me questionou foram os discos que citei no final do texto. Fui ouvir sem refrência alguma. Aliás, devem existir, por exemplo, pelo menos uns cinco discos mais qualificados dos Stones do que o "Tatoo You". Porquê eu gostei pra cacete do tal disco e não posso gostar de outros? É por aí que estou revendo meus (pré)conceitos...

Kalunga disse...

Nossa, então eu devo ser o cara das pedras, hehehehehe

caio disse...

Os Stones têm uns dez discos (pelo menos) que são melhores que 95% de tudo o que é produzido hoje - e melhor que uns 80% (no mínimo) de tudo o que foi produzido nas décadas de 60, 70 e 80. E tenho dito, porra!

Mentor disse...

caoi deu uma pala de fã...ahahahahah...
aqui don't rules!!!!

Kalunga disse...

os fãs estragam tudo... tá aí a prova! só vou ouvir Stones daqui uns dez anos novamente.

caio disse...

Vc está enganado, disse e repito: não sou fã de banda alguma. Sempre disse isto. Mas tal coisa não me impede de afirmar o que afirmei. E bastardos, eu tenho alguma base pra falar desses grupos dos anos 60, 70 e 80. Porra!

E "novamente"? Vc nunca OUVIU os Stones, caralho!

Anônimo disse...

"putaqueopariu", eu vi essa foto do renato russo e vi tb que tinha 23 coments. Resumindo, estou comentando só para completar 24...ahahahahahahahahahahahahaa...
ninguém mais pode comentar esse post...ahahahahahahaha...24...ahahaha... Renato Russo... ahahahaha...

Kalunga disse...

Caio, sem frases de efeito (putz, fala sério: Os Stones têm uns dez discos (pelo menos) que são melhores que 95% de tudo o que é produzido hoje). Deixe o Sticky Finger na minha mão, porra! E, depois, alguns outros mais obscuros.

caio disse...

"Fingers", porra! "Alguns mais obscuros"? Obscuros pra você, eheheheh.. Taí a prova de que vc não conhece a banda, caralho!

Kalunga disse...

Caio, é obscuro sim para quem não conhece a banda. tudo é obscuro para quem não conhece a banda. Stones é obscuro para mim e para muita gente também, pois ninguém é obrigado a ser entendido da banda em questão.