
Nostalgia Barata bem produzida e embalada ao gosto do freguês!
Imagem e produto à venda by Submarino.Com
Alguém aí se lembra de uma época, mais precisamente no começo dos anos noventa, em que havia uma banda cover a cada esquina? Era incrível mas, para qualquer banda que tenha feito um mínimo de sucesso (de Guns‘n’Roses a Locomia!), haviam várias cópias inundando as casas noturnas de todo o Brasil. O rock nacional dos anos oitenta encontrava-se na sua fase mais desprezada (e desprezível), as poucas bandas dos subterrâneos da vida queriam todas tocar pesado, cantar em inglês e fazer sucesso no exterior como o Sepultura estava fazendo... e os Engenheiros do Hawaii entoavam o refrão “O Papa é Pop” em todas as rádios! Êita época ruim, viu? Mas as coisas negativas sempre podem virar um fato positivo quando inspiram as pessoas a remarem contra as marés (de esgoto...) e darem um pé na bunda da mediocridade para produzirem algo melhor. Atualmente eu não saberia dizer onde começa e onde estaria terminando alguma fase ruim no nosso cenário pop/rock nacional. A impressão que eu tenho é que a última fase boa tenha ficado para trás com a morte do Chico Science, e que atualmente existem algumas boas bandas por aqui e ali, mas nada que constitua num “cenário” consistente em si. Uma coisa é certa: o cover voltou com força! Mais anguloso, egoísta e simplório do que antes. Emmerson Nogueira é o Rei e deu cria a uma Rainha, a tal da Dani Carlos. E tudo é só para eles! Senão, imaginem alguém fazendo cover de outro cover! Seria muita cara-de-pau. Se bem que eu não duvido de mais nada hoje em dia...
O Rei e a Rainha do cover tocam diretamente na memória afetiva das pessoas e da forma mais fácil possível: o esquema voz-e-violão – ou o infame som-de-barzinho (logicamente o Rei e a Rainha atingiram o status de megastars – um tem até uma caixa de cds estilo obras completas! - e tocam atualmente com bandas de apoio com todos os instrumentos imaginados). A fonte de criação de tais anomalias provém daquelas noites típicas organizadas para o público mais de trinta. Muita gente desta faixa etária vai aos shows dos Nobres do Cover e lembra “de uma época que não volta mais”, ou “de quando eu dançava e me divertia horrores com aquelas músicas”. A maioria, ao final da noite, também exclama: “nossa, nem lembrava mais como era bom dançar assim!”. Meus amigos, isso é um veneno nostálgico da pior espécie! Dá a entender – e na maioria é isso mesmo – que quem casou ou passou dos trinta não sai mais de casa, não se diverte, não bebe, não ouve música, não trepa, não vive! Aí vêm o Rei e a Rainha do Cover e aproveitam-se de um público que está numa época da vida em que surgem as estabilidades (que não necessariamente significam felicidade) profissional e afetiva, onde também as pessoas se dispõem a pagar mais caro por um ingresso de um show de cover e assistirem todos sentadinhos em mesas muito bem comportados. Logicamente, há mais coisa a ser dita sobre isso.
Gosto não se discute. Isto é fato e cada um tem o direito de gostar do que bem entender. O que me incomoda é a relação passiva das pessoas no caso específico do que estou falando. Casamento e ter mais de trinta anos não têm que significar o fim de nossas vidas, da nossa diversão a dois ou com os amigos, ou de um cd a ser ouvido com prazer, por exemplo. Por mais que digam o contrário, mas ainda muita gente se casa por conveniência, para não ficar sozinho ou “pra titia”. Aí engordam, viram uns bagaços humanos, enfurnam-se em casa, anulam-se um para o outro, morrem e não sabem. E também caem facilmente nas armadilhas da nostalgia barata, aquela que vem bem embaladinha com CDs bonitinhos e shows com mesas e cadeiras decoradas estilo baile de formatura. Vejam bem, eu não sou contra ter conforto e qualidade na vida, não seria louco de afirmar isso. Muito pelo contrário, com a idade (parece papo de velho decrépito...) e a maturidade você vai ficando mais seletivo, exigente e com o bom gosto mais apurado – isso é fundamental em nossas vidas. Assim como é fundamental se divertir, ainda que com mais moderação ao longo dos anos. E a maioria dos mais de trinta confunde shows de cover com uma boa diversão, quando na verdade estão mesmo é numa exceção em suas vidas e movida a um veneno nostálgico que só fará a tua alma se sentir mal bem no fundo dela.
