quinta-feira, agosto 04, 2005

A Minha História


Meu primeiro disco!

Eu era um garoto que não amava os Beatles nem os Rolling Stones – e não amo até hoje. Mas comecei amando o Kiss! Coisa de moleque: quatro caras mascarados, cuspindo sangue pelas ventas e tocando o terror (estilo trem-fantasma-de-parque-de-diversões) com um discaço pesadão, o “Creatures of The Night”. Um álbum tão bom que eu não virei fã do Kiss mas sou gosto daquelas músicas ali até hoje. Ligava e cantava pelo telefone na Rádio Tropical pedindo aquela música do “Ê-ê-ê-ê-yeah!” (“Love it Loud”), colocava o disco no quarto de minha irmã para assustá-la (é sério!) e queria ir de qualquer maneira ao show deles no Maracanã. Em 1983 eu tinha a idade madura de... oito anos! Saiu no Jornal Nacional que eles jogavam pintinhos no palco e os esmagavam com suas botas com plataforma de dentes afiados. Meu pai não me deixou ir, mas morria de rir com aquilo tudo. E foi um clipe no Fantástico que me desviou dos caminhos sangrentos e maléficos do heavy metal. Uma parada bem futurista...

“Music Non Stop!” (1986). Porra, aquela imagem em computação gráfica (a mais avançada da época) com quatro homens-robôs cantando um slogan tão simplório quanto genial me abalou para sempre. O Kraftwerk me fez abrir a cabeça para aqueles sons produzidos tão única e exclusivamente com instrumentos eletrônicos. Ainda não possuía senso crítico nem independência de $$$ para correr atrás por conta própria do que gostava. Na verdade o Kraftwerk sintetizou (ops!) na minha mente (um HD?!?) o que já demonstrava curtir bem antes, pois não parava de rodar a faixa “Situation”, do Yazoo, presente na trilha da novela “Sol de Verão” (1983, o vinil acabou empenando...) e me dava conta de que havia outro disco com selo de novela (“Brilhante” - 1982) lá em casa, adivinhem de quem: Kraftwerk (“Computer World” – este eu tenho até hoje!). Minha irmã namorava um cara mais velho que chegava no carro do amigo que tocava sempre em alto e em bom som umas paradas importadas maravilhosas. O Wanderson (o “amigo” - esse é o cara!) gravou umas fitinhas para mim com pérolas de gente como Ultravox, Thompsom Twins, Yello. ABC e, logicamente, New Order (“Substance”), Depeche Mode (“Black Celebration”) e Human League, além daquelas maravilhas gélidas e sombrias do rock inglês como The Cure, The Sisters of Mercy e Echo & The Bunnymen. Passei batido de rock nacional e heavy metal sem a menor culpa.

A propaganda de um disco da Som Livre fez minha cabeça rodar 360º novamente. Uma batida dançante como nunca antes ouvi, cortes e colagens de diálogos de filmes, uma base de sintetizador bem eletrônica: Acid House! Este era o nome da coletânea que passava nos intervalos da Globo e Bomb The Bass (“Beat Dis”) era o nome do grupo em questão. Também tinha S’Express, Coldcut e uma faixa pesadona de um tal de Front 242 (“Headhunter”). Era a virada dos 80’s para os 90’s, a música eletrônica apontando e enfiando o dedo na sua cara sobre o futuro. DJs viraram superstars e eu também queria ser um. Juntava meu dinheirinho para comprar na Casa do Disco (no Centrão) aquelas coletâneas de vinil piratas (produzidas em Belford Roxo, no Rio) onde havia o filé da tal da dance music - até 93 juntei uns sessenta, tendo alguns singles importados (“Headhunter”- Front 242, “Situation 91” – Yazoo, “Enjoy The Silence - UK” – Depeche Mode). Tudo era jogado no mesmo caldeirão: as primeiras manifestações de house, techno, trance e também umas farofadas de dar vergonha até hoje de ter comprado/curtido - Ice MC, por exemplo e que fui até no show aqui em Vitória. Aliás, nossa combalida capital contava, no começo da década passada, com diversos programas de rádios muito bons (alguns nem tanto, é verdade) tocando dance (antes deste termo se tornar pejorativo) bem selecionada e mixada. Elegi o programa de Luiz Cláudio Casado e Renato Vervloet o meu preferido (eles tocavam coisas mais pesadas e/ou diferentes) e o do Dedeco o melhor mixado. No meio disso tudo descobri em outra coletânea da Som Livre (uma com a capa azul...) a faixa “Welcome to Paradise”, do Front 242. Algo muito forte estava me chamando.

