*Eu não sou daqueles fãs que sabem a cor da cueca do Reznor, por favor! O que vem a seguir é um relato pessoal, dentro do possível tecendo críticas justas, sem babações desnecessárias.
Os anos 80 e todo os seus exageros estético-visuais estavam com o prazo de validade esgotado, naquele longínquo 1988. Os poucos artistas que produziam algo de bom naqueles tempos procuravam enterrar de vez aquela década o quanto antes. Um deles, porém, era o paradoxo do futuro iminente coagindo com o passado intermitente. Quem era aquele cara que criou uma banda formada tão somente por sua pessoa, que praticava o tipo de música mais futurista que havia no momento, e que ao mesmo tempo absorvia na maior cara-de-pau as melodias daquela década tão abnegada? Trent Reznor surgiu do underground conceitual da música industrial/EBM, tão em voga naqueles tempos. Porém, possuía neurônios muito mais ativos e que o faziam enxergar tocando em grandes palcos e não em pequenos clubes esfumaçados lotados de gente esquisita. O cara tinha visão, mas também era dotado de um talento extraordinário. Sozinho, juntou duas ou três vias já existentes e criou a sua própria estrada.
“Pretty Hate Machine”, à época de seu lançamento, assustava por um estreante apresentar tamanha qualidade de produção sonora que, não por menos, ficou à cargo de gênios de estúdio como Adrian Sherwood e Flood - o primeiro famoso por investidas vanguardistas nos terrenos do dub e do industrial, o outro por seus trabalhos com Depeche Mode e U2, além do próprio Reznor. Mas o senso melódico do dono da banda mostra a sua cara logo na abertura, “Head Like a Hole”, um autêntico clássico cyberpunk, com eletrônica pesada, letra forte e melodias marcantes. “Terrible Lie”, com seu mix improvável de Prince e Skinny Puppy, segue o disco promovendo uma inquisição de sentimentos engasgados na garganta de seu autor. “Down In It” é um cyber-rap pesado, enquanto que “Sanctified” colide uma batida eletrônica reta com um baixo meio disco, climas sombrios (estes permeiam todo o álbum) e letra/melodia de arrepiar. A viagem segue abismo abaixo com a estupenda balada “Something I Can Never Have”, de rara e sinistra beleza. O lado B (estou me baseando na fita K7!) puxa o beat para cima com “Kinda I Want You”, um rock electro-dançante de conteúdo altamente sexual/subversivo. “Sin” possui um doce sabor 80’s, dançante e com timbres típicos, mas a letra e a melodia cáusticas assopram a afetação para longe. “That’s What I Get” e “The Only Time” são duas quase baladas cujas funções melódicas resistem ao tempo, pois seus timbres eletrônicos realmente soam datados. “Ringfinger”, por incrível que pareça, fecha o disco num clima bem dançante e para cima, com direito até a uns scratchezinhos. Após tantas sombras e dor, um pouco de amenidade para aliviar. *”Pretty Hate Machine” é um álbum essencialmente eletrônico, com os demais elementos aparecendo de forma mais discreta, porém incisiva. Na lista de agradecimentos do encarte, Reznor cita influências díspares como Prince, Clive Barker (sim, o cineasta famoso por filmes de terror), Jane’s Addiction, Public Enemy e This Mortal Coil. Tudo faz sentido.
**Por conta deste disco, o NIN recebeu o convite para participar da primeira edição do festival itinerante Lollapallooza, em 1991. Reznor & Cia.(ele montou uma banda “de verdade” para tal), ao que consta, roubaram a cena com shows eletronicamente subversivos (era o início da quebra de teclados no palco e coisas do tipo), saindo de lá aclamados e fazendo com que o disco de estréia ultrapassasse a barreira do milhão de cópias vendidas.
Quisera o Trent Reznor não ter caído na lorota do selo TVT Records, pois os tais impuseram um contrato falcatrua ao cara, deixando-o quase como um escravo que não podia usufruir da fama e da grana obtidas com seu álbum de estréia. Foram mais de três anos de batalhas judiciais e um quase assassinato - o cara invadiu o escritório da gravadora com uma faca na mão!, o que influiu no processo de composição do EP “Broken”, em 1992. O som do disco é pesadíssimo, lotado de guitarras raivosas e eletronicamente alteradas. Foi bastante comparado ao Ministry na época, mas estava mais mesmo era para o noise-industrial de raiz roqueira (e não metaleira, como a banda de Al Jourgensen) dos suíços Young Gods, com tudo, obviamente, sendo direcionado pela marca registrada de Reznor e que surgia cada vez mais forte. São seis faixas matadoras, com outros dois interlúdios instrumentais postos a dar um freio na locomotiva para que esta pudesse voltar atropelando tudo pela frente. “Pinion” precede o esporro dançante de “Wish”, que é sucedida pela quase heavy metal “Last”. “Help Me, I’m In Hell”, instrumental sinistra e de nome sugestivo, abre caminho para a pancadaria industrial de “Happiness In Slavery”, cujo videoclipe mostra toda a sorte de mutilações e sadomasoquismo. “Gave Up” é quase um hard rock - quase, pois Reznor jogou tudo no caldeirão e dali saíram uma bateria eletrônica nervosa, um refrão poderoso, e um solo de sintetizador! Como bônus, o EP, em sua versão original, apresenta num mini-CD a redhotchillipepperiana “Suck” (tudo bem, o refrão explode tudo...) e a pesada e arrastada “Physical”, com camadas e mais camadas de guitarras e sintetizadores. “Broken”, até o momento, é o disco mais pesado de Reznor.