Não vem ao caso aqui discutir a função do casamento e tal, ainda que eu tenha deixado isso no ar. Eu acredito que a idade não significa privar nossas vidas de alguns pequenos prazeres que nos fazem felizes por dentro, muito mais do que um bem material valioso a ser conquistado com a grana de seu trabalho, por exemplo. A nostalgia faz as pessoas infelizes sem elas perceberem. Quem lembra coisas boas da vida que ficaram para trás utilizando-se de sentimento nostálgico está maltratando o seu espírito! Você pode lembrar “de sua época” (para mim a “minha época” sempre será o presente, porra!!) em festinhas temáticas ou shows de cover e também buscar por diversão atual, nova, diferente e sem se estragar por dentro enchendo a cara como um adolescente ou se enfiar em buracos com cerveja quente e vagabunda. É um foguinho na alma que não precisa ser apagado com o passar dos anos, mas sim sendo queimado e dosado de formas mais inteligentes e maduras. Quem vai a um lugar para lembrar “de uma época que não volta mais” e volta à sua vida normal tão logo depois que a festa termina, acaba necessitando de mais nostalgia para buscar uma felicidade perdida no tempo. E os tais tempos realmente acabaram. A nostalgia se alimenta não de uma saudade inocente em si, mas sim de um sentimento de perda. A nostalgia é um veneno que se alimenta de algo que já foi bom e que hoje joga na sua cara que hoje não é mais possível ser bom também. A nostalgia é uma merda!


Sim, eu gostei do disco do Glide. Para aqueles que consideraram como novidade e inovação os barulhos e demais experimentos dos álbuns “Kid A” e “Amnesiac”, do Radiohead, é bom saber que este tipo de vanguarda vem sendo realizado desde que os primeiros fonogramas foram produzidos. Mas você também pode passar batido de tal conhecimento e curtir numa boa as belas canções que foram postas por cima da indumentária experimental da banda de Tom Yorke e não correr o risco de passar mal indo mais a fundo nesta experiência. E o Glide é capaz de provocar vômitos até mesmo no mais fanático devoto dos Bunnymen. É preciso estar familiarizado com as experiências electro-acústicas de gente como Stockhausen e John Cage (só para citar os mais contemporâneos), com a ambient music de Brian Eno (ex-Roxy Music e produtor honorário do U2), e com a eletrônica non-stop do Kraftwerk. Ou então que sejam necessários alguns parafusos a menos e/ou colocados nos lugares errados. Uma coisa é certa: você pode morrer sem culpa de não ter se aprofundado neste universo, até porque o seu caráter vanguardista e experimental definitivamente não foi desenvolvido para uma compreensão direta. Dois parágrafos são suficientes para que você saia correndo deste blogg, pois daqui para frente tentarei contextualizar minha compreensão de uma pequena fração deste mundo insólito.
Existe uma banda que até hoje eu não consigo ouvir: Einstürzende Neubaten. Conceitualmente este grupo alemão (já notaram que os projetos mais cabeçudos vêm de lá?) já possui seu lugar na história, pois foram fundo na utilização de todo o tipo de peça para a produção de música e freqüências sonoras desconhecidas, além de possuírem um engajamento sócio-político realmente influente em sua terra-natal (já participaram ativamente de causas pró-mineradores, por exemplo). Mas eu não consegui detectar estruturas mínimas que me passem algum tipo de emoção que não seja a de “nossa, esses caras são vanguardistas!”, entendem? Ou então ouvi os discos errados da banda! Mesmo a mais assépticas faixas radicalmente eletrônicas e instrumentais produzidas para as pistas de dança despertam emoções mais puras - ou seja, para dançar! Também não ficarei aqui tentando teorizar sobre as formas e objetivos de determinados tipos de música. Simplesmente exporei minha visão sobre este universo e na intenção de fazer aos interessados que os enxerguem com olhos menos, digamos, científicos. Mas é um troço difícil isso!