Sim, eu era fã do Infomation Society, fui ao show no Álvares Cabral (um dos melhores da minha vida) e gosto até hoje! Fui fisgado, na verdade, pela batida pesada, vinda diretamente do Kraftwerk, de “What’s on Your Mind”. Aqueles caras tocando mil teclados e percussões eletrônicas no palco (na TV Manchete, dois anos antes de virem para cá) me despertou interesse para algo que eu nem sabia existir. Eu gostava mesmo era de sintetizadores pesados, climas dark e muito maquinário eletrônico percussivo. Logicamente o InSoc era só a ponta de uma navalha mais cortante, fria e mordaz. Fui na Casa do Disco pela enésima vez (eram umas três vezes por semana) e botei para ouvir o álbum “Front By Front”. Cara, era aquilo que eu gostava! Minha cabeça girou 360º pela terceira vez. O Front 242 era o futuro, era tudo o que eu gostaria de ouvir numa banda mas não tinha a menor idéia de como seria. O som era dançante, radicalmente eletrônico, ligeiramente pop (melodias que grudavam na cabeça, mas minimalistas ao extremo), pesado e variado dentro de seu estilo. Era o futuro da música daqui a cem anos, robótica, opressiva, as máquinas de Matrix e Terminator juntas escravizando os humanos e produzindo seu som. Descobri via Revista Bizz que o selo Stiletto estava despejando maravilhas da chamada Electronic Body Music - a “EBM” – com um volume inacreditável aqui no Brasil se levarmos em conta que se tratava de um gênero musical underground por natureza. Tudo o que eu queria estava ao meu alcance (no Centrão) e sob a batuta de textos, resenhas e notinhas em uma revista muito boa (a Bizz).

A Split Second, The Young Gods, Legendary Pink Dots, Borghesia, Neon Jugdment, a nata da EBM em álbuns-solo e coletâneas espertas (“Generate” era a melhor!) e que faziam com que a Stiletto abalasse minha mente para sempre e a todo momento. Este selo também despejou os primeiros lançamentos de techno, ambient, trance e new beat (um parente próximo da EBM e voltado para a dance music) que, logicamente, absorvi tudo o que podia na minha coleção de vinis que eu usava para agitar umas festinhas da galera do colégio (ninguém gostava...). Comecei a trabalhar com meu pai aos 15 anos (1991, como boy!) e abri uma conta no banco para mim. Foi quando descobri o quase inacessível mundo maravilhoso dos discos importados via Tarkus, uma lojinha na Praia do Canto dedicada a heavy metal e afins. Mas era o catálogo deles que me interessava! Foi, aliás, a Tarkus, que abriu um pouco minha cabeça para o heavy metal, pois dali saí com bolachões de Slayer (“Seasons In The Abyss”) e Anthrax (“Persistence of Time”, que emprestei e perdi duas semanas depois). Uma notinha na Bizz (sempre ela!) me indicou o caminho do som industrial. Mais uma reviravolta de 360º aconteceu comigo.

“Guitarras pesadas com eletrônica massiva, industrial e EBM”: putz, este era o caminho do paraíso para mim naquela época, pois estava curtindo pedradas do thrash metal (“Master of Puppets”, do Metallica também havia entrado em meu mundo) e adorava de paixão a EBM e seus beats eletrônicos marciais. Quando ouvi Ministry pela primeira vez, meu cérebro implodiu! “Thieves” era a música, saí da Tarkus com o vinil importado (caro pra cacete!) de “The Mind Is a Terrible Thing To Taste”) como uma meta de vida - eu não tinha grana na hora, que merda! Neste mesmo período a Rádio Cidade transmitia via satélite o programa “Novas Tendências”, do José Roberto Mahr, fonte de mil sons maravilhosos do mundo alternativo (eu pesquei principalmente bandas de shoegazer, trance/ambient e, obviamente, industrial/EBM), sendo que quando foi tocada a faixa “NWO”, do novo álbum do Ministry, acabou me deixando ainda mais inquieto. Fui na Musical Box (Praia do Canto), único local onde encontrei o tal disco (“Psalm 69”), juntei uma grana em tempo recorde e paguei uma pequena fortuna no CD (a loja enfiava a faca sem dó) – o primeiro que comprei e sem nem ter o aparelho para tocá-lo. A partir de então, fui conhecer outras maravilhas de EBM e industrial como Front Line Assembly, Nine Inch Nails e Skinny Puppy (estes dois últimos merecem posts à parte). Isso até o dólar cair o preço.