“The Downward Spiral” é o auge da criatividade de Trent Reznor, deixando por definitivo sua marca na música pop. Pop?!? Pois é, acreditem, mas a sonoridade nem um pouco comum deste álbum fez a banda galgar altas posições nas paradas e chover convites para trilhas sonoras e participações nos maiores festivais da época (1994/95). A fórmula NIN definitiva é composta de muita, mas muita barulheira industrial, riffs de guitarras pesados, computadorizados e alterados, e melodias marcantes, indo do mais sombrio ao mais doce e palatável. É difícil apontar destaques neste disco, pois praticamente todas as suas faixas viraram hits. Fãs de “Broken” se identificarão com as pancadarias de “Mr Self Destruct” (e seu final inaudível), “March of The Pigs” (batida quase hardcore e pianos a lá Faith No More), “I Do Not Want This” (batida abafada, refrão explosivo) e “Big Man With a Gun” (num crescente de guitarras e synths). O beat se torna mais dançante nas excepcionais “Heresy” (EBM com vocais em falsete), “The Becoming” (festa de synths, violões e melodias grudentas) e no mega-hit “Closer” (de melodia doce e letra subversiva). As estranhezas surgem ainda mais fortes no peso arrastado de “Reptile”, nos instrumentais quase ambient de “Downward Spiral” e “Warm Place”, e na jazzy “Piggy”. “Hurt”, uma balada de letra e melodia fantásticas, fecha o caos de “The Downward Spiral” da forma mais inusitada possível. *Depois deste disco, tudo o que levava o rótulo de “industrial” acabou sugando até a alma do NIN. A lista é extensa, pois até mesmo medalhões pop buscavam por algo parecido.
“The Fragile” é um ótimo disco. Mas o inevitável aconteceu: a sonoridade do NIN encontrava-se em franco desgaste. Afinal, foram cinco anos em que deus e o mundo usurparam das fórmulas criadas por Trent Reznor. O disco (duplo) em questão revela-se um beco sem saída para quem procurava por termos como inovador e original, tão comumentemente associados à obra do NIN. Se a sonoridade do disco soa como uma versão domesticada de “The Downward Spiral” (menos sujeira, menos caos, mais coesão na mistura), as letras de Reznor revelam-se mais maduras e introspectivas, o que reflete diretamente nas melodias. Poderia se dizer que “The Fragile” é um disco mais, digamos, bonito de se ouvir, vide os arroubos de agressividade dosados com beleza pura de “The Wretched”, “Where In This Together” (com seu tocante videoclipe) e “The Mark Has Been Made” que, logicamente, não são os únicos destaques. Para o fã convicto do NIN, este álbum duplo soa como uma coletânea de músicas inéditas da banda, que compilam perfeitamente as três fases anteriores – eletrônica, peso e caos. “The Fragile” é o disco mais acessível, o que o torna uma excelente porta de entrada para o universo musical de Trent Reznor.
E o ano de 2005 está aí com disco novo do NIN na praça. E, querem saber de uma coisa? Vão comprar (ou baixar) e tirar suas próprias conclusões, seus bastardos embalistas de última hora! Afinal, a banda tocou num grande festival e agora todo mundo quer ser fã do NIN desde criancinha, né não? Enquanto isso, vou ouvindo sossegado – e sozinho – minha cópia em CD-R (presente daquele indie gordo e peludo do Taylor) de “With Teeth”, pensando em adqüirir logo o disco original para completar o buraco na minha coleção. Bônus – EPs, Singles, Ao Vivo, Remixes, Bootlegs, Videos, etc.
Dos singles, sempre há coisa boa de sobra de estúdio inédita ou coisa assim. Eu destaco a excepcional versão de “Get Down Make Love”, do Queen entre os remixes de “Sin”, e o cover do Soft Cell, “Memorabilia”, em “Closer to God” – ambas as faixas completamente vertidas ao estilo do NIN. Os discos de remixes do NIN – é tradição eles lançarem as remixagens um tempinho depois após os álbuns “normais” – são um tanto quanto chatos, pois a maioria das versões descamba para a barulheira industrial pura, sobrando um ou outro destaque entre tais tranqueiras – procure que você os acha, vide os remixes de “Happiness In Slavery” (do EP “Fixed”) e “Mr Self Destruct” (de “Further Down The Spiral”), além de sempre conterem algumas faixas inéditas perdidas na bagunça. E nas trilhas sonoras você acaba encontrando algumas das melhores músicas da banda. É o caso de “Burn” (do filme “Natural Born Killers”), “Perfect Drug” (“de “Lost Highway”) e o fantástico cover de “Dead Souls”, dos baluartes pós-punk/gótico do Joy Division.O álbum/DVD ao vivo “And All That Could Have Been” é excelente, pois capta a banda na sua essência do palco. Ouvir o CD é ficar babando pelo DVD: compre, roube, baixe ou grave de mim! E eu tenho alguns bootlegs em CD original: “Woodstock 94” possui gravação perfeita e diversas faixas que não entraram no ao vivo oficial, como “Down In It”, Happiness in Slavery”, “Burn”, “The Only Time”, “Ruiner”, “Help Me I’m In Hell”, “Dead Souls” e “Something I Can Never Have”, todas elas em versões matadoras. “Children of The Night” é um pirata ao vivo da turnê que o NIN fez com David Bowie em 1995, destacando “Sanctified” e “The Becoming”, além de “Reptilian”, “Hurt” e “Scary Monsters” (de Bowie), todas elas com a canja do ex-Ziggy Stardust nos vocais. O outro pirata que tenho poderia ser o melhor de todos, pois é um disco duplo com o registro completo de um show da tour de “The Downward Spiral”. Mas há um porém: a gravação é uma merda! “Slaugher In The Air”, o disco em questão, só valeu à pena os dólares investidos por conta de uma coisa: no disco 2 há, na íntegra, a primeira demo do NIN, com versões pré-“Pretty Hate Machine” (e bem diferentes) de “Sanctified”, “The Only Time”, “Kinda I Want You”, “That’s What I Get”, “Ringfinger” e “Down In It”, além das totalmente unreleased “Maybe Just Once” e “Purest Feeling”. Fã paga caro para levar apenas um algo mais. Sou uma besta mesmo...
