quarta-feira, agosto 10, 2005

Cabecismo de Rachar o Côco


Veja a capa do disco do Glide e imagine o som que saiu disso...

Existem certos tipos de som que parecem ter sido criados para não serem entendidos. Por exemplo: o que estava se passando na cabeça do exímio guitarrista Will Sergeant, dos não menos excepcionais Echo & The Bunnymen, quando produziu um projeto-solo intitulado Glide? Ambient Music, arrotariam os metidos a vanguardistas. Eu iria além, na busca por uma definição mais clara: “ele estava dopado quando produziu este disco?!?” Ouvindo outros álbuns de diferentes épocas, também colocaria outro questionamento: “esses caras batem bem da cabeça?!?”. Pois é, quando você tenta explicar o inexplicável (será?) e acaba gostando daquilo, é melhor nem arriscar sua moral à sociedade para não acabar sendo taxado de louco por tabela. Mas, que nada! Muitas vezes vale à pena tentar entender o que foi pretensamente feito para não ser compreendido. Nem que isso o faça questionar por sua própria sanidade mental. Se eu fosse esquizofrênico, não me arriscaria...

Sim, eu gostei do disco do Glide. Para aqueles que consideraram como novidade e inovação os barulhos e demais experimentos dos álbuns “Kid A” e “Amnesiac”, do Radiohead, é bom saber que este tipo de vanguarda vem sendo realizado desde que os primeiros fonogramas foram produzidos. Mas você também pode passar batido de tal conhecimento e curtir numa boa as belas canções que foram postas por cima da indumentária experimental da banda de Tom Yorke e não correr o risco de passar mal indo mais a fundo nesta experiência. E o Glide é capaz de provocar vômitos até mesmo no mais fanático devoto dos Bunnymen. É preciso estar familiarizado com as experiências electro-acústicas de gente como Stockhausen e John Cage (só para citar os mais contemporâneos), com a ambient music de Brian Eno (ex-Roxy Music e produtor honorário do U2), e com a eletrônica non-stop do Kraftwerk. Ou então que sejam necessários alguns parafusos a menos e/ou colocados nos lugares errados. Uma coisa é certa: você pode morrer sem culpa de não ter se aprofundado neste universo, até porque o seu caráter vanguardista e experimental definitivamente não foi desenvolvido para uma compreensão direta. Dois parágrafos são suficientes para que você saia correndo deste blogg, pois daqui para frente tentarei contextualizar minha compreensão de uma pequena fração deste mundo insólito.

Existe uma banda que até hoje eu não consigo ouvir: Einstürzende Neubaten. Conceitualmente este grupo alemão (já notaram que os projetos mais cabeçudos vêm de lá?) já possui seu lugar na história, pois foram fundo na utilização de todo o tipo de peça para a produção de música e freqüências sonoras desconhecidas, além de possuírem um engajamento sócio-político realmente influente em sua terra-natal (já participaram ativamente de causas pró-mineradores, por exemplo). Mas eu não consegui detectar estruturas mínimas que me passem algum tipo de emoção que não seja a de “nossa, esses caras são vanguardistas!”, entendem? Ou então ouvi os discos errados da banda! Mesmo a mais assépticas faixas radicalmente eletrônicas e instrumentais produzidas para as pistas de dança despertam emoções mais puras - ou seja, para dançar! Também não ficarei aqui tentando teorizar sobre as formas e objetivos de determinados tipos de música. Simplesmente exporei minha visão sobre este universo e na intenção de fazer aos interessados que os enxerguem com olhos menos, digamos, científicos. Mas é um troço difícil isso!

O Clock DVA (alemão, para variar...) pratica algo como um som industrial científico É serio! No encarte do álbum “Man Amplified” (1991 - sim, eu comprei mesmo isso aí!) há, ao invés de letras, textos complicadíssimos sobre física quântica e energia nuclear – todos escritos pelo cabeça do grupo, um sujeito com o nome de Adis Newton. O som, propriamente dito, é uma revisão do que o Kraftwerk fez ao longo de sua carreira, adicionado com o peso e a modernidade da música industrial/ebm – muito conceito para um resultado nem tão complicado e empolgante assim. Talvez o tal do Newton (não aquele...) tivesse deixado a complicação de verdade para seu projeto The Anti-Group/T.A.G.C, que mistura cabecismo intelectual com jazz, rock progressivo e eletrônica. Aí, meu amigo, é para dar tilt na IBM inteira... Na esteira cabeçuda alemã, travei contato com nomes (alguns não-alemães) como Test Dept. (considerada “a resposta inglesa ao Neubaten”, e que produziu discos até para peças de balé), Die Krupps (começaram também na onda do Neubaten, mas logo aderiram a um rock industrial mais convencional, tendo ficado famosos pelo ‘tributo industrial ao Metallica’: ouça este disco e vomite, morra de rir ou deleite-se), Laibach (grupo pseudo-facista que faz um som que o Rammstein xerocou acrescido de guitarras pesadas, e que já gravou o disco “Let It Be” inteiro à sua maneira), e DAF (o Laibach deve as suas calças a esta banda, o Front 242 um pouco também). Parei por aqui. Quando o negócio começou a ficar complicado demais, procurei sanar meus neurônios com canções de um disco do INXS...