O Clock DVA (alemão, para variar...) pratica algo como um som industrial científico É serio! No encarte do álbum “Man Amplified” (1991 - sim, eu comprei mesmo isso aí!) há, ao invés de letras, textos complicadíssimos sobre física quântica e energia nuclear – todos escritos pelo cabeça do grupo, um sujeito com o nome de Adis Newton. O som, propriamente dito, é uma revisão do que o Kraftwerk fez ao longo de sua carreira, adicionado com o peso e a modernidade da música industrial/ebm – muito conceito para um resultado nem tão complicado e empolgante assim. Talvez o tal do Newton (não aquele...) tivesse deixado a complicação de verdade para seu projeto The Anti-Group/T.A.G.C, que mistura cabecismo intelectual com jazz, rock progressivo e eletrônica. Aí, meu amigo, é para dar tilt na IBM inteira... Na esteira cabeçuda alemã, travei contato com nomes (alguns não-alemães) como Test Dept. (considerada “a resposta inglesa ao Neubaten”, e que produziu discos até para peças de balé), Die Krupps (começaram também na onda do Neubaten, mas logo aderiram a um rock industrial mais convencional, tendo ficado famosos pelo ‘tributo industrial ao Metallica’: ouça este disco e vomite, morra de rir ou deleite-se), Laibach (grupo pseudo-facista que faz um som que o Rammstein xerocou acrescido de guitarras pesadas, e que já gravou o disco “Let It Be” inteiro à sua maneira), e DAF (o Laibach deve as suas calças a esta banda, o Front 242 um pouco também). Parei por aqui. Quando o negócio começou a ficar complicado demais, procurei sanar meus neurônios com canções de um disco do INXS...
O legal mesmo nesta “pesquisa” (aspas são necessárias pois, acreditem, sei da existência de correntes científicas sérias nesta área) é ouvir um determinado som e se transportar para a época em que fora lançado e imaginar o impacto na ocasião frente aos conceitos estabelecidos. Neste caso, volto ao Kraftwerk, mas àquele que quase ninguém conhece, pré-Autobahn (seu primeiro sucesso), dos discos “Ralf & Florian” e “Kraftwerk II” – os que eu tenho ouvido. Meu amigo, esta dupla (Ralf Hutter e Florian Schneider) merece todos os adjetivos elogiosos que já lhes foram proferidos! Na virada dos anos sessenta para os setenta, eles produziram peças sonoras que variavam do clássico/erudito/folclórico processado num sampler (muito antes que este existisse) a batidas em ritmo seqüenciado (idem ao sampler), sempre instrumentais e pontuadas por belas melodias. E o tal do Silver Apples? Baixei o homônimo álbum dos caras (de 1968, acho...), ouvi e me deu medo – tanto é que o CD que tinha simplesmente sumiu. Os malucos tiravam sons de osciladores de áudio e o que saía dali era algo impressionante, sombrio e muitas vezes belo também. Outro grupo que me impressionou, sob a perspectiva de sua época, foi o Cabaret Voltaire: industrialismo alemão (apesar de os caras serem canadenses) com atitude punk! Ouçam a faixa “Nag Nag Nag” e comprovem o que estou falando.
