segunda-feira, agosto 15, 2005

Paz, Amor e Metal


Eles irão te matar!!!!
Foto by Kalunga


Jovens vestidos de negro e adornados com crucifixos invertidos e espinhos pontiagudos, caras de mau e adoradores de uma música movida a barulhos e grunhidos nem um pouco amigáveis. O local do encontro – ou do sacrifício é, invariavelmente, quente, apertado, sujo e maltratado. Público e cenário perfeitos para uma missa negra e satânica... ou de manifestações mais pacíficas que as aglomerações entre humanos podem produzir – um contradição em termos! O fato é que o heavy metal só é violento na metáfora agressiva de suas canções. Eu vim de uma época que (ainda) era perigoso freqüentar tais ambientes sob o risco de levar porrada de gangues de cabeludos sujos e malvados. Era o tempo de punks e headbangers se odiarem de morte, de quando um sujeito de apelido Repolhão causava apreensão onde quer que estivesse. Tudo bem, não sou tão velho assim - isso é coisa do “metal anos 80”, mas no começo dos 90’s, quando comecei a sair de casa, ainda rolavam alguns resquícios dos anos de ferro e fogo. O que vejo hoje, e de uns bons dez anos para cá (ou mais), é a mais pura e pacífica diversão, ainda que travestida de negro e adornos metálicos pontiagudos. Você pode levar sua mãe, seus avós e seus sobrinhos (e filhos, se for o teu caso) tranqüilamente para um evento no bar Entre Amigos II (Vila Velha), por exemplo. O inferno, sugerido pelo som e pelas alegorias de seu público, só se encontra mesmo nos banheiros – algo que parece nunca vai mudar. Ali, nem Satanás tem coragem de prestigiar.

Não vejo demérito algum neste pacifismo! Tudo bem que os shows daquela época antiga eram mais selvagens e tal, mas eu sinceramente não gostava nem um pouco de estar num local onde a qualquer momento alguém poderia juntar uma galera e te porrar sem o menor motivo. A tal diversão tinha um preço bem imprevisível. Havia o tal do Repolhão, que botava o terror em todo mundo, até que um dia (numa lona de circo em 1994 na SBPC, na Ufes, num show do Dead Fish!) uns quarenta incomodados resolveram bater todos de uma vez só no figura – mesmo que o tal puxasse uma faca! O tempo passou e o mesmo Repolhão virou motivo de piada e até mesmo um cara engraçado e amigável, sucinto a diversas lendas ao seu respeito (que virara evangélico, que falecera, que se casara, etc.). As gerações foram se sucedendo e amansando com o tempo. O público atual de shows de heavy metal faz com que seus pais prefiram que os filhos freqüentem um Entre Amigos a uma Blow Up (boate da moda) da vida.

Neste processo de “renovação”, uma coisa era certa: mulher era artigo de luxo! Numa noite de 1998 com a banda Shadow (na época, única e exclusivamente cover de Iron Maiden) no extinto Camburi Vídeo (Jardim da Penha, Vitória), deveriam haver no recinto uns duzentos cabeludos e apenas duas (!) mulheres, sendo que uma era namorada de um dos donos do local e a outra era cortejada pelos cabeludos cheios de cachaça como uma peça de alcatra num açougue – situação que poderia muito bem ser descrita numa letra de heavy metal. Ontem (domingo, 14 de agosto), no Entre Amigos, eu poderia afirmar sem medo que a proporção entre homens e mulheres era quase que 50% para cada lado. E as meninas (beeem novinhas, diga-se) eram muito bonitinhas e com uma produção visual pra lá de bem cuidada. E os meninos também cuidavam de se produzirem um pouco além do usual camisa-preta-calça-preta – acredito que os podrões não teriam chance alguma com elas. E havia muito pouca gente (muitas vezes nem vejo mais) caindo pelos cantos fedendo a cachaça como antigamente. Também, pudera, a média de idade do público deveria ser entre 14 e 16 anos. Haviam seguranças de terno que coibiam confusões e o consumo de bebidas alcoólicas para menores. E os amários eram bem pacíficos e pacientes, só estavam ali para figuração na maior parte do tempo. Definitivamente o público metal não dá o mesmo tipo de trabalho que antes.