*Não resenhei o VHS (até quando vou ter de esperar pelo lançamento em DVD?!?) duplo “Closure” pelo simples fato de não ter conseguido comprar na época. Segundo fontes seguras, é o melhor vídeo dos caras, disparado!
Quando caí nas graças dos downloads via internet, fui procurar pelos principais nomes do tal do future pop: Apoptygma Berzerk e Covenant. Disparadamente estes dois grupos são a melhor e a principal porta de entrada neste segmento. A tal reportagem atentava para uma drástica atualização da música industrial e da electronic body music por meio de batidas dançantes mais em dia com as tendências das pistas, e de vocais limpos, sem distorção e totalmente pop, com algumas quedas para as melodias de bandas góticas contemporâneas. E o future pop é isso mesmo, pois se trata da vertente do universo industrial/ebm com claras tendências populares, passível de ser ouvida em rádio e de ser tocada sem o menor pudor em festas de techno e trance. Mas é aí que o caldo pode entornar.
O Apoptygma Berzerk é o mais melódico de todos, mas sua música é muito bem trabalhada, e sua discografia é impecável, tendo começado praticando uma ebm rápida, gótica e apocalíptica, e que com o tempo acabou por definir o estilo primordial do future pop (também ficaram ainda mais famosos pelo cover de “Nothing Else Matters”, do Metallica). Pioneiro também é o Covenant (não confundir com o black metal Kovenant), que produz bases próximas às do psy trance, mas investindo também em beats mais quebrados estilo breakbeat/electro, além de investir em melodias mais melancólicas. Um nível ligeiramente abaixo vêm: Icon of Coil (perfeita fusão entre o Apoptygma Berzerk e o Covenant), Razed in Black (com beats mais quebrados e guitarras heavy metal) e Assemblage 23 (o mais gótico de todos, fazendo uso eventual de vocais femininos). Logicamente este é apenas um ponto de partida. Selos underground e prolíficos em produções a todo momento como 
Conheci o tal do trance psicodélico numa época em que este se encontrava em plena fase de transição, entre o primal goa trance, de fortes linhas melódicas e criado por alemães que piravam a cabeça nas praias de Goa (Índia) desde o começo dos anos 90, e o então eminente israeli trance, produzido por jovens de Israel e de características mais frias e pesadas. Meu primeiro contato com este universo se deu em Trancoso, no carnaval de 1998, numa rave realizada na beira da praia (eu já descrevi a ocasião no post “Rave on U – parte I”, nos arquivos do mês de março). Eu e meus amigos Tourco e Mentor vimos, sem saber direito o que estava acontecendo, um live PA do projeto francês Total Eclipse. Logo depois, o Tourco foi caçar na internet sons daquele trio (formado pelos exímios produtores Stephen Howleck, Serge Souque e Loic Van Pocke) e acabamos por eleger a música do TE como o topo em qualidade no quesito “trance”.
O termo breakbeat surgiu do hip-hop, por conta de cortes e quebradas de ritmo feitos ali, na hora, nos toca-discos, dando origem a novas músicas. No final dos anos 80/início dos 90’s, era sinônimo de anarquia sonora, dando cria ao jungle (pré-drum’n’bass) e ao hardcore techno (pré-gabba), com suas violentas e rápidas rajadas rítmicas. No meio da década passada desmembrou-se no big beat, com batidas mais lentas e grooveadas, e uma estreita relação com o rock – a era de grandes álbuns eletrônicos (antes só haviam singles) de Prodigy, Chemical Brothers, Leftfield, Crystal Method, entre outros. No começo desta década o breakbeat voltou com força, por conta de batidas mais organizadas (menos barulhentas e quebradas que o big beat) e fundindo-se com electro, house, techno e o que mais vier à cabeça. Transformou-se em um gênero forte, sólido e irresistivelmente dançante, englobando tudo o que veio antes, criando novas formas a todo momento. 
Steve Albini é considerado o Mestre da Sujeira, aquele cara que faz as bandas mais selvagens soarem ainda mais primitivas, ao mesmo tempo em que todos os instrumentos são captados na sua mais pura beleza barulhenta e de forma incrivelmente nítida. Fez parte de combos radicais (nos anos 80) como Big Black e Rapeman, onde baterias eletrônicas toscas serviam de base para verdadeiros estupros sonoros. Como produtor, é sempre requisitadíssimo, tanto por bandas underground que queiram dar um tapa mais profissa na sua sujeira, quanto por bandas pop que queiram garantir uma moral para com a turminha alternativa – exceção honrosa ao Nirvana e o seu maravilhoso “In Utero”. Pois onde estava com a cabeça o Albini quando pegou para produzir uma banda gótica?!? O Userhouse, banda californiana por azar do destino (a californication teria produzido sua cria mais bizarra de todos os tempos?!?), é soturna, triste e sorumbática, querendo fazer nevar nas areias de Venice Beach. Pratica um mix excepcional de rock gótico tradicional (Bauhaus é a sua maior referência) com climas e sintetizadores sombrios (a face industrial), tudo isso misturado a guitarras sujas e pesadas – cortesia do humor de Mr. Albini na mesa de som. Ótimas canções estão registradas neste “Molting” (1994). É para bater a cabeça e se deprimir – e nada a ver com aquela xaropada do tal do gothic metal, por favor!
Existem bandas que são tão influentes em seus segmentos, que geram crias baseadas tão somente em algumas músicas específicas suas. É o caso do Sisters of Mercy, talvez a maior referência em termos de “som gótico” que vemos atualmente. O dinamarqueses do Diary of Dreams, por exemplo, se basearam única e exclusivamente na música “Flood” (ao meu ver, é claro), do clássico álbum “Floodland” (1987), da turma morcegóvia de Andrew Eldritch. A faixa citada criou um mix de electro/EBM/industrial bem pesado, junto ao seu estilo único de gothic rock, com os vocais de Andrew mais graves e fantasmagóricos do que nunca, e recheando tudo ainda com camadas de guitarras assombrando os canais de som. O Diary of Dreams, logicamente, não é uma repetição de uma nota só. Mas deve a sua alma sofrida a esta música. Edward Mãos de Tesoura iria cortar sua própria cabeça de alegria/tristeza com esta banda.