O legal mesmo nesta “pesquisa” (aspas são necessárias pois, acreditem, sei da existência de correntes científicas sérias nesta área) é ouvir um determinado som e se transportar para a época em que fora lançado e imaginar o impacto na ocasião frente aos conceitos estabelecidos. Neste caso, volto ao Kraftwerk, mas àquele que quase ninguém conhece, pré-Autobahn (seu primeiro sucesso), dos discos “Ralf & Florian” e “Kraftwerk II” – os que eu tenho ouvido. Meu amigo, esta dupla (Ralf Hutter e Florian Schneider) merece todos os adjetivos elogiosos que já lhes foram proferidos! Na virada dos anos sessenta para os setenta, eles produziram peças sonoras que variavam do clássico/erudito/folclórico processado num sampler (muito antes que este existisse) a batidas em ritmo seqüenciado (idem ao sampler), sempre instrumentais e pontuadas por belas melodias. E o tal do Silver Apples? Baixei o homônimo álbum dos caras (de 1968, acho...), ouvi e me deu medo – tanto é que o CD que tinha simplesmente sumiu. Os malucos tiravam sons de osciladores de áudio e o que saía dali era algo impressionante, sombrio e muitas vezes belo também. Outro grupo que me impressionou, sob a perspectiva de sua época, foi o Cabaret Voltaire: industrialismo alemão (apesar de os caras serem canadenses) com atitude punk! Ouçam a faixa “Nag Nag Nag” e comprovem o que estou falando.

Percorrendo por caminhos mais normais (este termo é muito ambíguo por aqui...), dois grupos dos quais sou admirador incondicional produziram projetos paralelos distintos, cabeçudos (obviamente)e bastante desafiadores. Dos canadenses do Skinny Puppy eu destaco os projetos Hilt e Download, ambos produzidos pela mente doentia do membro fundador do SP, Cevin Key. O Hilt possui um bom mix de electro 80’s e rock gótico (“Orange Pony” – 1989) e uma verdadeira trip lisérgico-sombria sob o nome de “Journey to The Center of Bowl). E há boas canções assobiáveis neste disco (fato raro neste texto...), só que logicamente costuradas com enxertos de folk music, ebm, technopop, indie rock e heavy metal. Já o Download é o que há (ou pelo menos houve, pois está meio inativo ultimamente) de mais avançado na música eletrônica – já num campo quase que totalmente instrumental, e procurando novos caminhos para ambient music, techno e industrial/ebm. Dos suíços do Young Gods, destaco as experiências praticadas com ambiências sonoras sob os nomes de Heaven Deconstruction, Al Comet e Amazonia Ambient Project (do qual consiste a base da apresentação que relatei em meu blogg de São Paulo/2004: Digital Nonsense). O som destes suíços possui ligação direta com o do Glide, citado no começo do texto. Fui lá mas já voltei! Deu no saco...

No final das contas, podem ficar no ar alguns questionamentos básicos como: “isso é música?”, “dá para ouvir sóbrio?”, "presta?". Eu só posso afirmar o que escrevi aí em cima. Esta é a minha avaliação de apenas uma ponta de um iceberg jurássico e de proporções nababescas. Com certeza existe coisa mais cabeçuda (e inviável...) que isso. Também não quero parecer pedante quando escrevo sobre coisas que quase ninguém (será?) se disporá a ouvir. Simplesmente sou curioso sobre as origens que acercam os gêneros musicais que gosto. Muitas coisas eu não consegui ouvir mesmo, tanto é que nem as citei - é coisa ruim mesmo, não há outra definição. Mas não custa nada pesquisar um pouquinho. Olha a internet aí te facilitando tudo! Estou sendo até chato de citá-la em todo post, né não? É que sinto sua falta como me era antes: rápida, dinâmica, abrangente, com preço fixo... A quantidade de som chato e inviável que eu conheceria com uma internet rápida em casa seria impressionante! Por enquanto vou sendo chato com o que tenho em mãos.

17 comentários:

Anônimo disse...

nossa, muito chato mesmo, viu? só som de cara desocupado na vida, isso deve de ser ruim demais e cê tenta dizer no blog que é bom pra tirar onda de nós.