A Tarkus foi fundamental na minha coleção de CDs. Quando a cotação do dólar emparelhou com a nossa moeda, fui torrando toda minha grana com encomendas a mil naquela loja – e não me arrependo de nada! Deixei os vinis para trás junto com a intenção de me tornar DJ (também, pudera, perdi todos os meus sessenta e poucos bolachões de uma vez – na verdade, sempre detestei o som que saía do vinil e dei graças a deus quando o CD veio para ficar), e me voltei para sons mais pesados. Era a época do grunge (me viciei particularmente em Alice In Chains) e do total desvirtuamento do heavy metal (maravilhas como Prong, Helmet, Pantera, Faith no More, Rage Against The Machine, Corrosion of Conformity, além do metal industrial de Ministry, Godflesh, Lard, etc., que eu mais curtia). Apontei minha mira também para o rock and roll puro e simples, virei fã incondicional de gente distinta como Social Distortion, Tool, Kyuss, Cramps, Reverend Horton Heat, Danzig, Red Hot Chilli Peppers e Butthole Surfers. Abri meu coração para clássicos do rock como Black Sabbath, Jimi Hendrix, ZZ Top e Free. Só não virei fã de Beatles nem de Rolling Stones. E nem de Led Zeppelin. Sei lá o porquê...

Outra bomba afetou me cérebro no meio dos 90’s: o big beat de gente como Prodigy, Chemical Brothers e Crystal Method. Uma coceirinha na minha cabeça me dava novo ânimo de brincar de ser DJ, meu amigo Tourco também pirou junto na mesma época, e começamos a botar som juntos. Fui me dando conta de que gostava de muita coisa bem diferente entre si, que muitos amigos não curtiam tais sons e que outros também recriminavam outros sons também – haviam amigos para determinados tipos de música. Na virada do milênio veio a internet e mais um giro de 360º rodou minha cabeça. E vou parando por aqui. Esta história com a web ainda está acontecendo. Até agora usufruí ao máximo dela e vou usufruir até onde ela durar. Já postei várias coisas aqui e em outros bloggs sobre o que penso da “Era da Informação”. Este post não tem como intuito de mostrar nada além de minha simples relação apaixonada com a música e de como eu faço para absorver mais e mais dela. E também afirmo que nostalgia passa longe daqui, pois dou graças a deus que tudo hoje seja mais fácil neste quesito (música). E já afirmei isso: só não adqüire mais informação quem não quer!

18 comentários:

Anônimo disse...

bem lembrado, preciso baixar coisas do Young Gods! de tanto que vc fala eu tenho que ouvir esse negócio! e cara, eu nem acho aquele pessoal do gótico inglês tão gélido assim... pelo contrário, tinha mais energia positiva e qualidade naquele som do que em muito merda que tem hoje por aí (tipo Belle and Sebastian, pelo amor de deus, quem é que ouve aquela merda???).

e baixe o disco 'Frequencies From Planet Ten' de uma banda chamada Orange Goblin... faz parecer essa fase recente do Metalica um total Axé Music (fisgando a deixa do post anterior...) é no estilão Kyuss, Karma To Burn e afins.

abração!

Kalunga disse...

Led! Young Gods é foda, baixe primeiro o TV Sky e tire suas conclusões.

Sobre o termo "gélido", eu quis fazer (sem especificar, admito) um paralelo com aquele pop animadinho, colorido e plastificado que dominava os 80's. O rock inglês desta época era fantástico!

Do Orange Goblin eu tenho duas músicas baixadas e achei muito bom. É fato: o stoner rock é, para mim, o último terreno do rock and roll que produz frutos que prestam. E Karma to Burn é foda! E a banda é (quase toda) instrumental!

Anônimo disse...

Vixe, vim postar aqui e ... eu gosto de Belle&Sebastian!
Agora não posto mais, estou traumatizada! Rsrsrs

Kalunga disse...

ué??? qual o problema???

Anônimo disse...

"Sim, eu era fã do Infomation Society, fui ao show no Álvares Cabral (um dos melhores da minha vida) e gosto até hoje!"

vc estará em meu site: http://www.leaolobo.com.br/

Kalunga disse...

Olha, eu tenho orgulho de ter ido a este show, pode ter certeza, hahahahahaha!!! é sério!