Outra banda mais do que influente ao pessoal das catacumbas é o Depeche Mode, que gera clones a cada esquina escura. Uma destas cópias começa a criar vida própria e a produzir um tipo de música cada vez mais especial: o Mesh. Mais guitarras, mais peso, mais melancolia - a banda adiciona também influências do Nine Inch Nails nesta mistura, tornando-os ídolos entre os guetos mais sombrios da Europa (seus discos nem são lançados nos EUA). Lembrando: eles fazem canções para cantar – e chorar – junto. Chega a ser pop – para os padrões de “O Corvo”, é claro.
A Alemanha é prolífica em matéria de música gótica. A quantidade de bandas apostando no lado negro da força que brotam de lá é absurda, com o termômetro de qualidade sempre batendo lá em cima. O Wolfsheim começa a se tornar grande entre os cemitérios alemães. Eles praticam uma mistura de rock gótico com elementos eletrônicos – peraí! Eu já vi este filme antes! Ok, tudo bem, eles não fazem nada de novo. Mas o som deles é lindo, porra! Percebe-se uma finesse, um bom gosto absurdo em suas melodias e arranjos. É belo, é encantador, é poeticamente triste e contemplativo. “Casting Shadows” (2003), com suas canções em alemão e inglês, é o disco perfeito para ouvir ao lado de sua musa gótica, bebendo vinho com sangue, chorando e sorrindo juntos ao mesmo tempo, observando a chuva cair pela janela.
Vomito Negro dá medo, a começar pelo próprio nome desta banda belga. Há uns oito anos atrás, encomendei o maravilhoso álbum “A New Drug” (1990), através de uma difícil conexão européia (o cd veio escrito “made in Austria”). Paguei caro para me assustar! O estilo desta banda remete diretamente à EBM clássica pois, afinal, este gênero musical partiu dos conterrâneos do Front 242 que, em 1981, criaram uma cena local fortíssima. Pois bem, o Vomito Negro (o nome é esse mesmo!) partiu da citada “EBM clássica” para costurá-la com alguns dos climas mais soturnos que se têm notícia - usei até em trilha de história de terror na faculdade! Já o álbum “Wake Up!” (1992 – tenho em mp3), é mais voltado à EBM, mas igualmente poderoso. Ouça e vomite negro!


Se Sin City tivesse gerado uma banda, esta teria o nome de My Life With The Thrill Kill Kult. O que, a princípio, era para ser a trilha de um filme que misturava trash B e noir, acabou se transformado numa banda que carregava o nome do próprio filme, que nunca fora lançado (era para ter sido em 1985)! O que ficou foi aquele clima de cabaré anos 40, vozes masculinas roucas e sussurradas, vocais femininos lascivos, metais nonsense, guitarrinhas safadas e um maquinário electro/industrial eficiente para dar coesão nesta mistura. O Kill Kult evoca imagens de carrões de mafiosos e de pin ups provocantes, que se encaixariam como uma luva para a já clássica filmagem dos HQs de Frank Miller. Ouça sem contra-indicações os álbuns “Sexplosion”, “Hit, Run & Hollyday” e “Reincarnation of Luna” e entre neste clima.
Os momentos mais sangrentos de Sin City bem que poderiam ter sido acompanhados pelos retardados/industrialistas/metaleiros do KMFDM. Trafegando numa linha bem estreita que os separa do som praticado pelo Kill Kult (surgido praticamente na mesma época), este agrupamento alemão multirracial também aposta em climas de noir e terror B acompanhados por vozes femininas, mas investe numa versão heavy metal disso tudo, com direito até a solos de guitarras típicos dos headbangers da terra do chucrute. “WWIII”, seu mais recente petardo, pouco acrescenta à sua extensa discografia (desde 1985 é um - ou mais - álbum por ano), mas mantém a tradição de refrões divertidos, porradarias de guitarras aqui e ali, batidas dançantes a rodo, e muita diversão movida a HQs – vide as suas capas. Aliás, algumas definições sobre o significado da sigla “KMFDM”, segundo eles próprios, podem ser “Kill Mother Fuckin’ Depeche Mode”, ou “Kylie Minogue Fans Don’t Masturbate”. Nem sempre o som industrial é sinônimo de postura séria e sisuda para com o mundo.

Esta onda de comebacks dos anos 80 parece não ter fim. Alguns nomes dos quais eu até curtia vêm resolvendo voltar lançando coletâneas ou discos ao vivo junto com DVDs que juntam material antigo com apresentações constrangedoras (barrigudos, calvos, grisalhos ou, pior, vestindo as mesmas roupas ridículas daquela época) registradas nos dias atuais. Graças aos céus que uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos não caiu nesta armadilha e resolveu voltar à ativa com um álbum totalmente inédito e apontando para o futuro – como, aliás, sempre o fizeram. O Skinny Puppy acabou em 1996 por conta da morte (por overdose de heroína) de um des seus três integrantes, Rudolph Goethel. Os remanescentes Cevin Key e Nivek Ogre decidiram pôr fim à banda não só pela fatalidade ocorrida mas também pelo desgaste pessoal entre os dois. Há de se apontar que o SP nunca habitou mainstream algum, fato este que invalida qualquer tipo de oportunismo em torno de sua volta, pois a banda é e sempre será underground pelo simples fato de seu som não ser digerível para qualquer um. Que o digam membros de bandas muito mais famosas como Tool, Static X e Nine Inch Nails, que sempre apontam o trio canadense como influência marcante, mas que na prática isto não seja tão perceptível em suas músicas.