Anônimo disse...

radiohead é ruim demais da conta, e o resto num quero nem saber, pelo que li no seu brog deve ser um monte de porcaria, mas não fique nervoso não, tá bom? beijinhos procê.

Anônimo disse...

cê é feio e bobo.

Anônimo disse...

e num adianta apagar meus comentários não, viu? eu vou continuar voltando aqui pra falar as minhas coisinhas. Sou chata à beça nessas horas e cê foi muito mau comigo agora. Num vô te largar não.

Anônimo disse...

cê é feio e esses discos aê são feios tb. cê devia ouvir o blink

Kalunga disse...

Valeu Led!!! Na verdade eu é que banco o bobo e entro às vezes de cabeça quente no meu blogg e acabo caindo na pilha de um babaca qualquer. Deixa pra lá, o(s) idiota(s) eocará no vazio, pois eu não me darei ao trabalho de responder mais a este tipo de coisa. Quem quiser, que comente e avalie a si próprio!!!

Sobre o tal lá do Taruira, todo mundo já sabe quem é, menos ele sabe disso, hehehehehehe...

e estes sons horríveis (a maioria é mesmo, admito!) devem ter mexido com a cabeça dos malucos péla-saco!!!

Kalunga disse...

Led, dewculpe-me a iginorância, mas vc tem algum blogg ou coisa do tipo?

Mentor disse...

Sonzinho metido à vanguarda é foda!!!
Mas tem muita coisa legal. Tem que garimpar...
A minha praia (para os inviáveis) é outra...
Kalunga, e aquele rock de sons indigeríveis??? vai rolar ou não????

Kalunga disse...

Mentor, vc tem uma praia que se neguinho der mole se afoga com a boca cheia de craca e ouvindo uma jam entre Walter Franco e Hermeto, hehehehehe...

motorhead de "sons inviáveis" seria clássico e já passou da hora. mas no meu prédio, pelo menos daqui a dois meses (em obras) tá foda...

Mrlips disse...

"E o Glide é capaz de provocar vômitos até mesmo no mais fanático devoto dos Bunnymen."

È meu caro ruminante voçê, mais do que ninguem,colocou o dedo na ferida. Sou fã dos Bunnymen mesmo antes de ter nascido e a experiência de digerir o primeiro album do Glide ( não esse da capa) foi deveras traumatico. Esperava um disco de "guitarrista" e tinha nas mãos um projeto de não musica, tipo Can,Kraftwerk da primeira fase e maluquices infestadas de blips e bloins.Demorei uns quatro anos(!!!) para entender a mensagem, e o mais inusitado é que estava dirigindo meu carro pra casa vindo de Linhares sob uma chuva torrencial e a noite. Puro terror!! Musica,transito,estrada... tudo remetia ao medo. Foi ai que absorvi a musica de um guitarrista fenomenal engedrada a partir de ruidos,samplers esquizoides e afins.

E o preço que se paga pelo experimentalismo,busca...
Seria o mesmo que um virtuose de qualquer instrumento resolvesse tocar com as mãos trocadas. Destro por canhoto e amidestro pelos pés,orelha,pés ou nariz!

E quanto ao sesu texto,fela,são sempre invasivos,e o pior,acendem a mola mestre de qualquer "animal" com mais de dois neurônios: a curiosidade!

Anônimo disse...

Vaca,Lemmy!!! fucking drunk!! 4AM.Loco gringos like a party!!! Reverend!! só pra diretoria! Can't tip, totally drunk! Motorhead alone! Gimme, gimme loco! "The light pours out of me"!!!!! Do you remember ROCK'N'ROLL radio? Do you remember MOTORHEAD WITH FRIENDS?! Arrume um tempo! Se vira! Walker!! Found a new mine!!!. He ,he,he,he!!
LEMMY

Kalunga disse...

Lips, realmente deve ter sido muito estranho, pois disco-solo de guitarrista, já sabe né...
O legal é isso: a curiosidade desaber o porquê de o cara ter feito algo como aquilo. Eu tava ouvindo e chapei, foi meio indigesto mas ao mesmo tempo feliz por ter visto que ele se inseriu num universo do qual eu nunca esperaria. Partindo daí, logicamente, fui atrás de suas referências. É muito bom ser surpreendido pela influência de um artista favorito teu e procurar enxergar algo que talvez vc não procurasse sem este empurrãozinho.

Kalunga disse...

Led, escreva, porra!!! hehehehehe...

Sim, o Meshuggah eu até baixei um álbum dois anos atrás,"Nothing", e achei-o matador. Me surpreendi pois esta banda, até então, eu achava ser de death/thrash!!!

Kalunga disse...

Lemmy, meu prédio tá em obras e tá inviável de rolar algo aqui. Fora que final de semana eu tenho feito freelances e tocado também direto.