Percorrendo por caminhos mais normais (este termo é muito ambíguo por aqui...), dois grupos dos quais sou admirador incondicional produziram projetos paralelos distintos, cabeçudos (obviamente)e bastante desafiadores. Dos canadenses do Skinny Puppy eu destaco os projetos Hilt e Download, ambos produzidos pela mente doentia do membro fundador do SP, Cevin Key. O Hilt possui um bom mix de electro 80’s e rock gótico (“Orange Pony” – 1989) e uma verdadeira trip lisérgico-sombria sob o nome de “Journey to The Center of Bowl). E há boas canções assobiáveis neste disco (fato raro neste texto...), só que logicamente costuradas com enxertos de folk music, ebm, technopop, indie rock e heavy metal. Já o Download é o que há (ou pelo menos houve, pois está meio inativo ultimamente) de mais avançado na música eletrônica – já num campo quase que totalmente instrumental, e procurando novos caminhos para ambient music, techno e industrial/ebm. Dos suíços do Young Gods, destaco as experiências praticadas com ambiências sonoras sob os nomes de Heaven Deconstruction, Al Comet e Amazonia Ambient Project (do qual consiste a base da apresentação que relatei em meu blogg de São Paulo/2004: 
“Music Non Stop!” (1986). Porra, aquela imagem em computação gráfica (a mais avançada da época) com quatro homens-robôs cantando um slogan tão simplório quanto genial me abalou para sempre. O Kraftwerk me fez abrir a cabeça para aqueles sons produzidos tão única e exclusivamente com instrumentos eletrônicos. Ainda não possuía senso crítico nem independência de $$$ para correr atrás por conta própria do que gostava. Na verdade o Kraftwerk sintetizou (ops!) na minha mente (um HD?!?) o que já demonstrava curtir bem antes, pois não parava de rodar a faixa “Situation”, do Yazoo, presente na trilha da novela “Sol de Verão” (1983, o vinil acabou empenando...) e me dava conta de que havia outro disco com selo de novela (“Brilhante” - 1982) lá em casa, adivinhem de quem: Kraftwerk (“Computer World” – este eu tenho até hoje!). Minha irmã namorava um cara mais velho que chegava no carro do amigo que tocava sempre em alto e em bom som umas paradas importadas maravilhosas. O Wanderson (o “amigo” - esse é o cara!) gravou umas fitinhas para mim com pérolas de gente como Ultravox, Thompsom Twins, Yello. ABC e, logicamente, New Order (“Substance”), Depeche Mode (“Black Celebration”) e Human League, além daquelas maravilhas gélidas e sombrias do rock inglês como The Cure, The Sisters of Mercy e Echo & The Bunnymen. Passei batido de rock nacional e heavy metal sem a menor culpa.
A propaganda de um disco da Som Livre fez minha cabeça rodar 360º novamente. Uma batida dançante como nunca antes ouvi, cortes e colagens de diálogos de filmes, uma base de sintetizador bem eletrônica: Acid House! Este era o nome da coletânea que passava nos intervalos da Globo e Bomb The Bass (“Beat Dis”) era o nome do grupo em questão. Também tinha S’Express, Coldcut e uma faixa pesadona de um tal de Front 242 (“Headhunter”). Era a virada dos 80’s para os 90’s, a música eletrônica apontando e enfiando o dedo na sua cara sobre o futuro. DJs viraram superstars e eu também queria ser um. Juntava meu dinheirinho para comprar na Casa do Disco (no Centrão) aquelas coletâneas de vinil piratas (produzidas em Belford Roxo, no Rio) onde havia o filé da tal da dance music - até 93 juntei uns sessenta, tendo alguns singles importados (“Headhunter”- Front 242, “Situation 91” – Yazoo, “Enjoy The Silence - UK” – Depeche Mode). Tudo era jogado no mesmo caldeirão: as primeiras manifestações de house, techno, trance e também umas farofadas de dar vergonha até hoje de ter comprado/curtido - Ice MC, por exemplo e que fui até no show aqui em Vitória. Aliás, nossa combalida capital contava, no começo da década passada, com diversos programas de rádios muito bons (alguns nem tanto, é verdade) tocando dance (antes deste termo se tornar pejorativo) bem selecionada e mixada. Elegi o programa de Luiz Cláudio Casado e Renato Vervloet o meu preferido (eles tocavam coisas mais pesadas e/ou diferentes) e o do Dedeco o melhor mixado. No meio disso tudo descobri em outra coletânea da Som Livre (uma com a capa azul...) a faixa “Welcome to Paradise”, do Front 242. Algo muito forte estava me chamando.