Demorei, mas fui! As referências eram ótimas, pois quem havia odiado a parada era gente viciada no esquemão, que precisa de ver início, meio e fim contadinhos como se fossem histórias para criança dormir. Fui assistir a Sin City no cinema da Glória, em Vila Velha, um local mal iluminado e fedendo a poeira e com gente esquisita te olhando torto – era o noir me envolvendo antes de presenciar de fato o tal filme. Sin City é legal pra cacete! Não sou cinéfilo, mas também não engulo qualquer coisa. Saí satisfeito e querendo mais. Os climas, as histórias, os exageros, a estética (o que era aquilo?!?), um Mickey Rourke horrendo (e roubando o filme) e muito sangue fluorescente. Há vida inteligente no “cinemão” norte-americano. Mas o choque em si só assusta a quem, repito, precisa de ver tudo mastigadinho e pronto para ser digerido sem contra-indicações. 


Sim, eu gostei do disco do Glide. Para aqueles que consideraram como novidade e inovação os barulhos e demais experimentos dos álbuns “Kid A” e “Amnesiac”, do Radiohead, é bom saber que este tipo de vanguarda vem sendo realizado desde que os primeiros fonogramas foram produzidos. Mas você também pode passar batido de tal conhecimento e curtir numa boa as belas canções que foram postas por cima da indumentária experimental da banda de Tom Yorke e não correr o risco de passar mal indo mais a fundo nesta experiência. E o Glide é capaz de provocar vômitos até mesmo no mais fanático devoto dos Bunnymen. É preciso estar familiarizado com as experiências electro-acústicas de gente como Stockhausen e John Cage (só para citar os mais contemporâneos), com a ambient music de Brian Eno (ex-Roxy Music e produtor honorário do U2), e com a eletrônica non-stop do Kraftwerk. Ou então que sejam necessários alguns parafusos a menos e/ou colocados nos lugares errados. Uma coisa é certa: você pode morrer sem culpa de não ter se aprofundado neste universo, até porque o seu caráter vanguardista e experimental definitivamente não foi desenvolvido para uma compreensão direta. Dois parágrafos são suficientes para que você saia correndo deste blogg, pois daqui para frente tentarei contextualizar minha compreensão de uma pequena fração deste mundo insólito.
Existe uma banda que até hoje eu não consigo ouvir: Einstürzende Neubaten. Conceitualmente este grupo alemão (já notaram que os projetos mais cabeçudos vêm de lá?) já possui seu lugar na história, pois foram fundo na utilização de todo o tipo de peça para a produção de música e freqüências sonoras desconhecidas, além de possuírem um engajamento sócio-político realmente influente em sua terra-natal (já participaram ativamente de causas pró-mineradores, por exemplo). Mas eu não consegui detectar estruturas mínimas que me passem algum tipo de emoção que não seja a de “nossa, esses caras são vanguardistas!”, entendem? Ou então ouvi os discos errados da banda! Mesmo a mais assépticas faixas radicalmente eletrônicas e instrumentais produzidas para as pistas de dança despertam emoções mais puras - ou seja, para dançar! Também não ficarei aqui tentando teorizar sobre as formas e objetivos de determinados tipos de música. Simplesmente exporei minha visão sobre este universo e na intenção de fazer aos interessados que os enxerguem com olhos menos, digamos, científicos. Mas é um troço difícil isso!
O Clock DVA (alemão, para variar...) pratica algo como um som industrial científico É serio! No encarte do álbum “Man Amplified” (1991 - sim, eu comprei mesmo isso aí!) há, ao invés de letras, textos complicadíssimos sobre física quântica e energia nuclear – todos escritos pelo cabeça do grupo, um sujeito com o nome de Adis Newton. O som, propriamente dito, é uma revisão do que o Kraftwerk fez ao longo de sua carreira, adicionado com o peso e a modernidade da música industrial/ebm – muito conceito para um resultado nem tão complicado e empolgante assim. Talvez o tal do Newton (não aquele...) tivesse deixado a complicação de verdade para seu projeto The Anti-Group/T.A.G.C, que mistura cabecismo intelectual com jazz, rock progressivo e eletrônica. Aí, meu amigo, é para dar tilt na IBM inteira... Na esteira cabeçuda alemã, travei contato com nomes (alguns não-alemães) como Test Dept. (considerada “a resposta inglesa ao Neubaten”, e que produziu discos até para peças de balé), Die Krupps (começaram também na onda do Neubaten, mas logo aderiram a um rock industrial mais convencional, tendo ficado famosos pelo ‘tributo industrial ao Metallica’: ouça este disco e vomite, morra de rir ou deleite-se), Laibach (grupo pseudo-facista que faz um som que o Rammstein xerocou acrescido de guitarras pesadas, e que já gravou o disco “Let It Be” inteiro à sua maneira), e DAF (o Laibach deve as suas calças a esta banda, o Front 242 um pouco também). Parei por aqui. Quando o negócio começou a ficar complicado demais, procurei sanar meus neurônios com canções de um disco do INXS...
O legal mesmo nesta “pesquisa” (aspas são necessárias pois, acreditem, sei da existência de correntes científicas sérias nesta área) é ouvir um determinado som e se transportar para a época em que fora lançado e imaginar o impacto na ocasião frente aos conceitos estabelecidos. Neste caso, volto ao Kraftwerk, mas àquele que quase ninguém conhece, pré-Autobahn (seu primeiro sucesso), dos discos “Ralf & Florian” e “Kraftwerk II” – os que eu tenho ouvido. Meu amigo, esta dupla (Ralf Hutter e Florian Schneider) merece todos os adjetivos elogiosos que já lhes foram proferidos! Na virada dos anos sessenta para os setenta, eles produziram peças sonoras que variavam do clássico/erudito/folclórico processado num sampler (muito antes que este existisse) a batidas em ritmo seqüenciado (idem ao sampler), sempre instrumentais e pontuadas por belas melodias. E o tal do Silver Apples? Baixei o homônimo álbum dos caras (de 1968, acho...), ouvi e me deu medo – tanto é que o CD que tinha simplesmente sumiu. Os malucos tiravam sons de osciladores de áudio e o que saía dali era algo impressionante, sombrio e muitas vezes belo também. Outro grupo que me impressionou, sob a perspectiva de sua época, foi o Cabaret Voltaire: industrialismo alemão (apesar de os caras serem canadenses) com atitude punk! Ouçam a faixa “Nag Nag Nag” e comprovem o que estou falando.