Já no meio da semana...

vamostentar sincronizar nossos horários, o Macaco falou pra gente passar na casa dele em Fradinhos no meio da semana. E o meu vinil do "Creatures of The Night" tá com aquela macaca!!!

Anônimo disse...

Oi. Hoje como desisti de ir à praia vai dar pra contar do show do einsturzende neubauten. Como já te falei, foi na Loud!, uma festa ni cine Íris que tem um som diferente em cada andar (total de 3 ambientes). O show do en foi no palco do cine, com a platéia lotando cadeiras e qualquer espaço possível. O grande lance do en, que eu sinto menos importante no Kraftwerk, é que como bons alemães eles têm um conceito forte orientando tudo que fazem. No caso deles, acho que deve ser o conceito de obra de arte total, do Wagner, que queria fazer uma ópera que representasse todas as artes em perfeita conjunção blábláblá...
Enfim, o show não é só música, os caras são um teatro, os sons são produzidos com coisas tipo uma estrutura de metal com uma escadinha, na qual o "baterista" subia pra entornar um balde de brita, acho eu, que chegava lá embaixo e ele recolhia e repetia tudo novamente, criando a percurssão da música. Não consigo contar detalhes, fiquei em êxtase total durante o show. Meu exnamorado filmou tudo com a minha câmera, mas infelizmente devido a peculiaridades do sexo masculino, me roubou a fita e me enrola até hoje - eu nunca consegui rever aquilo, mas foi maravilhoso. Foi a primeira vez que ouvi en, apesar de sempre ter visto comentários (da revista BIZZ, na época de ouro). Fiu mais pra ver o Blixa, o guitarrista/vocalista que tocou com o Nick Cave um tempo e eu adorava. Foi ótimo!
O mico: a pista do segundo andar foi desativada por causa do show, mas rolava um som eletrônico no terraço que era pra ter sido parado durante o show. Acredite se quiser, os caras do en adoram o Brasil, o Blixa morou por aqui com o Nick Cave uns tempos, etc. O plano deles era tocar até o dia nascer. A umas duas horas de show, ele parou tudo e pediu que desligassem o som no terraço porque estava incomodando a banda. Cara, no meio daquele barulhão os caras ouviram que a pista do terraço tinha voltado! Ainda pararam o show mais duas vezes, mas a pista contiuou, e infelizmente o show só teve umas 3 horas de duração. Sabe o que rolou? Uma galerinha que tranceira tinha ido pra curtir a noite, nem entrou pra ver o show, ficou pilhando os produtores da festa que tinha que ter outra pista, senão dinheiro de volta, blábláblá, e aí os pelasaco resolveram reativar o terraço. Putaque pariu, até hoje fico revoltada quando lembro disso... Aí, a cena final: eu e meu ex na porta do cine, eu reclamando horrores no ouvido dele(ele era amigo dos produtores da festa), e me passam os caras do en, na minha frente, carregando instrumentos: eles não tinham nem roadie! Putz, pegaram uma van e rumaram pro sul do brasil, onde em lugares como Curitiba provavelmente não tiveram que passar por este tipo de situação.

Anônimo disse...

Aí, desculpe a invasão do seu espaço, acabei escrevendo demais!
E desculpe os erros de digitação, tô usando um teclado diferente.
Resumo da ópera; concordo com você que o som do en não toca muito o coração. Tem música do Kraftwerk que eu choro toda vez que ouço, ou que me dá uma alegria imensa e vontade de sair dançando, mas isso nunca rolou com o en, nem com o can. Apesar disso, como eu adoro gente esquisita, eu insisto ouvindo e já elegi minha favorita: Silence is Sexy, ao vivo. essa me emociona mesmo. Qualquer dia voute abordar lá no Gazz, quem sabe a gente não troca uns sons? Eu imagino que não tenho um décimo do que você tem, mas enfim... Queria muito ouvir o som do Glide, já que amo Echo fiquei curiosa.
Hi, vou escrever demais de novo! STOP! Até a próxima...

Kalunga disse...

Kate! Não se acanhe, escreva o quanto quiser, é sério! Eu particularmente estava muito (mesmo!) para saber sobre este show o EN, e prefiro inclusive um relato pessoal do que uma resenha jornalística em um veículo oficial de comunicação. Acho deste modo mais passional e interessante.

Apesar de ainda não ter conseguido me conectar definitivamente com o EN, não tenha dúvidas de que iria ao show deles se eu pudesse. E sobre a questão de sons, não enxergue deméritos, por favor. Posso conhecer mais de uma linha, mas vc também pode conhecer muito mais de outra linha de som. Tudo, acredito eu, vem para acrescentar!

Abração!