Sim, eu era fã do Infomation Society, fui ao show no Álvares Cabral (um dos melhores da minha vida) e gosto até hoje! Fui fisgado, na verdade, pela batida pesada, vinda diretamente do Kraftwerk, de “What’s on Your Mind”. Aqueles caras tocando mil teclados e percussões eletrônicas no palco (na TV Manchete, dois anos antes de virem para cá) me despertou interesse para algo que eu nem sabia existir. Eu gostava mesmo era de sintetizadores pesados, climas dark e muito maquinário eletrônico percussivo. Logicamente o InSoc era só a ponta de uma navalha mais cortante, fria e mordaz. Fui na Casa do Disco pela enésima vez (eram umas três vezes por semana) e botei para ouvir o álbum “Front By Front”. Cara, era aquilo que eu gostava! Minha cabeça girou 360º pela terceira vez. O Front 242 era o futuro, era tudo o que eu gostaria de ouvir numa banda mas não tinha a menor idéia de como seria. O som era dançante, radicalmente eletrônico, ligeiramente pop (melodias que grudavam na cabeça, mas minimalistas ao extremo), pesado e variado dentro de seu estilo. Era o futuro da música daqui a cem anos, robótica, opressiva, as máquinas de Matrix e Terminator juntas escravizando os humanos e produzindo seu som. Descobri via Revista Bizz que o selo Stiletto estava despejando maravilhas da chamada Electronic Body Music - a “EBM” – com um volume inacreditável aqui no Brasil se levarmos em conta que se tratava de um gênero musical underground por natureza. Tudo o que eu queria estava ao meu alcance (no Centrão) e sob a batuta de textos, resenhas e notinhas em uma revista muito boa (a Bizz).
A Split Second, The Young Gods, Legendary Pink Dots, Borghesia, Neon Jugdment, a nata da EBM em álbuns-solo e coletâneas espertas (“Generate” era a melhor!) e que faziam com que a Stiletto abalasse minha mente para sempre e a todo momento. Este selo também despejou os primeiros lançamentos de techno, ambient, trance e new beat (um parente próximo da EBM e voltado para a dance music) que, logicamente, absorvi tudo o que podia na minha coleção de vinis que eu usava para agitar umas festinhas da galera do colégio (ninguém gostava...). Comecei a trabalhar com meu pai aos 15 anos (1991, como boy!) e abri uma conta no banco para mim. Foi quando descobri o quase inacessível mundo maravilhoso dos discos importados via Tarkus, uma lojinha na Praia do Canto dedicada a heavy metal e afins. Mas era o catálogo deles que me interessava! Foi, aliás, a Tarkus, que abriu um pouco minha cabeça para o heavy metal, pois dali saí com bolachões de Slayer (“Seasons In The Abyss”) e Anthrax (“Persistence of Time”, que emprestei e perdi duas semanas depois). Uma notinha na Bizz (sempre ela!) me indicou o caminho do som industrial. Mais uma reviravolta de 360º aconteceu comigo.
“Guitarras pesadas com eletrônica massiva, industrial e EBM”: putz, este era o caminho do paraíso para mim naquela época, pois estava curtindo pedradas do thrash metal (“Master of Puppets”, do Metallica também havia entrado em meu mundo) e adorava de paixão a EBM e seus beats eletrônicos marciais. Quando ouvi Ministry pela primeira vez, meu cérebro implodiu! “Thieves” era a música, saí da Tarkus com o vinil importado (caro pra cacete!) de “The Mind Is a Terrible Thing To Taste”) como uma meta de vida - eu não tinha grana na hora, que merda! Neste mesmo período a Rádio Cidade transmitia via satélite o programa “Novas Tendências”, do José Roberto Mahr, fonte de mil sons maravilhosos do mundo alternativo (eu pesquei principalmente bandas de shoegazer, trance/ambient e, obviamente, industrial/EBM), sendo que quando foi tocada a faixa “NWO”, do novo álbum do Ministry, acabou me deixando ainda mais inquieto. Fui na Musical Box (Praia do Canto), único local onde encontrei o tal disco (“Psalm 69”), juntei uma grana em tempo recorde e paguei uma pequena fortuna no CD (a loja enfiava a faca sem dó) – o primeiro que comprei e sem nem ter o aparelho para tocá-lo. A partir de então, fui conhecer outras maravilhas de EBM e industrial como Front Line Assembly, Nine Inch Nails e Skinny Puppy (estes dois últimos merecem posts à parte). Isso até o dólar cair o preço.