No final das contas eu vou acabar alfinetando algo que quem me conhece já poderia esperar. Nem mesmo na época mais sinistra do heavy metal (muita briga, locais podres e pouca/nenhuma mulher) eu sentiria a repulsa que bate hoje em mim numa rave de trance. Do que participei antes – festas precárias e público neo-hippie-cabeça-de-vento (altamente criticável, mas inofensivo), não sobrou nada além da luz negra e de uma vertente de som absolutamente sem variações. Imaginem um local lotado de uns 800 pitboys travados de ecstasy e invariavelmente caçando briga, e na mesma proporção tropas de patricinhas igualmente chapadas e se equilibrando em cima de seus saltos-altos. Podem me chamar de preconceituoso, mas eu definitivamente não ponho mais os meus pés no que defino como uma micareta eletrônica: público e som igualmente apelativos e repulsivos em suas atitudes. Eu poderia criar um blogg inteiro para falar mal disso, mas acho que seja absolutamente desnecessário. Prefiro a diversão pura e inocente de um show no Entre Amigos e, de preferência, com uma boa banda tocando.

*A “boa banda” a que me refiro é o Poison God, cujas impressões minhas sobre o show estão no blogg Volume 4, onde divido espaço com meus amigos.

20 comentários:

Anônimo disse...

Você percebeu o Delano (Javali Filmes) no canto direito da foto?

Anônimo disse...

Sem falar na Entidade, claro...

Anônimo disse...

É, festinhas trance se parecem mesmo com eventos tipo Babado Novo ou coisas do tipo. O som é secundário, qualquer baticum satisfaz, já que tá todo mundo alucinado-anfetaminizado-bêbadodedardó...
(a priori nada contra, mas quando é só isso, é um saco!).
Foi isso que quis dizer no relato do en. Não sei se estava tocando trance no terraço, mas as pessoas que insistiram em ouvir o de sempre ao invés de se ligar no show, isto apesar de saberem com antecedência que haveria show naquele dia, com certeza hoje estão por aí frequentando estes eventos trance.
Nojo é a palavra certa, estou com você nisso.

Kalunga disse...

Zequinha, esta foto foi postada propositalmente pelos figuraças citados que aparecem nela, não tenha dúvidas disso. Foi em 2001 na Casa da Cultura (Centrão de Vitória) em um show do SMD.

Kalunga disse...

Kate, eu realmente curti o começo do trance por aqui, quando era uma parada mais inocente e com um público bem riponga e tal. Me divertia pra caramba (apesar de não me identificar muito com aquele público, mas eram inofensivos), gostava do som (que eram chamado de "goa trance") e não tomava bala. Depois que a playboyzada aderiu, eu tomei nojo, raiva ou qualquer sentimento assim. Tentava evoluir no som, botar a galera p/ ouvir outras vertentes de trance e tinha que ouvir abobrinha de mané que não sabe nada de música e cheio de químico na cabeça. AH! deixa pra lá...

Anônimo disse...

ei, te vi hoje lá na Curva!!

Anônimo disse...

Você tem msn??? Se tiver, me adiciona que eu te conto do en. Queria combinar de copiar esse Glide seu, também estou sem acesso rápido e não dá pra puxar nada assim, no telefone...
O meu msn é hey_caribou@hotmail.com (por favor, deleta isso logo depois que ler). Como pode ver, sou fã de Pixies!

Mentor disse...

kalunga, vc poderia colocar os dois textos juntos: esse e o do volume qu4tro. Tipo retranca e sub-retranca... Eles se completam... Mas tudo bem, vc colocou um link.

Na boa, eu sou mais radical. Eu vejo que todo evento tem que ser um pouco (ou por inteiro) micareta para agradar o público. Tudo é marketing... Não existe amor, arte, prazer (a não ser o prazer da grana). Tudo está em prol do capital!!! Morte ao capitalismo medíocre!!! Ah, e morte ao falso socialismo também!!!