Já o do Ice MC...

Anônimo disse...

quê isso kate, nada a ver, cada um ouve o que quer, a graça toda está nisso mesmo né! eu é que fui muito xiita na minha colocação, foi mau... é que eu ví o show que eles deram aqui no Rio pela TV e acabei pegando uma aversão terrível, desnecessária eu diria.

Anônimo disse...

Então tá liberado...
Bem, se algum dia tiverem oportunidade, no dvd do B&S tem a entrevista que eles deram no Jô Soares. A coisa foi tal mico, que eles incluíram no dvd, um toque de humor no finzinho. É inacreditável a imbecilidade do Jô, realmente é rir pra não chorar (tem gente q acha ele um gênio!).
Bem, o que eu queria falar mesmo é sobre o show do einsturzende neubauten na Loud! (Cine Íris, Led no Rio sabe qual é). Mas, pra não me estender muito, conto este outro mico brasileiro amanhã.
P.S.: Led, os melhores posts no Taruíra são os seus. Eu fico rindo sozinha!

Kalunga disse...

Peraí! Conte sobre este show!!!! POR FAVOR! AQUI, de preferência...

Abraços!!!

Anônimo disse...

realmente rolou o show do Newbaten no Cine Íris, e eu só fiquei sabendo depois que ele aconteceu... uma merda isso, nem comento... mas o show deles foi ruim? o Cine Íris realmente (apesar de ser um lugar legal) é meio tosco para shows. o zémaria tocou lá 2 vezes e nas duas tiveram problemas com o som. não fosse Índio salvando a pátria na mesa os dois shows teriam sido uma bosta.

Kalunga disse...

Engraçado, se o infeliz aí se identificasse, eu poderia lhe responder. Mas, que o idiota que se recolha em sua mediocridade anônima, putz! vai pra lixeira!

Kalunga disse...

Led, o "recado" não foi procê!!!!

pra comentar aqui, só se identificando. senão, lixeira!

Anônimo disse...

pô, num fique nervoso não, cê atpe que de vez em quando escrevinha umas coisas legais, é que tem muita coisa ruim e chata nesse seu blog, viu?

Anônimo disse...

vc tb é ruim e chato assim?

Kalunga disse...

eu mereço, putz!

Anônimo disse...

Porra Kalunga....que túnel do tempo! Na minha opinião esse foi um dos textos mais legais que já li seu, principalmente pelas bandas em comum que você cita. Radiohead, Ministry, Information Society, Prodigy, Kiss, New Order (comprei um break com A clássica deles), Kraftwerk, Depeche Mode...e tantos outros me faz ter a certeza que já tinhamos o pézinho lá na eletrônica, mas confesso que pra aquela época "anarquista" da galera do skate e o começo da era musical em Vitórinha na lendária Stage Dive (atual Dead Fish), fazia com que eu admirasse esses artistas apenas enquanto estivesse dentro da minha casa, pois, na galera havia um outro universo a ser descoberto, o do punk rock e suas zilhões de bandas. É ótimo para nossa formação musical esse porrilhão de informações, mas só você mesmo pra sair pesquisando loucos da Alemanha, da Bélgica ou de qualquer outro país que vira e mexe você vem e nos apresenta!!
Grande abraço.

Kalunga disse...

Fala Buteri! É isso aí mesmo, hehehehehe! Vamos ficando velhos e amadurecendo ao ponto de admitirmos que gostamos de certas coisas que, na nossa "adolescência rebelde", era proibitivo. Mas, na boa, o convívio com a galera do skate era um dos meios mais produtivos musicalmente falando. Eu tinha um brother skatista, o Kakinho, que me aplicou sons tão díspares como Operation Ivy, Revolting Cocks, Red Hot Chilli Peppers e Nine Inch Nails!!!

Abração!!!

Chantinon disse...

“The Mind Is a Terrible Thing To Taste” e "The Fat of the land" foram um teste a minha sorte. Na época eu achava que era um puta motorista, hoje sei que não morri por pura sorte :)

José Roberto Mahr foi meu líder espiritual... Pena que o cara sumiu... milhares de caras devem muito a ele...

Me lembro quando o programa rolava as 17:00h, e era fácil ver a galera lavando o carro ao som do Novas Tendências.

Eu me pergunto todos os dias como o mundo pode ter ficado tão ruim em menos de 20 anos. E olha que eu também não curto esse lance de nostalgia. Só as vezes :)