Percorrendo por caminhos mais normais (este termo é muito ambíguo por aqui...), dois grupos dos quais sou admirador incondicional produziram projetos paralelos distintos, cabeçudos (obviamente)e bastante desafiadores. Dos canadenses do Skinny Puppy eu destaco os projetos Hilt e Download, ambos produzidos pela mente doentia do membro fundador do SP, Cevin Key. O Hilt possui um bom mix de electro 80’s e rock gótico (“Orange Pony” – 1989) e uma verdadeira trip lisérgico-sombria sob o nome de “Journey to The Center of Bowl). E há boas canções assobiáveis neste disco (fato raro neste texto...), só que logicamente costuradas com enxertos de folk music, ebm, technopop, indie rock e heavy metal. Já o Download é o que há (ou pelo menos houve, pois está meio inativo ultimamente) de mais avançado na música eletrônica – já num campo quase que totalmente instrumental, e procurando novos caminhos para ambient music, techno e industrial/ebm. Dos suíços do Young Gods, destaco as experiências praticadas com ambiências sonoras sob os nomes de Heaven Deconstruction, Al Comet e Amazonia Ambient Project (do qual consiste a base da apresentação que relatei em meu blogg de São Paulo/2004: 
“Music Non Stop!” (1986). Porra, aquela imagem em computação gráfica (a mais avançada da época) com quatro homens-robôs cantando um slogan tão simplório quanto genial me abalou para sempre. O Kraftwerk me fez abrir a cabeça para aqueles sons produzidos tão única e exclusivamente com instrumentos eletrônicos. Ainda não possuía senso crítico nem independência de $$$ para correr atrás por conta própria do que gostava. Na verdade o Kraftwerk sintetizou (ops!) na minha mente (um HD?!?) o que já demonstrava curtir bem antes, pois não parava de rodar a faixa “Situation”, do Yazoo, presente na trilha da novela “Sol de Verão” (1983, o vinil acabou empenando...) e me dava conta de que havia outro disco com selo de novela (“Brilhante” - 1982) lá em casa, adivinhem de quem: Kraftwerk (“Computer World” – este eu tenho até hoje!). Minha irmã namorava um cara mais velho que chegava no carro do amigo que tocava sempre em alto e em bom som umas paradas importadas maravilhosas. O Wanderson (o “amigo” - esse é o cara!) gravou umas fitinhas para mim com pérolas de gente como Ultravox, Thompsom Twins, Yello. ABC e, logicamente, New Order (“Substance”), Depeche Mode (“Black Celebration”) e Human League, além daquelas maravilhas gélidas e sombrias do rock inglês como The Cure, The Sisters of Mercy e Echo & The Bunnymen. Passei batido de rock nacional e heavy metal sem a menor culpa.
A propaganda de um disco da Som Livre fez minha cabeça rodar 360º novamente. Uma batida dançante como nunca antes ouvi, cortes e colagens de diálogos de filmes, uma base de sintetizador bem eletrônica: Acid House! Este era o nome da coletânea que passava nos intervalos da Globo e Bomb The Bass (“Beat Dis”) era o nome do grupo em questão. Também tinha S’Express, Coldcut e uma faixa pesadona de um tal de Front 242 (“Headhunter”). Era a virada dos 80’s para os 90’s, a música eletrônica apontando e enfiando o dedo na sua cara sobre o futuro. DJs viraram superstars e eu também queria ser um. Juntava meu dinheirinho para comprar na Casa do Disco (no Centrão) aquelas coletâneas de vinil piratas (produzidas em Belford Roxo, no Rio) onde havia o filé da tal da dance music - até 93 juntei uns sessenta, tendo alguns singles importados (“Headhunter”- Front 242, “Situation 91” – Yazoo, “Enjoy The Silence - UK” – Depeche Mode). Tudo era jogado no mesmo caldeirão: as primeiras manifestações de house, techno, trance e também umas farofadas de dar vergonha até hoje de ter comprado/curtido - Ice MC, por exemplo e que fui até no show aqui em Vitória. Aliás, nossa combalida capital contava, no começo da década passada, com diversos programas de rádios muito bons (alguns nem tanto, é verdade) tocando dance (antes deste termo se tornar pejorativo) bem selecionada e mixada. Elegi o programa de Luiz Cláudio Casado e Renato Vervloet o meu preferido (eles tocavam coisas mais pesadas e/ou diferentes) e o do Dedeco o melhor mixado. No meio disso tudo descobri em outra coletânea da Som Livre (uma com a capa azul...) a faixa “Welcome to Paradise”, do Front 242. Algo muito forte estava me chamando.