O bar Entre Amigos é um símbolo de resistência... O grupo que lá freqüenta, também tem suas alienações (e desvio de conduta)... Mas é outro. Pelo menos não são zumbis sociais... Eles formam outros guetos... Ufa!!!

Kalunga disse...

Kate, eu não tenho msn e nem orkut... e pelo simples fato de achar que não vale à pena ter enquanto eu estiver com esta merda de conexão por telefone (que em breve vai ser cortado, portanto, já sabe se eu sumir por uns dias ou semanas...)

E eu estive ontem sim na Curva, ora pois!

Kalunga disse...

Mentor, eu concordo contigo! Só não me bote naquela micareta trance, pois eu me reservo no direito de passar longe daquilo ali. E conceito alternativo não enche o bolso de ninguém.

Sobre o Entre Amigos, é isso aí mesmo. Para as aspirações (transpirações?) do nosso underground, está de ótimo tamanho.

Anônimo disse...

Ei, então se eu for no Gazz vou te procurar.
O Entre Amigos é um lugar ao qual nunca fui - por pura preguiça de não saber o que vou encontrar por lá. Idiossincrasias... Você agora me animou, vou tentar aparecer lá um dia destes.

Kalunga disse...

Kate, não se anime tanto assim~com relação ao Entre Amigos...

é um local nem tão podrão assim e que é o único lugar que dá para ver alguma coisa interessante, tipo uma ou douas bandas legais para cada quarenta que se apresentam por lá...

Anônimo disse...

Pela galera que tava aí na frente eu acho que essa foto postada aí foi de um show do SILENCE. Não sei se você percebeu Vaca, mas esse moleque com a bandana na cabeça na reta do Delano é o "Kirk" (que hoje tá com um visual Thrash oitentão fodaço). Será que ele conseguiu travar aquela guria? Só o Paulinho deve saber!!!
Lemmy

Kalunga disse...

Caralho, é o cara??? Esta foto é de 2001, então deve ser mesmo, hahahahahaha!!!

Lemmy, aquele motorhead Black Label pode rolar na semana que vem? Já estou marcando com muita antecedência para que nos planejemos melhor, eulevo umas Weiss e uns petiscos bacanas, que tal?

caio disse...

Moleque com a bandana? Putz, achei que fosse uma mina, ahahahahahah!!!!!!

Anônimo disse...

O que aconteceu com vc ? O Ozzy deve ter puxado seu pé a noite !

Kalango !

Anônimo disse...

Vamo marcar esse motorhead sim, vamo escolher uma data maneira que dê pra todo mundo ir! O "líquido" já tá aqui esperando, he,he. Quanto ao comentrário do Caio, eu também tinha a mesma dúvida. Ninguém sabia se esse moleque era um cara ou uma mulé. Ele sempre ficava na frente do palco nos shows do Silence. Agora ele cresceu e deu pra sacar que é um cara. E tá com um visual grosso agora! Thrash metal oitentão com cinturão de bala, all star branco e franja no cabelo que é enrolado!! Kirk Hammet pra caralho!!!
Lemmy

Kalunga disse...

Eu quase postei outra foto ao invés desta e eu realmente. achava que era uma menina! hahahahahaha!!!

Motorhead Black Label Society rules! Vou até registrar o momento com minyha câmera!

Anônimo disse...

Bom, como quem é vivo sempre aprece, estou aqui de novo reestabelecendo os contatos. Em primeiro lugar, quero dizer que seus textos continuam afiados, espirituosos e informativos ao extremo. Continue sempre assim! Segundo, saiba que mesmo estando distante e mantendo poucos contatos, estou
(e estarei) sempre próximo dos irmãos de Vitória. E esperem uma visita minha e da minha mina aí no final do ano, para quebrarmos tudo!!!
Abraçao do brother
Maércio

Kalunga disse...

Maércio!!!

Seja sempre bem-vindo, meu querido amigo! Eu posso lhe entender sobre "sumiços" e afins, pois também passei e passo por situações que não me permitem manter um contato direto e constante o tempo todo.

Não se apresse de vir, mas se vier em breve, saiba que pode participar de algum "Motorhead Black Label Society". Imagine o que seja, hahahahahahaha!!!!

Abração!!!!!