A Tarkus foi fundamental na minha coleção de CDs. Quando a cotação do dólar emparelhou com a nossa moeda, fui torrando toda minha grana com encomendas a mil naquela loja – e não me arrependo de nada! Deixei os vinis para trás junto com a intenção de me tornar DJ (também, pudera, perdi todos os meus sessenta e poucos bolachões de uma vez – na verdade, sempre detestei o som que saía do vinil e dei graças a deus quando o CD veio para ficar), e me voltei para sons mais pesados. Era a época do grunge (me viciei particularmente em Alice In Chains) e do total desvirtuamento do heavy metal (maravilhas como Prong, Helmet, Pantera, Faith no More, Rage Against The Machine, Corrosion of Conformity, além do metal industrial de Ministry, Godflesh, Lard, etc., que eu mais curtia). Apontei minha mira também para o rock and roll puro e simples, virei fã incondicional de gente distinta como Social Distortion, Tool, Kyuss, Cramps, Reverend Horton Heat, Danzig, Red Hot Chilli Peppers e Butthole Surfers. Abri meu coração para clássicos do rock como Black Sabbath, Jimi Hendrix, ZZ Top e Free. Só não virei fã de Beatles nem de Rolling Stones. E nem de Led Zeppelin. Sei lá o porquê...
Outra bomba afetou me cérebro no meio dos 90’s: o big beat de gente como Prodigy, Chemical Brothers e Crystal Method. Uma coceirinha na minha cabeça me dava novo ânimo de brincar de ser DJ, meu amigo Tourco também pirou junto na mesma época, e começamos a botar som juntos. Fui me dando conta de que gostava de muita coisa bem diferente entre si, que muitos amigos não curtiam tais sons e que outros também recriminavam outros sons também – haviam amigos para determinados tipos de música. Na virada do milênio veio a internet e mais um giro de 360º rodou minha cabeça. E vou parando por aqui. Esta história com a web ainda está acontecendo. Até agora usufruí ao máximo dela e vou usufruir até onde ela durar. Já postei várias coisas aqui e em outros bloggs sobre o que penso da “Era da Informação”. Este post não tem como intuito de mostrar nada além de minha simples relação apaixonada com a música e de como eu faço para absorver mais e mais dela. E também afirmo que nostalgia passa longe daqui, pois dou graças a deus que tudo hoje seja mais fácil neste quesito (música). E já afirmei isso: só não adqüire mais informação quem não quer!
Ao assistir o documentário “The End of Century”, dos finados Ramones, a comparação com o filme “Some Kind of a Monster”, do Metallica, me pareceu inevitável. Ambos foram lançados quase que na mesma época e retrataram de forma nua e crua duas bandas com inegável importância na história do rock and roll e cujos fãs invariavelmente encontram um gosto comum situado entre elas. Mas existe um abismo profundo que separa os dois filmes. O Metallica, ao meu ver, não é mais uma banda, mas um corporação da qual a opinião do empresário do grupo fora fundamental para definir o tipo de música (estratégia?) que eles tocariam (investiriam?) no seu último disco de estúdio. “Some Kind...” retrata momentos difíceis e reveladores sim desta banda. Uma das revelações foi a de que James, Lars e Kirk (os baixistas são sempre irrelevantes na banda desde Cliff Burton) expuseram suas picuínhas internas como nunca antes visto e também deixaram-se lucrar com um reality show dos mais apelativos, com direito até a um psicólogo falcatrua que recebe 40 mil dólares por mês para despejar chavões em cima dos caras que não resolvem porra nenhuma. Tá certo, eles deixam cair suas máscaras e massacram o tal analista sem dó, entre outras pedradas ali apresentadas. Mas o impacto inicial quando acabei de assistir o tal filme se dissolveu rapidamente quando constatei a lição de sinceridade apresentada com o universo dos Ramones em seu documentário.