Sim, eu era fã do Infomation Society, fui ao show no Álvares Cabral (um dos melhores da minha vida) e gosto até hoje! Fui fisgado, na verdade, pela batida pesada, vinda diretamente do Kraftwerk, de “What’s on Your Mind”. Aqueles caras tocando mil teclados e percussões eletrônicas no palco (na TV Manchete, dois anos antes de virem para cá) me despertou interesse para algo que eu nem sabia existir. Eu gostava mesmo era de sintetizadores pesados, climas dark e muito maquinário eletrônico percussivo. Logicamente o InSoc era só a ponta de uma navalha mais cortante, fria e mordaz. Fui na Casa do Disco pela enésima vez (eram umas três vezes por semana) e botei para ouvir o álbum “Front By Front”. Cara, era aquilo que eu gostava! Minha cabeça girou 360º pela terceira vez. O Front 242 era o futuro, era tudo o que eu gostaria de ouvir numa banda mas não tinha a menor idéia de como seria. O som era dançante, radicalmente eletrônico, ligeiramente pop (melodias que grudavam na cabeça, mas minimalistas ao extremo), pesado e variado dentro de seu estilo. Era o futuro da música daqui a cem anos, robótica, opressiva, as máquinas de Matrix e Terminator juntas escravizando os humanos e produzindo seu som. Descobri via Revista Bizz que o selo Stiletto estava despejando maravilhas da chamada Electronic Body Music - a “EBM” – com um volume inacreditável aqui no Brasil se levarmos em conta que se tratava de um gênero musical underground por natureza. Tudo o que eu queria estava ao meu alcance (no Centrão) e sob a batuta de textos, resenhas e notinhas em uma revista muito boa (a Bizz).
A Split Second, The Young Gods, Legendary Pink Dots, Borghesia, Neon Jugdment, a nata da EBM em álbuns-solo e coletâneas espertas (“Generate” era a melhor!) e que faziam com que a Stiletto abalasse minha mente para sempre e a todo momento. Este selo também despejou os primeiros lançamentos de techno, ambient, trance e new beat (um parente próximo da EBM e voltado para a dance music) que, logicamente, absorvi tudo o que podia na minha coleção de vinis que eu usava para agitar umas festinhas da galera do colégio (ninguém gostava...). Comecei a trabalhar com meu pai aos 15 anos (1991, como boy!) e abri uma conta no banco para mim. Foi quando descobri o quase inacessível mundo maravilhoso dos discos importados via Tarkus, uma lojinha na Praia do Canto dedicada a heavy metal e afins. Mas era o catálogo deles que me interessava! Foi, aliás, a Tarkus, que abriu um pouco minha cabeça para o heavy metal, pois dali saí com bolachões de Slayer (“Seasons In The Abyss”) e Anthrax (“Persistence of Time”, que emprestei e perdi duas semanas depois). Uma notinha na Bizz (sempre ela!) me indicou o caminho do som industrial. Mais uma reviravolta de 360º aconteceu comigo.
“Guitarras pesadas com eletrônica massiva, industrial e EBM”: putz, este era o caminho do paraíso para mim naquela época, pois estava curtindo pedradas do thrash metal (“Master of Puppets”, do Metallica também havia entrado em meu mundo) e adorava de paixão a EBM e seus beats eletrônicos marciais. Quando ouvi Ministry pela primeira vez, meu cérebro implodiu! “Thieves” era a música, saí da Tarkus com o vinil importado (caro pra cacete!) de “The Mind Is a Terrible Thing To Taste”) como uma meta de vida - eu não tinha grana na hora, que merda! Neste mesmo período a Rádio Cidade transmitia via satélite o programa “Novas Tendências”, do José Roberto Mahr, fonte de mil sons maravilhosos do mundo alternativo (eu pesquei principalmente bandas de shoegazer, trance/ambient e, obviamente, industrial/EBM), sendo que quando foi tocada a faixa “NWO”, do novo álbum do Ministry, acabou me deixando ainda mais inquieto. Fui na Musical Box (Praia do Canto), único local onde encontrei o tal disco (“Psalm 69”), juntei uma grana em tempo recorde e paguei uma pequena fortuna no CD (a loja enfiava a faca sem dó) – o primeiro que comprei e sem nem ter o aparelho para tocá-lo. A partir de então, fui conhecer outras maravilhas de EBM e industrial como Front Line Assembly, Nine Inch Nails e Skinny Puppy (estes dois últimos merecem posts à parte). Isso até o dólar cair o preço.
A Tarkus foi fundamental na minha coleção de CDs. Quando a cotação do dólar emparelhou com a nossa moeda, fui torrando toda minha grana com encomendas a mil naquela loja – e não me arrependo de nada! Deixei os vinis para trás junto com a intenção de me tornar DJ (também, pudera, perdi todos os meus sessenta e poucos bolachões de uma vez – na verdade, sempre detestei o som que saía do vinil e dei graças a deus quando o CD veio para ficar), e me voltei para sons mais pesados. Era a época do grunge (me viciei particularmente em Alice In Chains) e do total desvirtuamento do heavy metal (maravilhas como Prong, Helmet, Pantera, Faith no More, Rage Against The Machine, Corrosion of Conformity, além do metal industrial de Ministry, Godflesh, Lard, etc., que eu mais curtia). Apontei minha mira também para o rock and roll puro e simples, virei fã incondicional de gente distinta como Social Distortion, Tool, Kyuss, Cramps, Reverend Horton Heat, Danzig, Red Hot Chilli Peppers e Butthole Surfers. Abri meu coração para clássicos do rock como Black Sabbath, Jimi Hendrix, ZZ Top e Free. Só não virei fã de Beatles nem de Rolling Stones. E nem de Led Zeppelin. Sei lá o porquê...
Outra bomba afetou me cérebro no meio dos 90’s: o big beat de gente como Prodigy, Chemical Brothers e Crystal Method. Uma coceirinha na minha cabeça me dava novo ânimo de brincar de ser DJ, meu amigo Tourco também pirou junto na mesma época, e começamos a botar som juntos. Fui me dando conta de que gostava de muita coisa bem diferente entre si, que muitos amigos não curtiam tais sons e que outros também recriminavam outros sons também – haviam amigos para determinados tipos de música. Na virada do milênio veio a internet e mais um giro de 360º rodou minha cabeça. E vou parando por aqui. Esta história com a web ainda está acontecendo. Até agora usufruí ao máximo dela e vou usufruir até onde ela durar. Já postei várias coisas aqui e em outros bloggs sobre o que penso da “Era da Informação”. Este post não tem como intuito de mostrar nada além de minha simples relação apaixonada com a música e de como eu faço para absorver mais e mais dela. E também afirmo que nostalgia passa longe daqui, pois dou graças a deus que tudo hoje seja mais fácil neste quesito (música). E já afirmei isso: só não adqüire mais informação quem não quer!
Ao assistir o documentário “The End of Century”, dos finados Ramones, a comparação com o filme “Some Kind of a Monster”, do Metallica, me pareceu inevitável. Ambos foram lançados quase que na mesma época e retrataram de forma nua e crua duas bandas com inegável importância na história do rock and roll e cujos fãs invariavelmente encontram um gosto comum situado entre elas. Mas existe um abismo profundo que separa os dois filmes. O Metallica, ao meu ver, não é mais uma banda, mas um corporação da qual a opinião do empresário do grupo fora fundamental para definir o tipo de música (estratégia?) que eles tocariam (investiriam?) no seu último disco de estúdio. “Some Kind...” retrata momentos difíceis e reveladores sim desta banda. Uma das revelações foi a de que James, Lars e Kirk (os baixistas são sempre irrelevantes na banda desde Cliff Burton) expuseram suas picuínhas internas como nunca antes visto e também deixaram-se lucrar com um reality show dos mais apelativos, com direito até a um psicólogo falcatrua que recebe 40 mil dólares por mês para despejar chavões em cima dos caras que não resolvem porra nenhuma. Tá certo, eles deixam cair suas máscaras e massacram o tal analista sem dó, entre outras pedradas ali apresentadas. Mas o impacto inicial quando acabei de assistir o tal filme se dissolveu rapidamente quando constatei a lição de sinceridade apresentada com o universo dos Ramones em seu documentário.
Dub War - Um som que conheci meio que por acaso (uma pequena e superficial resenha na Rock Brigade) e que se tornou um de meus favoritos de sempre e também o de alguns poucos interessados – seria uma cult band? Dub/ragga jamaicanos com o que havia de mais moderno no rock pesado de sua época (dez anos atrás). O vocalista Benji é um dos melhores de sua geração, uma improvável mistura (acreditem!) de Bob Marley, Michael Jackson e Corey Glover (Living Colour) a serviço de belas melodias e grunhidos raivosos. “Pain” e “Wrong Side of Beautiful” são discografias obrigatórias para quem quer ouvir boa música em forma de algo original. E o disco de remixes dos caras, “Step Ta Dis”, é o que vem me alucinando atualmente. Versões jungle/drum’n’bass/hip-hop/breakbeat (Aphrodite, Mo’ Wax, DJ Rap, entre outros) ferradonas e com particularmente uma obra-prima da reconstrução de uma música: “Silencer”, que se transformou num dub/funk com baixão na frente, órgãos hammond no fundo, uma interpretação vocal de arrepiar, tudo isso realçando a beleza de uma canção numa versão que supera a original!
Sonic Cube - Música eletrônica para pistas de dança e sem vocais. Tem gente que só consegue gostar estando drogado. Tem gente que gostaria de ver este tipo de música morto e enterrado. Eu gosto tanto quanto qualquer “clássico do rock” que tem por aí. Fazer o quê? Este disquinho alemão é um som fino, bem produzido, trance/house progressivo dos bons, sem piques bombásticos nem melodias óbvias. Eu me emociono ouvindo este som no meu dia-a-dia. E não sou um robô!
Killing Joke - E pensar que eu tenho o “Night Time” há dez anos e só agora fui me dar conta de que se trata de um clássico do disco punk antes mesmo deste rótulo surgir. Fãs de última hora de Franz Ferdinand (banda excelente, diga-se) poderiam escutá-lo junto com outros álbuns de Talking Heads, Psychedelic Fürs e Gang of Four para aprenderem mais sobre suas origens. É aquele sabor oitentista cujas melodias singulares grudam na mente de imediato porém desprovidas daqueles arranjos plastificados típicos do pop da época. A propósito, a faixa que encerra o disco, “Eighties”, é a fonte de um dos maiores plágios da história da música. Kurt Cobain inclusive pagou aos caras do KJ para não ter maiores problemas...
Red Snapper, Thievery Corporation e Nightmares on Wax - Sabe aquelas vertentes de música eletrônica típicas de publicitário metido a bacana que o mané do Luciano Huck divulga no seu programa? Pois é, aqueles rótulos chiques tipo lounge/chill out/nu jazz podem lhe provocar cefaléia se combinados com a inevitável tríade sempre sugerida de canapés/champagne/vernissage que embalam o imaginário deste tipo de gente. Pois fique sabendo que, apesar disso tudo, existe uma turma que faz música que presta neste terreno. Climas de acid jazz, vocais femininos doces e abafados, ruídos de vinil (o velho é moderno, saca?), blips e póings aqui e ali, scratches e um bom gosto absurdo estão contidos no pacote musical que Red Snapper, Thievery Corporation e Nightmares on Wax sabem produzir de forma magistral. Vá para Ibiza com estes discos na mala e mande o Luciano Huck se foder!
Yazoo, Shrieckback, Ultravox, Yello, Human League... – Quer electro? Vá direto à fonte! Este gênero musical surgiu nos anos setenta, tomou sua forma definitiva (o technopop) nos anos oitenta, caiu no ridículo nos anos noventa, e ressurgiu ultracaricato no começo desta década sob o rótulo de electroclash. À primeira ouvida, taxei esta onda atual como uma porcaria apelativa e mal produzida propositalmente. Hoje o electro atingiu maturidade e rosto próprios, pois os climas retrô e modernos se misturam saudavelmente e acabam produzindo resultados arrasadores tanto nas pistas de dança quanto no cd-player de seu quarto. Os bambas atuais do estilo só saem perdendo quando tentam se equiparar à força melódica de seus pais (tios? avós?) dos anos oitenta. Coloque “Emerge” (do Fischerspooner) ao lado de “Situation” (Yazoo) ou “Don’t You Want Me” (Human League) e comprove. É covardia. 